Dez

Antes que eu pudesse subir, ouço o barulho da TV vindo da sala. Após ir até lá, vejo Brandon adormecido no sofá.

— Brandon? — chamo, tocando-o de leve pelo ombro. — Brandon, vai para a cama. 

O garoto se mexe e abre os olhos bem devagar.

— Lacey... — murmura e olha o celular. — Demorou. 

— Estava me esperando? — Brandon assente e se senta. — Por quê?

— Já disse que não confio no Thomas. Esperei alguma ligação, para que eu pudesse buscar você. 

Sorrio. 

— Thomas foi um príncipe. — digo, puxando Brandon pelo braço. Após entrelaçar os nossos, caminhamos para a escada. — Acho que se fosse melhor, estragava. Mas pode ficar despreocupado em relação a isso. Tenho certeza que Thomas jamais faria algo que me fizesse sofrer.

— Mas se fizer...

— Você é minha primeira e única opção de ligação. — estico-me um pouco e beijo seu rosto. — Boa noite.

— Boa noite, Lacey.

[...]

Brandon me encarava apreensivo, enquanto mordia o lápis. 

Eu estava alternando meu olhar entre o teste que havia passado e ele. Já não aguentava mais segurar a risada, quando Brandon explodiu: 

— EU FUI BEM OU NÃO?

— Credo, que nervosismo. — era até divertido ver ele daquela maneira. 

— Essa prova é muito importante, Lacey... Eu preciso...

— Você vai passar. — digo. — Ainda mais se o resultado for parecido com esse aqui. — balanço o papel e sorrio. 

— Eu fui bem? 

— Sim.

— Jura? — ele parecia espantado, então lhe entrego a folha. — Só dois erros? Isso dá noventa e oito porcento de acerto! NOVENTA E OITO!

Após a última frase, Brandon me agarra e começa a girar. Ele gargalhava e apesar de eu começar a ficar tonta com aquilo, só conseguia pensar na felicidade dele. 

— Não acredito! — Brandon me solta e me encara, sorrindo. — Eu vou passar.

— Se continuar estudando, e tendo esses resultados, vai sim. 

— Precisamos comemorar. 

— Brandon, foi só um teste.

— Você não imagina a importância desse teste na minha vida. — diz. — Desde que entrei na faculdade, eu não obtive um resultado assim. Vamos almoçar fora e não se fala mais nisso. Vá se trocar.

Brandon era mandão. E eu me divertia com ele.

— Vê se não acostuma com isso. — digo, indo para as escadas. — Ainda sou a empregada.

Antes que eu possa subir, ouço Brandon murmurar alguma coisa, mas ignoro.

[Brandon]

— Vê se não acostuma com isso. Ainda sou a empregada.

— Não por muito tempo.

Me arrependo assim que as palavras escapam da minha boca. 

Será que ela tinha escutado?

Lacey estava sendo um anjo na minha vida, em relação aos meus estudos. Eu nunca havia pensado, que iria me sair bem em alguma coisa, relacionada a faculdade. Bem, além das mulheres...

Minha piada interna é interrompida pela campainha. Lembrando imediatamente que Úrsula havia saído, vou até a porta.

— Sim? — questiono, ao ver os dois adolescentes admirando meu jardim. — Quem são vocês?

O garoto ruivo me encara de cima a baixo, assim que se vira. Já a menina negra, que deveria ser do tamanho de Lacey, sorri.

— Oi... nós somos...

— Tori!

Lacey desce as escadas rapidamente e passa por mim feito um furacão, abraçando a outra garota. O ruivo logo se une ao abraço delas.

— Meu Deus... o que vocês estão fazendo aqui?

— Eu recebi a sua carta. — a pequena garota diz. — Ia vir sozinha, mas você conhece Kieran. Quis vir.

— Senti muito a sua falta, pequena.

O ruivo abraça Lacey e beija o topo da sua cabeça. Apenas homens apaixonados tinham aquele ato. 

— Hmmm... Lacey? — ela me olha. — Nós ainda vamos... 

Consigo perceber pela minha visão periférica, o ruivo arquear a sobrancelha. 

— Claro, mas... é... — Lacey pega em meu braço e nos afasta dos amigos. — Você se importaria se eles fossem? Sei que quer comemorar uma conquista sua, mas...

— Não. Nenhum problema. São seus amigos e eu percebi como ficou feliz em vê-los. — ela sorri. — Podemos ir todos. Eu pago. 

— Você não precisa fazer isso.

— Eu sei que não preciso, mas eu quero. Vamos?

Só ver o enorme sorriso que Lacey abriu naquele momento, fez o meu dia já ter valido a pena. 

Logo que nos aproximamos de seus amigos, percebo a felicidade da tal Tori e a desconfiança do ruivo. 

No carro, os três foram atrás em uma conversa sem fim. Notei que o ruivo as vezes investia em Lacey, mas ela se esquivava, voltando a conversar com sua amiga. 

Assim que chegamos ao shopping, Lacey pede que caminhemos um pouco pois quer que a amiga olhe as lojas. Não tinha como não aceitar, um pedido vindo daquela garota. Eu observava cada olhar e sorriso que ela dava, fosse para a amiga ou para alguma vitrine. 

— Esse é lindo. — a garota diz, apontando um cordão na vitrine de uma joalheria. 

— Eu ainda prefiro a pulseira. É simples e fofa. 

