Seis

Acordo em mais um dia frio e chuvoso em Londres. Reviro os olhos, mesmo que eles ainda estejam fechados e me levanto a caminho do banheiro.

Acordar todos os dias às sete da manhã, era algo que eu definitivamente não gostava de fazer. Mas não tenho a vida ganha e preciso trabalhar se quiser sobreviver.

Tomo meu café da manhã, nada mais que uma tigela de cereal com leite, já que não sinto fome de manhã. Visto uma saia lápis preta, uma blusa de cetim branca, pego minha bolsa e sobretudo, saindo rapidamente para o trabalho. Minha chefe já havia me ligado e pediu para eu me apressar. Chego o mais rápido que posso e já dava pra perceber que a redação estava a mil. Ainda nem eram oito e meia da manhã.

Não havia algo em que eu pudesse ajudar, a não ser ir pra sala dos estagiários e ficar lá, não atrapalhando. Termino umas enquetes que estavam pendentes e até a edição de uma das colunas quinzenais. Sem nada mais o que fazer e dou uma olhada no f******k, mas então me lembro de um certo cartão de visitas e decido procurar por alguma página relacionada a imobiliária.

Descubro que o Garcia do nome, é da família que é sócia da família de Harry, e vejo fotos da irmã que ele mencionou. Uma mulher alta com longos cabelos negros e linda. Super parecida com ele. Vejo também, que a imobiliária é ética e muito bem falada, então fico aliviada por já tê-la em mente para a venda do meu apartamento.

— Hope! — gritou minha chefe do lado de fora da sala, interrompendo meus pensamentos.

Saio em busca dela, que me joga uma pilha de papéis para organizar e arquivar tudo até o fim do dia. Às vezes estagiários são obrigados a fazerem coisas absurdas. Mas não reclamo em voz alta, pois além daquilo me dar algum dinheiro, pelo menos vai ocupar minha mente e meu tempo até o fim do dia, quando eu finalmente vou ver o Mateo novamente.

Quando ele me liga pela décima sétima vez no dia, decido atender.

— Que bom que atendeu! — ele diz esperançoso e um aperto se forma no peito.

— Oi, Mateo. Não vou me prolongar, pois tenho muito trabalho a fazer. Posso te encontrar às três e meia no nosso apartamento? Precisamos conversar.

É claro...

— Mas não é nada do que você está pensando. Quero conversar sobre o apartamento mesmo e o que vamos fazer das nossas vidas. — o interrompo antes que ele crie mais expectativas falsas e precipitadas.

— Ah... até mais então. — diz cabisbaixo, mas se dá por vencido e desliga o telefone.

Suspiro e agradeço por ele não ter insistido mais em falar comigo, mas lembro que isso é só porque vamos nos encontrar pessoalmente mais tarde. Vai ser um dia e tanto!

Jogo o telefone num canto e abro a aba do youtube no computador e deixo qualquer música tocando de fundo, bem baixinho, para eu não atrapalhar ninguém, e para eu ter pelo menos algum tipo de distração enquanto empilho e organizo aquela quantidade absurda de papéis.

Quando finalmente deu meu horário de saída, só organizo alguns papéis que estavam jogados em minha mesa, desligo o computador e pego minhas chaves e a bolsa. Eu estava ansiosa e aflita com a conversa que está por vir. Não sei o que me espera e nem como Mateo vai reagir ao saber que eu realmente segui em frente e até mesmo já aluguei outro apartamento.

[...]

— Oi. — murmuro assim que entro pela porta e vejo Mateo dando de um lado a outro da sala de estar.

— Oi. — ele sussurra, com um sorriso.

Vou até ele, o cumprimento com um beijo no rosto bem rápido, mas ainda assim sincero. Quando me afasto vejo seus olhos brilharem como nosso leve e breve toque.

— E então... — ele rompe o silêncio, me dando a deixa para começar.

— Então... Na verdade não sei como começar essa conversa, mas... Você já tem algum apartamento em vista pra você?

— Na verdade sim. — responde, ainda confuso — Por quê?

— Porque eu aluguei um apartamento ontem e queria saber o que fazer com esse. Já que você já tem um em vista, que ótimo, acho que podemos entrar em um consenso e vender esse aqui com tudo o que há nele, o que acha?

Mateo me olha perdido e aéreo, mas força um sorriso enquanto pensa em minha proposta.

— Tudo bem. Você tem algum comprador em vista ou vai deixar os donos do prédio anunciarem? — perguntou, enfim.

— Na verdade, eu pensei em vender em uma imobiliária. Dei uma pesquisada e vi que dá muito mais lucro dessa maneira, ainda mais mobiliada. — dei de ombros e o olhei esperançosa.

— Por mim tudo bem. Qual imobiliária você pretende procurar?

