Odeio Whisky

Josh acompanhou Noah, até a saída do cassino, aquela seria a última vez que Josh pisaria naquele lugar, estava se sentindo tão humilhado pela situação em que havia se colocado que havia a chance de ele voltar a morar na área rural com sua família, e aceitar trabalhar no campo com os seus familiares, com sorte dentro de alguns anos ele já pudesse ter uma casa para chamar de sua.

Noah não levou Josh direto para seu apartamento, muito menos para um quarto de hotel, assim como Felipe havia colocado na mensagem, Noah era o tipo de pessoa que gostava de ajudar e cuidar das pessoas, e nunca pedia nada em troca, com exceção daquela noite, já que ele tinha pedido para Filipe achar uma companhia para ele, tinha tido uma semana horrível e tudo o que ele queria era um acompanhante para relaxar, e Felipe, achou a companhia, porém não era exatamente o que ele buscava. 

Uma vez que estava dentro do carro de Noah, Josh se limitava a olhar através do vidro, as luzes de Vegas eram como explosões de cores, a cada cinco metros tinha um lugar extravagante para se visitar, e todo aquele sonho de viver uma vida confortável, longe do sol escaldante ao qual seria exposto trabalhando no campo, estava acabado naquela noite.

Ele não ia conseguir juntar o dinheiro para suas contas, tinha dois empregos e mesmo assim conseguia deixar suas contas atrasadas, seu colega de quarto também estava na mesma situação que ele, e logo eles seriam despejados.

Quando eles passaram em frente a boate “Forbidden”, Josh sentiu seus olhos arderem, ele gostava muito do lugar, as vezes conseguia tirar um extra ali, em determinados finais de semana, contudo agora o carro já tinha virado a esquina, ele não sabia para onde exatamente estava sendo levado, podia ser que seu rosto estivesse estampado nos noticiários da manhã como morto. 

— Está muito silencioso Josh, em que está pensando? — Inqueriu sem olhar para o rapaz, sua atenção estava voltada para o trânsito. 

Josh pensou em dar uma resposta ríspida, pensou até mesmo em falar alguns palavrões como resposta, mas não o fez.

— Eu... bebi demais, quando bebo costumo ficar em silencio... — Foi a melhor resposta que Josh havia conseguido pensar naquele momento. 

Noah olhou pelo canto dos olhos e viu olha lagrima discreta no canto dos olhos esmeraldinos, ele ficou com pena do jovem ao seu lado, ele não sabia de tantas informações sobre a vida de Josh, mas aquela lagrima o tocou, seguiu por mais dois quilômetros até chegar próximo a um parque, onde estacionou o carro.

— Josh, eu não vou fazer nada com você. — Falou procurando os olhos esmeraldinos que agora se viravam para encarar o lado de fora. — Olha pra mim rapaz. 

Josh engoliu o choro que parecia vir com força e olhou para Noah um pouco constrangido. 

— Felipe é um filho da mãe mesmo, ele já tinha me feito passar por isso antes, mas isso não vem ao caso, o que acha de a gente terminar essa noite em uma lanchonete, podemos comer algo, conversar e depois te levo pra sua casa, não vou tocar em você. — Noah usava seu melhor tom de voz, para não assustar o rapaz, pelo menos não mais do que ele já estava.

— Não... eu não estou assim pela aposta idiota, são outras razões, essa noite me fez entender que por mais que ache o lugar bonito, eu não pertenço a esse mundo. — Josh soltou sem pensar. 

— Bom... sabe do que eu me lembrei, tem uma lanchonete a dois quarteirões daqui e uma casa de leilões que fica do outro lado da mesma rua, o que acha de me fazer companhia nesses passeios? — Noah sorria gentil e insistia em levar ele para comer.

— hn... Tudo bem...

Falou minimamente, tentando não se entregar a vontade de chorar, ele se sentia culpado por seus atos e um completo idiota, foi dar um golpe e acabou caindo dentro de um, entretanto agora seu coração estava até mais aliviado por não ter que dormir com aquele homem, ele no fundo sentia medo, nunca tinha feito algo do tipo, por isso estava relutante.

Noah por outro lado pensava em procurar por uma empresa na próxima vez que quisesse uma diversão diferenciada, confiar em estudantes que frequentam cassinos parecia não ser uma ideia muito boa. 

— Você trabalha com o que exatamente Josh? — Inqueriu ligando o carro novamente, seu intuito era mudar de assunto e tentar deixar o clima um pouco mais suave.

— Eu trabalho na recepção do “Luxury In The Best”, eu fico lá no período da manhã, atendo os telefones, anoto as reservas e as vezes limpo o salão, de tarde eu trabalho como secretario na construtora  “Comfort and Leisure”. — Comentou minimamente. 

— Conheço os dois lugares, de verdade ia te levar para o “Luxury...”, a cobertura é simplesmente maravilhosa, claro que trabalhando lá você conhece muito bem o lugar. — Falou um pouco animado, principalmente pela abertura que Josh estava dando para uma interação social saudável.

— Hoje é impossível reservar a cobertura daquele hotel, ele já foi reservado ontem à tarde, para o dia de hoje, eu mesmo anotei a reserva, no caso hoje teria apenas uma suíte e cinco quartos comuns no térreo. — Josh comentou olhando para Noah.

— Ah, mas é o “Luxury”, até os quartos do térreo são espetaculares. 

Josh riu um pouco das expressões que Noah fazia, ele parecia conhecer a cidade como a palma da mão, logo ele notou o carro perdendo a velocidade estavam na frente da lanchonete. 

Noah estacionou na frente, deu sorte de encontrar uma vaga decente naquele lugar já que o leilão de imóveis do outro lado da rua estava abarrotado de gente. 