Olho de relance para a tal pulseira que Lacey havia comentado. Eu podia até imaginar aquela peça em seu pulso. 

— Estou com fome. — a menina negra murmura com Lacey. — Acho melhor voltarmos para o orfanato.

— Não, nós vamos almoçar aqui. Certo, Brandon?

Lacey vira para mim, já sorrindo. 

— Claro. — retribuo o sorriso. — Onde querem ir?

— Podemos escolher? Pior que temos tanta opção...

— Posso indicar algo? — pergunto, já caminhando para a praça de alimentação. — Há um restaurante de massas ótimo nesse shopping. Vocês irão gostar.

— Pode ser...

— Não sou chegado em macarrão. — o ruivo resmunga, fazendo com que Lacey e a amiga gargalhem. 

— Não é chegado em macarrão? Sempre que esse era o cardápio no orfanato você implorava para repetir. 

Até reprimo o riso ao ver a cara de vergonha que o ruivo ficou.

— Mas restaurante de massas não tem somente macarrão. Há outras coisas. Vocês podem escolher o que quiser. 

Assim que fica decidido o almoço, todos vamos para o restaurante. Para quem não gostava de macarrão, lasanha foi a única massa que o ruivo não se interessou em comer. Após o almoço levo-os para tomar um sorvete. 

A melhor parte daquilo tudo, estava sendo observar a alegria de Lacey em estar com os amigos. Ela sorria verdadeiramente diante de qualquer coisa que se era falado. Era... mágico, assisti-la sorrir. 

Ao fim da tarde, digo que vou deixá-los no orfanato. Uma parte de mim queria ver o lugar onde Lacey cresceu. Na hora da despedida, eu fiquei dentro do carro para dar um espaço a eles. Lacey abraçou a amiga fortemente e elas trocaram alguns carinhos. Quando o ruivo foi se despedir, ele tentou um beijo, mas Lacey esquivou. Assim que ela entra no carro e eu arranco com o mesmo, comento:

— Ele gosta de você. 

Lacey ri. 

— Eu sabia que você iria falar algo. — diz, ainda rindo. — Kieran foi com quem dei meu primeiro beijo, mas sempre foi apenas isso. No orfanato ele queria ficar de casal, na escola fingia que não conhecia... então eu nunca consegui sentir nada além de amor de irmão por ele. 

— E pelo Thomas?

Ela continua rindo. 

— Por que o interrogatório?

— Se chama curiosidade. — digo, tentando me esquivar. — Mas se não quiser falar... 

— Thomas é um cara legal, acho que vale a pena tentar.

— Tentar o que? — a olho, e a observo dar de ombros.

— Não sei, Brandon. Isso tudo é novo demais para mim. Aliás, eu nem devia estar me envolvendo em nada disso. Sai do orfanato focada em descobrir o que aconteceu com meus pais e até hoje não movi um dedo para tal. 

— Você não moveu.

Lacey rapidamente me encara.

— O que quer dizer com isso?

— Entrei em contato com o Herb, o amigo detetive do meu pai. Contei o que sei sobre sua história e questionei se ele conseguiria achar seus pais... ele quer conversar com você. 

— Que? Ah meu Deus! É sério?

— Claro que é, mas bem... — sou interrompido por um abraço repentino. A sorte foi estar parado no sinal vermelho.

— Você é incrível, Brandon. 

Diante daquela frase e daquele olhar completamente embaçado pelas lágrimas, eu só consigo sorrir. 

— O único problema, é que ele só estará disponível na outra semana. 

— Problema? Brandon... eu sinceramente não consigo achar palavras para agradecer você por isso.

— Lacey, querida, tornei missão da minha vida descobrir o que aconteceu com seus pais.

Ela sorri e eu percebo que tinha outra missão em vida.

Fazê-la a pessoa mais feliz do mundo, sem importar como e qual importância na sua vida eu teria.

uma semana depois

[Lacey]

O dia da prova final de Brandon estava se aproximando, e cada dia que passava, ele se empenhava mais em fazer dar certo.

Aby fazia questão de acompanhar de perto a evolução de seu filho nas matérias, e toda noite me agradecia pelo que estava fazendo. Ela até contratou outra empregada afim de me deixar apenas focada em ajudar Brandon.

Brandon estava constantemente em casa. Quando não estava na faculdade, ou treinando, estávamos estudando. Claro que haviam horas em que ele me implorava para assistir um filme ou explorar a geladeira, mas fora isso, o garoto só queria saber de estudar.

Outra coisa que ele amava fazer, era falar mal de Thomas. Principalmente quando o loiro aparecia para me buscar.

— De novo? — Brandon resmunga, quando eu conto que Thomas está para chegar.

— Ele disse que há uma festa... sitio de alguma pessoa da faculdade.

Brandon estala os dedos.

— Megan. Sei quem é.

— Não foi convidado?

Brandon ri.

— Eu sempre sou convidado, minha cara.

— Mas?

— Mas eu não estou afim. — diz, com desdém. — Essa sexta eu quero apenas um filme com pipoca e depois apagar. O treino foi cansativo.

— Poxa... então talvez eu deva deixar para lá? — eu perguntei, mas não sabia se devia ser uma pergunta.

— Não, que isso. Sua rotina é me ajudar e me ajudar. Percebo que gosta de Thomas e que quer ir. Você merece se divertir. Além do mais, já o ameacei. Se você ficar bêbada novamente, o enterro dele será amanhã.

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