Capítulo 1

Ao decorrer da viagem, passamos por algumas turbulências que fizeram meu coração disparar, mas graças a Deus chegamos bem e sem mais complicações ao longo do caminho. Não gosto muito de aviões, tenho a estranha sensação de que a qualquer momento podem cair.

Pegamos um táxi e nos dirigimos ao hotel escolhido por Katy, o caminho passou depressa já que minha atenção estava voltada para cidade bem iluminada e colorida que passava pela janela.

Ao chegarmos, ficamos boquiabertas admirando a beleza daquele hotel magnifico. Lê-se no alto do grande prédio em letras bem iluminadas "Treasure Island", coqueiros e palmeiras enormes estão distribuídos ao redor da entrada em um canteiro milimetricamente planejado com lindas flores exóticas.

Estamos tão hipnotizadas pela magnificência do local que só nos demos conta que ainda não pagamos pela rodada do táxi quando o motorista começou a buzinar. Katy joga o dinheiro em cima do homem, sem prestar muita atenção no que ele diz sobre os turistas na cidade.

Entramos no hotel observando cada detalhe da recepção que é simplesmente de tirar o fôlego, o piso de porcelanato bege com detalhes entalhados em marrom se estendida por toda a nossa volta, bem no alto brilha um grande lustre de cristal que paira gloriosamente no centro do hall acima de nossas cabeças. Seguimos até o balcão de atendimento e atrás dele, com um lindo sorriso no rosto enquanto fala com os clientes, encontra-se a recepcionista. Apresentamos nossos passaportes e, após digitar alguns de nossos dados no computador à sua frente, entrega a chave de nosso quarto para Katy.

— Bem-vindas ao Treasure Island — ela diz. Sorrimos e agradecemos. — Décimo andar, quarto 1005.

O elevador está lotado, mas rapidamente chegamos ao quarto, abrimos a porta e nossas malas já estão posicionadas sobre as camas. Nós olhamos com cumplicidade e subimos nas camas começando a pular e a gritar animadas.

— Vamos arrasar — Katy grita animada.

— Você viu quantos homens lindos, amiga?! Esse lugar está recheado. — Gesticulo ao redor com as mãos.

— Vou beber tanto que não vou lembrar nem meu nome — ela continua rindo igual a uma louca.

— Ainda mais você... — Me jogo na cama. — Confesso que estou precisando disso, depois do cafajeste do Ricardo, não saí mais de casa e muito menos me envolvi com alguém. — Reviro os olhos.

— Sai dessa, Meg, não é hora para isso, vamos curtir e deixar seu ex namorado morto de inveja — diz pulando em cima da cama.

O quarto é lindo, as paredes revestidas com um papel de parede marrom, alguns quadros elegantes bem distribuídos, duas camas grandes e macias com edredons brancos perfeitamente estendidos sobre elas, travesseiros encostados na cabeceira juntamente com algumas almofadas coloridas que dão um ar mais alegre ao ambiente, entre as camas uma cômoda de mogno com um abajur em cima e, ao lado de uma das camas, há uma poltrona bege listrada com tons de marrom, do outro lado, perto da janela, uma pequena mesa com duas cadeiras, um balde com gelo, champanhe e duas taças. Tudo estava muito bem decorado e organizado.

Katy se levanta e começa procurar por algo dentro da mala, tira de lá um vestido preto curtinho cheio de paetês pretos que brilham contra a luz, já imagino o que ela está planejando. Ela se vira e me lança um olhar de reprovação por ainda estar deitada.

— O que foi? Estou curtindo essa cama maravilhosamente macia. — A encaro como se não soubesse de nada.

— Anda, Meg, vamos dançar muito essa noite. — Ela ignora minha vontade de dormir.

— Ok, vamos arrasar! — Não me resta outra opção, senão pular da cama e começar a fuçar em minha mala também.

— Primeiro vou tomar um banho bem quente para tirar o cansaço da viagem. — Katy segue para o banheiro e, alguns segundos depois, ouço seus gritinhos histéricos.

— O que aconteceu sua louca? Quer me matar do coração? — falo com a mão no peito depois do susto.

