Capítulo 4.1

Ele fica quieto novamente, mas não para de me observar. Seus olhos são curiosos e me deixam sem jeito e inquieta. Não sei qual o motivo da sua decepção ao saber que queria o fim de toda essa maluquice.

Sinto que ele esconde algo. Algo muito grande. Mas como posso ficar contra um homem de influência? Sei que o dinheiro não compra a felicidade, mas pode comprar a justiça e minhas experiências com isso não são muito boas.

Olho novamente para a janela, tentando disfarçar meu desconforto, e agradeço a Deus quando ele estaciona em frente a um belíssimo restaurante. O manobrista abre a porta do carro para mim e, ao descer, agradeço com um sorriso.

O lugar é sofisticado e luxuoso, me deixando desconfortável por vir com um vestido tão simples. Airon me oferece o braço e acabo deslizando minha mão por seu bíceps, segurando-o.

A elegância do local me deixa constrangida, mas procuro focar meus pensamentos em outros assuntos. Ele poderia avisar que viríamos a um restaurante tão elegante, com toda certeza escolheria um vestido mais adequado ao momento.

Me sentia tão deslocada nesse ambiente que acabo não prestando muita atenção na decoração para não me sentir pior.

O meu vestido não é totalmente inadequado, mas para um jantar, optaria por algo mais comportado e menos chamativo. O tom vermelho acaba sendo vibrante demais e agradeço mentalmente por ter meu sobretudo preto escondendo minha roupa.

— Reserva em nome de Markcross — anuncia para a recepcionista.

— Por aqui, senhor. — Nos guia até uma mesa reservada e afastada. 

Ele puxa a cadeira para que eu me sente e em seguida se ajeita na cadeira à minha frente. O garçom vem até nossa mesa trazendo uma carta de vinhos e os cardápios. Ele escolhe um dos vinhos enquanto escolho o que gostaria de comer.

A ansiedade me tira a fome, mas acabo escolhendo um prato simples. Fazemos nossos pedidos e o garçom sai, nos deixando a sós. 

— Deveria ter me avisado que me traria a um restaurante como este, teria colocado outro vestido. — Me sinto deslocada e pouco à vontade com o ambiente.

— Você está linda com esse vestido, não se preocupe — seu sorriso me deixa completamente envergonhada.

— Obrigada — pronuncio com um fio de voz.

— Vamos direto ao assunto — declara, me observando.

— Me explique sobre o contrato ou acordo, não sei. — Espero acabar logo com essa ansiedade.

— Por motivos pessoais, tenho que mostrar para mídia que somos um casal feliz para manter minha imagem segura e, se você colaborar, satisfarei todos os seus desejos. — Olho fixamente em seus olhos e não escondo minha raiva, mas não nego que suas palavras de duplo sentido me causam arrepios.

— E se eu não colaborar, não me dará o divórcio e não irá facilitar as coisas para mim? — O observo enquanto rio sem humor. — Bem, até agora só ouvi ameaças e promessas — digo irônica.

—Você gosta de me desafiar. — Seus olhos se tornam sombrios.

Apenas sorrio balançando levemente os ombros e faço uma careta.

— E você de me ameaçar — ataco. — Sabe, eu não preciso do seu dinheiro, nem provar algo para a mídia, na verdade, eu quero distância dos tabloides e noticiários. — Vejamos até onde isso vai chegar.

— Não estou te oferecendo dinheiro, desde o momento em que te vi sabia que você não aceitaria o meu dinheiro. Estou te oferecendo uma vida tranquila e sem rodeios por um pequeno período onde eu serei seu e você minha. A única coisa que exijo da sua parte e que também terá da minha é fidelidade. Depois veremos o que fazer a seguir. — Me observa com cautela.

— Já nos conhecíamos antes? — pergunto intrigada.

—Não — ele responde rapidamente.

Não sinto firmeza em sua resposta e isso me deixa desconfiada. Algo me diz que ele está mentindo.

— Você é arrogante, mesquinho e mandão. Não vejo como isso pode dar certo — respiro profundamente antes de continuar —, mas se por acaso, funcionar, quero que dê seu melhor. Já que nos casamos dessa maneira, temos que assumir nossos erros. — ele me observa pensativo. –Em questão de fidelidade, você não precisa se preocupar, não sou o tipo de mulher que sai com vários, muito pelo contrário e essa situação já é absurda demais para nos dois.

