Capítulo 5

Yuki

Estou tão feliz por Peter me chamar para sair. Passei o dia inteiro me arrumando, fiz skin care, pintei as unhas, me maquiei e me perfumei, fiz tranças em meus cabelos, vesti meu melhor vestido, queria estar perfeita para ele, mais foi tudo em vão, o esperei a noite toda e ele não apareceu, comecei a chorar.

 Yuki o que houve? Por que está chorando?

 Convidei Peter para jantar comigo, marcamos nosso segundo encontro e ele não apareceu.

 Como assim segundo encontro? Tiveram o primeiro? E por que estava saindo com ele? Vocês mal se conhecem.

 Eu sei que você não gosta dele, mas eu gosto, quero conhece-lo melhor, entretanto não sei o que aconteceu, será que devo ir falar com ele?

 Não é que eu não goste dele, porém eu não o conheço, não sei suas intenções, nem se ele é uma boa pessoa. Não fique assim, eu janto com você e depois vocês conversam, talvez tenha acontecido algo e ele não pode vir e nem avisar.  Ele me abraçou tentando me confortar, então me acalmei e fomos aproveitar o jantar.

Enchi a banheira com água quente, coloquei algumas gotas de essência de lavanda, me despi e entrei na banheira deixando apenas a cabeça para fora, peguei um livro e fiquei lendo.

... 

Já faz uma semana que Peter não aparece, eu sabia que ele não queria me ver mais, devo ter feito algo que ele não gostou. Talvez ele tenha visto que não valho a pena, não quis perder seu precioso tempo comigo.

 Yuki, você quer que eu vá falar com ele?

 Não Will, deixa isso para lá.

 Como deixar isso para lá Yuki? Vai deixar esse idiota fazer o que fez?

 Willian ele não fez nada, eu e ele não somos nada, apenas vizinhos, conhecidos, que saíram uma vez apenas, esqueça isso, por favor.  Estou irritada e triste, não queria saber do Peter, se algo tivesse acontecido ele viria falar comigo, “eu acho”. Já foi muito humilhante ser abandonada no segundo encontro, não preciso ouvir desculpas esfarrapadas.

 Está certo, mais só por que você pediu. Eu o vi hoje de bicicleta, supus que viria aqui falar com você, mas ele saiu pedalando rápido. O que custa ele vir aqui conversar?

— Esqueça isso Will, não vale a pena nos estressarmos por isso. Ele não me deve nada.

Eu estou com saudades dele, mas eu o odeio em simultâneo. Me dei conta que estou apaixonada, eu queria muito estar com ele. Estou confusa sobre meus sentimentos.

... 

Às aulas haviam chegado e era uma ótima distração para esquecer o que houve. Me arrumei e fui a uma cafeteria. Comprei um café grande e forte, alguns pãezinhos recheados de frango com catupiry e depois fui para escola. Entrei em minha sala e ela estava vazia, me sentei e deitei minha cabeça sobre minha mesa, de repente minha amiga chega gritando.

— Yuki, você veio! Quero te apresentar meu amigo, ele está na nossa turma. — Quando levanto minha cabeça o vejo em pé na minha frente e ela agarrada com ele. Era o Peter, ele me olha espantado e depois olha para Ayumi.

 Nós nos conhecemos, somos vizinhos.

— Oi, Peter! Oi, Ayumi! Vocês poderiam me dar licença? — Saio daquela sala o mais rápido que posso e ele vêm correndo atrás de mim.

 Yuki, espere! Preciso conversar com você.

 Conversar o que Peter?

 Quero me desculpar por não ter ido a sua casa e...  Eu o interrompo.

 Não precisa pedir desculpas, está tudo bem.

 Não, não está. Deixa-me explicar, por favor. Eu fui muito insensível com você e...  Eu o interrompo novamente, não queria ouvir suas desculpas.

 Não precisa explicar nada Peter, você não me deve explicação nenhuma.

 Mais Yuki.

 Peter, chega! Não somos nada então não precisa me explicar nada. Agora tenho que ir. — Todas as pessoas a nossa volta estavam olhando, olho de volta para ele e saio, me tranquei no banheiro e comecei a chorar. Sei que parece besteira, sei que sou muito frágil e me apego rápido as pessoas, não consigo evitar, a vida foi dura comigo. Apenas quero me agarrar a qualquer momento que seja bom, infelizmente me iludo demais e isso me prejudica emocionalmente e psicologicamente. Volto para sala caminhando devagar e encontro Carlos.

 Yuki, podemos conversar?

 Claro! Aconteceu algo?  Achei suspeito, Carlos não fala muito comigo

 Não é nada grave. Vamos para aquela sala conversar.

 Pronto, pode falar.

 O que aconteceu para você e Peter brigarem?

 Nada de mais, foi bobagem.

