A Encontrada - Parte 2
A Encontrada - Parte 2
Por: Eder B. Jr.
Capítulo 1

Ambhar terminou a música. Alguns estavam sentados outros de pé, mas todos, sem exceção a parabenizaram pelas lindas interpretações. Kasphio estava encantado por Ambhar, cada dia mais. Ela veio em sua direção com um sorriso no rosto. Toda tímida e encantadora. Estavam sentados após a refeição e era a folga de Fayne, só queriam ficar ali, descansando e vendo um ou outro se apresentar e tocar algo ou dançar. Após eles montarem tantas barracas e organizar todo o acampamento para que ficasse fácil de se transitar, eles mereciam sentar e aproveitar a noite.

Kaeidh chamou a todos para conversarem. Cada vez mais, eles foram chegando perto da fogueira. Àsgar e Tarwin estavam juntos, esperando que todos os que estavam na ilha, viessem para ouvir o que eles tinham a falar.

- Boa noite. Queremos agradecer vocês porque além de terem vindo, ainda estão fazendo de tudo, nas embarcações, e em todas as funções que são requeridas, mesmo que essas, não sejam as funções que vocês aceitaram fazer. - Disse Kaeidh olhando para cada um dos presentes.

- Queremos também que saibam que mesmo ao estarmos relaxados, por ficarmos em um local conhecido, um local de paradas de barcos e navios, ainda temos que pensar que estamos em perigo. Apenas navios piratas de trocas de mercadorias passaram por estes mares desde... Séculos, ou até milênios. E não sabemos ao certo, o que mais devemos esperar. Portanto, quero pedir a vocês que sempre andem em dois ou mais. Nunca, nunca mesmo, sozinhos. Por favor. Queremos voltar desta viagem com todos. - Disse Àsgar

- E amanhã vocês receberão mais um treinamento e além disso, começaremos a buscar os alimentos para repor os que usamos. Será nossa última parada em um local conhecido. Se houverem mais ilhas, iremos contar com a sorte. Descansem e boa noite. - Disse Kae.

Saphyre parou próxima a Kae, Tarwin e Àsgar.

- Vocês viram a Em? Meus pais não a viram desde que atracamos. - perguntou.

- Não a vi, a não ser quando desceu do último barco - disse Tarwin. - A viu Leigh?

- Não vi.

- Eu vi tia Saphy. Ela foi na direção da praia. - Disse Sorag brincando com Moony na areia.

- Sozinha? - Perguntou Àsgar ao menino

- Sim, ela foi para lá. - Apontou ele.

- Obrigada Sor. - Falou Saphyre beijando a testa dele.

Eles foram caminhando em direção à praia, sem conseguir ver absolutamente ninguém, somente as fogueiras ao longo da faixa da praia e os pequenos simps que absorviam as chamas e sobrevoavam o mar, fazendo sua imagem duplicar, aparentando ter mais simps do que na verdade tinha. Era uma visão linda, mas estavam preocupados com Emeraldy.

Caminharam mais um pouco e observaram sombras próximas a duas dunas. Quando chegaram mais perto, Sírius levantou acenando para eles. Estavam bem atrás deuma duna alta próximos a uma das mesas que haviam sido postas.

- Olá. Estão passeando?

- Não, estamos procurando Em. - Disse Saphyre, olhando para os dois. - Papai e mamãe estavam preocupados com você Em. Mas já que está com Sírius, podemos voltar tranquilos.

- Porquê não podiam antes?

- Porque você estava sozinha, e já avisamos a todos, agora mesmo, numa reunião, que não podemos andar sozinhos. Sempre em duplas ou mais. E porque você saiu há um tempo. Não estamos em casa. Portanto fique atenta e só saia por aí com outros lhe acompanhando e você também os acompanhará. Já que é uma lutadora incrível e está melhor que nós com o fogo e o portal.

- Tudo bem. Vou ficar atenta a isso e seguirei as regras. - Mudou de assunto apontando para o mar - O mar não é muito lindo!? A areia... Nunca pensei sentir isso em meus pés. - disse Emeraldy cavando a areia fina com os dedos.

Saphyre riu.

- Simm, não tínhamos nada disso. - ela explicou para Kaeidh e Sírius - Vimos somente fotos de um outro planeta extinto em que haviam praias maravilhosas. Um local cheio de mares e continentes e que foi destruído pelos próprios humanos que viviam lá. Era o único lugar em que poderiam sobreviver, que tinha a condição perfeita para eles.

