Primeiro encontro

Capitulo V

Depois de uma noite de chuva intensa, o sol deu o ar de sua graça, está uma manhã linda, os pássaros cantam alegres na laranjeira ao lado da casa, abro a janela do quarto e observo as laranjas com um tom verde escuro, em uma semana teremos laranjas suculentas para comer. Inspiro fundo para absorver o maior volume de ar puro possível, ficando por alguns minutos apenas apreciando a vista maravilhosa.

Vou até a cozinha, o café está servido e mamãe está tentando sintonizar uma estação de rádio, ela fala de mim, mas a professora Hanni está sentindo falta da tecnologia e de seus alunos mandando mensagens o tempo todo.

— Bom dia mamãe! — digo, chamando sua atenção.

— Oi! — ela responde rápido, demostrando que se assustou com a minha chegada sorrateira.

 Estamos tomamos café da manhã, quando ouço uma buzina, corro até a porta, e suspiro aliviada quando vejo Theo parado me esperando, vou até ele e dou um abraço aliviado, pegando-o desprevenido.

 Me dê seu smartphone um pouquinho? — pede Theo meio autoritário.

Franzo a testa e o entrego sem entender, em instantes ele desliga meu aparelho e põe outro chip, deixando meu celular com dois números. O aparelho é reiniciado e ele me devolve dizendo:

— Operadora local Milady. Agora você não precisa mais girar no meio da rua para procurar sinal. Com esse número você está conectada ao mundo virtual, o bom é que só eu sei o número.

 Olho meio incrédula para meu smartphone dizendo:

— Se você não quiser me falar o número por bem, então eu vou ter que arrancar essa informação a força.

— Ótimo, era isso que eu tinha em mente — diz ele sorrindo discretamente.

Ele me pega pela cintura, com um toque firme, forte e decidido me conduzindo para bem perto de seu corpo, com uma das mãos tira uma mexa de cabelo que estava cobrindo parte do meu rosto e me beija, não foi um beijo comum, nada parecido com o beijo que o Gregui me deu, seu abraço não pode ser comparado a nada do que eu tenha sentido e seu gosto é inconfundível. Um conjunto de sensações embriagante, inigualável. Não fazia ideia que sentiria algo assim.

— Tenho que ir — ouso ainda com os olhos fechados.

Para não ser uma completa idiota, digo até logo, esperando que esse momento não seja o único ao lado dele.

Volto correndo para continuar meu café matinal, percebendo que dona Hanni, me observa disfarçada antes de perguntar:

— Filha, você está namorando?

— Não sei! Acho que sim — respondo ainda mantendo aquele sorriso idiota estampado no rosto.

—Ele não é muito velho para você?

Olho para mamãe incrédula, no que acabei de ouvir, dizendo:

— Definitivamente eu não te entendo — fuzilo ela com um olhar e continuo. — Você vivia dizendo: “filha arrume um namoradinho já está com 18 anos e nunca teve namorado, você está parecendo estranha”. Agora eu arrumo um namorado você pede se ele é velho?

— Não é isso July — Mamãe fala docemente e continua — Vocês dois, é muito intenso, ontem à noite você agiu como se estive com ele a meses, ele te trata como um..., não sei que palavra usar July, vocês parecem que se conhecem desde sempre.

Mamãe avalia as próprias palavras antes de continuar:

— Outras vidas!  Nem acredito que pensei nisso.

— Nem eu acredito que ouvi minha mãe falando de outras vidas.

Na final tarde recebi um convite de Theo para ir até a cidade. Nem acredito que vou vê-lo novamente. Depois que respondi fiquei imaginando que roupa usar, como iria arrumar o cabelo, se faria maquiagem, fiquei apavorada, estou parecendo uma adolescente que vai ter o primeiro encontro.

— Mas é o primeiro encontro — digo para minha imagem no espelho, enquanto observo meu cabelo opaco e sem vida.

Como não tenho outras roupas além de calça jeans e camiseta, não tenho o que escolher. Faço um coque para esconder o cabelo e sorrateiramente vou no quarto da minha mãe, ela sempre compra umas blusinhas da hora.

No caminho para a cidade fico apreciando uma seleção de músicas italianas, elas estão vindo do seu smartphone do Theo que está jogado no painel do carro. O lugar é divino, a estrada passa pela encosta de uma colina e vamos descendo em direção de um vale cercado de verde e alguns riachos onde fica a pequena cidade. Assim quietinha e distraída as ideias ficam borbulhando em minha cabeça, a curiosidade para saber o que aconteceu ontem a noite é muito grande, até que não consigo conter a curiosidade e digo:

— Theo! Posso te fazer uma pergunta?

