Capítulo 4

Lívia Campos

Meu corpo estava totalmente relaxado e aconchegado em minha cama. Sabe aquela sensação de quando você encontra a posição certa para dormir, totalmente confortável, o tempo não esta nem frio e nem calor demais, o seu travesseiro está extremamente macio e parece até aquelas nuvens fofinhas de desenhos animados?! É exatamente assim que eu estou. 

Mas meu despertador fez o favor de me atrapalhar nessa noite perfeita de sono. Talvez eu realmente tenha dormido bem demais devido as duas taças de vinho que tomei ontem com minha prima. Mas isso não vem ao caso. E apesar da minha breve vontade de jogar meu celular longe para parar com o barulho estridente do despertador eu acabo me controlando, pois esse celular foi caro. Me arrasto pra fora da cama em plena as cinco horas da manhã de sábado e vou direto pro banheiro. Jogo água gelada no meu rosto para acordar de vez e faço minha higiene matinal. Retiro o pijama de seda e coloco um sutiã, em seguida visto uma calça jeans simples pra mais um dia de trabalho e uma blusa aleatória qualquer. 

Vou até a cozinha para tomar meu café da manhã - sem o café mesmo - e acabo optando por uma salada de frutas para começar bem o final de semana, e eu realmente amo frutas. Me lembro de quando era pequena e ia até o sítio de minha falecida avó materna onde tinha muitos pés de frutas, e meu passa-tempo favorito era subir em árvores para pegar todas as frutas que eu conhecia, e logo em seguida correr até a cozinha onde eu e vovó preparávamos geleias para comer acompanhadas de torradas. Foi uma época ótima, onde os problemas de pessoas importantes pra mim ao meu redor passavam despercebidos por mim... 

Não demoro muito em meus pensamentos e corro até o meu banheiro para escovar os dentes, arrumar meu cabelo em um coque alto na cabeça e calçar um par de tênis e partir rumo a minha confeitaria. Assim que entro no carro não resisto a tentação de ligar o som do carro em uma playlist de músicas brasileiras, que eu escuto bastante para não perder muito as minhas raízes. A música de Jorge e Mateus, uma das minhas duplas preferida, começa a tocar pelos auto falantes e eu sorrio ao reconhecer a canção. 

Não chore mais, sorria, amor. Eu trouxe o fim da sua dor. Não chore nunca mais, amor. Eu sou o sol cercando a chuva. Do seu olhar sou eu quem cuida. E te peço, por favor. Não chore nunca mais, amor... - Cantarolo a canção no ritmo da música sem me importar se estou desafinada ou não, apenas curto a música. - Calma, a sua insegurança não te leva a nada. Eu quero ser seu homem, te fazer amada. Amar, amar você até você se amar e me amar...

Meu curto caminho até a confeitaria segue nesse ritmo animado de músicas brasileiras, meu pequeno ritual matinal diário que me deixa animada, apesar da saudade que sinto da minha terra natal. Estaciono o carro ao lado da confeitaria e não demoro a começar a me preparar para mais um dia de trabalho dentro da cozinha que montei com tanto carinho. 

A cozinha é toda branca e os eletrodomésticos são de inox, não há muita cor por aqui, mas pra mim isso é o suficiente. Uma das coisas que mais me chamou a atenção no estabelecimento foi a enorme janela que tem nos fundos da cozinha, onde a vista da para um lindo lago. Gosto de olhar pra essa vista e ver os ganços nadando no lago, o sol nascendo e se pondo, as árvores se modificando de acordo com cada estação do ano. Sou apaixonada nessa vista. 

A primeira coisa que faço e colocar o fogo para pré aquecer e em seguida levar os empadões que fiz ontem para assar. Só assim começo a preparar as massas dos pães doces e rosquinhas e levo eles para assar quando retiro os empadões. 

A parte da manhã na confeitaria passa rapidamente em todo o vapor. As encomendas foram entregues, acabei preparando mais uma receita de sonhos e adiantando alguns recheios para a próxima semana. Charles e Taylor atenderam os clientes na parte da manhã e como de costume durante os sábados eu fiquei sozinha depois do horário do almoço, ja que o movimento era bem mais fraco e eles mereciam descanso. 

Quando o relógio completou três horas da tarde eu já estava com a confeitaria totalmente limpa e todas as coisas prontas na cozinha. Fui desperta da minha análise rigorosa do local quando o sino da porta anunciou a chegada de alguém. 

Um garoto de cabelos castanhos bagunçados e olhos azuis chamativos, de altura mediana, e um sorriso alegre nos lábios adentrou o local, não demorei a associar ele ao amigo de Charles. 

- Olá senhorita Campos, me chamo Oliver, e o meu amigo Charles trabalha aqui com você e me disse sobre a vaga de emprego. - Ele diz e eu sorrio pro garoto. Estendo minha mão pra ele. 

- Hey Oliver, me chame somente de Lívia. Bem, Charles disse sim. Vamos nos sentar. - Ele concorda sorrindo, um ponto positivo pra ele ja que gosto de pessoas alegres, e nos sentamos em uma das mesas. - Bem, irei te fazer algumas perguntas aleatórias e depois decidimos coisas mais burocráticas, pode ser?

- Claro. Estou a disposição. - Assinto pra ele. 

- Quantos anos você tem? 

- Tenho dezenove. 

- Ótimo. Mora aqui perto ou não? 

