Capítulo 2

 Peter

Hoje é um dia muito chuvoso. Estou na casa de meu amigo Carlos desde ontem revisando matérias da escola para eu me manter atualizado. Ele, sua irmã Ayumi e eu, nos conhecemos no primeiro dia em que me mudei com minha família para essa cidade. Foxcity é pequena, mas muito bonita, as casas são feitas de madeira e todas elas contêm um jardim e uma árvore, há montanhas até perder de vista, florestas naturais e cheias de vida, animais andam pela floresta sem medo de caçadores, o ar é totalmente diferente da cidade grande, é limpo e me faz bem. É um lugar tranquilo onde nada de ruim pode acontecer, um verdadeiro conto de fadas.

Na volta para casa ainda está chovendo muito, infelizmente esqueci meu guarda-chuva, então vou correndo, coloco o capuz do meu casaco na cabeça e vou o mais rápido que posso. Chego em minha casa, mas lembro que esqueci minhas chaves no quarto, chamo meus pais porem não tem ninguém lá, eles foram trabalhar muito cedo. Fui a casa de um vizinho, com esperanças de que me acolhesse enquanto meus pais não chegam. Ao chegar à casa bato na porta e uma linda menina aparece com uma lanterna. Ela tem o cabelo longo e ruivo com ondulações nas pontas, seus olhos são azuis como o céu em um dia de verão, seu rosto pálido possui algumas sardas que parecem ser estrelas.

— Olá, meu nome é Peter! Sou seu novo vizinho.

— Olá, Peter! Meu nome é Yuki! Posso ajudá-lo em algo? — Ela me cumprimenta desconfiada.

— Meus pais saíram e fiquei preso do lado de fora, esqueci minhas chaves sobre minha cama quando saí. Gostaria de saber se posso esperar aqui? É por pouco tempo, daqui a pouco eles chegam.

 Ela parece ser uma pessoa muito gentil, parecia estar desconfortável, pensei em deixar para lá e voltar para casa de Carlos, mas ela me deixou entrar, me emprestou uma toalha e roupas de seu irmão.

A casa está sem energia, parece que o bairro inteiro estava. Fui para o quarto do irmão dela me vestir. É um quarto grande, com duas janelas brancas e grandes que vão do chão ao teto, uma cama enorme com um cobertor bem grosso com estampa de galáxia, um tapete grande e felpudo aos pés da cama, um guarda-roupa, na parede havia uma guitarra vermelha, perto da cama há uma escrivaninha e sobre ela um notebook, um caderno, canetas e uma foto dele e da Yuki quando crianças e na parede contém uma prateleira com vários livros.

Desço as escadas bem devagar e com cuidado, não enxergo muita coisa. Yuki está no fogão, fico ali parado admirando-a fazer chocolate quente, ela vira e me olha fixamente, e acaba se queimando. Eu não deveria rir naquele momento mais não resisti, não sei o que ela estava pensando no momento, mas aquilo a distraiu bastante. Ela ficou constrangida e virou-se para o fogão novamente. 

"Talvez eu tenha sido insensível, deveria ter perguntado se ela estava bem”.

 Ela elogiou a roupa de seu irmão em meu corpo, agradeci e elogiei como roupas também, eram muito bonitas. É uma jaqueta de frio preto com um desenho de dragão em cor branca, na parte de baixo uso um moletom escuro e meus pés estão com meias e pantufas para aquecê-los.

 Fomos para sala e ficamos sentados tomando chocolate quente. Ele contém um sabor irresistível. O chocolate derrete em minha boca, dentro dele havia vários mínis marshmallows coloridos. Senti vontade de conversar com aquela linda garota, mas percebi o quanto ela estava assustada e desconfortável, não uma boa ideia pedir para entrar em sua casa, mas o que eu poderia fazer? A tempestade estava piorando, e se voltasse a casa de Carlos teria ficado preso na rua em meio a uma tempestade. Então fiquei em silêncio, tomando o chocolate quente e observando a casa. Era uma casa simples, na sala havia uma estante branca de livros, um sofá grande e duas poltronas cor de vinho, um tapete felpudo, uma televisão, um quadro grande com uma árvore de cerejeira pintado e algumas plantas espalhadas. Após alguns minutos, penso em fala algo, mas o barulho de carro me atrapalhou. Meus pais que acabaram de chegar, agradeço pela gentileza e por impulso dou-lhe um beijo em sua face e vou embora correndo na chuva.