 Eu sei que não sou seu amigo, mas eu percebi que você não está bem, se não quer falar comigo então fale com minha irmã, vocês duas são melhores amigas, mais nessas férias você não conversou com ela em nenhum momento.

 Eu sei. Estou passando por muita coisa e não quero a envolver.

De repente Peter aparece e Carlos nos deixa sozinhos. Ele tenta se explicar mais não estou interessada. Tento afasta-lo mais ele insiste. Então ele me pega pela cintura e tenta me beijar, porém, alguém nos interrompe. Era o Will, ele puxa Peter e dá um soco, fiquei abismada, porque ele fez isso? Eles começam a discutir e eu os interrompo, não aguentei todo aquele estresse e discussão. Todos que estavam no corredor ficaram nos olhando, era constrangedor.

 Willian, o que você está fazendo aqui na escola?

 Que bom que eu apareci. Você ia deixá-lo te beijar, como você pôde fazer isso?

 Eu não ia deixá-lo fazer nada, e não foi isso que eu perguntei. Me responda o que está fazendo aqui? E por que está tão irritado?

 Tenho notícias para você.  Ele suspira e me olha com lágrimas nos olhos.

 Então diga logo. Você está me assustando.

 Nossos pais voltaram e vão ficar hospedados na nossa casa.

Eu não consegui acreditar no que o Willian acabou de me dizer. Meus pais não podem ter voltado. Após longe eles querem voltar assim do nada?

 Isso é mentira. Will isso não pode ser possível, diz ser brincadeira.

 Yuki, me escuta. Eu sei que pode ser difícil, mas eles são nossos pais e...

 Difícil? Willian, como você pôde permitir isso? Você sabe o que eles fizeram. Não vou voltar para casa, não ficarei perto deles de forma alguma e eles não são meus pais.  Minhas lágrimas não param de cair.

 Yuki eles chegam hoje. Você precisa conversar com eles. Por favor!

 Nunca! Não acredito que você deixou isso acontecer.

 Você pensa ser fácil para mim? Sua dor é minha dor.

 Você pode até se sentir mal e até triste, mas sua dor nunca será igual à minha.

Sai daquele corredor chorando, me tranquei de novo no banheiro e fiquei lá até tocar o sinal para a próxima aula. Sei que magoei o Will, me arrependo disso, sei que ele apenas quer o meu bem. Levanto-me do chão da cabine do banheiro para voltar a sala de aula, mais antes me olho no espelho, meus olhos estão vermelhos, nem a maquiagem esconde o que sinto. Quando chego à sala, entro e todos estão me olhando, me encaram fixamente, abaixo a cabeça e vou para o meu lugar, sento e fico bem quieta sem fazer barulho nenhum.

... 

No intervalo pego meu almoço e vou para uma mesa vazia, não estava com disposição para conversar com Ayumi ou com qualquer outra pessoa. Peter veio conversar comigo, não aguentei e comecei a chorar, não conseguia parar. Ele me levou para o teatro, nós nos sentamos, eu o abracei forte. Chorar era a única coisa que aliviava toda aquela pressão. Tento falar o que aconteceu mais é difícil, respiro fundo e começo contar a minha história do início.

Meus pais sempre foram muito frios comigo, sempre me deixavam de lado, meu irmão era o único que cuidava de mim, brincava comigo, nunca entendi o desprezo dos meus pais.

... 

Certo dia nós fomos viajar, bem, foi o que eu pensei, eles arrumaram todas as coisas em caixas e mandaram eu e Will entrarmos no carro, um caminhão apareceu e mamãe foi falar com um homem de uniforme do caminhão, papai estava no carro conosco, ele chamou mamãe dizendo estarmos atrasados, ela entrou no carro desesperada e partimos. Depois de algumas horas chegamos a um lugar grande cheio de crianças, tinha duas mulheres do lado de fora com roupas até os pés, eram freiras. Disseram estarem nos esperando, mamãe pediu para o Will esperar no carro com o papai que ela ia entrar comigo, ela pegou minhas malas e entrou comigo naquele lugar enorme e escuro.

 Mamãe, posso brincar?

 Claro que pode filha. 

Fui brincar enquanto mamãe falava com as mulheres, de longe eu a vi dar minhas malas para uma delas, não dei muita importância, eu era muito pequena para entender, pensei que ela estava cansada e pediu para moça segurar, fiquei brincando no parquinho que tinha naquela casa enorme. Quando voltei para dizer à mamãe que eu estava cansada, ela não estava mais lá, procurei desesperadamente por ela, pelo papai e pelo Will, não os encontrei, uma mulher me pegou pelo braço e disse:

 Oi, querida! Meu nome é irmã Isabel, vou cuidar de você.  Eu estava chorando muito de medo.

 Onde está minha família? — Ela deu um estranho sorriso.

 Ah, querida! Eu sinto muito, você não tem mais família, eles foram embora e te abandonaram.

