Sombras na Lua
Sombras na Lua
Por: Alice Marques
Capítulo 1

Três meses depois da partida, Ranielle ainda encarava a janela do trem como se fosse a primeira vez que estivesse passeando pela Europa. Cada montanha tem seu charme e beleza e não é que naquele lugarzinho ainda existiam coisas interessantes a se fazer além de lamentar a morte dos seus. Desembarcou em Madri por volta de dois dias depois da partida. Tomou alguns trens e trocou de passaporte para que seus pais não pudessem mais a rastrear. A vantagem de ser fluente em quatro idiomas era essa, além é claro, que poder e dinheiro que falavam alto para quaisquer ouvidos no mundo. 

Uma olhada em seu sobrenome real e portas se abriam mais do que as pernas das prostitutas nas vitrines. Bruxelas foi uma visão interessante de um mundo totalmente novo, enquanto ela encarava algumas coisas e pessoas pelo caminho, nada tirava de sua mente que eu tinha feito a escolha certa ao partir e tentar recomeçar de onde todos tinham desistido. Ela ia achar o assassino de seu avô. E ia vingá-lo, nem que precisasse morrer para isso.

De volta a Barcelona, conheceu um italiano interessante, que estava apenas ‘de passagem’, como se seu faro a enganasse... Um cara baixinho para seus 1,75, somados às botas. Com poucos cuidados pessoais, mas, já devia estar na casa dos 70 anos. Matteo, um dos mercenários mais conhecidos de seu povo. Ela deveria ter previsto que haveria um preço por devolverem-na viva aos pais ou pelo menos enviar informações detalhadas à eles. Mas, não tinha se preocupado até aquele momento. Mais de 120 dias depois da partida e ela já se sentiria como um coelho enjaulado? Não senhor!

Um barulho ensurdecedor para eles, suas facas se cruzaram no ar, enquanto caminhava apressada por um beco escuro, os dedos da mulher correram de volta para o casaco enquanto puxava uma pistola cromada, modelo  Taurus .40, os ágeis membros correram na minha direção dela mostrando controle e destreza extremos, ela devia supor que ele não era famoso apenas porque era bom de jogar conversa fora.

Enquanto se atracaram no chão imundo, a morena chutou seu queixo com toda a força que possuía enquanto encarava raivosa seus olhos sedentos pela recompensa, enquanto saltou furtiva sobre os pés e jogou um soco poderoso em seu estômago, ele se esquiva lhe agarrando e prendendo com força, ela mal teve tempo de se virar e socá-lo, ele já está socando o maxilar dela. Fingir a derrota não lhe caia bem, mas, é uma opção atraente quando via que não poderia vencê-lo somente pela sua força. Um segundo de distração da parte dele e a surpresa vem.

– Eu dobro a proposta que eles fizeram, se me ajudar a encontrar esse vampiro. – Disse ao se aproximar dele furtivamente com uma pequena faca pontiaguda ameaçando cravar-se num rim desprotegido. Com olhos alarmados recebeu uma continência torpe e um pedido de desculpas por estar sendo vigiada.

~~*~~

– É uma merda essa situação, corre logo!

Ela gritava para o parceiro de batalha, que se tornara o que humanos podem confundir com amigo. Matteo era um lobisomem velho demais pra ser bonito, pelo menos para ela, porém era extremamente habilidoso quando o quesito era matar sem olhar pra trás. Eles tinham um lema de não matar em vão, mas, estavam na estrada e a temporada de caça a vampiros já tinha sido aberta à mais de dois anos, e, de maneira surpreendente a habilidade de Matteo, sobre passar despercebido para os seus, sempre vinha a calhar. 

Estavam seguindo o rastro do maldito imbecil que matou o avô de Ranielle. Pelo que se recordava foi tudo por causa de um acordo desfeito entre os lupinos e os sanguessugas malditos. Seu avô achou que podia remediar a situação conversando com algum dos líderes deles na nossa região, mas, acabou sendo drenado até a morte. Seria cômico se não fosse trágico. Logo ele que odiava vampiros mais do que o demônio em pessoa.

Pelo menos tiveram avanços no quesito de achar o culpado, já haviam descoberto que era uma mulher, ou fêmea, ou parideira. Enfim... a desgraçada ia se haver.

