02

– Eu tenho a melhor comida do mundo, para uma filha que me abandonou. - Disse ele, ignorando o comentário anterior de Charlie e pegando uma travessa de vidro com macarrão e pedaços de salsicha cortados. Ele colocou a travessa sobre a mesa. Charlie adorava isso.

– Eu adoro isso! - Exasperou-se ela, olhando a travessa. Eu não falei?

Rapidamente Charlie se apossou do pegador de macarrão e lhe serviu uma boa quantidade de macarrão e salsicha. Em seguida enrolando um pouco do macarrão no seu garfo e o experimentando.

– Isso tem gosto de infância. - Comentou ela depois que acabou de mastigar.

– Vamos meninas, podem se servir. - Josh disse, indo até a geladeira.

Servi a mim mesma e depois Yuri fez o mesmo. Josh voltou colocando uma jarra de limonada sobre a mesa e depois de nos servir um copo de limonada sentou-se conosco.

– Pai, você é o melhor velho do mundo. - Charlie disse, e Josh piscou, bebendo um pouco de limonada que tinha servido em seu copo.

– E ela duvidando dos meus dotes culinários, tá pensando o que, eu sou estudado. - Sorri pra ele e em seguida experimentei também do macarrão, e realmente, tinha gosto de infância. Era como se transportada novamente para aquela época onde eu e Charlie dormíamos na mesma cama com medo do escuro.

– É, sr. Hetfield, está realmente ótimo. - Charlie riu, murmurando um "sr. Hetfield" zombeteiro.

– Me chame de Josh, e eu sei, meu macarrão com salsicha é o melhor do mundo. - Brincou ele. Yuri ofereceu seu copo de limonada a ele, como se fizesse um brinde em concordância.

– Então Charlie, quanto tempo pretende ficar? - Perguntou Yuri, bebendo um gole de seu copo. Charlie olhou pra mim e em seguida para Yuri. Era como se ela estivesse esperando que eu começasse a fazer as perguntas. Droga, eu odiei parecer menos interessada que Yuri.

– Só até o fim do verão. - Respondeu ela, espetando um pedaço de salsicha em seu garfo e o levando a boca em seguida, olhou pra mim enquanto mastigava lentamente. Meu coração novamente disparou, ela não tinha voltado, só estava passando as férias. Olhei para o meu prato e enrolei mais uma porção de macarrão em meu garfo para evitar olhar naqueles olhos castanhos.

– E onde você mora, então? - Voltou Yuri a perguntar.

– Minha mãe se mudou pra Irlanda há alguns anos, eu moro lá. - Ela voltou a responder, novamente jogando seu cabelo para o lado a fim de tira-los dos olhos. Ela quase parecia angelical quando fazia isso.

– Você mora com os Hobbits e os duendes? - Yuri brincou, fazendo Charlie rir.

– Na verdade, Hobbits são da Nova Zelândia. - Corrigiu Charlie ainda sorrindo.

– Na verdade, Hobbits são da Terra Média. - Eu corrigi e Charlie apontou pra mim com um sorriso em concordância.

– De qualquer forma, eu estou voltando pra américa pra faculdade. - Disse Charllotte dando de ombros e voltando a enrolar macarrão em seu garfo.

– É? O que vai fazer? - Yuri perguntou, e novamente Charlie olhou pra mim enquanto mastigava. Ela esperava o interesse de mim novamente ficando sem receber.

– Relações internacionais. - Ela respondeu, olhando para Yuri que pareceu surpresa.

– Uau, isso é coisa pra gente inteligente, melhor eu ficar com as ciências políticas. - Brincou Yuri e Charlie sorriu.

– Minha filha é uma gênia, ela puxou o pai. - Charlie e Yuri riram, eu avaliei a frase de Josh.

– Agora que você falou Josh, eu sempre imaginei Charlie mais como você, uma artista, não uma política. - Eu comentei, dirigindo-me a Josh, que nivelou com a cabeça a modo de demonstrar dúvida sobre o que eu acabar de falar, embora concordasse.

– Imaginou errado. - Disse Charlie, bebendo um gole de sua limonada. Pensei até ter ouvido um tom de hostilidade em sua voz.

– Era o que você queria ser não era?

– Era, quando eu tinha sete anos e dois amigos imaginários. - Novamente, aquele mesmo tom.