- E como alguém destruiria o único local onde poderia viver?! Eu não compreendo. - disse Sírius.

- Nós também não. Mas soubemos que o fizeram por dinheiro, foram as grandes indústrias, as maiores responsáveis. - Falou Emeraldy.

- Nós temos ainda em Sart o conceito de dinheiro para comprar coisas, mas crescemos aprendendo que a natureza é mais importante que tudo. Então o consumismo é algo horrível. Ninguém é consumista. Temos apenas o suficiente. Casa, conforto, alimentos. Trocamos coisas uns com os outros. - contou Saphyre.

- Temos plantações que os próprios moradores de uma comunidade plantam, cuidam e colhem. E todas as outras coisas que são fabricadas, tem a mesma qualidade para todos. Ninguém tem coisa melhor do que o outro e nossas casas são todas dos mesmos tamanhos. Nosso planeta é composto por oitenta por cento de vegetação e não são todos que podem ter filhos. Então, os que têm podem ter até três. Depois disso usam métodos anticoncepcionais.

- E isso serviria para não ter filhos? Como funciona? - Perguntou Sírius.

- Tem um remédio que os homens tomam e não produzem mais e aos que não quiserem tomar este remédio , podem usar um preservativo, algo que se coloca nos genitais, tanto masculinos, quanto femininos, que impedem a reprodução e também algumas doenças, apesar de que quase estão extintas essas doenças. As pessoas que puderam viajar pelo espaço até o planeta que foi construído para ficar no lugar do outro não tinham doenças, eram jovens e foram os únicos que conseguiram chegar a tempo. Acertei? - Perguntou ele a Saphyre. Havia lido sua mente e apenas recitou o que ela pensava. Adoravam fazer isso. Ela riu alto.

- Simm! Muito bem. - Sírius e Emeraldy ficaram olhando os dois, sem entender. - Ah gente! Lemos a mente um do outro, por causa da conexão. Lembram? me sœur, elfos... - disse Saphyre.

- Claro, mas não deixa de ser impressionante. - Disse Emeraldy encolhendo os ombros.

- Não é? É nossa brincadeira preferida. - Disse ela beijando Kaeidh no rosto.

- Isto é. É um prazer estar na mente dela. - disse Kae.

Emeraldy e Sírius riram ao ver os dois brincando.

- Bom irei me retirar, preciso descansar. Talvez vocês devam também dormir já que ficaram em ronda há pouco tempo? - perguntou Sírius.

- Sim, iremos. Amanhã quero entrar no mar com Leigh e Tarwin, pela primeira vez vou treinar meus dons elficos na água. - Contou Emeraldy.

- Não se esqueçam, fiquem atentos. - disse Sírius. Se despediu e caminhou pela areia até a cabana que lhe foi designada.

O dia amanheceu ensolarado e eles puderam ver a beleza selvagem da ilha onde se encontravam. Nos limites da praia, a areia branca se mesclava com a terra multicolorida criando um efeito de aquarela extrememente lindo.

- Se tivéssemos nossos aparelhos, tiraríamos fotos lindas. - Disse Saphyre para Emeraldy.

- Sim. Pena que não o trouxemos. Apesar que não sabemos se iriam funcionar aqui.

Elas estavam na porta de suas barracas esperando os pais e Ambhar para aproveitar a água fresca do mar, da parte da manhã. Depois começariam a coleta de alimentos, dentro da floresta.

- Oi meus amores. Dormiram bem? - disse Mona chegando próxima a elas.

- Bom dia mãe, dormimos, e você e o pai? - respondeu Em.

- Sim, bem também. Que perfume maravilhoso, me lembra o cheiro da caverna na enseada em que eu vivia com meu pai e avó.

- Olá meninas. - o pai veio caminhando de dentro da barraca - As mulheres da minha vida reunidas, só falta Ambhar - disse Satio.

- Bom dia pai. Ambhar já vem também. Vamos até a água, mergulhar e quem sabe encontrar mais alimento. Vocês vem conosco?

- Claro, vamos meu bem? - disse Mona

- Sim, vamos sim.

- Ok, vou chamar Tarwin para nos acompanhar. Vem comigo Saphyre? - disse Kaeidh.

- Vamos. Já voltamos pessoal - falou Saphyre indo com Kaeidh.

Caminharam pelos labirintos entre uma barraca e outra e viu Tarwin saindo de uma delas e Leigh de outra com um Sorag sonolento.

Ele os abraçou e carregou Sorag no colo.

