Capítulo 02.

— Irei formar grupos pra falarem dos temas, que estão listados na losa. 

— Professor nós não podemos formar nossos próprios grupos?— como se não tivesse ouvido, o professor de história continua falando. Gregório típico professor barrigudo, carancuda que odeia os alunos mas dá aulas a mas de vinte anos.

— Vou nomear os respectivos membros e seus temas — sua voz é arrastada e baixa, como se suas cordas vocais tivessem se perdido ao decorrer dos anos. Ele não se importa se os alunos estão ou não o ouvindo, ele quer mesmo é dar sua aula e seguir com sua vida. Sun ignorava completamente as reclamações de seus colegas, para ela não fazia diferença, mesmo que não quisesse fazer prova em grupo. — ...Sun e Buba 

— É Duda professor!— a turma riu, era sempre a mesma coisa. Passaram se dois anos e mesmo assim Gregório continuavam trocando as letras de seu nome.

Como se não tivesse ouvindo o professor continuou organizando os grupos.

— Professor, eu não conheço meu par — Duda voltou a pronunciar-se 

— E qual é o seu par?

— Acho que é Solange ou Sul...algo assim — Sun revirou os olhos enquanto a turma ria.

— Sun Monteiro,  é a estudante transferida — o professor leu na ficha — Sun levanta o braço pra te identificarmos!

Mesmo receosa ela o fez, a turma inteira virou-se pra encarar, o que fez seu rosto esquentar. 

— Como é bonitinha.

— Tem um estilo engraçado, lembra animes.

— O olho vendado né?

A turma cochichava entre si a deixando ainda mas desconfortável. Quando Duda cruzou seu olhar com de Sun, ela sorriu e voltou a sentar-se devidamente. Sun abaixou a mão e virou o rosto, tentando esconder o rubor.

A professor continuou sua aula e no final dela a turma pode se dispersar. Sun, não saia os intervalos, preferia dormir na carteira e evitar se mostrar, quanto menos fosse notada melhor. 

— Ei — Sun levantou sua cabeça sentindo alguém a cutucando. Seus olhos azuis eram lindos, lembravam o oceano, Sun não sabia que tanta beleza assim era possível. Mas ela não se iludia com as aparências. Manteu-se apática. — Como vamos fazer o trabalho? Só temos duas semanas pra entregar.

— Cada um faz uma parte, depois juntamos.

— O trabalho é em grupo não individual. Temos que marcar um dia pra fazer de uma vez, não gosto de deixar trabalhos pra últimos dias. — Sun não a respondeu, continuou fitando seus olhos — Sábado estás livre?

Vou te passar o endereço da minha casa, aí fazemos tudo de uma vez, podes vir de tarde, é mas prático — Duda sentia-se uma idiota falando sozinha, em nenhum momento Sun a respondeu, muito menos manifestou alguma reação perante suas palavras. — Aí! — grunhiu assim que sentiu um puxão em seu cabelo 

— Zebra, tô com fome!— sem esperar alguma resposta da irmã, Daniel a arrastou até sua pasta já que ela é quem ficava com o dinheiro de lanche. Por causa da indisciplina de seus amigos Daniel não deixava nada valioso na sua pasta, pôs sabia que sumiria. 

— Estou ocupada não vês!

— Estou com fome, o intervalo não espera. Depois vocês falam — mesmo que Daniel fosse meio indiferente a beleza feminina, ele achou que tinha visto um anjo no primeiro instante que seu olhar caiu em Sun.

— Espera...— Duda pegou na caneta que se encontra na carteira — posso escrever aqui?— como não obteve resposta escreveu do mesmo jeito — esse é o meu endereço.

Depois disso permitiu ser se arrastada pelo irmão, em direção a cantina. Ethan está no último ano, diferente de seus irmãos que estão no terceiro do ensino médio.

Sun, olhou pra o endereço e não pode evitar dar um suspiro. Não gostava nada de ir a casa de estranhos.

(...)

A medida que caminhava de volta pra casa, Sun não podia deixar de observar as crianças brincando no parque com seus pais.

Sentia inveja e se perguntava, o que a vida estava fazendo com ela.

As crianças sorriam, recebiam carinho de seus pais. Sun abaixava o olhar com vontade de chorar, mas sem lágrimas pra derramar. Não se sentia só, isso era fato, tinha sua mãe e pra ela isso era mas que o bastante. Quando se lembrava de seu pai e das pessoas que um dia chamou de amigos, não sabia se sentia tristeza ou ódio. Mas de todas as pessoas que podiam arruinar sua vida, seu pai ocupava um lugar especial.

Sun não é fraca, pode ser desastrada e frágil, mas não é fraca.  Já passou fome, já apanhou calada, já se sentiu  sozinha. Sun já viu a morte perto, numa cama de hospital. Já teve que correr pelas ruas por sua vida. Já invejou ter um pai, como seus colegas, Sun já viu quase tudo e pra ela, nada podia a surpreender mas.

— Droga, me desculpe! — falou assim que esbarrou num moço.

— Não faz mal, só olhe pra cima quando estiver andando.

— Vou me lembrar disso!— Sun disse se distanciando do grupo de estudantes parados na rodoviária, fazendo selfie.

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