O Criador de Cavalos Vol I
O Criador de Cavalos Vol I
Por: @escritora_soniapessatti
O Julgamento

Capitulo I

Ao observar o Juiz entrando na sala, fico de pé, tentando esconder que estou assustado, ele tem fama de ser imparcial em suas decisões, não foço ideia de qual possa ser seu ponto de vista em relação a esse caso.

 Uma a uma as testemunhas vão sendo ouvidas e interrogadas pelos advogados de acusação e defesa. Atento o Juiz Norbeth presta atenção em cada depoimento, não deixando escapar nenhum detalhe. Meus olhos correm por toda a sala, tento decifrar a fisionomia de cada membro do júri, as mulheres me observam discretamente, já os homens voltam a atenção somente aos depoimentos. É assustador olhar para essas pessoas, elas têm o poder de mudar minha vida e agora não posso fazer mais nada.

O julgamento continua, até chegar a vez de Melanie ser ouvida, ela parece estar decidida a acabar com minha vida, o pior é que, nem sei, o que eu possa ter feito para que ela me odiasse tanto.

Ela faz o juramento com a mão direita sobre a bíblia, afirmando dizer a verdade, nada além da verdade. Espero que ela cumpra o juramento.

O advogado de acusação conduz Melanie a relatar a história que me trouxe até aqui, fiquei apavorado ao ouvir seus relatos, os quais me acusava de forçar um relacionamento com ela.

— Forçar!? — me perguntei baixinho, é inacreditável. Melanie me ligava, marcando encontro quando seu noivo saia com os amigos.

Quando todo esse relato terminou foi a vez do meu advogado questioná-la:

— Senhorita Melanie Mariah, em que é baseado seu relacionamento com o senhor Theodor Emmiliano Neto?

— Eu não tenho nenhum relacionamento com ele — responde ela secamente.

— Então porque a senhorita está aqui? — Senhor Garcia insiste.

Ela não responde e seu advogado acaba intervindo:

— Meritíssimo! O senhor Garcia está deixando a testemunha em uma situação constrangedora.

O Juiz olha sobre os óculos, que estão apoiado na ponta de nariz, antes de comentar:

— Por favor senhorita Mariah, responda à pergunta!

Melanie olha para o noivo que está entre o público presente, antes de responder:

— Ele entrava em meu quarto e forçava a situação, para assim ter um relacionamento comigo.

— Senhorita Mariah, como ele entrava em seu quarto? — Senhor Garcia pede mais esclarecimentos.

— Pela janela — responde ela, parecendo incomodada com a situação que ela mesma se colocou.

— O meu cliente quebrou ou arrombou a janela alguma vez?

 Melanie, constrangida, não responde, então senhor Garcia insiste:

 — Senhorita Mariah, seja objetiva na resposta. Ele arrombava a janela ou a senhorita abria?

Melanie permanece em silêncio.

— Senhorita Melanie Mariah, é uma pergunta objetiva, por favor responda! — disse o juiz ao perceber que ela estava se esquivando da resposta.

— Eu abria porque ele insistia muito — disse ela assustada, com os olhares em sua direção.

Ao ouvir, a confirmação Toni se remexe na cadeira, enquanto senhor Garcia prossegue como o questionamento:

— Quantas vezes a senhorita abriu a janela para que o senhor Theodor entrasse em seu quarto?

 Toni se manifesta em meio aos espectadores, dizendo num tom agressivo:

— Isso não é jeito de falar com minha noiva, seu advogado idiota.

O juiz direciona o olhar para onde ele está sentado e menciona com tom de voz ameno:

— As pessoas que estão assistindo ao julgamento não podem se manifestar, se isso acontecer novamente vou convidar o senhor a se retirar do recinto.

Voltando a atenção a cadeira onde Melanie está sentada, o juiz ordena:

— Responda à pergunta!

— Não me lembro exatamente. — Ela gagueja.

— Por favor senhorita Mariah, faça um esforço, essa resposta pode esclarecer muitas dúvidas do jure — o senhor Garcia insiste. — Quantas vezes a senhorita abriu a janela para o senhor Theodor Emmiliano Neto entrar em seu quarto?

O Juiz olha fixamente para Melanie esperando a resposta.

Aflita ela dirigiu o olhar para onde Toni estava sentado, a seguir volta o olhar para o banco dos réus, onde estou e sem desviar o olhar do meu, responde:

— Muitas vezes, meritíssimo. — Após a declaração ela levanta e sai correndo do tribunal sem dar nenhuma satisfação ao juiz.

Depois do acontecido o senhor Garcia toma a palavra para si e completa:

— Meritíssimo, jurados e todos os espectadores presentes, peço para que analisem o que está acontecendo como um todo nesse tribunal.

Em primeiro lugar meu cliente está sendo julgado por depredação de patrimônio particular, sendo que ele não agiu sozinho. Até agora não entendi o porquê só ele é réu nesse processo

Jurados respondam para si mesmos!

