04

Faz 3 semanas que estou em Riberão Preto e até agora nem sinal do Leon. Passo os meus dias num café que fica perto da morada que o Leon tem nos seus vídeos, mas ainda não o vi. Todos os dias minha mãe me liga para saber se estou bem e se já o encontrei e, como é óbvio, a minha resposta é sempre a mesma. Susy, quando descobriu que eu tinha vindo para Ribeirão Preto sem lhe contar, ficou um pouco chateada, mas depois percebeu a minha situação e até me desejou boa sorte. Ela queria vir, mas eu disse que não precisava. Na verdade, eu não queria que ela estivesse aqui, eu a conheço; se ela estivesse aqui comigo já o tinha encontrado, eu sei disso, mas todo o mundo saberia que eu estava aqui, e não queria. Eu não queria ser reconhecida. Mesmo assim às vezes alguns fãs meus ainda me reconheceram e pediam fotos e autógrafos, mas pedia a eles para não contarem a muita gente porque, dizia eu, estava em Ribeirão para estar longe da confusão.

- É hoje que você me vai contar por quem está à procura? - pergunta Manuela, a dona do café, com uma xícara de chã para mim na mão.

- Sem chance. - bebo um pouco de chã -. Mesmo que eu contasse por quem estava à procura, você não saberia quem era.

- Duvido, eu conheço todo o mundo! - ela realmente tinha ar de saber de tudo e de todos; apesar de ela se ter tornado minha amiga, eu prefiro não contar tudo, prefiro não correr riscos. Se eu não tivesse assim tão preocupada em ser descoberta, eu já lhe teria perguntado, mas sei que depois estaria todo o mundo caindo em cima de mim.

- Acredito que sim, mas essa pessoa você não conhece, acredite em mim.

Ela sai para atender um cliente que entrou. Eu continuo bebendo meu chã e lendo meu livro. Tem tudo para ser mais um dia como todos os outros, mais um dia que vou sair deste café para o hotel sem o "objetivo" cumprido. É quase como "déja vú". Passado alguns minutos entra uma senhora no café, que repara em mim. Ela chama a empregada do café e fala para ela alguma coisa que eu não consigo bem ouvir, mas sei que tá falando de mim porque ela apontou para mim. Minutos depois ela se levanta e vem até mim.

- Boa tarde. Você é Renata Cavalcante, certo? - pergunta a senhora com um sorriso bem grande.

- Sim, sou eu! E a senhora é?- pergunto à senhora também com um sorriso.

- Vera. Posso me sentar por um minutinho?

- Claro que pode. - eu arrumo as coisas que tenho na mesa - Essa é coisa que eu mais tenho dito nas últimas semanas.

- Não me leve a mal, mas... - a senhora pausa por um minuto e me encara - o que uma menina como você tá fazendo aqui em Ribeirão Preto?

- Não me interprete mal, mas são razões pessoais. - respondo com um meio sorriso.

- Claro que não. - ela dá uma gargalhada - É que não é normal ver famosos por aqui...

- Pois... - respondo sem muito mais que responder e ficamos em silêncio por um tempo.

- Eu tenho um filho que é muito seu fã. - a senhora corta o silêncio -, Ele diz que a ama! - diz ela, gargalhando.

- É sério? - pergunto rindo.

- É sério. Acha que pode dar um autógrafo a ele?

- Claro que posso. - pego num papel e numa caneta - Qual é o nome?

- É Leon.

- Leon... - falo enquanto escrevo uma dedicatória, esboçando um sorriso.

- Tem algum problema? - pergunta a senhora preocupada.

- Tem não, é que... - penso se devo contar ou não, olhando para a estrada - Não conte a ninguém, mas é que estou procurando uma pessoa que se chama Leon e... - olho para a senhora - Você não preciso levar com meus devaneios, desculpe... - rio.

- Não tem mal, não. Espero que o encontre então. - ri, me dando motivação.

- Obrigado... - continuo escrevendo o autógrafo.

- Sabe? Esse meu filho põe vídeos na internet e fala muitas vezes em você neles...

Eu paro novamente de escrever e olho lentamente para a senhora...

- Como se chama o seu filho? - pergunto ansiosa.

- É Leon, eu já...

- Sim, eu sei. Mas eu quero saber o nome de seu filho. Sabe? Na internet...?

- Ah! É Toddy. - me encho de alegria - Mas com um "3", não é um "e". - ela faz gestos com a mão, e eu me rio.

- Você é a mãe do Leon Onete?

- Sou. Tem algo errado com meu filho? - ela pergunta preocupada.

- Não... - eu paro e tento aguentar as lágrimas - É o seu filho quem eu estou procurando!

- Minha Nossa Senhora! - a senhora, ou melhor, a mãe do Leon, junta as mãos e as coloca à frente da boca, como se tivesse rezando.

- Acha que eu posso falar com ele? - pergunto - Eu estou o procurando faz muito tempo.