Ele permanece em silêncio, me olha de relance e responde:

— Claro!

— O que realmente aconteceu ontem à noite?

— Nada!

Meu Deus! Ele é mais sinistro do que eu imaginava, respondeu duas perguntas com duas palavras.

— Desculpa pela pergunta, sei que é assunto de família. — Me justifico, toda sem jeito.

O pedido de desculpas o incomoda, então ele se justifica, usando um pouco mais de palavras que nas perguntas anteriores.

— July, eu não queria comentar um assunto desagradável com uma companhia que me faz tão bem.

— Você não precisa se justificar, eu sei que é um assunto familiar, foi só curiosidade para saber se meu palpite estava certo. Desculpe.

Theo coça a cabeça constrangido, antes de comentar:

— Posso saber qual o seu palpite?

— Theo vamos deixar esse assunto de lado.

Um silêncio constrangedor paira no ar, eu me sentindo envergonhada pela pergunta e Theo constrangido para responder. Depois que passamos por uma ponte pequena em que se pode ver as pedras no fundo do rio e o sol do fim de tarde refletir na água cristalina, Theo quebra o silêncio ao comentar:

— Meu padrasto é o ilustre prefeito dessa cidade e estava preso em uma blitz sem os documentos pessoais e alcoolizado.

Ficou estampado no rosto dele que o assunto não lhe agrada.

— Que “mico” July, esse assunto é de família, na primeira vez que saímos juntos, você conseguiu meter os pés pelas mãos — meu inconsciente fica me punindo o tempo todo.

— Estou esperando! — Theo menciona, esboçando um sorrido discreto no rosto. Algo muito raro em sua fisionomia.

— Esperando o que?

 — Quero saber o seu palpite, você me deixou curioso.

— Esquece, estou me odiando pela pergunta indiscreta.

Theo começa a rir e fala:

— Você tem direito de saber, ele estragou nosso primeiro encontro, mas a senhorita me deixou curioso, quero saber qual é o seu palpite — insiste.              

— Eu li sua expressão quando falei para sua mãe ir com você.

— Hum — ele me observa. — Eu posso saber o que a senhorita leu em minha expressão? — pergunta me testando.

— Ele estava com outra mulher — afirmo categoricamente.

— Milady... Milady... não vou mais olhar em seus olhos — fala Theo usando um sotaque italiano que o deixando ainda mais charmoso.

Não vou mais tocar nesse assunto, ele já respondeu todas as minhas perguntas sem dizer nada.

 Logo que desembarco na cidade vejo mamãe e Lissi fazendo compras, elas parecem estar se divertindo. Então resolvo não interromper.

Theo pega minha mão e seguimos andado pela cidade, ele me mostra o colégio onde mamãe e LIssi estudaram e onde ele estudou também. É lindo tem uma arquitetura europeia, dando ao local um tom requintado e conservador.

Beijando a ponta dos meus dedos ele diz:

— Tenho que te deixar sozinha por uns minutinhos, vou resolver alguns problemas pendentes de ontem à noite. Família. Família...

— Te espero na sorveteria — digo antes de receber um selinho rápido de um Theodor sempre com presa.

 Observo ele atravessando a rua e me pergunto:

— Será que a vida dele é sempre assim?

 Observo ele entrando em um prédio azul com a inscrição: “ADVOGADOS ASSOCIADOS”

— Por que ele esconde esses problemas da mãe? — insisto em me perguntar, mesmo sabendo que cada família tem um jeito singular de resolver os problemas.

Peço um sorvete enquanto converso com minha amiga Sabrina, nossas mensagens são animadas, ela me fala das fofocas desses dias que estou fora.

— Só três dias? — digo para mim mesma em voz alta, assustada pela velocidade dos acontecimentos.

 Nesse tempo conheci uma pessoa, me perdi por ele e acho que me jogo em frente a um caminhão se for preciso, para tê-lo ao meu lado.

Escrevo esse pensamento e envio para Sabrina, com algumas figurinhas de aparência descontroladas. 

Ela responde de seu jeitinho bem tradicional, com figurinhas explodindo. Parecemos duas crianças.

Theo interrompe minha linha de raciocínio com um beijo na nuca, depois desfaz o coque e fica mexendo em meu cabelo, sem falar nada. Só me observando. Ele está com uma aparência aborrecida, fico imaginado qual seja o motivo, não toco no assunto para não acabar com o restante do seu humor.

— Vamos? — diz ele ao levantar para pagar minha conta.

— Para onde você vai me levar?

— Hoje o seu jantar será ao estilo Vila Rica.

O estilo do jantar é o que menos importa, o que eu mais quero é estar ao lado dele, pena que é tão difícil desvendar o que esses olhos reluzentes escondem.

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