Se meu cliente fosse filho de alguém influente na cidade, será que ele estaria no banco dos réus?

Como se isso não bastasse ainda querem condená-lo por forçar a situação com a senhorita Melanie Mariah para conseguir o que quer. Nunca ouvi falar desse crime. Eu acredito que querem falar aqui de estupro, mas acham a palavra muito pesada para a ocasião, pois não é novidade, que meu cliente nunca precisou forçar a situação para entrar no quarto da jovem, que daqui saiu assustada.

Na verdade, a única ameaça ao caráter de meu cliente, foi uma moça constrangida falando que abriu a janela, muitas vezes, para que ele entrasse em seu quarto, não ouvi, em nenhum momento, ela falar que após abrir a janela, o meu cliente tenha feito alguma coisa que ela não aprovasse.

 Meritíssimos, membros do júri, aqui no aparelho de telefone móvel do meu cliente têm mensagens de texto enviadas pela senhorita Melanie Mariah o convidando para visitas noturnas. A última mensagem foi enviada dois dias antes da briga na casa noturna e ela diz o seguinte:

“Oi Theo, hoje estou com mais saudades que o habitual, estou sozinha em casa, venha sem presa de voltar para casa. Beijos estarei te esperando com aquele lingerie vermelha que você me deu”

O senhor Garcia pede licença ao Juiz e dispõe sobre sua mesa meu aparelho com as mensagens recebidas e enviadas para o número de Melanie.

O Juiz analisa a conversa, em seguida pergunta:

— O advogado de acusação tem alguma pergunta em relação a essas mensagens?

O advogado se aproxima, analisa a conversa e comenta:

— Nenhuma pergunta, Meritíssimo.

Feliz com a aprovação das mensagens, senhor Garcia completa:

— Por favor, jurados, não condenem meu cliente por ter 19 anos e por não estar maduro para um relacionamento. Antes de condená-lo lembrem-se de seus 19 anos. O que vocês faziam? E lembrem também do que vocês tinham vontade de fazer e não tiveram coragem. Por favor! Caros jurados, não condenem as pessoas por estarem vivas.

Obrigado a todos pela atenção.

Satisfeito com a própria atuação, o senhor Garcia senta ao meu lado dizendo baixinho:

— Fica calmo, a parte pior está no papo. O problema vai ser o crime de depredação de patrimônio alheio.

Em instantes o Juiz comenta:

— O Júri irá se reunir para dar a sentença.

São horas intermináveis, fiquei isolado, sem nenhum contato, não faço ideia da repercussão desse caso. Sei que a maioria das pessoas quer me ver preso para dar exemplo à sociedade.

Nunca fui bem visto, por ser bastardo, filho de pai desconhecido. Vovô Theodor sempre me defendeu, mas a verdade é que eu não me encaixo nessa cidade. Para me vingar desses olhares de condenação, eu procuro agredir a moral das famílias que me olham torto, dou um jeitinho de conquistar uma mulher dessas famílias para mostrar que eu sou pior do que eles imaginam e com Melanie não foi diferente, a conquistei e assim mostrei para o delegado e seu filho que eles não eram páreo para mim. Agora aqui estou eu, a dois passos da penitenciaria.

Após três longas horas, um policial amigo de Toni, vem me buscar e comenta com um sorriso irônico:

— A casa caiu Theodor Neto.

Não posso esconder que estou preocupado, afinal de contas não sou nenhum herói Norte Americano que sempre se dá bem no final do filme.

Quando o Juiz entra no tribunal eu sinto um frio horrível na barriga e assim espero pelo veredicto.

— Senhoras, Senhores, podem sentar — fala o Juiz num tom frio e objetivo.

Ele põe o óculos na ponta do nariz, me olhando por cima dele, assim ele começa a ler o veredicto:

— Senhor Theodor Emmiliano Neto, advogados, jurados e espectadores. Perante a lei que a nós cabe, digo e afirmo que o réu Theodor Emmiliano Neto foi absolvido por unanimidade pelo crime de estupro.

  Respiro aliviado esperando o final da sentença.

 — Cabe a nós cumprir o código penal que define o crime de dano por destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, prevendo a pena de detenção de um ano e seis meses ao senhor Theodor Emmiliano Neto, por dano qualificado mais multa e prestação de serviços comunitários.

Nesse momento olho aflito para o vovô Theodor, que está sentado junto as demais pessoas assistindo ao julgamento.

Depois do julgamento ele se aproxima me abraça forte e fala em meu ouvido:

— Calma meu filho. O pior já passou.

Senhor Garcia bate nas minhas costas e comenta:

— Fica tranquilo garoto, cabe recurso para reduzir a pena, você não vai ficar mais de seis meses preso.

Quando sou jogado naquela sela fria, me bate a angústia e um desejo incomparável de vingança. Nesse momento eu teria coragem de matar alguém de tanto ódio acumulado em meu peito.

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