Capítulo 5

Raoul havia arrumado rapidamente uma mala pequena. Com a mesma desculpa de Rafaela, de que iriam apenas realizar um resgate, mal sabia ela que se ele precisasse de uma arma ou de toda a guarda para mantê-los à salvo era questão de assobiar. Possuía contatos em todo o mundo e não seria difícil conseguir ajuda se realmente precisassem dela.

Inconsciente desse fato, a jovem loba não tinha ideia de que havia enrolado um rei, suas vontades e um reino inteiro sobre seu dedo mindinho.

Assim que partiram, a animosidade já tomou conta dela, que estava a passos de distância de realizar um ataque em direção à ele. Sua vontade maior era de ter ido sozinha, ainda não entendia a escolha de parceiro para uma missão de resgate, Raoul nem mesmo conhecia seu irmão. Porque deveriam acreditar que ele se importava ao ponto de fazer algo para trazer Magnus de volta?

Então, babá… Conheceu minha irmã e antes dela seu antigo amante. Deve ser excitante participar das conquistas alheias.

O laço entre nós era realmente inquebrável, algo que eu espero que compreenda nos próximos dias.

Oh, sim… Inquebrável. Me responda, suas mãos estão bem?

Olhando de maneira desconfiada as próprias mãos e a olhando com indagação deu de ombros por instantes.

Sim, deve ser muito difícil manter as mãos bem, enquanto bate palmas o tempo todo…

Sorrindo ladino, apenas encarou aquela lupina de olhos cinzentos. Ela possuía a qualidade inata de irritá-lo e suas provocações eram similares às que ouvia a irmã proferir à Louis no início de sua cruzada. Ainda que ela se mantivesse inconsciente de que esse comportamento apenas o deixava ainda mais desejoso de conseguir sua atenção. Seria possível que conquistasse o coração dela, apesar de suas afirmações contrárias à vampiros?

Não deveria estar entrando num caixão agora que estamos indo em direção ao Oriente?

Não dormimos em caixões, querida… Posso dormir particularmente bem numa cama com um confortável colchão de molas.

Oh… a idade realmente faz magias não é? Ortopédicos não seriam melhores?

Não exatamente. Eu gosto das molas pois me dão sempre bons impulsos para que eu tome minhas parceiras com mais ardor.

Os olhos negros com finas bordas negras encaravam uma lupina que corou violentamente, Rafaela apenas fitou de volta o vampiro sentado no trem à seu lado, sem conseguir dizer nenhuma palavra à sua colocação. Tomou por certo, que a vontade dele era finalizar a conversa e descansou a cabeça contra o vidro do trem.

Passadas duas horas do desconforto, ela se virou novamente para ele, que tinha os olhos colados num documento recebido pelo grupo de reconhecimento.

Pode… Ahm… Me dizer como ela era quando a conheceu?

Sua irmã? Sem responder verbalmente, ela apenas balançou a cabeça minimamente, esperando que ele entendesse como um incentivo para continuar a falar. Ela era… Incrível. Impulsiva, e, me ameaçou de morte mais de uma vez. Era decidida, animada com a ideia de fazer justiça com as próprias mãos e tinha a certeza de que estava salvando a família inteira de se vingarem pelo seu avô. Ran passou por um inferno para ter todo o poder que tinha quando chegamos à enfrentar Matilda. Mas, algo maior que isso, ela tinha um propósito de vida. Tão grande e tão forte, que ela estava fazendo planos e contando com a possibilidade de não voltar a ver a família. Ela sempre foi um motivo de orgulho para todos nós. Nos tornamos uma família substituta para ela, e, posso dizer com certeza que ela sentia falta de vocês.

Com água retida nos olhos Rafaela o fitou e se concentrou em continuar segurando as lágrimas. Ela tinha uma leve noção do que significou para Ranielle deixar a família para trás e perseguir a razão de suas tristezas, mas, jamais poderia imaginar que isso custou a alma dela. 

Num novo momento talvez ela pudesse assumir um fardo tão grande assim, apesar de nunca se imaginar sozinha em ponto algum da vida, ela tinha ideia de quanto custou para a irmã esse tipo de decisão. Seus cachos foram amassados contra o pescoço enquanto pensava no que responder para o não-morto à sua frente, mas, à mente só lhe vinham xingamentos sobre o porque ele permitir que uma loucura como aquela se perpetuasse.

Ela com toda certeza se orgulha muito de você. Não por estar trilhando o mesmo caminho que ela, mas por mostrar que é possível fazer pela família e ainda mantê-la por perto.

Não tenho tanta certeza disso, sabe? Ela sempre parece estar desapontada.

O padrão que ela estabeleceu para si mesma é tão alto que a maioria de nós não consegue acompanhar. Não me surpreende que ela tenha permitido que viesse. Vou dizer, ela tem olhos rigorosos quando se trata de guerreiros, e, posso dizer que ela vê algo em você.

Não sou uma guerreira, sou a irmã caçula da Alfa.

E acha que o seu treinamento foi iniciado conosco porque? Ranielle não te quer como uma princesa. Ela quer que tenha uma vaga no conselho. É por isso que ela deixou que fosse moldada dentro dos nossos padrões.

Não entendi.

Você não é favorecida por ser irmã dela, é mais cobrada, por ser irmã dela. É uma das exigências dela que você seja a melhor. Em todos os aspectos.

Essa conversa está me dando dor de cabeça.

Talvez porque a verdade doa mais do que uma mentira gentil.

Depois dessa conversa, não houve muito assunto até que chegaram à República da Síria. Pelas feições disfarçáveis, passaram-se por mercadores Libaneses à procura de materiais para o comércio local de temperos. Fácil! Agora a missão era sair da Síria e ir diretamente para o Paquistão. Dormir era uma tarefa e tanto, pelo bem da missão estavam já num segundo momento, interpretando um casal em lua de mel, fazendo um passeio pelo oriente médio. 

O trem que os levaria primeiro ao Irã e depois ao país de destino tinha cabines pouco mais apertadas que o Europeu que os levou diretamente à barca em direção à Síria, depois de passar alguns dias viajando e mandando mensagens codificadas para Portugal.

Devemos descansar um pouco, antes de prosseguir para o Paquistão. Raoul disse quando chegaram ao Irã. Estou gostando dessa história de ser um casal aqui… porque não sorri um pouco mais, minha jovem esposa?

Colocando a aliança falsa no dedo e indo diretamente para o espelho verificar a colocação do jihab vermelho, Rafaela fitou ceticamente Raoul que tinha olhos marcados com um círculo vermelho em volta das pupilas, vê-la ajeitando o cabelo com aquela aliança brilhando no dedo havia lhe dado ideias além de absurdas para todos os efeitos.

Há quanto tempo não se alimenta?

Desde ontem, na verdade.

Precisamos achar o ponto de sangue próximo, não preciso ter que carregar uma fera sedenta por todo o caminho até a Coréia.

Ao olhá-lo novamente, seus olhos estavam com o tom azul normal. E ele tinha uma feição mais séria.

Não quero me alimentar, estou bem.

Não me parecia bem cinco segundos atrás… o que está acontecendo?

Nada com que deva se preocupar, princesa.

O caminho para o hotel foi bastante pacífico, ao chegarem a recepcionista fez as perguntas de praxe e os direcionou para o quarto no porão. Fora a surpresa, Mortaz, um dos reis da região italiana, havia providenciado um quarto com um de seus associados. Sem mais delongas, dormiram como anjos caídos durante o dia, para prosseguir caminho durante a noite.

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