Sete

No andar de cima, tudo continuava muito sofisticado, mantendo o padrão de beleza e cores com o cinza e prata, mas com algumas coisas em branco e um cinza mais claro, um ou outro ícone de decoração com cores diferentes. Enquanto ainda conversávamos, ele me encaminhou até uma sala ao fundo e encontrei duas mesas brancas, com coisas de escritório em cima. Havia um homem em um lado e uma mulher do outro.

O loiro me olhou intensamente e pude perceber seus olhos incrivelmente azuis e profundos. Já a garota, se levantou e sorriu, assim que me viu.

— Hope, te apresento, Amélia. A parte Sawyer. — disse apontando para a menina — E Enrico. A parte Garcia. — apontou para o loiro de olhos azuis em seguida e rindo.

— Muito prazer! — os dois disseram em uníssono.

— O prazer é meu. — disse, ruborizada pelos olhares que me cercavam.

— Então, Enrico é quem administra essa parte de acordos e papelada de contrato e tudo mais. Eu fico na parte de apresentação da casa ou apartamento para os possíveis compradores e a Amy, fica na parte de te mostrar um possível novo apartamento, mas como você já viu isso, não vai precisar passar por ela.

— Tudo bem. — digo, cada vez mais sem graça.

— Ela está em suas mãos, Enrico, cuide bem dela! — Harry diz e se vira para sair da sala.

[...]

A conversa com o Enrico fluiu muito bem. Fechei o contrato com ele e estava tudo certo para a venda do apartamento. Mateo me deu carta branca pra isso e de acordo com as minhas pesquisas, tudo daria certo nessa venda.

Saí da sala de Enrico e Amélia e fui me encontrar novamente com Harry.

— E aí? Tudo certo? — questionou, enquanto olhava o celular.

— Sim, obrigada! — Sorri.

— Então, quer me mostrar o apartamento logo? Ainda temos tempo. — disse, enquanto olhava o relógio.

Percebi que ainda era cedo e teríamos tempo de olhar com calma o apartamento, antes de Mateo chegar.

— Tudo bem! Vamos lá. Me segue com seu carro ou...?

— Vamos no meu, depois você volta comigo e pega seu carro no estacionamento daqui. — Harry me interrompeu.

Reviro os olhos com aquele jeito mandão, mas aceito pra evitar discussão.

Andamos em direção a seu carro e digitei o endereço do apartamento em seu GPS. Uma batida eletrônica tocava no carro ao fundo, fundindo-se com as buzinas e barulhos de trânsito. Seguimos todas as instruções até finalmente chegar.

— Onde você foi se esconder, hein? — resmungou ao descer do carro.

— Reclama mais! Vamos ver se eu não tenho coragem de cancelar o negócio!

— Você não seria capaz...

— Tenta a sorte! — revidei.

[...]

Estávamos no elevador e um clima pesado tomou conta do ar de tal maneira que quase podia ser tocado. Eu balançava minhas pernas e olhava para as minhas próprias mãos a fim de me distrair de alguma maneira até finalmente chegar no andar do apartamento. Não conseguia levantar o olhar e encarar Harry, mas sentia que ele me olhava de alguma maneira e isso fazia meu rosto ferver e ruborizar.

— Chegamos! — disse, assim que a porta do elevador se abriu e eu corri para fora.

Gostaria de saber o porquê de elevadores terem esse clima pesado e sexy.

Harry sorria de lado pra mim e esperava que eu lhe mostrasse o caminho.

Busquei o chaveiro na minha bolsa, mas algo estava fazendo minhas mãos tremerem e suarem inexplicavelmente. E aquele se tornou um trabalho mais difícil do que eu pensei.

Quando eu finalmente consegui encaixar a chave na fechadura, destranquei a porta e dei passagem para que Harry entrasse.

— Primeiro as damas! — disse e estendeu a mão para que eu entrasse primeiro.

Entrei e ele me seguiu.

— Então, como você pode ver, essa é a sala de estar. Todos os móveis são novos, tem pouco tempo de uso e estão em perfeito estado. Gostaria de vender o apartamento já mobilado.

— Ótimo! Apartamentos desse tipo são sempre muito procurados. Pode me mostrar os outros cômodos da casa?

— Claro!

Uma onda de espasmos e lembranças foi tomando conta de mim enquanto olhávamos todos os cômodos, mas principalmente quando chegamos ao quarto. Todas as minhas travessuras com Mateo e todos os meus pensamentos impuros em relação a novas experiências. Minhas pernas bambearam e por um momento achei que fosse cair, mas consegui me apoiar a tempo antes de me espatifar no chão. Harry me olhou confuso, mas deixou pra lá quando lhe lancei um sorriso reconfortante.

— Gostei daqui. Vai ser fácil encontrar alguém interessado.

— Que ótimo! É isso que eu quero.

— Mas então... Tem compromisso amanhã à noite? — sussurrou à medida que chegava mais perto de mim.

— Ah, não sei, por quê? — desdenhei.

— Que tal sair pra jantar comigo?

Me senti vermelha como a própria cor e não sabia onde me esconder. Nunca tinha sido convidada para jantar daquela maneira e não fazia a mínima ideia do que fazer.

— Ah, eu acho melhor não. Sabe como é, misturar o trabalho com a vida pessoal. — dei de ombros com uma desculpa mega esfarrapada.

— Eu sei dividir as coisas — murmurou com sua voz mais rouca que o normal.

— Mas eu não quero correr o risco.

— Ok.

Saímos do apartamento em silêncio e todo o percurso até o carro também, passando pelo elevador de clima pesado e sexy novamente, mas dessa vez não fiquei tão nervosa.