- São muito lindos juntos. - Falou Kae para Saphyre mentalmente.

- Sim, depois de tanto sofrimento. Pergunte a sua irmã a história dos dois. Acho que ela está pronta para contar, agora que eles estão mais tranquilos.

- Perguntarei.

Tarwin os viu ao mesmo que Leigh.

- Bom dia. - Disseram os dois juntos. Riram

- Bom dia - disse Saphyre

- Bom dia, vamos ao mar? Precisamos ajudar Emeraldy na sua primeira transição, ensiná-la a nadar e aproveitar para caçar - Falou Kae.

Sorag virou para eles.

- Oi tio Kae e tia Saphyre. Oi Moony.

O animalzinho pulou do ombro de Saphyre para o colo de Sorag que riu alto e o acariciou enquanto Moony lambia seu rosto - fique calmo rapaz, já acordei, já acordei.

- Esses dois são os melhores amigos. - disse Leigh.

- Sim, eles se adoram. É muito bom isso. Toda criança tem que ter um amigo. - disse Saphyre os cabelos de Sorag.

- Saphyre sugeriu que eu perguntasse a vocês sobre o passado, sentiu que vocês estão mais tranquilos a respeito. Podem me contar?

Os dois se olharam e olharam Sorag.

- Sorag, vamos até a mesa para comer algo? Moony precisa se alimentar. Daqui a pouco nós encontramos com o pessoal para mergulhar, o que acha? - disse Saphyre levando Sorag pela mão., enquanto ele falava que queria panquecas de fruta - Tchau gente, já já nos vemos.

- Tchau. Até logo. - disseram para os dois.

- Vamos nos explicar. - disse Leigh. - Tarwin é meu âme sœur.

- Isso eu sei. Fiquei muito feliz por acontecer de novo com você irmã.

- Não, ele sempre foi. Desde que nos vimos a primeira vez, depois de adultos. - Kae franziu a sobrancelha e olhou para os dois, confuso.

- Como? Não era Sharif??

- Não. Sharif e sua mãe me lançaram um feitiço de sangue. Eu estava enfeitiçada.

- O quê!? Isso é uma afronta! Um crime hediondo! Se não estivessem mortos eu com certeza os prenderia!

- E estão mortos precisamente por isto. Sharif morreu, a mãe dele não aguentou a perda do filho e depois o pai não conseguiu viver sem os dois. Só trouxeram sofrimento a si mesmos.

- E como você descobriu. Eu não entendo! Como conseguiram viver longe todo esse tempo e Leigh como você conseguiu ter algo com Sharif? Um filho! Meus deuses! - os olhos dela encheram de lágrimas.

- Ele não tem culpa de nada e eu nunca quero que ele saiba de algo Kae, ele é um presente. Nunca divide disso! - Tarwin a abraçou. Estava com uma expressão grave e séria.

- Desculpe, não me entenda mal. É que eu não imagino a tortura que deve ter sido.

- Me sentia mal sim, mas Sharif mal me tocava. Pensando bem agora, acho que ele não me amava, apenas fez a vontade da mãe. Éramos mais colegas de casa do que qualquer coisa. Eu sempre achei que seria apenas aquilo que eu vivia. Nunca imaginei que podia ser muito mais.

- E Tarwin, como se sentiu?

- Eu desapareci, lembra ? Você mandou me buscarem.

- Foi isso que ocorreu!? Ela se casou com Sharif e você sumiu. Mas vocês se viram antes.

- Sim na noite da polinização. Foi nosso primeiro contato e já nos sentimos impactados. Depois disso, pesquisamos e nos encontramos todos os dias, até Sharif chegar. Ela queria respeitar Sharif e eu aceitei. No final da nossa viagem de aprendizado, na noite em que chegamos, recebi a visita dela e ela me disse que ia se casar. Eu só escrevi a carta para você e seus pais e fui embora. Enlouqueci, fiquei trancado em um castelo que eu havia ganho numa encosta e que sonhava em morar com ela. - ele olhou para Leigh, era a primeira vez que falava sobre isso. - passei um tempo nebuloso lá. Eu estava desesperado, plantei as sementes que coletei em nossas viagens, pelo castelo todos. Tinha a esperança de que ela se arrependesse e me escolhece. Fiz tudo pensando que ela iria amar estar num local com tantas flores.

- Oh deuses Tarwin. Me perdoe. Eu não sabia.

