Capítulo 4

E a outra queria ser liberal, mais ousada, corajosa e decidida. Sonhava em conhecer o mundo, viajar, visitar novos lugares, pessoas, ter novas conquistas, ser diferente e dona de si.

 Deixar aquele mundo sem cores para trás. E aquela noite estava tendo oportunidade de sair daquela rotina. Então, os dois se aproximaram, um olhando nos olhos do outro, e ambos percebiam uma força que os puxava para um encontro.

Nenhum e nem outro entendia o porquê daquela atração irresistível. Esqueceram o mundo lá fora. Estavam perto um do outro. E ele, como um cavalheiro, convidou-a para dançar, e ela gentilmente aceitou.

Enquanto dançavam, o coração de Andressa batia forte em seu peito e foi invadida por uma emoção diferente como nunca sentiu em toda sua vida.

Não sabia qual sentimento, a maneira como aquele homem misterioso conduziria a dança, quando a tocou na mão beijando com carinho e olhando nos olhos. Sentia-se hipnotizada, sendo levada por um anjo, devido à delicadeza e cavalheirismo por parte dele, que começou a falar em seus ouvidos palavras doces e suaves, que lhe causaram delírio, devido à tamanha gentileza.

— Nossa, como é bom o perfume que você está usando! Por acaso é perfume jasmim?

— Sim, — disse ela, nervosa.

— Como você se chama? — Perguntou ele.

— Andressa se encontrou em um “beco sem saída”, pois ninguém podia saber que ela era Andressa.

Então, precisava criar um personagem! Uma nova mulher querendo sair da casca do ovo, e poder voar.

 Naquela noite ela seria livre. Andressa toda convencional, cheia de princípios, de ética, tímida e recheada de regras e de bons costumes, estava em casa dormindo como seus pais e seus irmãos imaginavam. Segundo eles, ela estava sonhando com os anjos.

Entretanto, ela se encontrava diante do cavaleiro misterioso e sedutor. Livre e desimpedida, sem compromisso com a ética ou com a moral e bom costume.

Naquela balada ela era outra mulher. Uma estranha presa dentro de si, mais sensual, linda e cheia de vida, mas que era impedida de fazer o que gostava por obedecer aos conceitos e os princípios da ética. Então, surgiu a oportunidade de se libertar e de se entregar a um novo destino, um novo caminho.

Na cidade, todos a conheciam de uma maneira peculiar, pois devido a ela sempre usar cabelo preso, vestido longo e não usar maquiagem, todos a chamavam de bicho do mato, ou até mesmo de carola.

Mas mesmo assim, ela não deixava de ser uma mulher linda e interessante, que despertava o interesse e a cobiça nos homens. Embora não sendo aquela mulher sensual, mas que era uma ameaça para todas as mulheres em sua volta. Naquele instante sem ter medo de ser julgada, ela respondeu:

— Me chamo Helena, e você?

— Fernando Henrique, prazer!

— O prazer é meu. De onde você é?

— Sou de Curitiba! Estou pesquisando alguns terrenos aqui nesta cidade, pois pretendo fazer uma ponte. Sou engenheiro e arquiteto, e você é de onde?

— Vim de Concórdia, Santa Catarina. Estou a passeio por essa cidade, mas amanhã estarei voltando! — Andressa não estava gostando de estar inventando aquela história. Queria jogar limpo, dizer que se chamava Andressa, mas agora o mal estava feito, e não tinha como mudar de ideia, portanto, ela iria até o fim.

Afinal, naquela noite, ela queria fazer algo diferente, sair um pouco da rotina cansativa. E por ser uma festa de despedida, ela também queria se despedir daquela monotonia. Logo, para todos os efeitos, ela se chamava Helena, cujo nome ela amava.

 Só não sabia o motivo, mas percebia uma sensação de poder quando o pronunciava, e sentia uma nova mulher surgindo dentro dela.

De cabelos presos, na forma que ela costumava usar, naquela noite ela o soltou, e por ele ser longo, cobria as costas. Estava mais linda do que nunca. Sentia-se livre do peso dos conceitos criados pela sociedade e dela mesma.

Mas não entendia porque estava se sentindo seduzida por aquele misterioso homem e o porquê de estar sentindo que conhecia aquela voz grossa, macia e sedutora. Mas naquele momento não estava interessada em saber quem era. O objetivo era curtir o momento.

Ao dançar com ele, ela se sentia protegida e desejada ao mesmo tempo, percebeu que ele também estava se sentindo atraído por ela.

Já Said, que também criou um personagem chamado Fernando Henrique, teve que mudar um pouco a sua voz para não ser reconhecido.

— Nossa, nunca fui romântico, sou prático e objetivo quando alguém me atrai, confesso! Não sei explicar o que estou sentindo por você, embora eu não te conheça! Nem sei de onde você é, mas estou me sentindo atraído por você!

— Porque está dizendo isso se nem me conhece, e eu nem conheço você?

— Aí é que está! Conheço muitos que estão casados há muitos anos e convivem sem se conhecerem a fundo!

— É verdade, você tem razão!

— Agem como duas pessoas estranhas. No começo, tudo é maravilha, mas depois que acaba o mel, vêm os defeitos que um esconde do outro. Resumindo, deveriam jogar limpo desde o começo, mostrando os seus defeitos, mas parece que preferem mostrar apenas as suas qualidades, escondendo os defeitos por debaixo do tapete!

— Concordo com a sua teoria, é bem assim mesmo que acontece hoje em dia; infelizmente!

À medida em que a música prosseguia, os dois continuavam dançando e trocando ideias como dois velhos amigos, mas a atração aumentava cada vez mais. Andressa sentia o coração bater mais forte, e não entendia o porquê daquele sentimento repentino.

Mal conhecia aquele homem misterioso, só percebia o olhar, pois o bigode e o rosto eram cobertos por uma máscara do zorro. Somente os lábios que podiam ser vistos, e aqueles lábios não eram estranhos.

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