Nove

Fico tão animada com a ideia de descobrir o que aconteceu no meu passado, que abraço Brandon, repetindo a palavra obrigada diversas vezes.

— Você deveria me agradecer só quando der certo.

O olho.

— Só por você se mostrar preocupado em me ajudar, já é motivo para eu agradecer. 

Brandon e eu ficamos nos encarando, sem desviar o olhar um do outro. Seus dedos chegam a tocar minha bochecha, fazendo-me estremecer. 

O filme volta do comercial fazendo um barulho que faz com que Brandon tire os dedos do meu rosto.

— Ér... — murmura, mexendo no cabelo. — Você quer... — ele aponta para a TV.

— Pode ser.

Viro-me totalmente para a TV, sem jeito pelo que havia acontecido a pouco. Eu ainda sentia sono, e por isso, acabo bocejando. 

— Ei, deita aqui.

Brandon alisa sua perna.

— Não sei se...

— Deita, Lacey. Sem maldade.

Mais sem graça do que antes, faço o que ele diz. Estava tentando focar no filme que passava, mas só conseguia me ligar no carinho que Brandon fazia em minha cabeça. Era tão bom... e me deixava ainda mais sonolenta. 

Eu não sabia o que se passava na cabeça dele. Brandon tinha sido um completo babaca comigo, quando cheguei. E agora, estava acarinhando minha cabeça, com uma gentileza sem fim.

Antes que eu pudesse apagar novamente, a campainha da casa toca, ecoando aquele som pela casa toda. 

— Eu vou... — digo, me levantando.

— Não. Úrsula vai. Você está de folga hoje. Me deixe fazer carinho no seu cabelo. Ele é sedoso.

Eu quase ri com a última frase.

— Desculpa atrapalhar, mas tem alguém procurando a Lacey. 

— A mim? — resmungo, me levantando rapidamente. 

Ao olhar para trás, vejo Thomas parado com uma expressão bastante confusa.

— Thomas? 

— O que faz aqui? — Brandon questiona, já se levantando. 

— Hmmm... marquei de ir ao cinema com Lacey, mas parece que estou atrapalhando algo. 

— Está...

— Claro que não! — digo, indo para perto de Thomas. — Mas... eu não me lembro de ter marcado nada.

— Bem, em algum momento da noite de ontem, você disse para eu vir te buscar as sete... — Thomas olha o relógio. — Desculpa o atraso. 

— Eu não falei com minha patroa e...

— Lacey não está bem! — Brandon diz e eu o olho. — Minha mãe disse para ficar na cama hoje.

— Mas eu já me sinto bem. Brandon!

Caminho rapidamente até o garoto e puxo-o de lado.

— O que está fazendo? — sussurro. 

— Você quer sair com ele? Depois dele ter te deixado bêbada?

— Eu quero. A culpa da bebida não foi dele. 

— Ah, Lacey... Sei não... — ele olha para Thomas. — Não gosto desse garoto. 

— Não sei porque, mas..., mas eu gosto dele. Quero sair com ele. 

Brandon olha para Thomas por breves segundos, e então suspira.

— Tudo bem. — diz. — Se ele fizer alguma coisa que você não queira, corre. 

Eu rio.

— Pode deixar.

Beijo a bochecha de Brandon e me aproximo de Thomas.

— Vou me trocar e já vamos. Okay?

Assim que recebo a aprovação de Thomas, corro escada acima, animada pelo encontro que estava por vir. 

[...]

O breve caminho até o shopping, foi feito em total silêncio. O caminho até a área do cinema, foi mais silencioso ainda. Thomas não falava, e eu não me importava com aquilo. Na verdade, eu não sabia o que falar, já que eu nunca havia tido um encontro na vida.

Ir ao shopping para mim, era engraçado. Quando não eram aqueles casais de um mês, se agarrando em cada canto, eram mulheres fúteis, saindo sorridentes de lojas megas caras. 