— Talvez eu não consiga corresponder a todas as suas expectativas. — Seus olhos se perdem por um momento, me deixando intrigada e curiosa.

Sinto que ele esconde algo por trás desse acordo e desse estranho casamento.

— Se você quer que eu aceite seus termos, também precisa aceitar os meus. — Ergo uma sobrancelha, encarando-o.

Pensativo, Airon reflete sobre meus pedidos. Estou apta a aceitar suas propostas como uma forma de ajudá-lo. Não que isso resulte em algo benéfico para mim, mas ele parece realmente precisar de ajuda, não apenas por sua imagem na mídia, mas pelo vazio e a solidão que vejo refletida no fundo dos seus olhos.

— Quero ver o contrato de casamento. — Apoio as mãos sobre a mesa, observando sua expressão mudar.

— Claro. — Ele retira o papel do bolso interno do paletó e coloca sobre a mesa.

Intrigada e cheia de receio, pego o papel em minhas mãos e leio cuidadosamente seu conteúdo. Tudo é mais real do que gostaria e se me restam dúvidas sobre aceitar o que Airon propôs, elas se vão no momento em que fixo meus olhos nas assinaturas elegantes deste papel. Realmente estou casada com este homem arrogante e incrivelmente misterioso.

— Objeções? — pergunta duvidoso.

— Muitas — sussurro para mim mesma sem fôlego, e o vejo erguer uma das sobrancelhas escuras.

Coloco o papel sobre a mesa novamente e seguro a taça de vinho à minha frente virando o líquido de uma só vez. Preciso de algo mais forte do que isto para aliviar toda a tensão do meu corpo.

Sei que prometi não voltar a colocar uma gota sequer de álcool em meu corpo, mas essa situação é muito absurda. Um belo copo de vodca pura seria de grande ajuda agora.

Me sinto em um filme ou em uma cena de novela mexicana em que sua vida é premeditada milimetricamente por uma mente brilhante e tudo acaba bem, mas, nessa situação, não sei como as coisas podem se resolver pacificamente.

Seus olhos azuis, que tanto me fascinam, me analisam pensativos e preocupados, acho que a decepção e o desespero estão explícitos em meu rosto.

— Me daria a honra? — Ele estende a mão me convidando para dançar.

Por um momento, me distraio e o clima pesado entre nós se esvai lentamente enquanto observo sua mão estendida para mim. Somente agora percebo que a música de fundo é suave e romântica, alguns casais bailam ao som da agradável melodia e isso me faz sorrir, mas meus pensamentos conturbados tiram o foco do ambiente aconchegante e sofisticado.

— Estou tentando fazer dar certo. — Continua com a mão estendida para mim e acabo suspirando com meu comentário.

Poderia continuar me martirizando e me culpando por tudo o que aconteceu ou simplesmente acusá-lo de várias maneiras, mas isso não irá me levar a lugar algum, devo ficar longe de repercussões sociais no momento.

Seguro sua mão com delicadeza, pronta para segui-lo até a pista de dança, mas antes que eu possa dar o primeiro passo, suas mãos descem por minha cintura soltando o único botão que prende meu sobretudo.

—  O que está fazendo? — pergunto confusa.

Em silêncio, ele faz questão de parar atrás de mim, apoiando as mãos em meus ombros, me surpreendendo.

— O tom vermelho destaca e marca a cor da sua pele, isso me encanta, Megan — sussurra tão próximo ao meu ouvido que posso sentir seus lábios roçarem meu pescoço, enviando arrepios por todo o meu corpo.

Se essa era uma tática de sedução, pontos positivos para ele, mas não cairia em um jogo tão baixo. Mantenho-me calada pois não queria estragar o momento deixando-o ditar o jogo.

 Seus dedos deslizam suavemente sobre meus braços, retirando o sobretudo que escondia o vestido, deixando-o sobre a cadeira. Essa aproximação e o elogio repentino me deixam sem jeito, o maravilhoso cheiro de sua colônia invade meus sentidos.

— Obrigada! — agradeço o elogio visivelmente constrangida, e o brilho de seus olhos aumentam.

Airon faz questão de envolver minha cintura com seu braço, pousando sua mão na lateral do meu quadril, me guiando até o centro da pista. Apoio as mãos em seus ombros com suavidade e suas mãos descem pela lateral de meu corpo, parando em minha cintura. Seu toque, acompanhado pela suavidade das notas musicais do piano, faz com que eu relaxe momentaneamente.