- Claro que pode. Quer dizer, eu acho que não tem problema. Aliás eu estava agora indo para casa para preparar o jantar porque hoje o Leon chega de São Paulo e vai passar o fim de semana comigo e com meu marido. Meu outro filho também vêm. É raro conseguir juntar a família toda. - ela ri.

- Ai, eu não quero incomodar. Se é um jantar de família. Eu só precisava fazer uma pergunta ao Leon.

- Menina... - ela me encara - Eu estou convidando você para jantar com a gente, hoje.

- Eu não quero incomodar...

- Você não incomoda nada. - ela se levanta - Temos é que ir para casa para preparar o jantar.

- Claro.

Me levanto, pago a conta, e saio com Vera. Pelo caminho ela vai me contando os seus planos para o jantar e vai falando de outras coisas também. Quando chegamos a casa, me deparo com um senhor, talvez o pai do Leon.

- Puta merda! - fala o senhor.

- Paschoal, essa é Renata Cavalcante, a garota... - fala Vera.

- Eu sei quem ela é. - ele se aproxima e me cumprimenta com um beijo - É um prazer conhecê-la.

- O prazer é meu. - eu falo, com um sorriso.

- Paschoal, a Renata vai jantar hoje com a gente. - Vera ri.

- Claro! Bem, se sinta à vontade. - ri.

- Obrigada. - rio; isso tá sendo muito estranho: estou conhecendo primeiro os pais do Leon, antes de conhecer o Leon - Acha que eu posso ir ao banheiro?

- Claro! É nessa porta à esquerda.

Eu entro no banheiro e lavo a cara. Eu tô muito nervosa. Eu preciso relaxar. Antes de sair ouço a porta da casa abrindo. Será que é o Leon? Abro um pouco a porta do banheiro e vejo pessoas a entrar e um cara grita "Mãe, cheguei". Deve ser o ser o irmão do Leon, a sua cunhada e as suas sobrinhas. Vera começa contando que eu estou ali em casa para jantar com eles e para falar com o Leon, e o Ricardo, o irmão do Leon, não tá acreditando. Tá na hora de sair do banheiro e acabar com todo aquele clima.

- Olá. - digo quando saio do banheiro e todos ficam perplexos olhando para mim. Todos menos Vera e Paschoal, claro.

Ficamos falando um pouco e depois Vera vai preparar o jantar e eu vou junto com ela para a ajudar. Enquanto isso vejo que Ricardo está falando com Paschoal sobre mim.

- O que ela tá fazendo aqui, pai? - pergunta Ricardo.

- Não sei. - responde Paschoal - Ela apareceu aqui com sua mãe. Sua mãe apenas me disse que ela vinha para jantar com a gente e que ela veio de propósito para Ribeirão Preto para encontrar Leon.

- Nossa! - fala Vivian, a cunhada do Leon - E o que ela quer falar com ele?

- Não sei. - fala Paschoal.

Enquanto o jantar tá no forno, Vera me leva novamente para a sala e me mostra fotos de quando Leon era pequeno. De repente, Ricardo diz que Leon avisou que ia namorar uns 15 minutos ainda para chegar. Eu dou um suspiro e meu celular começa tocando. Peço licença para sair e vou para a sacada. É minha mãe.

- Alô, mãe?

- Renata, está tudo bem?

- Consegui, mãe!

- Você já o encontrou?

- Não, mas encontrei a mãe dele, e agora estou em casa dela. Vou jantar aqui com a família toda dele. Ele mora em São Paulo, é por isso que não o encontrava. Quem mora em Ribeirão Preto são os pais dele.

- Você tem a certeza disso? - minha pergunta preocupada - Pode ser alguém a enganá-la.

- Tenho mãe. - descanso-a - Eu não disse que estava procurando um Leon Onete. A gente se encontrou num café e ela me falou que tinha um filho que se chamava Leon, que era meu fã e que punha vídeos na internet. Aí eu perguntei se estava falando do Leon, e ela disse que sim. Só depois é que disse que o estava procurando. Não se preocupe.

- Tudo bem. Mas tenha cuidado e se lembre daquilo que eu falei.

- Eu lembro, não se preocupe. Bem, agora tenho que ir, ele tá chegando.

- Certo, beijos para você.

- Beijos e mande também para a família. Tchau.

- Eu mando. Tchau.

Eu desligo a chamada e saio da sacada.

- Peço desculpa. - eu falo - Era minha mãe. Ela queria saber como eu... - paro imediatamente quando vejo que ele está ali. Finalmente, após semanas procurando, eu finalmente o encontro. Leon estava ali à minha frente. Ele quando me viu, soltou um sorriso meio parvo, como se não acreditasse que eu estava ali. Não tem mal. Eu também não acreditava que ele estava ali. Eu só gostava de poder ter visto a minha cara quando o vi.

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