– É, o Paul e a Lilly, eu me lembro deles. - Charlie riu e pensei ter conseguido quebrar aquele tom de sua voz.

Nós terminamos o almoço e voltamos para o quintal, nós três nos sentamos na grama em um semicírculo, eu achava que tinha várias perguntas que gostaria de fazer a Charlie, mas tive a impressão de que não conseguiria perguntar com Yuri ali.

– Nossa, eu não conheço mais ninguém daqui. - Comentou Charlie olhando a rua, embora parecesse que seus pensamentos estavam bem mais distantes.

– Nós vamos a uma festa hoje a noite, porque não vem com a gente? -Yuri convidou, era impressionante o esforço sem disfarce que ela fazia quando estava interessada em alguém. A testa de Charlie se frisou.

– Eu não sei não.. - Yuri olhou pra mim, era um olhar que pedia ajuda e depois ela olhou pra Charlie e pra mim de novo.

Ah.

– É Charlie, vem com a gente, vai ser bom pra você conhecer novamente o pessoal.

– É, eu vou passar a noite na casa da Sam, pode ficar por lá também. - Meu Deus, Yuri. Como ela podia ser assim tão óbvia? Charlie riu, ela era esperta e já sabia o que estava rolando.

– Ok, eu vou a festa. - Charlie respondeu, olhando pra mim que lhe enviei um espontâneo sorriso. O celular de Yuri, tocou, ela olhou a tela e fez uma careta ao ver o nome.

– Tá, então nós passamos aqui a noite. - Disse Yuri, roubando um rápido selinho de Charlie, antes de se levantar e sair de perto para atender ao telefone. Charlie não parecia perplexa, ou enojada, na verdade ela deslizava a ponta de seu dedo indicador por seu joelho, como se nada tivesse acontecido. Eu estava perplexa, porque embora esse seja o comportamento comum de Yuri, eu mal conseguia aceitar que ela estava agindo assim com Charllotte.

– Me desculpe por isso, ela é impossível. - Charlie deu de ombros e voltou a me olhar.

– Pelo o que está se desculpando, não foi você que me beijou, foi?

– N-não. - Gaguejei me encontrando em uma situação estranha pra mim, aquilo havia sido uma pergunta ou uma repreensão?

– Sam! Anda logo, nós temos que comprar as bebidas! - Yuri me gritou, ela estava na rua agora, ainda com o celular sobre a orelha esquerda.

– Eu tenho que ir. - Charlie apenas concordou com a cabeça.

– Te pego as oito, então? - Perguntei e ela sorriu.

– Vou estar esperando.

– Ah, tem uma piscina. - Avisei, antes de ir ao encontro de Yuri.

Se tinha uma coisa que eu odiava, era a pressão que eu sentia cada vez que eu ía a uma festa. Pressão para me arrumar. Eu sempre me considerei bastante diferente da maior parte das garotas, mas no quesito "eu não tenho nada para vestir", eu era a vice-presidente do clube.

Nós íamos a uma festa na casa do Noel, ele tinha uma piscina enorme e por isso as festas sempre eram feitas lá.

Eu e Yuri ficamos encarregada das bebidas, fomos a cidade e nem precisávamos de identidades falsas, Yuri completara vinte e um anos no mês passado. Eu achei que seria divertido a primeira vez que eu comprasse bebida alcoólica legalmente, mas eu não consegui aproveitar o momento com Yuri me lembrando o tempo todo de quão linda era Charlie.

– O que ela falou do beijo? - Perguntou ela pra mim pela enésima vez, agora estava jogada em minha cama, já estava vestida, com um curto vestido cor de vinho e nos pés all star desbotados e gastos. Lápis preto nos olhos e só, era fácil pra Yuri ficar bonita. E eu ainda sim não tinha o que vestir.

– Eu já disse, nada. - Ela bufou, jogando um de meus shorts jeans para mim, aquela cor era mais escura do que a maioria.

– Acha que eu devo usar esse?

– Como alguém não diz nada sobre um beijo? - Perguntou ela, ignorando minha pergunta, decidi ignorar a dela também.

– Eu estou no meio de uma crise aqui. - Yuri se levantou nervosa e olhou pela janela do meu quarto, dava pra ver a casa acesa de Charlie do outro lado da rua.