– Se sobrevivermos à essa merda, te mato com as minhas próprias mãos.

Para ele, a mulher estava gritando, como se tivesse dado um soco em sua cara. Mas, para qualquer humano que passasse por eles, estavam apenas correndo para um destino desconhecido, sussurrando palavras de auto-motivação. O vampiro atrás deles também os ouvia bem, podia dizer pelo som de seu sorriso descarado e sua careta distorcida num sorriso diabólico. Como infernos alguém pode achar essas coisas bonitas? Keanu Reeves no papel de Jonathan Harker mal acostumou a mulherada, vampiros são horrendos. Quem é que pode se apaixonar por algo que é tão podre por dentro que precisa de sangue humano para viver? Ranielle devaneava enquanto tinha um ser sedento por sangue correndo atrás dela.

Mudando seus pensamentos, derraparam pela rua seguindo pelo complexo industrial em Berlim oriental, seus olhos corriam frenéticos pelas construções, enquanto sentia suas pernas se esforçando mais nesse exercício que nos últimos 5 anos de vida em casa. Ainda bem que ela gostava de estar em forma, e estava se mantendo em dia com as atividades físicas, se não teria sido pega mais de um quilômetro atrás. Com um sinalizar de cabeça, indicou a Matteo o galpão com aparência de abandonado, e, entraram correndo. OK, sem surtar, mas, o lugar tinha humanos dentro, e, aquele tipo de humanos feios e sujos que trabalham com coisas ilegais e proibidas. Merda!

Seus sentidos frenéticos procurando uma saída quando sentiu um golpe lhe atingindo no ombro direito, ok, nada de pânico, mas, agora ela ia fatiar essa merda de vampiro pra fora do mundo, de meio morto ele vai ficar totalmente morto em segundos. Depois do golpe ela se aprumou sobre os pés, e, tentou ficar o mais parada possível, as sombras davam à eles vantagem sobre os humanos, enquanto seus instintos estavam ligados no 220, olhou para seu parceiro que pareceu fazer o mesmo. Começaram a sussurrar insultos graves contra o mortinho, mas, ele se negou a sair das sombras, então... adotaram uma nova tática.

Acionando a lâmina do braço para cair na mão, deu um passo em falso para a frente, inclinando imediatamente o corpo para trás, a sombra veloz passou na frente dela e num movimento ainda mais rápido, incitei a lâmina dentro de um joelho que nunca mais ia ver o brilho do sol. Piadas à parte, o golpe foi lindo, coisa de cinema e merecia aplausos. No entanto, Matteo foi mais rápido que ela, que enquanto me vangloriava por ter uma patela presa na ponta da faca, perdi quando ele rendeu o sujeito com uma lâmina na garganta. O carniceiro parou de repente mal se firmando nas pernas com o joelho em um buraco feio e úmido, com suas mãos abertas no alto em rendição enquanto jorrava sangue vermelho escuro por suas calças sujas. Era uma bela visão da derrota.

– O que temos aqui... – os sussurros ecoavam enquanto os humanos do lugar se mantinham ilesos. – Eu diria que estava tentando nos golpear, senhor...

– Eu não lhe devo obediência. – o vampiro cuspiu no chão, como se tivesse nojo de simplesmente lhes responder. Mal sabia esse imbecil, que se fosse a faca dela em seu pescoço, ele estaria caído numa poça pegajosa do que tanto precisa pra viver. Ainda bem que era a de seu parceiro, porque sinceramente, testemunhas mortas não falam, não é?

– Eu sei que não, mas, acho que se quiser ver outro nascer do sol, vai responder. – Rindo da própria piada se inclinou sobre ele com um ar ameaçador demais para a tenra idade. – Ver o nascer do sol... Como se vocês cânceres nojentos, conseguissem assistir essa magia diária.

– Diga o que quiser, estou em paz para morrer.

Fazendo os passos de policial bom e ruim, Matteo não se move, mas, canta no ouvido do inútil parado com a faca no pescoço.

– Achei que íamos fazê-los falar...

