Três

Após um sorriso de lado, vou para a cozinha. 

As duas portas da geladeira estavam abertas e aquele Brandon seminu na frente da mesma. Além de todo aquele corpo tatuado, ele tinha uma bunda tão vultosa...

— Você devia parar de me encarar. 

— Não estou. — minto, andando até ele.

— E ficar parada, olhando na minha direção, não é encarar?

— Bem... você gritou dizendo que estava com fome. O que eu tenho para pegar, está na geladeira, onde você estava parado. Consequentemente...

— Consequentemente? — Brandon ri. — Você é nerd ou algo do tipo?

Reviro os olhos e pego algumas coisas dentro da geladeira. 

— Apesar das minhas notas sempre serem as melhores de todo orfanato, nunca me chamaram assim. 

— Orfanato?

Quando volto a encarar Brandon, ele está sentado e me olhando firmemente. 

— É. Aquele lugar onde pessoas órfãs vão. — ironizo e solto uma risada, mas ele não esboça um sorriso sequer. — Desculpe. 

— O que aconteceu?

— Como assim?

— Você é órfã. O que aconteceu?

— Ahhhh, isso. — dou de ombros e começo a montar um sanduíche para ele. — São poucas as coisas que sei. Na verdade, a única coisa que me contaram, foi que fui encontrada na porta do orfanato em um cesto. Eu estava enrolada em uma manta e tinha um bilhete lá.

— O que dizia?

— Lembro exatamente. — esboço um sorriso, por mais que não esteja feliz. — Não temos condições de cuidar dela, desculpe. 

— Nenhuma assinatura?

Balanço a cabeça negativamente e empurro o prato para ele. 

— Só sei minha data de aniversário, por causa da pulseirinha de ouro que eu usava naquela noite. Jurei a mim mesma, que quando fizesse dezoito, sairia em busca da verdade. Bem... dezoito já tenho, só faltam as verdades. 

Solto uma risada, esperando que ele me acompanhe. 

Brandon apenas agarra em seu prato e sai cozinha a fora. Sem entender nada, volto para a sala e fico olhando para a escada.

— O que foi? — Úrsula pergunta. — Brandon passou feito um furacão.

— Não entendi também... acabei contando o que sei sobre minha vida, e ele saiu correndo. 

— Oh... tudo faz sentido agora.

— Continuo sem entender. — murmuro, ligando o aspirador. 

— O pai de Brandon, deixou ele e a mãe, quando ele era bem novo.

— Mas...

— Não. Mark não é o pai biológico de Brandon.

— Ahhh... — só então, toda revolta de Brandon começa a fazer sentido.

— Ele enfiou na cabeça que foi abandonado. Então quando ouve algo parecido, fica sentido.

Enquanto passo o aspirador pelo enorme tapete dos Lennox's, só consigo pensar em quão parecidos eu e Brandon somos.

[...]

— Tenho certeza que vai chover hoje. — Mark diz, olhando pela enorme janela. — Brandon ficou em casa noite passada. Isso definitivamente é indicio de chuva.

Reprimo meu riso, enquanto o garoto se afunda mais na cadeira. Aby olha para o filho e coloca a mão em sua testa.

— Sem febre. — diz, também rindo.

— Vocês são uns porres! — Brandon esbraveja, se levantando. — Se saio, reclamam, se fico em casa, reclamam também. Se decidam!

O garoto empurra o prato ao mesmo tempo que empurra a cadeira, e sai da sala de jantar.

— Eu devo... — começo a questionar, apontando para o prato de Brandon.

— Sim, Lacey, por favor.

Faço o que Aby diz, e acabo ficando pela cozinha, a fim de me livrar da pequena louça que estava ali.

Assim que termino, pego uma das revistas de fofocas que Úrsula colecionava, e me sento a bancada, folheando-a.

— Lacey! — Aby entra na cozinha, me levando a saltar da cadeira. — Ei! Calma. — ela ri. — Você pode ler a revista tranquila.

— Desculpe... posso fazer algo?

— Não, relaxe. Eu só vim avisar que eu e Mark iremos viajar. Surgiu uma reunião de emergência em outro país e eu vou acompanhá-lo. Serão apenas dois dias. Tudo bem?

— Sim?

— Está perguntando?

— Não tenho certeza. — acabo rindo e Aby faz o mesmo. — Eu só... e Brandon?

— Eu gostaria muito de dizer que ele irá ficar em casa, e se comportar, mas conheço meu filho. E não, eu não gosto de dizer isso. — Aby suspira e se senta. — Eu só queria que ele se dedicasse a faculdade, sabe? Brandon adora jogar futebol, mas se reprovar nas provas finais, terá que sair do time.

Abro a boca, louca para fazer perguntas, mas acabo decidindo por não as fazer.

— Mas enfim, — diz, se levantando. — não se preocupe com Brandon. Ele sabe se virar.

Após sorrir para mim, Aby deixa a cozinha.

[...]

Deitada na banheira, vejo a chuva incessante cair lá fora. Os raios e trovões, davam um ar mais dramático a toda aquela cena.

Depois do banho, deitada em minha cama, começo a ouvir risadas vindo lá de baixo. Sabia que uma delas pertenciam a Brandon, mas minha curiosidade me fez levantar e espiar.

— Você disse que não iria chover, Brandon! — um garoto alto e com cabelo bem cortado, diz.

— Eu imaginei que não iria chover. Errei. Isso acontece, Colin.

— Nossa noite está arruinada. Que chatice.

— Há bebidas no escritório do meu pai. — Brandon diz, mexendo no cabelo molhado. — Podemos fazer um jogo.

