Capítulo 2

Sonolenta, me remexo em uma cama macia e confortável. Não me lembro como cheguei ao hotel, mas tenho que agradecer Katy por escolher um lugar tão maravilhoso.

Me espreguiço calmamente e abro meus olhos analisando o local à minha volta, não reconhecendo o quarto de hotel. Sento rapidamente na cama com uma dor de cabeça horrível e inexplicável, a visão turva não colabora. Não me lembro de praticamente nada que aconteceu ontem à noite após todos aqueles drinks. Apoio as mãos na cabeça e respiro fundo na tentativa de me concentrar, mas de nada adianta. Sinto que minha cabeça pode explodir a qualquer momento devido a resseca.

Quando minha visão volta ao normal e se foca em um ponto qualquer, procuro prestar mais atenção no ambiente ao redor e me deparo com um quarto de hotel diferente.

O papel de parede é decorado com tons delicados diferente do hotel em que estávamos, há uma escrivaninha com um abajur ao lado da cama de casal, que na verdade deveria ser duas de solteiro, e uma pequena mesa redonda com duas cadeiras e um vaso de rosas vermelho sangue decorando o móvel, as cortinas brancas do teto ao chão impedem que a luz do sol entre pela porta de vidro que dá acesso à varanda da qual não me lembro de termos.

Tento reconhecer o quarto, mas ele não se parece em nada com o que eu e Katy estamos hospedadas. Demoro, mas acabo por notar um homem deitado ao meu lado, dormindo pesadamente.

Observo os fios negros de seus cabelos despenteados, descendo meus olhos por seus músculos bem definidos. Há uma grande tatuagem em seu peito bem delineado, que termina em sua cintura. Apenas neste momento percebo que ele está vestindo uma cueca boxer escura. Sem entender muito a situação, olho para meu corpo e percebo que estou vestindo um par de lingerie rendado e, ao passar a mãos pelos cabelos, noto o véu e grinalda encaixados ali de alguma forma. E neste exato momento começo a entender o que está acontecendo. O desespero percorre minhas veias me deixando paralisada, meu coração descompassa, minha respiração acelera e toda a minha frustração é expressa com um grito agudo e assustado que sai do fundo da minha alma. Sem pensar muito, começo a espernear na tentativa de me afastar daquele homem estranho e, quando vejo, estou no chão com um lindo galo na cabeça por ter batido na escrivaninha com a queda.

— Quem é você? — grito a plenos pulmões, apontando acusadoramente para o desconhecido à minha frente, que acorda perdido com os meus gritos.

Com a mão na cabeça devido à dor causada pela batida, sento no chão assustada e perdida. Ele olha de um lado para o outro e fixa seus olhos em mim, passando as mãos pelos cabelos. Seu olhar perdido denuncia que também não sabe o que está acontecendo, porém ele está calmo demais e isso me deixa desconfiada. Ainda me olhando, ergue uma de suas grossas sobrancelhas acima de seus incríveis olhos azuis, a cor de sua íris me atrai e faz meu coração acelerar repentinamente surpreendendo a mim mesma. Coloco a mão no peito ainda sem entender o que está acontecendo.

Ele me observa em silêncio e começo a me irritar. Levanto, encarando-o com raiva, quando me lembro de estar com ele na boate.

— Você é o homem de terno que estava na boate. — Aponto para ele, me lembrando de alguns flashes da noite passada.

— Airon Markcross — responde com calma, me deixando ainda mais furiosa.

— Markcross? — dou ênfase no sobrenome, pressentindo conhecê-lo de algum lugar.

— Belíssimo conjunto. — Gesticula para meu corpo com um sorriso sensual nos lábios.

Lembro que estou seminua e puxo a coberta, que antes estava sobre a cama, e cubro meu corpo, envergonhada. Ele passa mais uma vez a mão sobre os cabelos, com um sorriso libertino no rosto.

Não consigo desviar meus olhos de seu corpo bem esculpido e muito bem cuidado.

— Pelo que vejo gosta de apreciar meu corpo?! — pronúncia com uma voz rouca e sensual, me provocando.

Viro o rosto apenas para não dar o braço a torcer, mas tenho que admitir que sinto minhas pernas ficaram bambas, afinal de contas, com um homem lindo, gostoso e sexy desses na minha frente, o que mais eu poderia fazer? Afasto os pensamentos pervertidos, me concentrando em um ponto qualquer do quarto.

O seu celular começa a vibrar em cima da mesa, ao lado de um envelope pardo. Airon atende irritado e começa uma discussão acalorada. Ao decorrer da conversa, suas expressões mudam, ele fecha a cara pegando o controle da grande televisão de plasma, passa os canais até parar em um canal de notícias, pegando o envelope com a outra mão.

Fico boquiaberta quando ouço o noticiário e vejo a frase estampada na tela "O solteirão mais cobiçado finalmente foi laçado". Há diversas fotografias em que estamos nos beijando em uma capela.

Ele estava de terno? E eu estava vestida de noiva? Como assim? Onde arrumei aquele vestido? Ele parece bem caro e sofisticado, nem mesmo tenho dinheiro para tudo isso.

Escuto a repórter dizer: "Assim, nosso tão sonhado Airon Markcross das indústrias CrossRoad foi laçado, sabemos apenas que o nome da nova senhora Markcross é Megan. Com toda certeza muitas outras pretendentes choram por aí e, enquanto isso, eles aproveitam sua lua de mel na maravilhosa cidade de Las Vegas, onde ocorreu o casamento".

— Como assim casada com o dono da CrossRoad? — pergunto para mim mesma sussurrando com desespero.

