09

Quando abro meus olhos, é como se ainda os tivesse fechados. A sala onde eu estou e completamente escura e tem um cheiro horrível. Uma pequena janela aberta, deixa passar o sol, iluminando assim um pouco o chão, no meio daquela escuridão. Mas mesmo assim, continua difícil ver alguma coisa.

Me lembro de ter sido apanhada por dois homens e de depois ter apagado. Me lembro também de ouvir o som de um motor de um barco e de tudo estar mexendo, acompanhando o movimento de ondas, e de depois um homem aparecer e me dopar algo novamente que fez dormir. E agora tô aqui.

Tento me levantar e tentar chegar até à pequena janela, para perceber onde eu estava. Olho pela janela e só vejo uma terra amarela, e sinto uma brisa quente batendo na minha cara. Ouço passos vindos de fora da porta daquela sala escura e então me deito na cama, fingindo que estava dormindo.

A porta abre e entra um homem com uma veste comprida e com uma barba também grande. Ele trazia na mão um tabuleiro com comida e uma jarra. Talvez aquela comida fosse para mim. E realmente eu estava com fome. Ele acende uma pequena luz da sala, mas eu continuo de olhos fechados, como se estivesse dormindo. Ele anda um pouco até uma mesa que tem naquela sala, ficando de costas para mim. Eu me levanto e tento fugir.

- Não fuja! – grita o homem, enquanto me agarra pelo cabelo e me joga novamente para a pequena cama daquela sala, fechando a porta.

Eu me levanto e corro para o outro lado da sala, tentando fugir desse homem. Não tinha mais por onde fugir, então ele me agarra pelo pescoço e me encosta numa parede. Ele começa descendo as mãos até minha cintura e coloca a boca em meu pescoço. Eu lhe dou um chute no meio das pernas dele e tento fugir novamente. Mas sem sucesso. Ele volta me encostando à parede e volta a fazer o mesmo. Eu mordo a orelha dele e dessa vez eu consigo fugir dele.

Corro em direção à mesa onde ele tinha deixado o tabuleiro, e o homem vem correndo em minha direção. Pego na faca que ele tinha deixado lá e ele salta para cima de mim. Caímos os dois ao chão, mas ele não se mexe mais.

Dele apenas ouço um gemido e vejo um pouco de sangue escorrendo da boca dele. Eu espetei uma faca na barriga dele.

- Me desculpe! – falo com a voz tremida.

Foi a única coisa que eu consigo falar para ele, depois de perceber o que eu fiz. Ele continua deitado no chão, com a faca ainda espetada na barriga. Ainda tenta se levantar e levanta a mão, mas logo a deixa a cair. Eu me sento na cama, chorando.

Eu matei um homem! Me lembro das palavras da postagem que fiz meses atrás: "Eu não percebo o que vai na cabeça das pessoas que matam". Agora quem matou fui eu! Eu matei para sobreviver, mas não tenho orgulho de ter matado. Talvez tivesse havido outro jeito de me livrar dele, sem o matar. Essa sensação de tirar uma vida é horrível.

Tento não pensar muito nisso. Me levanto e pego as chaves que o homem tinha num bolso. Olho minhas mãos e elas estão sujas de sangue. Limpo elas às minhas calças, mas o vermelho do sangue ainda continua lá. Tem morte nas minhas mãos… tem morte em mim…

Abro a porta daquela sala e volto a olhar novamente para o homem que eu matei, à espera que ele acordasse como por milagre, e vejo que ele é o mesmo cara que me pegou em Los Angeles. Saio e fecho a porta. Tem um corredor que me leva para dois sentidos e eu não sei por onde ir. Pego o caminho da esquerda e começo andando.

- Ei! – olho para trás e vejo que é o outro que cara que também me pegou – Pare!

Eu começo correndo assustada e não sei para onde ir, nem para onde tô indo. Apenas corro. No fim desse corredor tem uma porta. Abro ela e me deparo com algo assustador. Tinha homens vestidos como aquele que eu matei e como aquele que estava vindo atrás de mim. Esses homens tinham armas e as apontaram diretamente para mim.

- Não matem ela! – fala o cara que estava correndo atrás de mim, e os homens obedecem. Eu fico cada vez mais confusa. O cara me agarra os braços e me prende – Venha. – ele fala para mim.

Ele me leva novamente para dentro e me leva para outro lugar que não a sala onde eu estava. Entramos noutra sala que tinha uma mesa grande, como uma mesa de refeições e me senta numa cadeira. Tira as algemas que tinha usado para me prender.

- Quem são vocês? O que querem de mim? - eu pergunto assustada.

- Não abra a boca enquanto ele estiver falando e apenas aceite o que ele tem para si. – ele sussurra para mim – É o melhor para você.

- Aceitar o quê? – eu pergunto.