– Eu também achei, mas, já que ele não tem serventia... – Empunhou sua faca de 18 centímetros de lâmina negra em sua direção... Titânio e era mortal como qualquer outra arma sofisticada. Nas mãos de uma assassina treinada, ardia com a vontade de sangue que não deveria vir antes de ela ter suas respostas.

– Mas, Ran... Ele pode ir se conseguirmos extrair a verdade dele.

Seus olhos pousaram sobre o cadáver ambulante à frente e pela primeira vez ele se permitiu ter os olhos brilhando em esperança. Algo como uma vela brilhando no fim de um túnel congelado de expectativas que não o deixaria atingir.

– Sim... Poderíamos liberá-lo. – Diz finalmente, com uma pontada de prazer ao observá-lo relaxar diante das suas palavras – Mas, ele não nos dará o que eu quero, então simplesmente não posso deixar que ele volte e conte aos outros mortos o que temos feito.

– Ei... Eu poderia ir e não dizer nada a ninguém.

Anunciando assim uma vontade de viver. Ela olhou de maneira fulminante para o não morto, enquanto contava poucos segundos em sua mente. Para que possa aguardar ele processar a própria oferta. Por outro lado, se continuar pressionando e o torturar, talvez ele entregue o que eu querem.

Os humanos do outro lado do galpão não acompanharam o balé de luta e rendição e parecem bastante absortos no que estão fazendo, para prestar atenção no que poderiam ser simples bêbados brincando de roleta russa no galpão praticamente abandonado. A temperatura corporal dos lupinos não sobe muito acima de 32° então, frio para eles não é um problema. Apesar disso, começou a ver os sintomas do cansaço causado pelas alterações de temperatura no amigo não morto. Ele está com os olhos soltando faíscas loucas de medo ao nos encarar. Trocando com cuidado para mim para Matteo.

– Então, abra essa boca e comece a jorrar informações enquanto eu estou com paciência para ouvir. Antes que comecemos a fatiar seu corpo imundo.

Enquanto suas ameaças vagavam entre eles, Ranielle trocou um olhar com seu companheiro de estrada, eram praticamente uma unidade. Sem policial bom e ruim no jogo a partir de agora, para balancear as coisas. Aprenderam com os erros iniciais a nunca se curvar pela piedade a esses seres imundos. 

Ainda que inicialmente sua fúria e ódio tenham berrado altos em seus ouvidos, ela ainda conseguia sentir parte da criação de meus pais. Com aqueles olhares carinhosos para o não-morto, se encararam e pensaram juntos enquanto agiam por instinto. Matar não era uma opção inicial, mas, se tornou primordial para sua sobrevivência. Ainda bem que ela conseguia se virar com facas e com as garras crescentes nos dedos longos.

– Não há o que dizer... Não sei de nada. – A respiração irregular e as pupilas dilatadas indicando uma mentira podre enquanto seus instintos berravam por sobrevivência a única coisa que ela podia ver eram mais mentiras jorrando das presas pútridas. – Eu não sei de nada, sua cachorra. Só sei de mim e nada mais.

Com os olhos velados em puro desprezo, encarou aquele pedaço de merda, que uma vez foi humano e com a força de vontade mais forte que conseguiu reunir em poucos segundos, desferiu um golpe em sua coxa, fundo o suficiente para sentir a ponta da faca batendo no osso. Com um silvo doce de dor, a mulher ouviu um gemido desesperado por sair da ponta da sua lâmina. Enquanto seus olhos ficavam firmes o cheiro de sangue permeou o ar como se fosse uma colônia doentia banhada em desespero.

– Vamos começar de novo... Vai me dizer o que preciso saber, ou eu vou ter que te fatiar da cabeça aos pés?

– Não posso... Ela vai me matar. Ela vai me triturar e dar de comida aos cães.

Com os olhos brilhando de ódio, e as mãos ocupadas imobilizando e esfaqueando a coxa do imbecil, jorrou em gozo ao descobrir que atingiu pelo menos um nervo. 

Ela. 

A mira dos seus mais obscuros pensamentos, é uma vadia louca e sem coração. Talvez uma louca apenas, mas, ela vai pagar. Pela destruição da nossa família, pela nossa reclusão e pela destruição da paz. As linhas nunca existiram tão brancas no preto como agora. A confirmação de que realmente era uma mulher a deixou ciente da importância da informação que ele poderia fornecer.

