04.

- Nos acompanhe até o hospital? – ele perguntou.

- Sim – ela falou. Estava confusa com tudo que estava acontecendo.

Chegaram ao hospital, e os policias a levaram até o médico responsável pelo atendimento de seus pais.

- Como eles estão? – Vivi perguntou aflita.

- Minha querida, sua mãe está bem, ela só sofreu alguns cortes, mas não foi nada grave.

- Ai, quem bom – ela sentiu um alívio, que não durou por muito tempo.

- Mas eu sinto em lhe dizer que seu pai... - ele continuou, mas Vivi o interrompeu.

- Meu pai o quê? Doutor me fala, cadê meu pai? – perguntou, começando a chorar.

- Seu pai não resistiu aos ferimentos e faleceu – o doutor disse, colocando a mão no ombro de Vivi, tentando confortá-la.

- O quê? – não acreditava no que estava acontecendo.

- Eu sinto muito – ele falou, olhando-a.

Vivi não sabia o que dizer, ela sentiu o chão sumindo debaixo dos seus pés, ficou sem ação. Seu pai tinha morrido, aquele que para ela era o melhor do mundo, que a ajudava, brincava, era carinhoso com ela e sua mãe, dava broncas quando necessário, a fazia se sentir a garota mais especial do universo. Mas agora, ele não estava mais lá.

Mackenzie estava intrigada, Vivi não foi almoçar com ela, e ela nunca faltava a um compromisso marcado.

- Mãe, será que a Vivi esqueceu do nosso almoço? – perguntou, guardando a louça no armário.

- Não sei, Zie. Por que você não vai à casa dela ver o que aconteceu?

- É, vou lá então – disse, saindo de casa, indo em direção à vizinha.

Ela bateu na porta várias vezes, chamou pelo nome de Vivi, mas ninguém atendeu. Ficou preocupada, pois aquilo não era normal. Voltou para sua casa e contou para sua mãe.

- Zie, não se preocupe, não aconteceu nada – Donna disse, indo atender ao telefone que tinha tocado.

- O quê? Quando? Como? – perguntava assustada.

- Mãe, o que está acontecendo? – Mackenzie questionou quando viu sua mãe preocupada.

- Meu Deus! – falou, colocando o telefone no gancho. – Os pais da Vivi sofreram um acidente, Zie, e o Ricardo não resistiu.

- Mãe, e onde a Vivi está? – perguntou desesperada.

- Ela já está no hospital, passando por tudo isso sozinha. Vamos para lá, filha, ela precisa da gente.

Donna chamou Alan e lhe contou tudo o que aconteceu. Ele e Ricardo se tornaram grandes amigos, e ele não acreditava no que havia acontecido.

Alan, Donna e Mackenzie se encaminharam ao quarto que a enfermeira lhes indicou.

Vivi estava sentada no sofá, com as mãos em cima dos joelhos, e lágrimas caiam dos seus olhos. Verônica estava deitada na cama, virada de costas para a filha. O silêncio no quarto foi quebrado quando os três entraram.

Mackenzie se sentou ao lado da amiga e a abraçou, mas Vivi não disse nada. Donna deu um beijo na testa dela, e foi ver como Verônica estava. Alan a acompanhou.

- Eu sinto muito – Donna não sabia o que dizer.

- Obrigada – Verônica se limitou a dizer isso.

- Esse momento é muito difícil, mas estamos aqui – Alan falou, tentando confortar Verônica, que só o olhou, fazendo sinal de positivo com a cabeça.

Alan se comprometeu em resolver as papeladas, o funeral e tudo que fosse preciso fazer, pois Verônica não estava em condições físicas e muitos menos emocionais de fazer qualquer coisa.

Vivi estava visivelmente abalada. Desde que o médico lhe dera a notícia, ela não falou mais, quando perguntavam alguma coisa, ela simplesmente olhava para a pessoa e ficava em silêncio. Era compreensível isso estar acontecendo, afinal ela perdeu o pai, o protetor, o exemplo de homem que ela tinha em sua vida.