Na fila do cinema, Thomas finalmente fala.

— Vamos assistir o que?

— Não sei. Pode escolher.

Thomas meio que bufa, antes de ir até o atendente e fazer os pedidos. Depois de comprar os ingressos para o filme, ele se ocupa em comprar pipoca e refrigerante. 

Já na sala do cinema, enquanto esperamos a hora do filme, belisco a pipoca.

— O que você tem? — decido perguntar, depois de tanto silêncio. 

— Nada, por quê?

— Você pode não ser o tipo de pessoa que fala muito, mas não falou nada hoje. Por quê?

Thomas se ajeita no banco.

— Fiquei um pouco sem saber como agir, depois que vi... que vi você com Brandon.

Ergo uma sobrancelha. 

— Do que está falando? Estávamos vendo um filme.

— Mas você é a empregada. E estava deitada com ele. Isso deveria ser assim?

Rio.

— Com certeza, não. Mas eu e Brandon meio que criamos uma amizade... 

— Não rola nada?

Volto a erguer minha sobrancelha e ao mesmo tempo gargalho.

— Thomas, olha para Brandon. Eu não faço o tipo dele. 

— E ele faz o seu?

— Se não fosse nosso primeiro encontro, eu diria que você está com ciúme. 

— Vou ser sincero, já tive problemas como esse com Brandon e não gostaria que acontecesse de novo. Tem algo em você, que me faz querer... você.

Sorrio. 

— Brandon nunca será um problema. Não nessa questão, pelo menos. 

Thomas sorri, pela primeira vez naquela noite. O sorriso dele era tão lindo.

— Você não imagina o alivio que me dá, ao ouvir isso. 

Suas duas mãos tomam meu rosto e ele acarinha minha bochecha. Ele sorri, antes de se aproximar de mim. Nossos narizes se tocam levemente. Quase sou capaz de sentir os lábios de Thomas nos meus, quando somos atacados por pipocas. 

Ao encarar nossos "agressores", as crianças gargalham. 

— Vocês pagam ingresso para ver o filme ou se beijar? — o que aparenta ser mais velho, diz. 

Thomas se vira completamente, pronto para responder o menino, mas assim que eu seguro em sua mão, ele torna a me olhar.

— Deixe eles. Vamos assistir ao filme. 

Cruzo nossos braços e apoio minha cabeça em seu ombro. 

[...]

— Posso confessar uma coisa? — murmuro, enquanto mordo uma batata. 

— Está apaixonada por mim?

— Seu sonho. — jogo uma batata nele.

— É mesmo. 

Após o momento sem graça, confesso que nunca havia ido em um restaurante fast food.

— Não! — exclama. — Em dezoito anos, você nunca comeu aqui? Ou em qualquer outro?

— Nunca. 

— Fico feliz de estar com você na sua primeira vez. 

Thomas estica sua mão, onde eu pouso a minha. 

— Acabamos? — pergunta, terminando de beber seu refrigerante.

— Sim. Já vamos?

— Ainda há um lugar que quero te mostrar. 

Sem entender nada, pego a última batata e a mão de Thomas, para sair do lugar. 

Dentro do elevador, eu podia jurar que vi Thomas dando algo ao ascensorista, antes dele parar no que parecia o último andar daquele shopping.

— Onde estamos?

Thomas sorri, antes de empurrar uma porta. 

— No telhado. 

O tempo até que era agradável, mesmo depois de uma semana de chuva. 

— Por que estamos aqui? — pergunto, me virando para ele. 

— Bem, esse não é o tipo de coisa que eu conto a alguém, assim de cara. 

Thomas pega em minha mão e me leva até a beira do prédio. Dava para ver boa parte de Londres, dali. 

— Vê aquele condomínio? — ele aponta para o lado direito de onde estávamos. Eu mal enxergava, porém assenti. — Moro ali. 

