EU TE ODEIO MUITO AGORA

"Cara, eu te odeio muito agora!" — eu disse enquanto me afastava da perdição ao meu lado.

"Você some com o meu carro e ainda fala que me odeia? Por favor, Gabriel!" — Lewis tinha uma voz séria, mas com um pouco de sarcasmo.

"Eu sei que você me ama, seu gostosão" — era assim que nos relacionávamos desde quando eu tinha 12 anos. Ele era como um irmão pra mim.

"Seu idiota! Me deixou com vergonha agora. Onde você está? Cadê o meu carro?"

"Está tudo bem comigo, obrigado por perguntar. E sobre o seu carro, longa história e eu não estou muito a fim de contar. Pode escolher qualquer um da minha garagem pra você" — eu olhei para trás e pude ver Angel me olhando assustada. Ela examinava cada parte do meu corpo, aquilo estava me matando.

"Merda, Gabriel! Seu tio disse que foi assaltado e agora você foi pra um retiro espiritual em alguma cidade com pouco mais de 5 habitantes" — Lewis terminou rindo.

"Mais ou menos isso. Bom, você me interrompeu de um momento interessante. Se me permite, preciso voltar" — eu voltei meu olhar para a janela à minha frente, não podia ficar olhando aquela obra de arte por muito tempo.

"Você está no meio de uma foda? Caramba! Parou só pra me atender? Tô me sentindo importante."

"É"

"Onde você está, cara? Preciso do meu carro e você não vai acreditar na quantidade de mulher que eu..."

Não ouvi mais nenhuma palavra do meu velho amigo. Joguei o telefone na mesa velha ao meu lado e voltei a olhar Angel.

— Você desligou na cara dessa pessoa? — ela me olhava espantada.

— Eu estava entediado, tenho coisas melhores para fazer por aqui. — arqueei uma sobrancelha enquanto a observava morder seu lábio de novo. — Não faça isso, lindinha.

— Isso o quê? — aquela testa se enrugando por causa da dúvida era tão sexy.

— Não morda isso, eu também quero mordê-la. — me aproximei colocando meu dedo sobre sua boca macia. Angel não recuou, ela ficou paralisada. Seus olhos estreitos me olhavam com desejo, eu sabia que ela me queria.

— Posso avisar meu pai que estou aqui? — o quê? Sua mão apontou para o telefone em cima da mesa. O que ela estava fazendo? Tentando me deixar louco?

— Vá em frente. — saí do caminho da menina. Ela saiu com passos lentos enquanto levava sua bunda até a mesa.

O que ela estava fazendo comigo? Não sabia que ela gostava de joguinhos. Aquilo estava ficando cada vez mais interessante. Me encostei na porta a observando discar o número.

"Pai? Sou eu, Angel!" — sua voz era tão meiga e suave.

"É de Gabriel, ele está comigo" — eu não podia escutar o que seu pai a perguntava, mas pela cara dela, ele não estava muito contente de ter a filhinha comigo.

"Está tudo bem papai, tem muita lama na estrada. Já estamos indo pra casa" — ela se permitiu olhar pra mim por alguns segundos e ela parecia tensa.

"Sim, papai, ele está sendo respeitoso comigo" — não posso acreditar que o velho estava preocupado comigo. Eu sou um lorde, quando se trata das mocinhas. Sou mentiroso também. Sorri comigo mesmo enquanto a observava no celular.

"Preciso desligar, eu te amo" — minhas sobrancelhas se levantaram e eu me desencostei da porta. Caramba, ela ainda fala que ama o velho? Fui até Angel que não me olhava, seu olhar estava ainda sobre o meu telefone.

— Prontinho. Onde a gente estava mesmo? — coloquei minhas mãos sobre a mesa velha, prendendo a garota sob o meu corpo. Ela nem sequer me olhava, sua respiração era pesada e descoordenada. Angel estava tremendo. Eu estava a assustando? — O que foi? Está tudo bem?

Sua cabeça balançou negativamente enquanto seus olhos subiam para encontrar os meus. Ela é tão ingênua. Sua boca se moveu devagar tentando formar algum tipo de palavra.

— Você pode me soltar? — Angel disse tão baixo que eu mal pude ouvir.

O que ela está tentando fazer? Eu só sei que estou ficando louco. Eu estava amando esse joguinho, mas ela está dura demais comigo. Dei um sorriso fraco e tirei minhas mãos dali, soltando-a. Ela caminhou em direção a cama e eu me apressei antes mesmo que ela se deitasse.