- Eu sei meu amor. Mas nosso castelo continua lá. Todo ano espero pelos Spiorads. Eles polinizam e voltam ao seus lares e todo ano vejo a lua e as plantas do castelo florescerem. Espero por você e esperarei para sempre. Só voltei para a casa dos meus pais um pouco antes dos dois morrerem.

Ela já estava emocionada e agora as lágrimas correram soltas.

- Sinto muito.. - ela falou engasgada. Os dois a abraçaram.

- Não é sua culpa. Você foi enganada e enfeitiçada. Eles são os culpados. Deuses, como não percebi o sofrimento do meu melhor amigo e da minha única irmã?! - Kae disse revoltado.

"- Se acalme meu amor. Deu tudo certo no final" - falou Saphyre na mente dele. Foi um acalento sentir o amor dela.

- Não é sua culpa também. Não tinha como saber, nós fizemos o máximo para esconder isto. - disse Tarwin.

- Sim irmão. Não é sua culpa também.

- Você sabia que o pai ia cortar relações com a família de Sharif? Não fosse por você ter descoberto que ele era seu âme soeur...

Eles se olharam, compreendendo imediatamente a artimanha deles para continuar próximos ao rei.

- Foi isto! Eles deviam saber que o pai ia fazer isto e me enfeitiçaram para não serem afastados! - disse

- Desgraçados! Pensaram justamente nisso porque o pai jamais afastaria ou negaria um âme sœur ! Eles eram eugenistas! O pai de Sharif, Sandak fez um comentário em um jantar formal de alguns reis e rainhas, no qual mencionaram a ele que a filha de um dos Reis havia tido um âme soeur com um unicórnio e que o rei não permitiu. Sandak soltou que preferia seu filho morto a ter um âme sœur com outra espécie. Papai chamou-lhe a atenção e ameaçou afastá-lo da corte. Logo após isto, acho que no dia depois do seu aniversário, descobrimos que vocês eram âme um do outro. Papai ficou contrariado. Mas jamais faria algo que lhe machucasse de qualquer forma.

- Meus deuses, eu devia ter falado algo. Talvez tivessem investigado e descoberto a farsa e Sorag fosse nosso filho. - Ela disse olhando Tarwin.

- Não há o que fazer entende? Não adianta se martirizar pelo passado Leigh. O importante é que estamos juntos hoje.

- Vocês foram até os anciãos, na época?

- Não, mas fomos na ilha de Farleey. Ele retirou o feitiço. Era um coisinha gosmenta e malvada que se agarrou em mim e não queria soltar. Foi horrível. - ela estremeceu passando a mão no peito.

- Mas enfim. Agora vocês serão felizes e isto não será nunca mencionado para Sorag. Nunca, tem a minha palavra. Que bom que vocês se deram a chance. Amo vocês. - Falou Kae emocionado abraçando os dois. - Agora vamos que já demoramos muito. Vamos caçar.

- Também amamos você irmão. Vamos logo, Sorag deve estar empolgado por nadar pela primeira vez no mar. É com um Tritão Rei. - disse Leigh sorrindo amorosa para Tarwin.

Eles passaram pelas barracas e encontraram com Saphyre já na da praia com o resto do pessoal que iria com eles.

- Mãe, uma curiosidade, como vai emergir junto com a gente?

- Vou ensiná-las um truque que minha avó fazia quando mergulhávamos juntas. Venham.

Elas foram atrás da mãe. A mãe entrou e esperou elas transformarem suas guelras e barbatanas mas mãos e pés. Submergiram e Mona fez um gesto com as mãos e criou um bolha de ar que colocou na cabeça inteira, retirando toda a água de dentro e restando apenas ar. Elas ficaram surpresas e encantadas.

- É isso. Agora posso ficar mais ou menos uma hora debaixo da água. Depois tenho que subir e fazer novamente se precisar de mais tempo.

E vocês podem me ouvir também porque a bolha amplifica o som dentro da água. Ah, e podem tocar, nada desfaz a bolha a não ser eu mesma.

Elas tocaram a bolha. Emeraldy que já respirava pelas guelras fez os mesmos movimentos e conseguiu fazer uma bolha para si mesma. Colocou na cabeça e ela foi esvaziando até ficar somente ar dentro. Suas guelras desapareceram e ela puxou o ar pelas narinas.

- Ah, que sensacional mamãe. Obrigada! - Ela abraçou a mãe.

Ambhar riu ao ouvir as duas falando claramente. Todos estavam olhando e super encantados. Bateram palmas.

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