- Cale a boca…

Ele é interrompido por três homens de meia-idade que entram na sala, e que depois de sentam na mesa. O silêncio domina a sala.

- É essa a garota que vocês me falaram? – pergunta o homem, que estava sentado no meio, para o cara que me trouxe até aqui. Ele falava inglês de uma forma estranha, como se não tivesse habituado.

- É, senhor. – fala o cara.

- Eu não vejo a utilidade de ela para nós. – fala olhando para mim – Ela tem ar de quem não faz mal a uma mosca. Mandem matar ela.

Eu olho para o cara que me trouxe assustada e ele levanta a mão.

- Espere, senhor! – ele fala – Ela matou Mathias.

Eu olho para ele. Mas ele não me estava tentando ajudar? Por que ele falou que eu matei um deles?

- Matou? – o homem pergunta e se volta a sentar.

- Menina… - ele fala para mim – O que você acha que está estragando o mundo?

Eu não sei o que responder.

- Não sabe? Eu respondo por você… - ele se levanta – Bem, eu vou ser muito direto. O terrorismo e aqueles que lutam contra o terrorismo. São eles… E nós temos o objetivo de acabar com tudo isso. Nós queremos construir um novo mundo, onde não existe o ódio nem a maldade. Nós pretendemos acabar com todos eles para alcançar o nosso objetivo.

Eu olho confusa… Se eles querem acabar com a maldade, para quê as armas que eu vi do lado de fora?

- Quando Liam e o homem que você me matou me falaram de você, o meu único objetivo era matá-la. – ele continua – Depois do que você falou sobre nós, a gente tentou uma vez, mas você sobreviveu ao atropelamento.

- Foram… Foram vocês que fizeram aquele atentado terrorista? – eu falo – Foram vocês que me atropelaram?

- Nós não somos terroristas! – um cara fala e me dá um tapa na cara.

- Sim! – fala novamente o homem – Fomos nós. E quando nós descobrimos que você tinha sobrevivido, arranjamos outro plano para apanhar você. E foi quando Liam e Mathias apanharam você em Los Angeles. – ele olha para o cara que me sequestrou, que agora tem um nome, Liam – O plano era matar você, mas eles preferiram poupar sua vida. Quando você chegou aqui, minha ideia era de apenas de ter uma conversa e depois acabar com você, definitivamente.

Ele para de falar e se senta.

- Eu não queria ofender ninguém, eu só… - falo, mas sou interrompida.

- Cala a boca! – o cara me volta a dar um tapa.

- Mas agora que sei que afinal você consegue fazer mal a uma mosca – todos riem, todos exceto eu – eu percebi que você pode nos ser muito útil – ele fala.

- Como? – eu pergunto.

- Se junte a nós! - ele fala.

Olho para Liam que apenas move os lábios, me dizendo para aceitar. Olho para o chão e olho novamente para o homem.

- Eu aceito. – falo.

O homem se ri e se levanta.

- Meus senhores… - ele fala – saúdem a nossa nova Irmã.

E assim eles fizeram.

(…)

Passaram dois meses desde que eu aceitei a proposta de Constantim. Me treinaram com armas, com combate corpo a corpo, e hoje vão me gravar para mostrar ao mundo a sua “mais bela criação”, é como eles me tratam. Eles simplesmente querem que eu lute com uns caras para mostrar a quão boa eu estou. Liam me tem ajudado a sobreviver aqui.

Depois de ter aceitado a proposta, ele veio falar comigo e disse que vai conseguir arranjar um jeito de fugirmos daquele lugar horrível. Ele me contou que aconteceu com ele a mesma coisa que me está acontecendo, e por isso quer impedir que eu faça coisas horríveis que ele já foi obrigado a fazer. E é verdade, ele já fez com que eu não tivesse que matar outro homem. Eu confio nele. Mas fugir desse lugar, é impossível. Não tem como fugir dessa "prisão".

Depois de ter gravado o vídeo, Constantim me manda para junto dele, dizendo que tem que acrescentar mais uma coisa no vídeo. Ele se vira para a câmara e fala.

- O mundo está prestes a mudar. E essa menina, – ele tira uma espécie de touca de bandido que tenho na cabeça, de modo a mostrar a minha cara para a câmara - é prova de que é possível mudar o mundo. Nós instituiremos o bem no mundo. Lutaremos por um mundo melhor!

E terminam o vídeo.

Por um mundo melhor? Eu me apercebo da confusão em que me estou metendo. Talvez tivesse sido melhor que eles me tivessem matado. Eu só quero fugir desse lugar, desse bando de pessoas doentes! Eu só espero que Liam consiga mesmo um jeito de fugir daqui. Quero voltar para casa, quero paz! Mas até esse dia chegar, eu vou ser obrigada a fazer aquilo que não quero para puder sobreviver.

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