— Não me agradeça por isso. — Airon puxa suavemente meu corpo em sua direção e o aroma de seu perfume invade meus sentidos com mais intensidade, a mistura amadeirada e almiscarada acelera meus batimentos cardíacos.

Observo seus penetrantes e intensos olhos azuis e, por um momento, permito que minhas mãos desçam por seu peitoral forte e largo, enquanto a música suave domina o ambiente. Nossos passos continuam lentos e milimetricamente calculados como se nossos corpos estivessem sincronizados.

Inalo ainda mais seu perfume maravilhoso, permitindo que minha mente conturbada se acalme, apreciando este momento único. Seus dedos apertam minha cintura sobre o tecido, e juntos seguimos o ritmo da música como se fossemos apenas um.

Airon apoia seu rosto na curva do meu pescoço e sua respiração próxima faz um leve arrepio descer por minha coluna. Fecho os olhos, encostando levemente meu rosto em seu peito, ainda gravando seu cheiro em minha mente. Ele é alto e em seus braços fortes me sinto segura como nenhum outro homem já fez, acabo estranhando nossa súbita aproximação.

Sua barba por fazer roça por minha bochecha e pescoço e suspiro silenciosamente para que ele não perceba o efeito que sua proximidade e seus toques causam em mim. Fechos os meus olhos ao sentir sua respiração próxima aos meus lábios, subo minhas mãos por seu peito até a nuca, enroscando os meus dedos em seus cabelos negros. Suas mãos pressionam a curva de minha coluna e seus lábios roçam nos meus suavemente.

Puxo seus cabelos com carinho e seus lábios envolvem os meus de forma suave, fazendo com que eu fique extasiada. Eles brincam com os meus, deixando leves beijos até que seus dentes envolvam meu lábio inferior, o puxando e sugando suavemente.

A música para e todo o peso da realidade cai sobre os meus ombros quando lembro onde estou. Envergonhada, me afasto rapidamente e acabo me desequilibrando, mas suas mãos firmes seguram minha cintura dando a estabilidade necessária para que eu não caia.

Ele não deixa que eu me afaste, atraindo olhares curiosos sobre nós.

— Que tal começarmos o acordo agora? Posso satisfazer seus desejos de todas as maneiras possíveis e... sinceramente?! Eu iria amar — sussurra a última parte, enquanto mordisca a ponta de minha orelha.

— As pessoas estão olhando — digo frustrada, encostando a mão em seu peito, o empurrando na tentativa afastá-lo.

— Não me importo. — Meus protestos são completamente ignorados.

— Airon — o repreendo, mas de nada adianta. — Por favor — peço com gentileza e ele cede. 

Aproveito para me desvencilhar de seus braços, mas ele parece não querer perder o contato, me guiando até a mesa.

Antes que ele fale ou faça algo, ajeito minha bolsa no ombro e arrumo meu sobretudo sobre o braço. Me sinto frustrada e decepcionada por sentir desejos tão fortes por ele e confesso que me surpreendo ao ver seus olhos azuis embebedados de desejo combinando com sua expressão séria.

É realmente um desperdício não ter tocado na comida, mas não poderia ficar ali nem mesmo mais um segundo, sufocada em busca de ar e alívio para os desejos absurdos que me consumiam, caminho para fora do restaurante, deixando Airon para trás.

O vento gelado contra a minha pele quente faz os pelos do meu corpo se arrepiarem e automaticamente me encolho apertando o sobretudo sobre meus braços.

Aproveito o momento distante daquele homem prepotente para observar o céu escuro e tentar me acalmar. Sinto sua respiração próxima ao meu pescoço e sou surpreendida com sua voz rouca no meu ouvido.

— Quem brinca com fogo acaba se queimando. — Apoia a mão na minha coluna, me guiando até o carro. No meio do caminho, me viro para ele, aproximando meus lábios dos seus.

— Talvez eu queira me queimar — sussurro, provocando-o de igual para igual.

Seus olhos escurecerem à medida que solto as palavras lentamente.

Me viro rapidamente andando em direção ao carro sem esperar por ele. Não ouso olhar para trás, apenas caminho decidida até o manobrista que nos espera com a porta do carro aberta.

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