Corri para casa o mais rápido que pude, e ao chegar cumprimento meus pais e vou para meu quarto tomar um banho, pois novamente estava encharcado. Enrolo-me no roupão e coloco as roupas do irmão da Yuki para lavar e secar. Enquanto a água desce pelo meu corpo, não paro de pensar naquela linda garota ruiva e gentil, tento tirá-la de meus pensamentos, mas é em vão. Saio do banho deito-me e adormeço. 

...

— Peter querido, acorde. São 19h, venha jantar, você não comeu nada ainda. Abro os olhos e vejo minha mãe me acordando de um jeito delicado para não me assustar.

— Boa noite, mãe! Desculpe-me, estava muito cansado.

— Eu sei querido. Desça e venha jantar conosco. 

Minha mãe e meu pai sempre eram gentis comigo, nossas refeições sempre eram feitas juntos, sempre conversávamos sobre tudo, nosso dia a dia e o que sentíamos. Minha mãe havia feito lasanha de quatro queijos para o jantar, meu pai e eu amávamos quando minha mãe cozinhava. Os dois quando jovens haviam feito faculdade de gastronomia, hoje em dia eles são donos um restaurante e uma cafeteria em outra cidade, e estão pensando em abrir aqui.

— Como foi o seu dia filho?

— Foi corrido pai, estudei com meus amigos para me atualizar sobre os assuntos das matérias escolares e em seguida vim para casa, mas eu estava sem as chaves, então fui a casa de uma vizinha que me deu abrigo e roupas secas.

— Meu Deus, querido! Você tomou chuva? Poderia ficar doente. E só havia uma mulher lá ou mais alguém?

— Não se preocupe mãe, irei ficar bem. Era uma garota da minha idade, ela estava sozinha, o irmão dela estava trabalhando, o bairro estava sem energia há algumas horas.

— Cuidado filho você não conhece as pessoas desse lugar, não entre na casa de estranhos. 

— Não se preocupem. Eu irei me cuidar. Como foi lá no restaurante?

— Temos uma novidade. Eu e sua mãe, conseguimos comprar um prédio aqui no centro da cidade e abriremos o restaurante lá. Começaremos a reforma essa semana.

— Que notícia maravilhosa, isso merece uma comemoração.

— Amanhã iremos a cafeteria comemorar. Agora vá descansar querido, nós iremos cuidar da louça.

— Boa noite aos dois, durmam bem.

— Você também querido. — Eles me abraçam e vou para meu quarto. 

... 

Acordei eram 9h da manhã, levanto e vou tomar banho e escovar os dentes. Visto meu moletom, desço as escadas e vou tomar o café matinal com minha família. Meu pai havia preparado panquecas, torradas com geleia, frutas e um tradicional café expresso. Aquela manhã estava congelante então ninguém dispensou um café bem quente. Estávamos conversando sobre os negócios da família e minhas futuras responsabilidades. Sinto-me um pouco pressionado, não sei se irei me sair bem como gerente, eles querem começar a me treinar.

— Meninos desculpe-me interromper, tenho uma boa notícia. Bem vocês sabem que durante anos foram apenas nós, mais agora nossa família está prestes a crescer. 

— Minha mãe estava tão ansiosa que não parava de sorrir. 

— Então… Nós… vamos? 

— Sim, querido. — Disse ela eufórica 

— Vamos adotar um cachorro? Carina? 

— Oh! John! Deixe de gracinhas. — Todos nós começamos a rir. 

— Eu estou grávida. — Ela estava radiante. Nós nos abraçamos muito contentes.

— Então nada de cachorro? Já estava pensando que nome eu daria, poderia ser Rex ou Brutus.

— John deixe disso. E lembre-se você é alérgico então nada de cachorro para você, só um lindo bebê.

— Estou muito feliz querida, mais um para nossa maravilhosa família.