Era domingo à tarde, e todos foram para o funeral, mas Vivi se recusou a ir. Ficou no fundo da casa, sentada na grama, com Nina ao seu lado. Seus olhos estavam inchados, passou a noite em claro, chorando.

Estava com os joelhos dobrados e a cabeça baixa apoiada neles, com os olhos fechados, quando sentiu alguém se sentando próximo. Ela não olhou para ver quem era, não precisava, pois ela sabia.

Jensen envolveu seus braços em volta de Vivi, e a abraçou sem dizer nada. Ela levantou sua cabeça e o olhou, que sorriu amorosamente.

- Ele morreu, Jensen – ela disse, iniciando um choro.

- Chora, Vivi, chora, é a melhor coisa que você pode fazer – ele disse assim que ela o abraçou e começou a chorar compulsivamente.

Ficaram ali sentados na grama a tarde inteira. Jensen percebeu que Vivi estava quieta demais, quando a chamou, ela não respondeu. Ela estava dormindo em seus braços. Ele se levantou delicadamente para não acordá-la, a pegou em seu colo, carregando-a para dentro da casa. Colocou-a em sua cama e a cobriu com um lençol. Ficou observando-a dormindo durante alguns minutos. Não acreditava que aquilo tinha acontecido com Vivi, a menina mais doce que ele já conheceu. Mas ele estaria ali com ela, para o que fosse preciso.

Vivi abria os olhos com dificuldade, se virou na cama e viu alguém sentado na poltrona. Esfregou os olhos com as mãos e notou que era Jensen. Ela ficou olhando-o todo desajeitado, dormindo, e percebeu que ele passou a noite ali, cuidando dela.

Jensen acordou e viu que ela o fitava.

- Bom dia.

- Bom dia, Vivi, conseguiu dormir? – perguntou se aproximando dela, sentando na cama.

- Sim.

Vivi não estava afim de conversar. Jensen percebeu isso e ficou em silêncio. Sentou-se mais perto dela, e segurou sua mão, olhou fixamente em seus olhos.

Vivi deu um pequeno sorriso, e uma lágrima caiu. Então, ele se aproximou dela e a abraçou com toda força que tinha. Ela retribuiu esse abraço, chorando compulsivamente.

Duas semanas haviam se passado desde a morte de Ricardo. Vivi começou a seguir em frente, diferente de sua mãe que passava a noite chorando e de dia não tinha vontade de fazer nada. Donna praticamente a obrigava a comer alguma coisa.

Vivi estava triste pela sua mãe, mas conseguia imaginar o que ela sentia. O homem que ela amava, pai de sua filha, havia morrido.

Era 'tardezinha'. Vivi estava sentada em uma das cadeiras que ficava na varanda de sua casa. Viu Jensen se aproximando.

- Hey – disse olhando para ele.

- Hey para você também – ele falou.

Vivi se levantou, e ele a cumprimentou com um abraço e um beijo no rosto. Jensen se sentou na cadeira ao lado da dela.

- Me diz, Vivi, como você está?

- Ah, eu 'to levando, sabe? – ela respondeu com um meio sorriso. – Não 'ta sendo fácil.

- Posso imaginar.

- É.

- Vivi, você sabe que pode contar comigo, né? – perguntou.

- Sim, Jensen, eu sei. Muito obrigada por tudo.

- Se precisar é só chamar – ele sorriu para ela, que sorriu de volta. - Eu estava sentindo falta disso – ele disse.

- Do quê? – perguntou curiosa.

- Do seu sorriso, Vivi. Sem ele, você não é a mesma.

- Pára com isso, Jensen. – disse batendo em seu ombro.

- É a verdade – ele falou rindo.

- Pronto, você conseguiu, se sua intenção era me fazer ficar com vergonha, deu certo – ela riu.

