Clube das Desapaixonadas 2 - Em Nova Iorque
Clube das Desapaixonadas 2 - Em Nova Iorque
Por: QiShuang
Introdução: Caçada

(Leila)

Preciso fechar os olhos antes que meu coração pare de bater.

Um fio de agonia atravessa todo o meu corpo e, pela primeira vez na minha vida, senti pavor. A tarde está fresca, o por do sol dourado e frio pinta as nuvens derramadas de cor-de-rosa e o céu fica bem bonito desse jeito, mas não consigo olhar para cima. Meus dois joelhos tremem. Fabrício está pendurado há metros acima do chão, sem um cabo de segurança, remexendo no que seria um holofote de luz para o palco. Alguém precisa tirar ele de lá antes que uma tragédia realmente aconteça.

Ninguém se move para isso, entretanto. As câmeras permanecem apontadas para ele, chamando a tragédia. Eu não acho que seria interessante terminar o especial da Blackout dizendo que o vocalista deles se matou. Seria terrível, mas talvez dobrasse as vendas de discos e merchandising… não que eles estejam precisando de mais… nos últimos meses tem sido insuportável lidar com tanto sucesso em cima do Fabrício, ele ficou ainda mais arrogante.

Fabrício, pelo amor de Deus, desça daí! — Grito.

Ouso espiar por entre dois dedos de unhas pintadas de preto. Posso vê-lo pendurado de cabeça para baixo agora, como um trapezista, a camiseta branca e rasgada se enrola perto do queixo, dando uma visão completa de seu abdominal e da sua tatuagem de dragão. A jaqueta preta que ele usa vira uma capa de super herói.

Já terminei. — Ele devolve lá de cima, segurando no cano e passando o corpo por cima da estrutura. Logo ele alcança a extremidade e desce pela escadaria de metal acoplada, chegando ao chão.

Eu me permito respirar um pouco quando vejo que ele não morreu, nem nada do tipo. Fabrício se aproxima de mim sorrindo. O por do sol faz algum milagre com seus olhos cor de mel, eles ficam translúcidos e não preciso afirmar o que todo mundo já sabe: ele é mais gato que um deus do olimpo, ele é uma droga de celebridade internacional!

Ficou com medo de me perder, raposinha? — Ele pergunta em tom jocoso, já se insinuando como sempre.

Consigo muito bem viver sem você. — Reviro os olhos, entojada. — Mas suas fãs já não sei.

Adoro quando você fica nervosinha e com ciúmes.

Cara irritante! Toda vez que ele fala assim comigo me faz duvidar se fiz uma boa escolha ou não quando topei esse serviço. Ficar perseguindo o Fabrício não é meu sonho de carreira… se bem que quem está me perseguindo é ele. Não consigo organizar uma cena do documentário de bastidores sem que ele apareça de repente do meu lado, ou atrás de mim.

Não estou com ciúmes.

Meu celular apita uma mensagem, retiro do bolso de trás da minha calça jeans e encaro seu visor.

Drica: Leila, precisamos marcar um jantar muito super hiper ur-gen-te!!!!

Fico curiosa com essa urgência toda solicitada e o número excessivo de exclamações. Deve ser importante. A Drica não é do tipo que desperdiça palavras. Fabrício enlaça minha cintura e se inclina, na abusiva tentativa de beijar minha boca. Desvio. Estou ficando tão boa quanto um ninja nesse quesito: o de me desviar de suas investidas.

Ahn-ahn. — Faço em negação, e enquanto digito minha resposta, seguro os lábios dele bem longe do meu, com o dedo indicador.

Leila: Amanhã a noite tou livre.

Aperto o botão de enviar e Fabrício já está abrindo a boca e chupando meu dedo, de uma forma que toco sua língua quente. Penso imediatamente em sexo oral.

Mas quê?

Olho para ele com meu melhor olhar de fogo. Sempre que ele age desse jeito, fico na constante dúvida se esse tipo de investida quer mesmo significar alguma coisa, ou se ele só está procurando criar material de interesse para os paparazzis.

Seja lá o que você estiver fazendo, pare. — Digo retirando meu dedo de sua boca.

Você sabe o que eu estou fazendo… caçado uma raposa. — Ele brinca, falando em tom sensual, mole, com a voz rouca. Raposa. Ele passou a me associar com esse animal e eu ainda não consigo fazer a relação do porquê. Só espero que não seja ofensivo e nem muito sujo, ou vou matá-lo.

Você precisa se arrumar, não dá pra ficar dando de técnico de luz agora, Fabrício.

Já estou indo para o chuveiro, mas seria muito melhor se você quisesse me acompanhar.

Não, muito obrigada, já tomei banho. — Recuso a oferta e fico com a sensação de que sou uma louca ao fazer isso, enquanto do outro lado do centro de convenções posso ver uma fila de garotas adolescentes (e algumas não tão adolescentes assim) que esperam avidamente os portões se abrirem para o show, segurando cartazes e gritando seu nome.

Meus olhos já estão em cima de Elisa, a cameraman do canal para o qual trabalhamos, com sua lente apontada na minha direção. Falei para ela não desperdiçar espaço em disco da câmera digital com imagens minhas e do Fabrício (são ultra perigosas em todos os sentidos), mas ela sorriu e disse que já tem material o suficiente para fazer um documentário, para quando assumirmos nosso namoro em público. Na cabecinha maluca dela, em algum momento no futuro, estarei namorando o Fabrício de novo.

Não, isso não está na minha lista. Se ex-namorado fosse bom, não era ex, certo?