— Meus parabéns, mãe, eu te amo, e já amo meu irmãozinho ou irmãzinha. 

— Obrigada meu bem, também te amamos. Estávamos muito felizes, principalmente o meu pai. 

Sempre fui sozinho, não era de ter muitos amigos, fico feliz em saber que não serei filho único para sempre. Marcamos as comemorações ao anoitecer. 

Minha mãe e meu pai foram trabalhar e como fiquei sozinho em casa, aproveito para ir à casa de Yuki levar as roupas de seu irmão. Chegando lá, toco a campainha e espero alguém atender à porta. Quem atende é um homem, provavelmente o irmão dela. 

— Bom dia! Meu nome é Peter, a Yuki está? 

— Bom dia! Sou o irmão dela. Meu nome é Willian! A Yuki está doente, posso ajudá-lo em algo coisa?

— É que eu estive aqui ontem e ela me emprestou suas roupas, vim devolvê-las. 

— Ah! Então você é o garoto que ficou a sós com minha irmãzinha no escuro? — Ele cruza os braços e me olha com um olhar imponente. 

— Por favor, não pense nada errado, eu não fiz nada com ela, eu juro, só fiquei aqui esperando meus pais chegarem.

Ele olha como se estivesse me analisando. Ele parece ser rígido. Sua aparência é igual a de Yuki, ruivo com sardas, olhos azuis quase indo para o verde, uma barba ruiva e um corpo atlético. Ele está vestido com camisa de banda de Rock. 

— Eu sei que você não fez nada, caso contrário estaria com sérios problemas. Entra aí, vou pegar suas roupas. 

— Ele dá as costas e sobe as escadas. Entro e fico esperando-o voltar. Viro-me e vejo Yuki, travo frente a ela.

— Bom dia Peter, tudo bem? — Ela dá um lindo sorriso.

— Bom dia Yuki, tudo sim e você, como está? — Fico tão tímido perto dela que começo a apertar minhas mãos atrás das costas. 

— Estou um pouco doente. O que veio fazer aqui? 

— Vim trazer as roupas de seu irmão, ele me pediu para entrar, já que foi buscar minhas roupas. Mas… diga-me, o que você tem? Ontem parecia estar bem, eu te passei alguma doença?

— Bem! Estou com febre, com muita dor de cabeça e gripada, mas depois passa. Não foi você, eu tomei um banho bem gelado ontem e abri as janelas, fiquei doente por displicência.  

— Seu jeito de falar é tão suave, ela fala como se estivesse tudo bem. 

— Melhor você ficar de repouso, assim você irá melhorar rápido. 

— Yuki, o que está fazendo fora da cama. — Diz Willian com uma voz de preocupação. 

— Eu ouvi a voz de Peter e vim apenas cumprimentá-lo.

— Entendo, mais se você ficar se esforçando irá piorar.

Achei incrível o cuidado que ele tem com ela, ele estava realmente preocupado, sua expressão quando fala com ela é serena, um olhar mais gentil. Talvez eu o tenha julgado mal. 

— Seu irmão tem razão, melhor ir se deitar. 

— Tudo bem, eu irei, não se preocupem. Tchau! Peter, até mais.

— Tchau! Melhoras e fique bem.

— Ela dá um sorriso e sobe as escadas. — Obrigado pelas roupas, Willian. 

— De nada! Só Will está bom. Vou trabalhar agora, então depois nós nos falamos e por favor não venha a minha casa quando minha irmã estiver sozinha. 

— Eu sinto muito, só vim mesmo devido à tempestade. Então até depois, e mais uma vez muito obrigado e me desculpe, não irá acontecer de novo. — Fiquei constrangido por ele imaginar que eu poderia fazer algo ruim com ela, mas eu entendo, não é confiável deixar um estranho com sua irmã mais nova, mesmo que não haja segundas intenções.

Vamos até à porta e vou para casa pensando em Yuki, desejando vê-la novamente, sinto como se um cupido tivesse me acertado, é estranho esse sentimento que estou tendo por alguém que acabei de conhecer. 

O dia está maravilhoso, resolvo sair um pouco de casa, vou até o parque com meu violão e sento debaixo de uma árvore, e começo a tocar.

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