— Você está molhada, tire a blusa e vista a minha. — tirei rapidamente minha jaqueta e a camisa que não estava tão molhada por baixo. Ela hesitou um momento antes de me olhar. Ela me analisava e eu só queria jogá-la por cima da cama e rasgar toda a sua roupa. Estendi a camisa para a garota e ela pegou, mas não se trocou. Me sentei na cama esperando que ela fizesse, mas nada da menina se mexer. — Tire logo antes que ganhe um resfriado.

O olhar dela pra mim era de vergonha. Caramba, essa garota não existe. Ela está com vergonha de tirar a merda de uma blusa perto de mim?

— Está escuro aqui, Angel, não vou ficar olhando seus peitos. Já vi uma coisa melhor. — eu estava dizendo sobre sua bundinha delicada que havia visto pela manhã. Ela não fazia ideia disso. A menina se virou no mesmo instante. Dei uma risada baixa achando graça da sua vergonha.

Assim que vi partes de suas costas nuas, um arrepio passou pelo meu corpo. Eu quero tocá-la, eu quero beijá-la.

— Dá pra se vestir mais depressa? — eu disse deitando na cama. Tirei minhas botas e me aconcheguei na cama empoeirada. A chuva estava cada vez mais forte e eu sabia que não iria passar tão cedo.

GABRIEL

O clarão da enorme lua em nossa frente, invadia as grandes janelas velhas do quarto. Um feixe de luz estava sobre meu abdômen. Angel vestiu minha camisa que batia em suas coxas divinas. Aquilo só me fazia querê-la mais. Percebi quando ela tirou seu short jeans que envolvia suas longas pernas e colocou sobre a cadeira, provavelmente para secar até irmos embora. Não imaginei que ela o tirasse. Assim que me viu deitado ali, a garota esfregou suas mãos com tanta força que pareciam querer quebrá-las.

— Acho que vamos ter que dormir aqui. Não vai me deixar dormir no chão, vai? — eu disse dando leves batidas no lado vazio do colchão.

— É que... é... será que não tem outro colchão pra você? — ela olhava para suas mãos espremidas.

— Qual é, lindinha? Essa cama aqui cabe nós dois e eu não mordo. — me sentei, chegando mais perto dela — Eu não vou te tocar, se você não quiser, é claro. Deita logo.

Angel caminhou com um pouco de receio até mim. Meu Deus, como ela pode ser assim? Eu cheguei um pouco para o lado enquanto a observava deitar. Minha camisa levantou um pouco em seu corpo deixando suas coxas à mostra. Angel é pequena demais, minha camisa quase cobria seus joelhos. Ela me pegou a olhando e deixou seu olhar cair sobre meu peito. Droga, não faça isso!

— O que são essas cicatrizes? — eu não estava lembrando de tê-las ali, o que era estranho. Não havia um dia sequer que eu não me lembrasse de como as ganhei. Movi minha cabeça até conseguir olhá-la.

— Marcas de guerras. — sorri rapidamente.

— Dói? — eu vi quando sua pequena mão se levantou, mas logo se abaixou. Ela ia me tocar.

— Não mais. — seu olhar doce me olhou intensamente como se precisasse de uma resposta. — Você quer tocar?

Sua cabeça balançou no mesmo instante. Segurei uma de suas mãos e coloquei sobre a maior delas. Dia 23/07/2002.

— Eu tinha seis anos. — eu parei quando senti seu dedilhar sobre meu estômago. Minha respiração ficou pesada.

— Continue, Gabriel, por favor.

— Eu estava fazendo um sanduíche com sobras de pão da minha mãe, ela tinha acabado de dormir e eu estava com fome. — engoli seco quando percebi que ela olhava pra mim e ainda continuava explorando minha barriga — Senti um estralo nas minhas costas e virei. Ele tinha uma garrafa de cerveja em sua mão. Eu comecei a chorar como sempre fazia, mas ele não se importou. Me fez sentar no chão e fincou a garrafa quebrada bem aí onde você está com a sua mãozinha. — ela tirou como se sentisse que estava me machucando.