- Da minha casa até aqui são quinze minutos apé. - Ele dá de ombros e eu sorrio de canto.

- Charles me disse que você trabalhava em um loja de brinquedos, certo? - Ele assente. - E você gostava?

- Nossa, sim, muito! Sempre fui bem falante e gostei de interagir com os outros, e eu amava fazer isso lá. E realmente fique muito triste quando perdi o emprego lá, eu realmente preciso. - Acho que a feição confusa minha fez ele se explicar, não que fosse necessário. - Lá em casa somos seis irmãos e minha mãe. Faz pouco tempo que ela se separou do meu padrasto e as coisas começaram ficar bem apertadas, assim eu e minha irmã, Charlotte, que é apenas dois anos mais nova que eu precisamos trabalhar para ajudar no sustento da casa. 

Se eu ja havia gostado do garoto agora eu gosto ainda mais. Infelizmente essa é a realidade de muitas pessoas, e o fato dele ter optado por um trabalho correto para ajudar sua família ja mostra o bom caráter dele. Oliver me parece ser um menino de ouro, e eu não me engano com as pessoas. 

Continuamos nossa conversa e todas minhas apostas em Oliver realmente estavam certas. Ele é um menino alegre, gostou de tudo que conheceu da confeitaria, é muito esperto também. Acertamos os detalhes para sua fase de experiência e todos os detalhes que ele precisava saber e teve dúvidas. No final tudo ficou certo para que ele comece na segunda ás seis da manhã, no mesmo horário que Charles. 

- Muito obrigada senhorita Lívia pela oportunidade. Prometo não lhe decepcionar. - Ele diz alegre enquanto estende a mão pra mim. 

- Sei que não irá fazer isso Oliver. E somente Lívia, por favor. - Ele concorda rindo e eu o acompanho. 

- Só uma dúvida, a senhorita não nasceu aqui não né?! - Ele pergunta e eu nego rindo. Todos os britânicos que me conhecem ja me fizeram essa mesma pergunta. 

- Não, eu sou brasileira. Mas minha avó mora aqui e minha prima, Taylor, também. Mas elas são britânicas de fato. 

- Ah sim, agora fez sentido. Bem obrigada mais uma vez, Lívia. - Ele diz caminhando até a porta do estabelecimento. 

- Não há de quê, Oliver. Tenha um bom final de semana. 

- Pra senhorita também. - E assim ele vai embora. 

Eu somente pego minha bolsa, confiro se os gases estão fechados, tranco a confeitaria e sigo até meu carro rumo a minha casa. Minutos depois estaciono o carro na garagem do prédio e subo de elevador até meu apartamento. 

- Cheguei Tay!! - Grito ao entrar em casa e uma loira de mascará verde no rosto aparece no corredor me arrancando um crise de riso. - Credo que feiura. 

- Cala a boca Lívia! - Taylor revira os olhos. - Contratou o garoto?

- Sim! 

Enquanto preparo algo pra mim comer e descanso um pouco vou contando tudo pra Taylor, e ela ficou bem animada em conhecer o Oliver. Acabei tirando um cochilo de duas horas no sofá da sala de estar, mas novamente fui interrompida pela loira maluca que chamo de prima. 

- Acorde amoreco, temos festa hoje, lembra?! - Taylor pergunta deitada em cima de mim e eu a empurro fazendo ela cair no chão. - Ai caralho, Lívia. 

- Ninguém mandou me acordar assim. E não, não estava me lembrando dessa festa não. Tenho mesmo que ir?

- Sim Lívia, você disse que ia... - Tay faz um bico com os lábios e sua melhor cara de cachorro abandonado que convence qualquer um. 

- Ai, okay! Que horas vamos sair?- Pergunto me sentando no sofá. 

- Nove horas. Você tem uma hora e quarenta minutos para se arrumar. 

- Ta bom! 

Antes que Taylor resolva fazer mais drama por isso resolvo ir tomar meu banho. Acabo lavando meu cabelo e após me secar e retirar um pouco do excesso de água do cabelo passo um creme para definir os cachos. Visto um conjunto de lingerie branca limpa e vou até meu closet decidir que roupa usar. Acabo optando por algo diferente nessa noite, então visto um vestido justo branco de gola alta e de comprimento até o joelho. Nos pés coloco um salto vermelho médio de bico fino. Passo somente rimel e um batom vinho nos lábios. 

- Já esta pronta amoreco? - Taylor me grita do corredor e eu saio do quarto. Minha prima me olha de cima a baixo e abre um sorriso malicioso. - Caralho que gata! Pretende pegar alguém hoje? 

- Não mesmo. Só estava a fim de me arrumar, e nem fiz muita coisa. 

- Ah claro, seu corpo ja é uma perfeição mesmo. - Sorrio convencida pra ela. - A genética que eu queria ter herdado. 

- Deixa de ser boba Taylor, você sabe o que eu acho disso não é!? 

- Sim. - Ela dá de ombros e nós saímos de casa.

Taylor está vestida com um cropped preto e uma saia de couro de cintura alta, os saltos também pretos. A maquiagem não esta tão carregada, apesar do batom vinho nos lábios. Minha prima com toda certeza é meu oposto, ela ama se arrumar para chamar atenção de homens, e se eu puder me esconderia deles. Mas mesmo assim nós somos inseparáveis, e eu nunca trocaria a minha melhor amiga/prima por ninguém. Taylor é a pessoa mais importante da minha vida junto com a nossa avó. 

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