– Matteo, temos um ‘ela’. Agora precisamos de um nome e uma localização... Será que conseguimos?

O riso de escárnio brota nos lábios do ser que ela tinha mais próximo de ‘amigo’ enquanto se posicionavam em pose de interrogatório. Sem nunca soltar o vampiro, ele posiciona-se sentado sobre um barril velho com cheiro duvidoso, enquanto seus sentidos se aguçam para ver se há alguém nas redondezas mais interessado do que deveria no que está se passando. Mas, não. Está tudo quieto como deveria, nenhum outro vampiro pra reclamar esse cadáver fresco.

Com o braço aplicando a gravata firme no braço do outro, Matteo manteve-se firme mesmo que estivesse já com nojo do sangue fresco jorrando em suas roupas e botas. O frio havia apertado bastante apesar de não os machucar, afeta-os trazendo certo cansaço às nossas veias.

– Duvido que ele vá dizer algo mais, Ran... É apenas um calão baixo, um verme rastejante entre as fileiras.

– Sim, ele é apenas um verme de fato, mas, gostaria de saber o que ele tem em mente para se livrar de nós, sei por exemplo, que ele está pensando em nos rasgar cada um em dois, para poder beber de nossa vida.

O sorriso mínimo marcado pelo sangue no rosto do não morto, foi pronúncia suficiente para que ela fizesse sua lâmina girar em seu corpo podre. Acontece que as fibras e músculos dele, são boas e fortes como as de qualquer pessoa viva, humana ou não.

– Eu não vou dizer nada... Vocês não vão a lugar nenhum comigo.

Enquanto ruminou essas palavras por segundos dolorosos, encarando olhos pretos como a noite, seus dedos correram para as botas do não-morto, enquanto seus dedos abriam cadarços e a tirava do pé, o veria cantar como um canário se botasse seus planos de tortura em prática. 

Ao soltar a lâmina em sua coxa, puxou a Taurus do coldre, enquanto segurava no cano, passando lentamente pela vista dele, enquanto desferia um golpe seco no dedinho. Seus olhos brilharam e se reviraram em agonia enquanto ela voltava a empunhar a faca com destreza adquirida em anos de prática. Torturar também não era a primeira escolha, mas, sempre era eficaz. Aprendeu em pouco tempo que muitas coisas que não faria normalmente, se tornaram naturais para ela, enquanto está buscando o que deseja.

– Eu não posso dizer nada, vocês não entendem?

Com a perna ainda imobilizada, passou seus dedos nos pelos eriçados enquanto pensava fixamente na informação que precisava. Só um nome... Um nome e ela reviraria esse mundo inteiro atrás da desgraçada que conseguiu derrotar o grande Eduardo. Sim, pode parecer inocente, mas, seu avô se chamava Eduardo. O temido lobo negro.

Outro dedo foi-se, quebrando e tentando se regenerar apesar da perda massiva de sangue e da vontade que ele possuía de arrancar a cabeça dela com um furor implacável. Seus olhos negros brilharam com medo enquanto ela levantava novamente a arma, uma .40 de mira limpa, cromada como o brilho dos seus olhos as vezes são, com detalhes em ouro e bastante munição para ser letal. Outro detalhe importante, esqueçam essa história de balas de prata, vampiros e lobisomens não são vulneráveis a elas mais do que a qualquer outro metal que os perfure no coração ou na cabeça. Esse pensamento a faz rir, mas, é a mais pura verdade.

– Ok, ok... Eu conto.

Com os olhos brilhando em expectativa, Matteo e Ranielle se encararam por alguns segundos   enquanto o tempo passa parecendo um rastelo em suas peles já sensíveis. Podia sentir as garras se alongando e os caninos querendo sangue fresco de vampiro como entrada do jantar. No entanto, se controlaram, correram meses atrás dessa informação e não iam perdê-la por serem apressados. 

A faca na coxa do vampiro pinga um sangue deliciosamente viscoso, enquanto seus dedos esmagados permanecem à vista, apesar da escuridão. Seus instintos são para socá-lo até arrancar a verdade de sua boca maldita, mas, sabia que não podia correr o risco com algo tão palpável por perto.

