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Eu conseguia ouvir o som dos meus batimentos cardíacos enquanto corria na esteira ergométrica, o suor escorria de forma torturante pela minha testa e as minhas costas nuas. A minha melhor amiga Mandy fitava-me à espera que eu recuperasse o fôlego e terminasse de contar-lhe toda a informação que o imbecil do Antonio de Santis dera-me.

__À sua mãe foi longe demais Savanah, como pode fazer isso com você?

Eu diminuo a velocidade e apoio os braços na máquina, olhando para à sua expressão de incredulidade.

__ Segundo ela estava apenas me ajudando. Para mim o pior foi ter descobrido pela boca do Antonio, aquele crápula provavelmente deve estar a rir-se de mim nesse momento.

Mandy solta um suspiro apaixonado.

__ Antonio de Santis é o homem mais belo que eu já vi em toda à minha vida. Queria ter a sorte de ser a noiva dele, convenhamos que você ganhou na loteria.

Não consigo esconder à minha expressão de desgosto ao ouvir tamanha tolice.

__ Como pode dizer isso depois de tudo que eu lhe contei a respeito daquele homem? Antonio de Santis não passa de um rosto bonito! Nem toda a beleza e charme que possui consegue ofuscar o facto dele ser um tolo arrogante.

Mandy olha para um ponto atrás de mim com os olhos arregalados e a boca escancarada, às suas bochechas coraram violentamente. Virei-me para o lado dando de cara com o bendito fitando-me com as sobrancelhas franzidas e uma expressão enfastiada. Eu acabei-me desequilibrando na esteira com o susto de vê-lo do meu lado, estava pronta para me derrapar no chão quando braços fortes me protegeram.

Engoli em seco ao tê-lo tão perto de mim. O cheiro amadeirado do seu perfume seduziu-me pela segunda vez na semana, tive de conter a vontade de enterrar o meu rosto no seu pescoço e inebriar-me com à sua fragrância máscula.

Afasto-me dele rapidamente ao ouvir o pigarro atrás de mim, à minha melhor amiga encarava-nos com um olhar insolente. Revirei os olhos e encarei novamente Antonio que parecia impassível com o que acontecera.

__ O que faz aqui?__ o meu tom de voz soara rude, mas não me importei em disfarçá-lo.

__ Nós temos assuntos pendentes mia cara.

Eu sabia que aquele apelido para ele não significava nada, e para mim também não, mas Mandy pareceu deliciar-se ao ouvir a sua voz rouca e sensual pronunciando-o com lentidão, dando ênfase ao "cara" que significava querida.

__Deve estar desesperado para que eu assine logo todos os documentos, pois não?

Um sorriso cínico envolve-me os lábios. Antonio aproxima-se o suficiente para invadir o meu espaço pessoal e deixar-me desconfortável. Ele leva à sua boca perto do meu ouvido, fazendo-me respirar com dificuldade.

__Se a senhorita fosse inteligente também estaria desesperada. Está prestes a perder à sua penthouse com vista para o central park e o seu camaro lustroso. Tem mais a perder do que eu cara.

Eu engoli em seco, convencendo-me de que o tremor que senti nas pernas foi devido a sua ameaça e não pelo facto de eu sentir a sua respiração quente beijando a pele do meu ouvido.

__Vamos até ao restaurante da academia.__ digo-lhe após recuperar-me.

__ Eu quero um lugar mais privado. Vamos até ao seu apartamento.

Olho rapidamente para Mandy que tentava disfarçar o facto de estar a ouvir a nossa conversa.

__ Mandy eu ligo para você mais tarde.

Ela assentiu com um sorriso malicioso.

__ Preciso pegar a minha bolsa. Importa-se se nos encontrarmos na portaria?

Antonio assenti com uma frustração palpável. Quando estou prestes a dar-lhe as costas ele segura o meu braço.

__ Eu estou a ficar irritado Savanah. Estou cansado de ter de ceder aos seus caprichos, se estou me submetendo a esse casamento é porque não vejo a hora de adquirir as ações da vadia da Dakota.

Solto-me bruscamente do seu aperto.

__ Não fale assim da minha madrinha. E eu não sou sua subordinada para fazer as coisas ao seu tempo.

Dou-lhe as costas e afasto-me às pressas para não ouvi-lo retrucando.

Foi bastante estranho tê-lo no meu apartamento. Antonio não fez questão de disfarçar o olhar em cada um dos detalhes que compunham o meu lar.

Eu era apaixonada por arte, principalmente quadros artísticos. Tinha diversos espalhados pelos cantos, alguns ofertados por homens ricos que queriam agradar-me, outros comprados e outros pintados por mim em momentos de inspiração.

O amor que eu tinha pelo ballet era o mesmo que tinha pelos desenhos. Sentia-me livre quando manifestava os meus piores e melhores sentimentos por meio da dança ou numa tela branca.

Mas, depois da revelação de Antonio eu havia guardado às minhas sapatilhas no fundo do meu closet. Não tinha coragem de calçá-las após saber que eu não era boa o suficiente.