— Oh... — eu não sabia o que responder, pois não sabia o que aquilo tinha a ver com estar no telhado. 

— Meus pais brigam desde o momento em que acordam, até o que dormem. Acho que são capazes até de brigar durante o sono. Uma vez eles tiveram uma briga tão feia, que minha mãe quebrou todos os vasos de casa. Eu não aguentava mais aquilo tudo. Não aguentava ficar trancado no meu quarto, esperando os gritos pararem. Um dia, eu vim para o shopping, afim de um pouco de silêncio, mas tudo o que eu encontrei foram crianças gritando e correndo de um lado para o outro. Já estava ficando perturbado com aquilo, quando o cara do elevador se aproximou de mim. Estava estampado na minha cara, o quanto eu precisava de silêncio. Então ele me trouxe até aqui e disse que sempre que eu precisasse de silêncio, poderia vir. É praticamente meu lugar favorito. 

— Com uma vista dessas, esse seria o lugar favorito de qualquer pessoa. 

Apoio minhas mãos no parapeito do prédio e me estico para olhar melhor. Quase perco meu equilíbrio, quando a mão de Thomas toca em minha cintura.

— E respondendo sua pergunta do porquê estamos aqui, — murmura, puxando-me para perto. — eu quis apresentar minha nova pessoa favorita, ao meu lugar favorito.

Com um sorriso de lado, Thomas encosta seu nariz no meu e respira fundo.

— Estou maluco para beijar você. — diz.

— Então beija.

Estico-me um pouco, ficando parcialmente da sua altura e deixando nossos lábios bem próximos. Thomas então aperta seu braço em minha cintura, ao mesmo tempo que gruda sua boca na minha. 

A língua de Thomas tinha o sabor do refrigerante que tínhamos acabado de beber há pouco tempo. Aquilo foi capaz de me distrair por alguns momentos, enquanto pensava que seria ótimo outro daquele. 

Até aquele momento, eu só tinha beijado uma pessoa e tinha sido Kieran. As meninas em nossas noites com papo calcinha, diziam algo sobre borboletas no estomago quando beijávamos alguém. Aquele assunto sempre me dava uma certa inveja, porque eu não sentia nada com Kieran. 

Quando a mão de Thomas tocou minha cintura, que eu reparei o que iria acontecer a seguir, esperei aquele misto de emoções que tanto falavam. E esperei, esperei... e nada. Nenhuma borboleta.

Thomas se afasta de mim, sorrindo e acarinhando uma bochecha.

— Você é tão linda. — sorrio, envergonhada. 

Sem muito assunto depois, nós acabamos indo pra casa. No caminho, eu me peguei pensativa. Seria esse negócio de borboleta no estomago, um mito? Já tinha beijado dois, e nada daquele tal formigamento. 

— Pronto. — Thomas murmura, quando para em frente à casa dos Lennox. — Está entregue. O que achou da noite?

Sorrio.

— Eu adorei. Nunca tinha tido uma noite como essa... literalmente. — nós rimos. — Obrigada.

— Ah, que isso. Foi um prazer. Há tempos que eu não me divirto como hoje. Na verdade, o que valeu foi a companhia. Podemos repetir?

— Claro..., mas eu não sei quando vou poder novamente. Fora que eu não tenho como me comunicar com você.

— Sempre que estiver afim, me mande uma mensagem do celular de Brandon. Estarei de prontidão para sair com você.

Thomas falava coisas que qualquer garota se derreteria ao ouvir. Além de lindo, ele era fofo.

— Tudo bem. Eu... vou entrar. Obrigada mais uma vez. 

Antes que eu pudesse sair do carro, Thomas me puxa pela nuca, tascando-me um beijão. Confesso que fiquei sem ar, mas nada das borboletas. Que droga.

— Boa noite. — ele sussurra, raspando os lábios nos meus.

— Boa noite.

Após um sorriso, deixo o carro de Thomas e adentro a mansão. 

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