— Já tenho uma em vista. É de um conhecido, eles têm nome, seria bom pra gente. Poderíamos dividir o valor entre nós.

— É, ok. — sussurrou quase inaudível.

— Então é isso, já vou indo. — digo, me levantando do sofá.

— É só isso? — Questiona. — Pensei que houvesse mais alguma coisa.

— Na verdade não. — vou até ele e lhe dou um abraço — Até mais, Mateo. — e saio pela porta, depois de lhe ter lançado um sorriso tímido.

A porta bateu atrás de mim e uma onda de alívio tomou conta do meu corpo. Foi bom conversar com Mateo sem que ele tivesse insistido, pelo menos não muito, em algo que já acabou e não irá voltar.

Amanhã o dia seria longo. Vou dar uma passada na imobiliária da família de Harry e ver se fecho alguma coisa. Vou pra faculdade e tentar me concentrar nos estudos pelo menos por hoje.

[...]

Após uma longa noite, mais uma vez fui acordada com a chuva batendo em minha janela. O sono me consumia como sempre, mas consegui me levantar e tomar banho.

Vesti uma calça jeans simples e uma blusa de alcinha de tecido leve com uma botinha preta. Mal mordi a torrada, quando vi que estava atrasada. Agarrei no sobretudo e praticamente voei até o trabalho.

Como novidade, estava tudo calmo. Calmo até demais. Estranhei, mas deixei pra lá e fui a sala dos estagiários e sentei a minha mesa, ligando o computador automaticamente e dando uma checada nos e-mails. Como não tem nada demais, fecho a aba e volto para meus afazeres diários.

O dia passa arrastadamente e quando eu penso que já passou muito tempo, passou apenas dois minutos. Reviro os olhos toda vez que checo o relógio e vejo a hora se arrastar como eu.

Abro a bolsa e pego o cartão com o contato de Harry e decido ligar. Como quem não quer nada mesmo. Após três toques, sua voz rouca e baixa atende do outro lado da linha.

— Pronto!?

— Oi, Harry! Aqui é a Hope.

Ah, oi, Hope! — sinto sua voz se suavizar ao perceber que sou eu.

— É... lembra o que conversamos ontem? Então, queria saber se posso dar uma passada na imobiliária para resolver sobre essas coisas.

— Pode, pode sim! Que horas você vem?

— Lá pelas três horas. Vou assim que sair do trabalho, tudo bem?

— Ótimo! Até mais, então?

— Até mais. — digo e desligo o telefone sem perceber que sorrio com sua reação e mudança de voz.

Não aguentava mais fazer nada naquela revista. A hora continuava passando lentamente e minha chefe deu pra pegar no meu pé justamente hoje. Alguma parte dentro de mim se sentia empolgada e ansiosa pelo encontro profissional que teria com Harry.

Sinceramente, não entendo porque estou me sentindo desse jeito, mas ainda assim, uma mínima parte em mim fazia com que eu sentisse um arrepio subindo pelas pernas e indo direto pela espinha até a minha nuca.

Depois de checar mais uma vez as muitas colunas quinzenais da revista, a hora de ir embora finalmente chegou.

Passei no banheiro, ajeitei o cabelo e agradeci por estar usando uma roupa razoavelmente bonita. Fui até o elevador e apertei o botão, esperando pacientemente e olhei ao relógio. Sorri ao me lembrar do que aconteceu da última vez que esperei um elevador dessa maneira.

Assim que o elevador se abriu, eu entrei e fiquei ensaiando algumas falas e coisas do tipo para quando chegasse lá. Meu coração estava acelerado e parte de mim, animada com essa excitação.

Peguei meu carro e fui em direção ao endereço indicado em meu GPS. Não era longe de onde eu trabalho, mas o suficiente pra ligar o rádio, aumentar o volume e dirigir cantarolando por aí. Ao chegar no meu destino, meu corpo todo se contraia e eu tentava manter a calma enquanto olhava meus pés para que eles não se embolassem.

O prédio onde ficava a imobiliária era bem bonito. Bem moderno e equipado. Cinza com prata, tudo bem sofisticado. Entrei e encontrei uma recepcionista bem bonita. Morena, vestindo uma calça social preta e opaca, junto a uma blusa branca de botões, com a logo da imobiliária bordada em um dos lados. Ela me cumprimentou formalmente e me acompanhou até um elevador.

A porta se abriu e um dejávu aconteceu. Mais uma vez, enquanto esperava, me deparei com Harry saindo. Não aguentei e ri com o acontecimento, ele entendeu o motivo e riu também, me cumprimentando logo em seguida.

— Oi Hope, como vai? — olhou o relógio — Pontual!

— Tenho que ser! Como vai?

— Muito bem e você?

Conversamos a caminho do andar de cima e ele foi me explicando algumas coisas sobre como seria feita a venda, por mais que ele ficasse na área de apresentação do apartamento.

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