Eu chorei quando senti que mais um pedaço meu havia sido arrancado. Primeiro o meu pai e depois a dança.

__ Quer beber algo?__ perguntei-lhe na tentativa de afastar a melancolia.

__ Eu estou bem.

Ocupamos o sofá que ficava de frente a lareira, estava nervosa e exausta. Pressentia que aquela união me desgastaria emocionalmente.

__Dakota disse-me que você já leu algumas cláusulas do contrato.

Eu assenti sem emoção.

__A maior parte delas causou-me aversão. Não pretendo deixar de trabalhar ou dar-lhe herdeiros. Na verdade, não pretendo dividir a cama consigo quanto mais dar-lhe filhos.

Antonio assenti.

__ Também achei a ideia absurda. Eu nunca me deitaria com você, continua a ser uma criança mimada e insolente.

Sinto um leve constrangimento, seguido de ira ao ouvi-lo enunciando tais palavras.

__ Poderia ao menos fingir ser um cavalheiro uma vez na vida? Como ousa falar-me tais palavras?__ digo-lhe com os dentes rangendo.

__ Estou apenas sendo sincero cara. Quanto a isso acredito que estamos ultrapassados, riscarei os herdeiros da lista. Mais alguma objeção?__ pergunta irónico.

__Não quero dividir o mesmo quarto com o senhor e quero que a nossa união tenha um prazo de validade. Eu não pretendo ficar casada com um homem que não amo durante toda a vida.

Antonio ri-se com sarcasmo.

__ Não sabia que mulheres como você se interessavam com o facto de existir amor ou não. Uma conta bancária cheia de zeros não lhe basta?

Sinto uma vontade de esbofetear o seu belo rosto.

__Ou quer o caminho livre para encontrar outro milionário?

Levanto-me ofendida.

__ Pare de falar assim comigo. Não sou dessa categoria de mulher que está a conjeturar!

Ele também levanta-se, olhando-me desafiadoramente.

__ Com as professoras que tem, duvido muito. Deve ser tão interesseira quanto à sua mãe e Dakota, você não passa de uma pessoa frívola e astuta, sedenta por dinheiro.

Ele estava-me provocando, queria fazer-me perder o juízo. Antonio divertia-se quando me tratava daquele jeito.

__ Saia do meu apartamento agora! Não vou permitir que me humilhe dessa forma.

Ele menospreza-me com o olhar antes de caminhar até ao elevador. Jogo-me no sofá, sentindo o coração aos pulos.

O que eu fiz para ele tratar-me desse jeito?

...

Quando toquei a campainha da mansão da minha madrinha fui recebida por Richard, o seu mordomo. O homem de cabelo e barba grisalha recebeu-me com um sorriso acolhedor.

__A senhora espera por si no jardim.

Ele acompanhou-me em silêncio até ao extenso jardim onde eu costumava brincar com as filhas das amigas da minha mãe e da minha madrinha quando tinha doze anos enquanto elas fofocavam e jogavam póquer.

__Savanah Wayne, minha querida afilhada!

A voz animada de Dakota de Santis fez-me abrir um grande sorriso. Como sempre estava elegante em um dos seus vestidos de marca, o cabelo loiro na altura dos ombros num corte moderno dava-lhe um ar mais jovial.

__ Revê-la é sempre um prazer madrinha!

Beijei-lhe as bochechas antes de sentar-me à sua frente.

__ Querida sirva o chá.__disse à empregada.__ Conte-me como correram as coisas com o Antonio Savanah.

Eu esperei que a empregada nos servisse e então ousei contar tudo à minha madrinha. Ainda estava muito magoada com tudo o que aquele homem de Neandertal me dissera.

__ Não ligue para o que aquele tolo diz minha querida. E quanto ao ter pedido-lhe que anulasse a cláusula acerca dos herdeiros foi uma idiotice, os filhos dariam-te segurança caso ele quisesse aprontar algo contigo. Antonio é bastante sagaz filha.

Eu balanço a cabeça, descartando a sua ideia.

__ Eu não quero ter de usar uma criança como escudo numa possível briga madrinha. Prefiro a morte antes de envergar-me nos lençóis daquele canalha.

Ela ri-se.

__ Não diga dessa água não beberei. O caminho é longo, e na volta, pode sentir sede! Vocês são jovens e cheios de desejos.

Acabo rindo-me também da sua expressão maliciosa.

__ Ai, madrinha! Nesse caso eu prefiro morrer de sede. Se estou me casando é porque não quero acabar sendo humilhada pelos nossos amigos, eu não suportaria ser alvo de fofoca por perder tudo. Mamãe tem razão, eu estou habituada a uma vida de rainha, não estou disposta a perder o meu trono.

A mulher à minha frente parece orgulhosa das minhas palavras. Eu sorvo um gole no meu chá, pensando que o preço que estou prestes a pagar para continuar a ser da realeza é muito alto.


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