Eles pegaram uma mesa do lado de fora, e não demorou muito para serem atendidos, Josh pediu um refrigerante e um lanche simples, Noah acompanhou o mais novo em sua escolha. 

— De verdade eu odeio Whisky, estou muito atordoado, espero melhorar depois de comer. — Josh falou um pouco sem graça. 

— É mas, no mínimo iriam rir de você se por acaso pedisse outra bebida naquela sala, ainda bem que me acompanhou, estava procurando uma desculpa para sair do local, já estava levando alguns senhores a falência. — Falou um pouco convencido. 

— Você sempre conta seu segredo para as pessoas? 

— Não, eu tenho amor a vida garoto, só falei pra você, não queria te deixar mais nervoso do que já estava e eu precisava mesmo sair do ambiente, a qualquer momento iriam me chamar pra mesa da casa de novo, e não gosto muito de poker, eu sempre sei quando vou ganhar ou perder e não sou muito bom no blefe. — Explicou vendo um sorriso se formar no rosto do rapaz. — E você fica bem melhor sorrindo, 

— Isso foi uma cantada? — Inqueriu sem graça. 

— Não, isso foi um elogio, quis dizer que é mais bonito quando sorri, e não quando está morrendo de medo... — Noah deu uma mordida no lanche depois de fazer seu comentário e viu que Josh tinha um olhar sínico para ele. 

— Você diz que não gosta de poker por não saber blefar, mas me enganou a noite toda... 

Noah bebeu um pouco do refrigerante de seu copo, olhou para o mais novo com um sorriso malandro. 

— Mentiras podem se tornar verdade, basta querer. 

— Você ainda está tentando me fazer dormir com você? Achei que já tinha desistido da ideia. — Josh falou sentindo um certo receio.

— Bom, a esperança é a última que morre, mas por hora vamos curtir a noite em Vegas. 

Josh ficou olhando para Noah de maneira discreta, o homem tinha um certo charme e era bonito, ele não podia negar esse fato, olhando para seu rosto no reflexo do copo ele notou uma espinha bem saliente em sua testa, não tinha visto antes, pois seu cabelo tinha coberto, mas agora estava bem visível, já que o cabelo não estava mais molhado. 

Discretamente ele puxou o cabelo para frente da espinha, não queria que ela também participasse daquele encontro, afinal era exatamente isso o que estava acontecendo com ele naquela noite.

— O que tem de tão especial no leilão do outro lado da rua? — Josh questionou olhando para a movimentação. 

— Algumas mansões de famosos que declararam falência, todos sentem desejo em morar ou ter algo que pertenceu a alguma celebridade, isso explica o movimento. — Noah comentou limpando a boca com um lenço de papel.

— Se eu tivesse dinheiro, não gastaria com coisas assim, gastar milhões por uma mansão, só por que alguma celebridade morou nela, é ridículo, seria muito melhor se comprasse uma sem nenhum antecedente, sairia muito mais barato e teria o mesmo luxo.  — Josh comentou olhando para as pessoas vestidas elegantemente, que entravam na casa de leilões.

— Ah, mas é divertido ver os lances, ver até onde as pessoas chegam em suas batalhas, um quadro foi vendido naquela mesma casa por cerca de vinte milhões, uma jovem tinha lutado até a exaustão pela peça, e curiosamente o quadro tinha sido inspirado nela e pintado pelo namorado dela. 

— Não era mais fácil ela dar uma chave de coxa nele e pedir o quadro? — Inqueriu um pouco assustado com a capacidade de gastar da jovem.

— Sim eu também pensei nisso quando soube da história, porem ele devolveu o dinheiro a ela, ele só não pode devolver a parte que ficou os leiloeiros. 

Josh finalizou seu refrigerante e sentiu seu estomago embrulhar, beber tanto whisky, realmente não tinha sido a melhor das ideias. 

— Eu... acho que preciso de um banheiro... — mal terminou de falar e saiu às pressas da presença de Noah.

Ele correu para o banheiro e colocou tudo pra fora, o cheiro o fazia vomitar mais ainda, e nem colocando tudo pra fora conseguia se sentir melhor, sua cabeça agora começava a rodar e a sensação de estar andando em um colchão de ar começou a lhe acompanhar.

Noah ficou preocupado e foi até o banheiro atras do mais novo, lá viu Josh lavando o rosto e a boca, notou que a camisa do jovem estava manchada e ele entendeu no mesmo instante o que tinha acontecido, ao tentar se aproximar Josh se afastou.

— Não chega perto... eu estou fedendo, que vergonha... — murmurou constrangido. 

— Relaxa Já passei por isso ou coisa pior, não precisa ficar constrangido. — Falou já se aproximando do mais novo. — A bebida subiu agora não foi? 

— É... eu sinto como se estivesse andando em um colchão de ar, está tudo rodando... — Josh respondia calmo e com certa dificuldade. 

— Se lembra do seu endereço pelo menos? 

Josh olhou para Noah, e por alguns momentos não soube o que responder, só sabia que não queria chegar naquele estado em casa, seu colega de quarto já era insuportável o suficiente quando não tinha motivos para zombar dele, imagina tendo motivos.

— Não quero ir pra casa... — Choramingou quase vomitando de novo.

Noah o ajudou a ir para o sanitário de novo, onde Josh colocou o restante da bebida pra fora. 

— Então não vai ter jeito, vou te levar pro meu apartamento. — Falou sério, mas sem a intenção de amedrontar o mais novo. 

Josh já nesse ponto de sua noite tinha realmente perdido um pouco da noção, a bebida tinha subido a cabeça rápido, e agora ele aceitaria ir para o apartamento de Noah.

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