— Olha isso, Meg — ela diz apontando para o banheiro com os olhos brilhando iguais aos de uma criança que acabou de ganhar um sorvete.

— Uau! — falamos juntas.

É incrível. Os azulejos têm tons claros de bege, um espelho enorme cobre a parede ao longo da bancada de mármore com duas pias de porcelana branca. Há um pequeno vaso de orquídeas roxas no canto próximo às toalhas enroladas e empilhadas sobre a bancada. Um sanitário branco perto do box de vidro que leva a uma ducha separada, mas isso eram apenas detalhes. A parte mais incrível é a banheira de hidromassagem que está disposta abaixo de uma janela de vidro nos proporcionando a visão da grande Las Vegas com suas luzes brilhantes e coloridas. Fico impressionada com a beleza exuberante que o lugar reserva.

— Vai logo tomar banho, que quero aproveitar muito essa banheira e essa vista maravilhosa — pronuncio enquanto ela me empurra para fora do banheiro.

— Você já viu demais, vá arrumar seu vestido para hoje à noite. — Ela ri e entra no banheiro.

— Já vou, não precisa me expulsar Katy. — Faço bico, mesmo que ela não esteja vendo.

— Se eu não sair mais daqui, pode ir sem mim — ela grita de dentro do cômodo já com a porta fechada.

— Jamais, você vai comigo sem discussões, e outra, se demorar muito, entro aí e tomo banho com você! — declaro ainda rindo.

— Engraçadinha. — A ouço gargalhar.

Enquanto Katy toma banho, vou até minha mala e começo a procurar meu vestido preto tubinho, amo esse vestido. Ele valorizava minhas curvas e seu decote em V faz com que meus seios pareçam maiores, já que não são tão grandes. O estendo sobre a cama e, após alguns minutos, Katy sai do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça e outra ao redor do corpo.

— Todo seu! — Ela gesticula com as mãos e passa animada por mim me dando um tapa na bunda.

Olho para ela de soslaio franzindo as sobrancelhas, seguindo rumo ao banheiro. Ela ri e dá de ombros.

— Bunda linda. — Pisca para mim, me fazendo rir.

— Sua tonta. — Entro no banheiro ainda rindo.

Preparo a água da banheira e entro relaxando meus músculos cansados da viagem. Poderia ficar assim por horas, mas não fico enrolando muito, já que Katy com certeza teria um surto caso eu demorasse.

Saio enrolada em uma das toalhas felpudas, secando meu cabelo com outra. Katy já está arrumada e quase terminando de fazer sua maquiagem.

Visto meu conjunto de “lingerie” preto rendado e o vestido. Rapidamente faço minha maquiagem, apenas para ressaltar o verde dos meus olhos, com sombra preta bem esfumada. Com o auxílio do rímel deixo meus cílios mais longos e opto por um batom vinho matte, deixando meus lábios bem marcados. Solto meu cabelo ondulado sobre os ombros e o seco levemente com o secador, depois jogo minha franja para o lado direito a deixando volumosa e com o caimento perfeito. Um anel e um par de saltos vermelhos completam o visual. Pronto.

— Estou pronta — digo me virando para Katy.

— Estou terminando, espera só um pouquinho — ela diz retocando o batom.

— Você começou primeiro que eu! — falo impaciente.

Katy sempre foi enrolada, detalhista e atrasada. Suspiro esperando que ela termine.

— Já vou. — Coloca um par de brincos e dá uma voltinha a minha frente. — Como estou?

— Peituda. — Gargalho vendo seus peitos fartos apertados no vestido.

Apesar de seu vestido ser chamativo, até que é comportado e delineia bem todas as suas curvas.

— Palhaça. — Ela revira os olhos e arruma os peitos dentro do vestido.

— Está linda! Vamos.

Como Katy já pesquisou todas as “boates” de Las Vegas, pegamos um táxi e informamos o endereço ao motorista, não demora muito e estamos em frente a uma “boate” muito movimentada e badalada.

Após enfrentarmos uma grande fila, entramos. O som estridente da música eletrônica invade meus ouvidos fazendo meu coração pular de acordo com as batidas frenéticas do som alto.