— Com três pessoas? — a garota diz. — Não sei se reparou, mas o pessoal quis ir pra casa.

— Estamos em quatro. Lacey irá jogar.

Antes que eu pudesse correr, Brandon está virado na minha direção e sorrindo.

— Que? Quem... — Colin se vira e segue o olhar de Brandon. — Quem é essa belezinha?

— Ér... Eu...

— Lacey. Nova empregada.

A garota com cabelo chanel caminha até perto dos meninos e me examina.

— E por que sua empregada está de pijama, no segundo andar?

— Isso não costuma ser da sua conta, Jess. Lacey, vem aqui. Jess, você sabe onde é o escritório. 

Apesar de Brandon ter chamado, eu permaneço parada. Não tinha certeza se devia descer.

— Venha! 

Minhas pernas insistiam em não me obedecer, quando comecei a descer as escadas. 

— Eu não acho que isso seja uma boa... — sussurro a Brandon. 

— Sei que foi seu aniversário esses dias, e que não teve a comemoração necessária...

— Os meus amigos do orfana...

— Esqueça isso. — diz. — Pegue alguns doces na dispensa. Vamos fazer um joguinho. 

Contestar Brandon, não faria muita diferença. Ele parecia disposto a me fazer participar daquilo, a todo custo. 

Vou até a cozinha e encho meus braços das mais variadas guloseimas. 

— Aqui. — digo, abrindo os braços e deixando todos os pacotes caírem. — O que mais?

Brandon e seus amigos já estavam sentados no chão, formando uma roda. O garoto - Colin, se meus ouvidos não estiverem me enganando - empurra a menina e abre espaço para mim, entre ele e Brandon.

Eu já havia jogado aquilo no orfanato, mas era uma coisa bem infantil. Coisas como "quem dessa roda você beijou; quem você namoraria; de quem já falou mal.". Mas olhando para o amigo de Brandon e aquele olhar malicioso que ele tinha, eu percebi que as coisas seriam bem diferentes.

Jess, a menina com cabelos curtos e vermelhos, segura a garrafa de vodca e dá um gole bem generoso, antes de pousá-la no chão. Antes que ela pudesse girar, Brandon segura sua mão.

— Lacey começa. 

— O que? Eu sempre...

— Lacey começa. — Brandon repete, olhando-a com firmeza. 

Depois que a menina larga a garrafa, ele empurra a mesma para a minha direção.

— Nosso modo de jogar é diferente. — ele diz, abrindo um pacote de batatas. — Antes de começar, cada pessoa vai falar uma parte do corpo. Você irá girar. Na pessoa que parar, você terá que beber um pouco do liquido dessa garrafa, na parte do corpo que tal pessoa falou. Entendeu?

O que?

— Sim. — respondo. 

— Boca. — Colin diz, sorrindo de lado.

Brandon ri, e logo responde:

— Barriga.

— Mão. — diz, Jess. 

Sem coragem alguma e aparentando estar com ela, eu giro a garrafa. Olho apreensiva para ela e depois para cada um que estava naquela roda. 

A garrafa vai parando aos poucos. 

Colin

Jess

Brandon

Eu

Colin...

Jess!

Nos encaramos e ela revira os olhos. 

— Que sem graça! — Colin resmunga. — Abra a mão, Jessica.

A menina faz o que ele diz, e logo tem um pouco de vodca derramado ali. 

— Beba, Lacey. — Brandon ordena. 

Olho para a mão da menina, em total reprovação. Onde será que ela teria colocado aquela mão, antes desse jogo?

Ao mesmo tempo que ela aproxima a mão de mim, eu fecho os olhos e chupo o liquido quente que estava ali. Enquanto os meninos vibram pelo meu ato, minha garganta queima. 

— Vai, Jess. Sua vez. — diz, Colin. — Peito.

— Boca. 

Os três me olham. 

— Mão?

— Essa menina é muito sem graça. — Jess reclama, já virando a garrafa.

Aos poucos ela para, e sua ponta está virada para Brandon. A menina sorri largamente, antes de sentar em seu colo. Brandon abre a boca para que ela derrube a bebida e logo em seguida eles estão se engolindo... literalmente.

A exposição era tão grande, que eu desviei meu olhar e fiquei encarando o chão.

— Chega vocês dois, ughhh! Roda logo, Brandon.

Quando volto a encarar a roda, a garota me encarava com um sorriso de lado. 

— Minha vez. — Brandon fala, já com a mão na garrafa. 

— Boca. 

— Mamilo. — Colin diz, gargalhando em seguida. 

Os três me olham.

— Ér... 

— Escolhe boca. — diz, Brandon.

— Que? — eu e Jess falamos ao mesmo tempo.

Brandon torna a repetir sua última frase.

— Escolhe boca.

— Ok... boca. 

— Brandon!

O garoto ignora os gritos da menina a quem havia acabado de beijar e gira a garrafa. Antes que ela pudesse parar por conta própria, Brandon agarra na mesma e a faz parar virada para mim.

— Mas o que...

Brandon ergue o dedo para Jessica, fazendo com que ela se cale imediatamente. 

— Vou derramar bebida na minha boca e irei dar pra você. Ok? — ele falava tão sereno e não tirava os olhos dos meus. — Responda, Lacey.

— Ok. 

Apenas observo, quando ele tomba a cabeça e derrama um pouco daquele liquido quente em sua boca. 

— Fecha os olhos. — Colin diz. 

— Isso faz parte do...

— Fecha logo, menina. Ou quer que Brandon engasgue?

Faço o que Colin diz, mas em minha cabeça ficava o questionamento: por que Brandon quer me beijar?

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