 Isso é mentira! Onde estão? Eu quero ir para casa agora.  Eu não conseguia acreditar no que aquela mulher acabara de dizer.

 Aqui é sua casa agora e é melhor você se conformar ou sofrerá as consequências.

As noites dentro daquele orfanato foram um pesadelo, me sentia presa, aqueles portões enormes e enferrujados nos mantinham lá dentro, eu não conseguia acreditar que minha família tinha me abandonado, porque eles fizeram aquilo? Eles não me amavam? Será que foi porque não guardei meus brinquedos? Eu não entendia o que estava acontecendo, eu queria sair dali. A comida era horrível, com sabor vencido e fedia a podre, se não fizéssemos o que eles queriam nos batiam sem dó, tenho marcas até hoje. Todas as meninas dormiam em um colchão fino no chão, só tínhamos uns aos outros para nos aquecermos. Eu sempre imaginava que eles voltariam, mas nunca voltaram.

Passei cinco anos naquele lugar, certo dia meu irmão apareceu no orfanato, eu estava com raiva dele por ter me abandonado, mas ele me explicou que não teve nada a ver com aquilo e que não sabia o que eles iam fazer, ele disse que sentiu muito a minha falta.

... 

Então fui morar com ele e durante todo esse tempo não vi meus pais, e agora eles querem vir nos visitar assim do nada. Já faz muitos anos que não os vejo, e quero passar mais tempo sem vê-los. Todas as noites eu tenho pesadelos com aquele lugar, e isso é tudo culpa deles, minha vida se tornou melhor quando meu irmão voltou e começou a cuidar de mim como se eu fosse sua filha. Não irei aguentar olhar para eles.

Peter estava chorando, então me abraçou e disse que posso contar com ele para o que for, e que se eu quiser posso ir para casa dele, fiquei tão agradecida que dei um beijo em sua face, quase encostando no canto de sua boca, eu queria beija-lo, isso me deixaria nas nuvens. Ainda iriamos ter aula, então nos recompomos e voltamos para sala, eu não consegui prestar atenção em nada, apenas escrevi, meus pensamentos estavam altos, hora pensava em Peter, hora pensava nos meus pais, nunca me senti tão confusa assim.

O caminho de volta para casa era árduo, eu estou com medo, estou perto da casa de Ayumi, desvio meu caminho e vou à casa dela, ela havia acabado de chegar, me convidou para entrar e entrei tão depressa que parecia uma fugitiva.

 Yuki, está tudo bem?

 Estou sim, só estou com frio.

 Não, você não está. O que aconteceu? Conversa comigo, sou sua melhor amiga, poxa! Te vi sofrer o dia inteiro e nem consegui conversar com você.

Ela tinha razão, ela é a melhor amiga e estou escondendo tudo dela, justo ela que é como minha irmã. Não aguentei e comecei a chorar, contei tudo a ela, contei sobre meu passado, a visita dos meus pais, o que me fez tremer muito, e até contei sobre o Peter, era um misto de emoções que me deixava muito estressada, a ansiedade percorria todo meu corpo.

 Quer que eu vá com você até sua casa e fique a noite toda?

 Não precisa, tenho que enfrentar tudo sozinha, obrigada pelo apoio.

 Sempre estarei aqui para você.

Resolvi ir para casa, já era tarde, fui andando e observando as pessoas passearem com suas vidas normais, essa cidade realmente é pacata. Chegando em casa vi Will na varanda, ele estava muito preocupado, me abraçou e disse que eles haviam chegado, comecei a tremer novamente. Assim que entrei eles levantaram do sofá e me abraçaram como se tudo estivesse normal, como se nada tivesse acontecido, eu estava tão em choque que não consegui reagir, ela estava com o mesmo perfume do dia em que me abandonou, sinto um forte enjoo, as lágrimas brotam em meus olhos, porém não escorreram, não queria demonstrar o que estava sentindo. No jantar parecíamos sermos uma família normal, uma típica família jantando, como nos filmes, onde os pais perguntam como foi seu primeiro dia de aula.

 Temos uma novidade. Na verdade, são duas, seu pai e eu iremos morar aqui para nos aproximarmos de vocês e também gostaríamos de anunciar que estamos grávidos e é uma menina, vocês terão uma irmãzinha.

Aquilo foi um soco no estômago, me desequilibrei e tive um ataque, joguei meu prato no chão, comecei a gritar e falar tudo que estava preso em minha alma e então corri para fora de casa, Will continuou imóvel e abismado. Fui para casa de Peter e bati com muita força na porta e assim que ele abriu eu me joguei em seus braços chorando como uma criança, ele me puxou para dentro e fechou a porta, subimos para seu quarto, ele me deu milkshake e lenços. Eu mal conseguia respirar, a ansiedade e o pânico tomaram conta de mim, meus pensamentos estavam embaraçados.

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