No carro, o rádio tocava alguma música que eu não conhecia e que Harry cantarolava baixinho, quase que imperceptível. Ele canta razoavelmente bem.

—  E um almoço então? — falou, interrompendo meus pensamentos quando estávamos quase chegando de volta a imobiliária.

— Não! — disse de prontidão.

— Vamos! Vai ser divertido. — insistiu.

— Não estou muito afim.

— Qual o problema?

— Nenhum. Só que...

— Só que nada. — diz me interrompendo — Vamos! É só um almoço.

Mas que diabos de insistência.

— Não sei não.

— Hope... — ele choramingando.

— Está bem! Quando?

— Amanhã, pode ser?

— Ok. — me dei por vencida.

Acho que um almoço será menos apavorante que um jantar, daqueles românticos estilo filme americano. Um almoço seria algo mais descontraído e casual.

— É, um almoço! — digo, enfatizando.

— Te pego amanhã à uma da tarde. Na casa do seu amigo? — perguntou, assim que paramos em frente a imobiliária.

Caminhamos até meu carro e ele segurou minha mão.

— É, na casa do Roger. — murmurei, quase sem ar.

— Até amanhã, então. — disse, enquanto beijava minha mão.

— Até! — respondo, envergonhada, enquanto puxo a mão.

Entrei no carro e precisei de alguns momentos para me recuperar. O que diabos tinha acabado de acontecer? Não gosto que beijem minha mão. Ninguém beija minha mão. Não pode simplesmente fazer isso e sair, como se nada tivesse acontecido.

Recupero o fôlego e a consciência e finalmente ligo o carro juntamente ao rádio, que inicia qualquer música que esteja tocando. Meus pensamentos estão embolados e não consigo identificar que música é e muito menos quem canta. Sigo em silêncio para a casa de Roger afim de contar a novidade e correr atrás de uma roupa para amanhã.

[...]

A noite passou como o dia, arrastando-se, após mais uma aula cansativa na faculdade. Não conseguia parar de pensar nas palavras de Harry e no modo como insistiu em querer sair comigo. Não conseguia imaginar algum look que fosse bom o suficiente pra um almoço. Casual, mas chique. Sexy, mas não atirada. Forte, mas romântica.

Levantei decidida a ir em meu antigo apartamento com Mateo e pegar todos os meus pertences de lá, desde roupas e sapatos até porta-retratos e enfeites.

Tomei um banho morno e rápido, sem lavar o cabelo. Amarrei-o no alto de qualquer jeito e vesti um short jeans larguinho com uma regata simples e chinelos. Tomei um café e fui até meu carro, ligando o som e colocando um rock alto pra tocar enquanto dirigia cantarolando até o apartamento. Por um momento consegui esquecer do drama que vai ser escolher uma roupa adequada pra sair com aquele homem cheio de mistérios.

Não sabia o que esperar, mas estava doida para descobrir.

Por sorte Mateo não estava em casa, então ligo o rádio e conecto meu celular a ele, para que possa continuar ouvindo músicas do meu gosto. E o aleatório sempre me surpreendendo, toca a música que eu mais tenho ouvido ultimamente. Love Me Like You Do. Então continuo a arrumação cantando e dançando lentamente ao som de Ellie Goulding, deixando-me ser embalada pela sensualidade emanada na voz e na letra dessa música.

Ainda não contei a novidade a Roger e sei que ele irá surtar quando souber que eu vou sair para almoçar com o “deus grego cacheado", como ele costuma falar.

Sei que ele vai me ajudar com a roupa e espero ter algo no meu armário que me sirva para não precisar ir ao shopping. A ultima visita tinha sido entediante e por nada, já que meu vestido acabou destruído pela bebida naquela noite.

Olhei cada roupa com cuidado antes de colocar na mala, mas nada me pareceu bom o suficiente para o que tenho em vista. Realmente não sou nada sem Roger pra me ajudar.

Olhei o visor do celular aceso e verifiquei minhas mensagens. Era ele perguntando onde eu estava. Respondi que estava no apartamento e que logo estaria de volta. Mas ele nunca se dá por vencido e logo perguntou se eu estava com Mateo. Ignorei e continuei arrumando minhas coisas, dessa vez ao som de Beyoncé.

Quando entrei no carro para ir embora, eram onze da manhã, então corri até em casa e cheguei quase pulando em cima dele, louca pra contar a novidade.

— O que é mulher? — gritou ele em meio ao meu cabelo.

— Tenho que te contar uma coisa, mas não grita!

— Você e Mateo se pegaram? — berrou, ignorando totalmente meu pedido.

— Não! — berro de volta. — Hoje, daqui a pouco, na verdade, estou indo almoçar com o "deus grego cacheado!" — dei ênfase ao final da frase fazendo aspas com as mãos.

Sua expressão foi de chocada a animada em milésimos de segundos e ele sorria sem parar como se estivesse imobilizado.

— Fala alguma coisa! — murmurei.

— Não dá! Estou pasmo! E quando isso aconteceu? Por que não me contou? — berrou de novo.

— Foi ontem à tarde, quando fui à imobiliária da família dele, logo depois que visitamos o apartamento. Primeiro ele me chamou pra jantar e eu não aceitei, mas depois de insistir, ele me chamou pra almoçar e eu decidi aceitar, já que parece ser algo casual.

— Hmmm, menina esperta, se fazendo de difícil. — comentou enquanto dava um sorriso malicioso.

— Nada disso, só estava nervosa com a ideia de um jantar romântico. Nunca tive um encontro, então não faço a mínima ideia de como deve ser, de como me vestir e como devo me comportar. — confessei, não só pra ele.

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