Capítulo 04 - Alexander

Coloquei o capacete e acelerei a moto testando o motor. Aquele era o último treino antes da grande corrida na semana seguinte no Rio de Janeiro e eu precisa de toda concentração. Ali tinham alguns pilotos que também participariam da competição mas os principais adversários vinham de outros estados. Pilotos experientes e vencedores de grandes competições, mas aquilo não me intimidava. Estava acostumado a competir com os melhores e vencer e eu estava disposto a dar o melhor de mim para fechar aquela temporada com mais uma vitória.

A pista de corrida era como uma válvula de escape para mim. Quando eu acelerava a moto e rasgava do lugar em alta velocidade era como deixar para trás tudo de ruim que acontecera na minha vida. Ali eu sentia meu coração acelerado e toda minha atenção se voltava para a pista em minha frente e a cada volta eu impunha mais força e determinação nos saltos. Eu não me permitia perder. Precisava daquela sensação de me sentir capaz, ali eu era o vencedor.

No entanto ao voltar para o mundo real, a tristeza se abatia de novo sobre mim ao imaginar que chegaria em casa sozinho e teria que conviver com o que restou da minha vida, então eu ia para o bar e afogava minha tristeza no álcool.

E assim naquela noite, após a corrida, os pilotos se reuniram como sempre no Roger Bar. Ali era nosso ponto de encontro para tomar uma cervejinha e colocar os assunto em dias. Eu me sentia em casa ali, principalmente porque Roger era meu amigo pessoal e muitas vezes foi meu confidente em momentos de solidão. Naquela noite o bar estava lotado e tinha uma banda de música sertaneja animando a clientela. Como sempre, escolhemos as mesas do fundo. Nosso grupo era barulhento e sempre chamava a atenção, por isso Roger brincava dizendo que deveríamos ficar escondidos para não assustar os clientes. As mulheres sempre ficavam animadas quando viam o grupo de motoqueiros ali. Éramos homens jovens e bonitos e não tinha como não chamar a atenção das mulheres.

As garçonetes eram as primeiras a se insinuarem e cada uma escolhia um alvo. Carla era uma moça bonita que trabalhava ali a bastante tempo. Era negra, alta, de cabelos curtinhos e cacheados. Ela não disfarçava o interesse que tinha por mim, mas infelizmente eu não conseguia corresponder. Não sentia nada mais profundo, nem por ela e nem por mulher alguma. Para que ela não alimentasse esperanças, um dia em que ela se dirigiu a mim e deixou bem claro que queria ficar comigo fui obrigado a ser sincero e dizer que não tinha nenhuma chance de haver nada mais entre não que não fosse amizade. Ela entendeu, mas desse dia em diante me tratava friamente. Eu não podia culpá-la, eu que era um fodido que não conseguia nem corresponder ao interesse de uma mulher bonita. Só me restava beber e tentar esquecer a vida de merda que eu tinha. Como se avinhasse meus pensamentos, Carla não deixava meu copo vazio e fazia questão de me servir com um sorriso debochado no rosto. Acho que a forma dela me punir, por ter dado o fora nela era me vendo bêbado e sofrendo.

Roger no entanto, se preocupava comigo e quando percebeu que já passava das duas horas da madrugada e meus amigos já tinham ido embora ele se aproximou e tomou o copo da minha mão.

- Não acha que já está bom, Alex?

Eu peguei o copo de volta.

- Qual é, Roger? Me deixa aqui.

Ele suspirou e sentou em minha frente.

- Meu amigo, não faça isso! Não precisa beber tanto.

Ele tinha razão, mas naquela hora eu não queria ouvir sermão.

- Me deixa aqui, Roger e pede aquela gostosa da Carla pra me trazer mais uma cerveja.

Roger riu.

- Gostosa que você dispensou, tá lembrado?

- Terminou o discurso, Roger? Tchau. Quando for fechar me avisa.

Ele sabia que não adiantava discutir.

- Ficarei de olho em você.

E assim, foi naquela noite como tantas outras nos últimos tempos. Eu só sair do bar quase amanhecendo quando Roger proibiu que me servissem mais bebida, tomou a chave da minha moto e chamou um táxi para me levar para casa.

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