04 - Continuação

Um mês depois...

— Você precisa sair dessa cama, Guilherme. — Minha mãe implorava mais uma vez.

Ela não entendia que eu só queria dormir e nada mais. Há trinta dias que minha vida foi lacrada naquele caixão junto com ela. Há trinta dias que não conseguia comer, sair, viver, não sem ela.

— Apague essa luz, mãe, e me deixe em paz!

Quarenta e cinco dias depois...

— Chega, Guilherme, sai dessa cama agora!

Helô era um furacão em forma de gente.

Entrou em meu quarto berrando, abrindo as cortinas e puxando as cobertas.

— Me deixe, Helô! – Rosnei e me assustei com a agressividade em minha voz.

— Não! Quarenta e cinco dias, são quarenta e cinco dias assim, quer matar a Fátima? Perder somente Bianca não foi o bastante?

Escutava a voz dele muito próxima ao meu rosto e por algum momento, me lembrou uma mãe repreendendo o filho.

— Vamos, meu amigo, sabe que ela irá ganhar no final. — A voz paciente do meu amigo ecoou no quarto, apaziguando a tempestade.

— Vou mesmo. — Senti as mãos de Helô puxando minha camiseta pelo pescoço, com uma brutalidade que não condizia com uma mulher tão pequena quanto ela. — Eu disse: levanta agora, Guilherme!

E não consegui ganhar aquela luta, Helô puxou sem a menor cerimônia a minha calça de moletom, deixando-me somente de cueca.

— Gustavo! – Gritei exasperado - Dá um jeito nela.

— Vai logo para o banho, Gui, antes que ela tire sua cueca e ainda te bata. — Deu de ombros, como se aquela atitude fosse a esperada.

Obedeci, estava cansado de brigar com todo mundo. Saí do quarto, após o banho e apareci na sala onde os três estavam sentados me olhando como se fosse um ET pousando na terra.

— Viu só? — Helô começou a dizer. — Está horrível e magrelo, mas ao menos está limpo.

Ela dizia como se a sua própria aparência estivesse muito diferente. Helô estava visivelmente mais magra, os cabelos curtos e pretos, estavam ralos e sem vida, no rosto, não existia um resquício sequer de maquiagem. Em nada lembrava aquela mulher alegre e cheia de vida.

Meus olhos enfim focaram um por um na sala, Gustavo estava com olheiras e a barba por fazer, visivelmente abatido; minha mãe torcia as mãos uma na outra e me olhava como se eu fosse me quebrar em mil pedaços bem na frente dela.

— Desculpa — disse sem conseguir conter as lágrimas e meu corpo cedeu a dor que a realidade trouxe. Caí de joelhos no chão e o choro explodiu do meu peito copiosamente.

Os três me cercaram, envolvendo meu corpo e juntos, caídos no chão, choramos a perda da noiva, amiga, pessoa maravilhosa que a vida nos entregou como presente. Choramos, liberando do nosso peito toda dor e revolta, choramos juntos por tudo o que teríamos vivido ao lado dela.

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