Ele está impassível e não demonstra fragmento algum de sentimento ou emoção pelo ocorrido, enquanto eu ainda não sei o que fazer. Minha vida está arruinada, tanta gente com quem poderia ter me casado e acabo justamente com o dono de uma das maiores indústrias de Londres? A pior parte mesmo foi me casar em uma capela na cidade dos cassinos.

"Acalme-se, Megan, essas capelas emitem uma certidão falsa de casamento, não tem como ser verdadeira. Tem? Ai, meu Deus, estou ferrada!". Sussurro em pensamento, entrando em desespero, andando de um lado para outro no cômodo.

Procuro rapidamente por minhas coisas e encontro uma caixa com meus pertences, mas o vestido é diferente, comportado, bem diferente do da noite passada que deixava parte do meu corpo a mostra. Este é elegante, valoriza minhas curvas, o decote é menor e o comprimento segue até um pouco acima dos joelhos.

"Qual seria o motivo de ter outro vestido ali para mim?" pergunto a mim mesma, incomodada. Deixo esses pensamentos de lado e me visto rapidamente, procurando por meu celular dentro da bolsa em seguida. Quando ligo o aparelho, sinto meu coração perder o ritmo ao ver 35 chamadas perdidas de Katy, além das demais pessoas como familiares e amigos próximos, 24 mensagens não lidas, 9 chamadas da mamãe e... 1 chamada perdida do Ricardo?

Isso só pode ser brincadeira! Uma chamada do Ricardo? Ele deve ter ligado para o número errado. Aquele otário não teria tanta coragem para me ligar. Acabo me perdendo em meus conflitos internos e tento ler rapidamente as mensagens de Katy, porém são muitas.

Quando dou por mim, Airon, que estava no banheiro, sai de lá com um terno de cor preta. Mesmo nessa situação desastrosa, ele ainda consegue ser incrivelmente lindo.

— Olha, senhor Markcross, sei que fizemos algo desastroso e que você tem uma imagem a zelar, então não quero me envolver mais do que já estou envolvida. — Me aproximo, tentando ser educada.

— Srta. Park, você não tem muitas escolhas, se acha que vou te dar o divórcio, está muito enganada, agora se apresse porque tenho muitas coisas para resolver e nosso possível casamento é uma delas. — Fico indignada ao ouvir o que ele diz.

— Eu não vou a lugar algum com você! Estou aqui de férias e aqui vou ficar! — declaro com raiva.

— Não dificulte as coisas, Srta. Park. Agora vamos. — Caminha em direção à porta, mas não movo um músculo de meu corpo para sair dali.

— Como sabe meu nome? Não me apresentei a você.

— Eu sei de muitas coisas. — Ele sorri presunçoso, mas aparentemente está irritado. — Vamos! — ordena com a voz grossa abrindo a porta do quarto.

— Vai me obrigar? — lanço o desafio e cruzo os braços.

O vejo parar e se virar para mim com uma expressão nada amigável, o maxilar travado e olhos semicerrados. Um forte arrepio desce por minha coluna me alertando do perigo. Mesmo ao perceber que o desafiar não seria a escolha mais sábia, me sinto ainda mais instigada a provocá-lo.

— Não saio daqui se não for para ir ao hotel onde estou hospedada. — Permaneço firme com minhas decisões ainda com os braços cruzados.

— Vamos logo ou eu mesmo vou levá-la a força, creio que não irá gostar da forma que farei isso. — Ergue uma sobrancelha, me desafiando. — Afinal de contas, tenho nossas assinaturas aqui. — Ele tira o envelope que estava sobre a mesa de dentro paletó.

— Me dá isso! — Tento pegar o papel de suas mãos, mas ele guarda novamente.

Com a minha aproximação, ele segura minha mão com certa força, me impedindo de escapar dos seus braços.

— Agora vamos, Srta. Park. — Tento puxar minha mão, mas ele é mais forte.

Remexo-me tentando me soltar, mas ao analisar sua diferença de altura e força, percebo que minha luta pela liberdade será em vão e finalmente resolvo colaborar.

— Pare de me chamar de Srta. Park, está me deixando irritada — falo com uma carranca.

— Claro... Srta. Park. — Caminha em direção ao elevador, segurando uma de minhas mãos como se fossemos um casal feliz e unido.

— Irritante — sussurro apenas para mim, mas vejo seu olhar penetrante e irritado sobre mim. Disfarçadamente abro um sorriso cínico.

Quando entramos no elevador, ele solta minha mão e protetoramente cruzo os braços, impossibilitando qualquer contanto. Só quero mandá-lo ir se foder com seu jeito mandão e turrão que me deixa estressada e irritada.

Começo a entrar em desespero e minha mente gira entrando em parafuso. Nunca em toda a minha vida quis me casar e isso me causa medo. Ainda sou jovem e pretendia curtir minha vida com belas viagens pelo mundo, mas agora me encontro agarrada por um erro a um homem que nem mesmo conheço e, para piorar, sem me lembrar de nada.

Pensei que viria para Vegas e a confusão em minha vida se acalmaria por um momento. Acreditei veementemente que me esqueceria de Ricardo, que foi uma cruz em minha vida, e descansaria para poder voltar ao trabalho, mas abro meus olhos em um dia qualquer e estou casada com um magnata cheio de si, que quer comandar cada passo que dou sem ao menos me conhecer.

Isso não pode estar acontecendo. Nada disso pode estar acontecendo. Eu só posso estar sonhando. Tudo bem Deus, eu quero acordar agora, por favor. Eu não queria ficar rica assim, me perdoa Deus, foi somente uma brincadeira. Juro que me contento com minha pacata vida de administradora de uma empresa pequena do ramo de medicamento, só me faça acordar!

Suplico incontáveis vezes e nada acontece. Frustrada e decepcionada, começo a acreditar que esse é o meu castigo por beber demais.

Essa com certeza é a lei da atração.

Aqui se faz, aqui se paga.

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