– Então fale, antes que eu fatie mais que o necessário. – Apesar de saber que ele não vai sair daqui com vida, ele se apegou à esperança ínfima de que ela poderia estar falando a verdade, seus olhos pousaram sobre Matteo a arrancou do devaneio sobre o que fazer com ele enquanto observavam seus lábios parecerem lutar contra a própria mente. 

Uma traição é o mesmo que o preço de uma lápide sobre a sepultura dele. E, sabe disso, mas, apesar dos pesares, ele começa a formar palavras coerentes conforme se aproximavam mais de seu corpo dilacerado.

– Ela se chama de Encantadora. Simples assim.

Não há como conter o choque das palavras dele nos olhos castanhos de Ran, que rapidamente tentava se recompor enquanto pedia silenciosamente para que ele prosseguisse falando. Se Matteo está surpreso, suas atitudes demonstram tanto quanto um leve levantar de sobrancelhas. Os olhares dos lupinos se cruzam. É claro que já ouviram falar da Rainha da região de Cerras, porém, as informações levavam a crer que era apenas um mito.

-Ela entra em nossas mentes...

Ele tentou continuar falando, mas, seus olhos se reviraram em resposta, talvez como uma porcaria de conexão telepática entre os malditos, o codinome ainda entre os lupinos, pairando como uma foice, enquanto seus pelos se eletrizam pela descoberta. Pegar uma rainha não é tão fácil quanto um súdito, eles sabiam disso. Mas, sua determinação ia  continuar lutando e pulsando com ela enquanto viver. Ela queria vingança e faria o impossível por ela.

Durante um segundo de distração, o vampiro puxa a adaga das suas mãos, descravando-a de sua perna e cravando fundo em seu coração, a pupila dilatada pulsando com as últimas gotas de sangue disponíveis em seu corpo a faz estremecer, foi o mais longe que chegaram mesmo depois de meses de ‘pesquisa’ e como veio a informação se vai.

O cadáver é jogado sem cerimônia por um lupino muito irritado, enquanto sua mão cava o peito do maldito tentando extrair a adaga. Seus olhares se cruzam novamente, uma eletricidade ilumina o rosto da morena enquanto o de Matteo parece funesto com a conclusão de que estavam lidando com uma das rainhas. A líder de um clã forte que não vai se curvar diante de nenhum dos lupinos de sua matilha.

Entendam que apesar do seu nome verdadeiro causar arrepios na maioria dos seres noturnos que ela encontrou pelo mundo, a sua posição na alcateia não a colocaria à prova de uma monarca.

– Para as montanhas então... – Ranielle sussurrou mais para si mesma do que para ele. Matteo sabe que é uma missão suicida e vai tentar provar isso em cada passo do caminho, no entanto, a mulher estava convencida de que era a melhor chance deles de conseguir alguma forma de fechamento ou bálsamo para o tormento que assombrou a casa de Ferreira por tanto tempo.

– Para as montanhas.

Assim como começou, a fúria se esvai em pedaços condensados de tristeza e certo alívio. A empreitada se inicia com um prazer incontido por parte da morena e com traços de reserva por parte de Matteo. 

Antes que possa se conter, ela viaja para memórias de Eduardo, seu avô. Um lupino forte, completo em sua forma animalesca, encarando cada um de sua alcateia. Suas garras cavando a terra enquanto se mantinha focado nos nossos antigos rituais, cada religião humana os representa de uma forma, mas, no fim, todas erraram em algum ponto. Não são demônios, nem anjos, superiores ou inferiores. São apenas diferentes. 

Ela se lembrou de seus toques, acariciando e amassando seus cachos enquanto cantava canções de guerra para que tivesse um sonho protegido e restaurador. Se lembrou dele. Em sua magnífica beleza embalando-a durante as noites.

Seus dedos correm pelos mesmos cachos que os dele correram tantos anos atrás, se lembrando de como era boa a sensação de sua proteção. Hoje em dia ela é quem ia correr para a sensação de proteger sua imagem, honra e o seu nome. Para as montanhas da Serra da Estrela... Este é o destino.

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