- Não, minha intenção não era essa.

- Então, qual era? – Vivi perguntou.

- Fazer você sorrir – respondeu carinhosamente.

- Você não existe, Jensen- Vivi disse, levantando e o abraçando.

Em todos os aniversários de Vivi, Ricardo a acordava com café da manhã na cama, feito por ele, especialmente para ela. Mas no aniversário de quinze anos, ela não teria isso, seu pai não estava mais lá.

Vivi acordou quando alguém entrou em seu quarto, acendeu a luz do abajur e pôde ver Jensen entrando com uma bandeja nas mãos.

- Que isso? – perguntou se ajeitando e sentando.

- Feliz Aniversário – disse todo sorridente.

Vivi não acreditava no que estava acontecendo. Jensen tinha levado café da manhã na cama, para ela.

- Jensen... – não tinha palavras para dizer nada.

- Não sou seu pai, Vivi, mas espero que você goste.

- Como que eu posso te agradecer? – indagou enquanto comia uma torrada.

- Me deixando ser seu acompanhante na festa de hoje - sugeriu.

- Lá vem você com isso, de novo. Já disse que não quero festa.

- Vivi, eu sei disso, mas o seu pai não permitiria que você ficasse sem sua festa de quinze anos – disse, olhando a comer.

Vivi ficou olhando para ele.

- Você não vai desistir, vai? – perguntou respirando fundo.

- Não – falou sorrindo.

- 'Ta bom então – finalmente aceitou.

- Aeeeee! – ele gritou feliz, fazendo Vivi rir.

- Você definitivamente é insano, Jensen.

- Todos nós temos um pouco de insanidade.

- Eu não tenho não – fez careta.

- Tem sim, te garanto – zombou dela.

- Isso aqui está maravilhoso – comentou sobre o café da manhã.

- Eu que fiz – disse, se gabando.

- Não vou aguentar comer sozinha, quer?

- Claro – Jensen afirmou, pegando uma torrada com geléia.

- Você nunca recusa comida, né? – questionou brincando com ele.

- Não, e não se faça de inocente, porque você também não recusa.

- Bem, isso é verdade – Vivi falou rindo.

Vivi estava na varanda quando Mackenzie apareceu.

- FELIZ ANIVERSÁRIO! – gritou para a amiga.

- Ai Meu Deus, mais um doido da sua família – Vivi disse assim que Mackenzie a abraçou.

- Assim que você me trata quando venho te dar os parabéns? – perguntou rindo.

- Não, sua boba, você sabe que te adoro – falou, beijando a amiga.

- Então, como está sendo seu dia até agora?

- Você ficou sabendo que acordei com um café da manhã maravilhoso?

- Fiquei sim, me contaram, sabe? – Mackenzie sorriu.

- Sei, sei.

- Fiquei sabendo que teremos festinha hoje à noite, verdade? –perguntou animada.

- Sim, mas eu só sei disso, estão fazendo segredo de tudo.

- Com certeza por um bom motivo.

- Você está sabendo de alguma coisa? – Vivi perguntou curiosa.

- Basicamente de tudo, mas não te contarei nada.

- Zie, por favor – fez bico.

- Nem adianta, Vivi, por mim você não saberá de nada – falou rindo.

- Sua mãe vai á festa?

- Não faço idéia, Zie – respondeu cabisbaixa.

- Seria tão bom se ela fosse - disse sorrindo.

- É, mas depois que o papai se foi, ela nunca mais foi a mesma.

Mackenzie não sabia o que dizer para amiga, pois realmente era aquilo que acontecia. Após a morte de Ricardo, Verônica mudou completamente, trabalhava o dia inteiro, saía sempre, Vivi raramente a via, falar com ela então, mais raro ainda. Sentia falta da mãe, aquela que sempre a ajudava em tudo, era sua melhor amiga, brincava com ela. Mas agora, Vivi nem reconhecia naquela mulher, a mãe que já teve um dia.

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