Caminhamos em meio às pessoas que dançam loucamente coladas umas nas outras para chegar ao balcão de bebidas que fica do outro lado da “boate”. Nós sentamos em um dos banquinhos e gesticulo para o barman, pedindo duas doses de vodca pura. Contamos até três e viramos de uma vez a bebida na boca que desce queimando em nossas gargantas, após mais duas rodadas, começamos a ficar alegres e animadas. Minha tolerância para álcool não é das melhores, mas hoje não estou nem aí, apenas quero curtir minhas férias enchendo a cara e me esquecendo dos problemas.

— Vamos dançar! — Katy grita por cima da música alta.

Afirmo deixando meu copo de lado e sigo para a pista de dança com Katy que me puxa pela mão. Dançamos e rebolamos sem nos importar com o que vão pensar. Não demora muito e um homem lindo se aproxima de Katy para dançar, apesar de ela não gostar de contatos físicos por seus traumas, não perde tempo e aceita dançar sem muita aproximação ou toques.

Katy é sempre bem reservada quando o assunto é namoro, ela se fechou para o amor e não leva relacionamentos adiante, mas tenho certeza que se um dia encontrar alguém que a ajude a superar todos os seus traumas e medos do passado, não vai abandonar a pessoa tão cedo.

Danço com vários homens lindos, mas nenhum deles me desperta interesse. Não porque estou sofrendo pelo Ricardo, jamais, simplesmente não estou no clima para me envolver com alguém essa noite. Só quero beber, e muito, por sinal. Volto para o bar e peço um cosmopolitan.

O álcool me acalma e afasta os piores pensamentos da minha cabeça. Estar nos Estados Unidos não me traz boas recordações e, mesmo sabendo que nada de mal pode me acontecer aqui, a tensão em meu corpo não diminui.

Peço um dry martini em seguida e saboreio com prazer cada gota que toca meus lábios e desce lentamente gelando minha garganta. O álcool começa a fazer efeito em meu organismo, me causando calor enquanto eu brinco com a azeitona na taça.

De relance noto um homem sentado próximo a mim que me olha descaradamente. Seus intensos olhos azuis como as águas que cobrem o oceano chama a atenção, a barba rala por fazer o deixa ainda mais charmoso e os cabelos negros despenteados o torna sedutor, o nariz fino e queixo quadrado lhe proporcionando um ar extremamente másculo e sua altura impõe respeito. De longe me lança um sorriso encantador que faz meu coração acelerar e as borboletas já mortas dentro do meu estômago criam vida me deixando atordoada.

Qual é borboletas? Fiquem quietas, vocês só me colocam em enrascadas. Hoje não, por favor!

Seus maravilhosos olhos azuis se voltam para mim, com gesto reservado, porém direto, ele me oferece um drink com intenção de se aproximar. Considero as possibilidades de aceitar àquele ato, mas acabo aceitando de bom grado, já que se trata de uma margarita blue. Sem demora, ele se senta ao meu lado me entregando a bebida com um lindo sorriso no rosto.

Aproveito o momento para saborear o drink e apreciar sua beleza sem presa. Ele é tão lindo que consegue prender minha atenção sem muito esforço e sua voz grossa, porém gentil, me deixa vidrada em seus lábios rosados.

Posso ver seus músculos bem definidos através do terno apertado. Seu traje sofisticado esbanja riqueza e luxo, o que não é apropriado para uma noite naquele lugar. Talvez esteja afogando suas mágoas no álcool assim como eu.

Olho em volta à procura de Katy e não a encontro, antes que a bebida comece a surtir efeitos devastadores e polêmicos, me levanto para ir embora, me despedindo do homem que nem mesmo sabia o nome. Em um ato rápido, ele cola nossos corpos, sua respiração quente próxima ao meu pescoço me deixa excitada, mas resisto fortemente às suas investidas afastando-me.

— Fique — sussurra próximo ao meu ouvido.

— Não posso — recuso.

— Por favor, prometo que esse será o último. — Desliza o copo de bebida em minha direção e nem mesmo notei quando foi pedido.

— O último! — afirmo.

Acabo aceitando a bebida, pois não fará mal algum apreciar sua presença por mais alguns minutos, o que eu não sei é que essa bebida mudaria totalmente o rumo da minha vida, a colocando de cabeça para baixo.

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