— Oh, Gabriel! Eu sinto muito. Era o seu pai? — seus olhos estavam carregados de lágrimas. Eu nunca sequer tinha aberto minha porcaria de boca pra contar a alguém sobre isso. Por todos esses anos, eu nunca consegui contar a ninguém. Lewis sabia que ele me batia, mas não sabia de tudo. Balancei minha cabeça, confirmando — E todas essas outras?

— Posso te falar todas as datas, de cada uma.

Sua boca se abriu em um "o", ela estava arrasada. Eu não podia saber o que ela estava pensando, mas eu sabia que Angel estava realmente triste por mim. Eu me abri pra ela, que merda está acontecendo comigo? Eu acabei de conhecê-la e já estava me abrindo pra ela.

— Por que ele fazia isso com você? Não acho que você era tão horrível a ponto de merecer isto. — seu semblante doce e angelical tinha sido substituído por um triste e com um tanto de raiva que eu nunca pensei que conseguiria ver nela.

— Ele não era meu pai de verdade. Eu não tenho pai. Minha mãe foi estuprada e ficou grávida de mim. — eu tive que parar por um segundo e olhar para a primeira e única pessoa que iria saber toda a verdade sobre mim — Ele não sabia disso, mas quando eu nasci ela o contou. Eu tinha 4 dias quando ele me bateu pela primeira vez. Minha mãe me tirou antes mesmo que ele me matasse, então ele acabou batendo nela também. Dia após dia nós dois apanhávamos daquele monstro bêbado ordinário. Cada dia que passava, era pior. Eu apanhava por respirar. Ele não me deixava ir à escola. Sempre que ele saía, minha mãe dormia. Eu saía correndo de casa até meu velho vizinho Will. Ele era velho, mas me tratava bem, eu o amava. Will me ensinou a ler, ele me deixava ver televisão, mas eu nunca o contava sobre o que acontecia lá em casa.

— Eu não sei o que dizer. — droga! A menina estava chorando, eu não queria fazê-la chorar.

— Não chore, lindinha. Acho melhor você dormir um pouco. Quando a chuva passar, eu te acordo. — eu disse a olhando mais uma vez, ela é ainda mais linda chorando.

— Não, por favor. Me conta, eu preciso saber. — ela segurou minha mão a apertando firme. Maldição! Se ela me pedisse para pular em um abismo, eu pularia. Eu não negaria nada para aquela menina perfeita à minha frente.

— Minha mãe já não me tratava como antes, ela me odiava assim como ele. Ela me culpava por todas as vezes que ele nos batia. Foram vários dias sem comer, eu só bebia água. Com pouco mais de 7 anos, eu odiava tanto os dois que tinha vontade de me matar. Ele me deixava desacordado quase todas as vezes que me batia. Eu fui criando um ódio tão grande dentro de mim que não conseguia sentir mais nada. Eu já estava com a dor dentro de mim, não me importava mais se iria apanhar ou não. Eu só aceitava. — eu olhava Angel com seus olhos presos a mim. Aquilo era tão simples mas tão tentador. Eu queria parar de falar e beijar aqueles lábios inchados — Ele morreu quando eu tinha 11 anos. Cirrose. Minha mãe foi embora com o primeiro cara que encontrou na rua e me deixou sozinho. Eu aprendi a me virar depois que o velho Will também se foi. Me criei na rua, fazendo o que eu queria e o que eu tinha vontade. Tive minha primeira mulher com 13 anos, assim que o velho se foi. Ela era mais velha, e eu gostei daquilo. Conheci Lewis, meu melhor amigo. Criamos uma turma e hoje eu já não me lembro daqueles vagabundos que fingiam ser meus pais.

— Você precisa perdoá-los. — Angel limpou as lágrimas que insistiam em cair e encostou seu cotovelo no colchão macio.

— Por favor, lindinha, não venha me dar um sermão de igreja. Acho que esse assunto já está encerrado. Vá dormir. — eu a olhei nos olhos esperando que ela se abrisse pra mim e enterrasse seu corpo no meu. Mas ela não o fez. Ficou imóvel me olhando. Desviei meu olhar e me aconcheguei no travesseiro. Droga de menina! Eu estou ficando louco.

— Gabriel? — escutei sua voz macia me chamar, eu iria ouvi-la durante todo meu sonho essa noite.

— Sim? — eu disse sem me mover.

— Obrigada por me contar isso. — sua cabeça encostou no meu peito descoberto que agora levantava com dificuldade por causa da aproximação. Seus braços envolveram minha barriga e ela continuou ali, até adormecer.

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