– Use o short que eu falei, com a camiseta regata, tem uma piscina, não precisa de muita roupa. - Olhei pra ela e ergui uma sobrancelha, pegando a camiseta que ela me indicou e a vestindo em seguida junto com os shorts. Eu estava com biquini por baixo.

– Você está de vestido porque então? - Perguntei, secando meu cabelo com o secador que ficava em meu quarto.

– Porque eu quero impressionar alguém. - Respondeu ela, suspirei encarando meu próprio reflexo. Meus cabelos pretos uma desordem molhada, tentei concentrar-me em apenas deixa-lo aceitável, e não em como já estava ficando chato essa coisa de Yuri desejar Charlie.

Oito hora em ponto estávamos a frente do portão de Charlie, porque Yuri não podia esperar nem mais um minuto pra ver a menina novamente. Entramos no quintal e tocamos sua campainha, pouco tempo depois Charile surgiu.

Vestia uma curtíssima saia preta e apenas um top branco que deixava sua barriga lisa a mostra, por cima uma jaqueta de couro preta, eu achei que não conseguiria mais fechar minha boca.

– Nossa, - Começou ela, olhando para a roupa que Yuri vestia.

– Talvez eu devesse trocar de roupa.

– Você está linda. - Dissemos Yuri e eu em uníssono. Charlie riu.

Nós já tínhamos levado as bebidas mais cedo e avisamos que levaríamos uma convidada. Mesmo assim as pessoas adoram um sangue novo e tratavam Charlie como alguém da realeza que todos daria a vida para conhecer. Não havia muita gente na festa, umas vinte cinco pessoas talvez. E suspeite que Charlie tinha cumprimentado todas ela. Música alta tocava e parecia ser dentro de minha cabeça.

– Eu me lembro de você, era e menina que a Kat sempre implicava. - Noel disse após cumprimenta-la. Charlie sorriu concordando e em seguida dando longo gole na cerveja em sua mão. Ele a olhava despindo-a com os olhos.

Yuri também pareceu reparar, pois sussurrou algo no ouvido de Charlie, que olhou pra mim antes de concordar com Yuri. Yuri piscou pra mim e depois entrou dentro da casa de Noel junto de Charlie.

– Elas estão juntas? - Perguntou Noel com sua testa frizada.

– Não. - Respondi, virando toda minha cerveja de uma vez só.

Ver Yuri se afastando com Charlie fez meu coração novamente se agitar.

Algum tempo e três copos de cerveja depois Yuri saiu da casa, e não estava com Charlie, me aproximei de Yuri com o quarto copo de cerveja em minha mão.

– Ela está lá dentro. - Yuri me disse, antes mesmo de eu perguntar.

– E aí? O que houve?

– Nada, nós apenas conversamos.

Entrei na casa de Noel e encontrei Charlie rapidamente, ela estava sentada ao pé da escada, sua cabeça encostada na parede. Me aproximei dela e me sentei ao seu lado.

– Yuri está afim de você. - Eu disse.

– Eu sei.

– E? - Perguntei, Charlie continuava uma incógnita para mim, ela tinha dado condição a Yuri ou a tinha rejeitado?

– Ela é ótima, mas... Eu vou pra casa. - Não, eu não queria que ela fosse, a festa iria parecer um orfanato frio se ela saísse agora.

– Não vá. - Eu disse, pegando no bolso de meu short um pequeno saquinho de plástico com alguns comprimidos. Não me entendam mal, só que ela parecia tensa e todo mundo ficava mais solto depois de um desses. Não podia ser tão ruim, não é?

Peguei um dos comprimidos e levei até minha boca, em seguida levei um até os lábios de Charlie, seu olhar era receoso, como se ela não tivesse certeza se queria aquilo, mas no fim aceitou.

– Fica comigo e curte. - Eu disse a ela e aproximei meus lábios do dela, ficamos bem próximas, sua respiração quente roçando minha boca e então ela avançou os últimos centímetros e nossos lábios se entrelaçaram um no outro.

Seus dedos na parte de trás de meu cabelo.

Assim como línguas em movimentos perfeitamente sincronizados, ela tinha gosto de menta, talvez por causa de uma bebida, mas não importava, a única coisa que importava, era que naquele momento eu estava tendo o melhor beijo da minha vida.

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