Fabrício me aperta mais forte em seus braços e cheira meus cabelos. Tenho que tocar em seu corpo e sinalizar que ele está passando dos limites, mas o idiota segura minha mão e sussurra no meu ouvido:

Você me deixa louco quando usa uma calça apertada assim, amor. — E sua mão desliza das minhas costas para o meu bumbum.

Quase caio do meu salto, mas o empurro ainda mais longe. Quando topei o emprego, sabia que eu teria problemas com o Fabrício, mas achei que seria mais o fato dele estar magoado comigo porque terminei com ele e não que ele estaria se roçando em mim o tempo inteiro como um cachorro no cio.

Fabrício, não tou brincando. — Começo a andar contornando o palco, para a entrada que dá acesso ao camarim. Preciso conduzir esse idiota até o chuveiro ou ele vai atrasar o show de novo. — Não me chama de “amor”.

Eu realmente não me recordo do Fabrício ser assim tão excêntrico, mas até que me lembro bem do quanto ele me irritava enquanto morávamos juntos. Ele não leva nada a sério!

Awm, amor… não fica brava. — Ele faz me seguindo, suas mãos já nos meus ombros.

Passo por Elisa fazendo um sinal para ela cortar a filmagem, mas minha subordinada não me obedece e continua me acompanhando. Se não consigo impor uma moral hierárquica com a única funcionária que possuo, acho que posso concluir que profissionalmente falando, sou mesmo um fracasso! Não que isso seja algum tipo de segredo. Eu sou um fracasso! Todos os meus empregos anteriores se encerraram comigo sendo demitida por alguma confusão de cunho pessoal… por isso que é importante para mim que eu simplesmente não permita isso acontecer dessa vez de novo!

Meus saltos vão explodindo contra o corredor interno. O resto da banda chega no horário mais próximo do início do show, mas o Fabrício faz questão de vir antes e checar cada detalhe minucioso do palco como um verdadeiro chato. Se eu não soubesse que ele é de escorpião, acharia que ele e de virgem, de tão perfeccionista.

Ele me empurra contra o batente da porta e me beija com vontade. Minha cabeça se choca contra a parede. Sua boca vem faminta pela minha, a língua doce explorando meus dentes. Mal consigo reagir, me pegou totalmente desprevenida dessa vez, apenas sinto o gosto de sua saliva cheia de álcool e quase desmancho no chão quando ele mordisca meu lábio inferior. Ai!

O Fabrício tem uma pegada que eu nunca senti com ninguém. A química e a eletricidade entre a gente é algo que veio de outro mundo, mas é tão irritante como ele fica cheio de dedos em cima de mim o tempo todo, achando que tem permissão para isso. Ele não tem! E me lembra um polvo, com oitos braços difíceis de desviar e grudento, muito grudento!

Você tem um show hoje a noite, Fabrício. — Corto logo a situação, empurrando-o.

Estava na esperança que pudéssemos fazer sexo. Isso realmente revigoraria minhas energias.

Não. Até porque, você capota depois do sexo. — Dou risada, porque é verdade.

O Fabrício dorme mais que uma pedra depois do sexo… deve ter conexão com a energia que ele gasta na performance, que é exemplar… mas enfim, vamos deixar isso de lado.

Awm, raposinha, ao menos me ajudaria a relaxar. — Ele se inclina para alcançar meu pescoço, fazendo “prrr” porque ele sabe que eu adoro quando ele faz isso… e isso me deixa tão brava que dou com o celular no queixo dele. — Ai, Leila.. — Ele reclama, porque doeu, massageando com uma das mãos o queixo. Ele precisa fazer a barba, por sinal, mas suas fotos saem melhores quando ele deixa assim, esse aspecto de desleixo.

Para com isso! — É quase uma súplica. Poxa, ele anda pegando bem pesado comigo nessas investidas e vai acabar me colocando em uma situação ingrata, ou no trabalho, ou com meu namorado.

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(Fabrício)

Parar? Essa mulher só pode estar brincando comigo.

Ela não tem permissão para derreter desse jeito nos meus braços e ficar me empurrando ou se fazendo de difícil. A puxo para mais perto do meu corpo, porque ainda tem espaço entre nós e deposito minha boca em seu pescoço cheiroso.

É mais doce que açúcar. Mais viciante que cigarro (e olha que eu fumo bastante). A Leila está cada dia mais deliciosa e toda vez que o joelho esquerdo dela falseia quando eu a puxo para perto, fico louco de tesão. Meu coração dispara e eu perco o ar. Preciso dela como uma planta precisa de Sol. Não me sinto capaz de viver sem essa garota na minha vida.

Já que ela resolveu me socar com o celular, seguro seus braços para cima com uma das mãos, afundo minha boca na dela… puxo sua perna para que ela envolva minha cintura e para ela ter uma noção do quanto eu já não aguento mais.

Se ela estivesse de vestido, já era minha.

Leila se debate e dando soquinhos. Tem sido mais difícil do que imaginei dobrar a Leila em meus braços. Sempre que eu acho que estou vencendo, ela constrói uma muralha entre a gente e me afasta. Levo alguns dias para recuperar o que perdi e tem sido uma merda.

Fabrício. — Ela me soca com força dessa vez. A voz seca e o olhar duro. Droga, passei dos limites. Acabei de receber o cartão vermelho. Tem ficado mais frequente. — Não.Encoste.Em.Mim.

Soa ameaçador o suficiente e eu a solto. Permito que ela se afaste de mim o quanto precisa e observo ela caminhar balançando aquela bunda que me deixa maluco enquanto digita alguma mensagem no celular.

Droga.

Preciso pensar logo em uma estratégia melhor, daqui a pouco a Leila termina o serviço que veio fazer e perdi a chance de recuperá-la.

Estou ficando sem tempo e sem opção aqui! Preciso de ajuda nessa caçada.

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