Dois

Depois de muito chorar de alegria e alívio, agradeci Aby de joelhos. Havia escutado tantos nãos em lugares que pareciam combinar comigo, e no único lugar onde eu não me encaixo, recebo um caloroso sim. Eu nem me importei, com a dor que seguiu aquele ato.

— Lacey, terei que colocar você em um dos nossos quartos de hóspedes. O de empregadas, não está... Habitável.

— Por quê? — questiono, sem saber o porquê fiz aquilo.

— Nossa última empregada morreu lá. Então vou m****r fazer uma reforma geral e espiritual.

— Tudo bem...

Antes de subirmos, ela pede que a cozinheira, Ursula, pegue o kit de primeiros socorros, que ela mesma iria fazer um curativo em meu joelho ralado.

— Ai... — resmungo, quando ela joga um liquido em cima da ferida.

— Desculpe, querida, mas essa dor é importante. Esse remédio fará com que a dor suma em poucas horas.

— Obrigada.

— Não foi nada. — ela diz, sorridente. — Faz tempo que não pratico essas coisas.

— A senhora é médica?

— Oh não... — nós caminhamos para o segundo andar. — Antes de me casar, eu praticava enfermagem. Mas Mark é contra trabalhos, e por amor, não construí uma carreira.

— E o que fez, desde então?

Ela me olha e sorri.

— Fui mãe. — ela para diante de uma porta. A última do extenso corredor. — Esse será seu quarto.

Quando Aby abre a porta, meu queixo vai parar no chão. O quarto além de imenso era completamente lindo. Havia uma cama king, com roupas de cama que pareciam super confortáveis, uma TV maior ainda, uma penteadeira, e assim como no orfanato, havia um sofá na janela. Dava para ver todo o jardim.

— Aby... esse quarto... eu não posso...

— Eu jamais deixaria você dormir onde uma pessoa morreu. Venha, vou te mostrar o closet.

Eu ainda admirava o quarto, quando Aby abre uma porta dupla, mostrando um imenso cômodo. Tinham diversas portas, gavetas e espelhos.

— Oh meu Deus... — murmuro, olhando todo aquele luxo. — Aby, eu mal vou usar uma gaveta. Isso aqui é enorme.

— E lindo, não é? — assinto, enquanto ela caminha para perto da bancada. — É o menor dos closets.

— O menor?

— Sim. — ela ri. — Venha ver o banheiro.

Vamos até o final do closet e atravessamos uma porta. Se eu achava o closet puro luxo, quando vi o banheiro, percebi que estava completamente errada. A banheira parecia quase uma piscina de tão grande. Desde o quarto, tudo era branco com lavanda, deixando o ambiente bem tranquilo.

— Que vista! — comento, maravilhada com aquela imagem a minha frente. — A senhora tem certeza que posso ficar nesse quarto?

— Absoluta certeza!

— Obrigada. Por tudo isso.

— Não precisa me agradecer. Agora vamos, pois irei te mostrar o que preciso que faça.

No banheiro havia duas portas. Uma que dava para o closet e outra para o quarto. Estávamos no corredor, quando escutamos uma gritaria vindo lá de baixo.

— JÁ CANSEI DE REPETIR, PARA NÃO CORRER COM O CARRO!

— EU NEM ESTAVA CORRENDO.

— VOCÊ ATROPEBRAN UMA PESSOA, BRANDON! — o homem mais velho grita.

Eu estava parada no topo da escada, observando aquela discussão. O tal Brandon, estava de costas para mim. Ele tinha uma bundinha maravilhosa de ser olhar.

— Ele o quê? — Aby desce as escadas, ao ouvir o que o homem disse.

— Ah, ótimo. — o garoto resmunga, ainda sem se virar.

— Ele estava correndo de novo, Abigail! Eu não falei que não era para deixá-lo dirigir?

— A chave estava escondida, Mark. Eu nem sabia que ele tinha saído. E que história é essa de atropelamento?

— É exagero dele. A menina se jogou na calçada. — olho para o meu joelho. — E foi aqui dentro. Então deve estar bem.

Aby olha para mim e faz um movimento para que eu desça.

— Essa é a Lacey. — ele se vira, e eu quase caio da escada. — A menina que você atropelou.

Brandon era bonito. Lindo, na verdade. Seu cabelo estava jogado para o alto e para o lado, ao mesmo tempo. Sua barba estava por fazer, lhe dando um ar mais velho. E seus olhos... era possível confundir o mar, com aqueles olhos azuis. 

Ele me olhou de cima a baixo, antes de responder.

— E o que ela faz aqui? Veio fazer queixa?

— Não. Ela mal falou sobre o quase atropelamento.

— Essa não é a questão! — o homem fala. — Você precisa de limites, Brandon. Precisa respeitar nossas ordens! Você tem que focar na faculdade, ou vai bombar mais um ano. Estou cansado de ter que usar meu dinheiro, para você continuar lá.

— Faz isso porque quer!

— Faço isso, porque quero que meu filho seja alguém na vida. Não quero que se apegue mais ainda ao meu dinheiro. Faça o seu!

O garoto cruza os braços, e não responde o pai.

— Bem... — Mark suspira. — continua de castigo. Vou colocar seguranças em todas as saídas. Você está proibido de sair de casa.

— O QUE?

— Para de gritar! Eu sou seu pai e a partir de hoje, você vai respeitar minhas decisões.

— VOCÊ NÃO É MEU PAI!

É o que ele grita, antes de correr escada acima.

— Esse menino está cada vez mais descontrolado! — Mark reclama, olhando para Aby. Logo ele me encara e pousa o olhar em meu joelho. — Você está bem? Ou foi ferida em outro lugar?

— Ela está bem, querido. Aliás, é nossa nova empregada.

— Sério? Como arrumou tão rápido?

— Tenho meus segredinhos. — Aby diz, e pisca para mim. — Mark querido, vá se preparar para jantar.

— Tudo bem. Você não vem?

— Vou mostrar mais algumas coisas à Lacey e já subo.

Ela e o marido trocam um beijo rápido e ele sobe.

— Onde iremos agora? — pergunto.

— Você, vai até a cozinha e ajude Úrsula no jantar. Eu vou subir e conversar com meu filho.

Após agradecê-la mais uma vez, vou até a cozinha e me junto a Úrsula. 

— Seja bem vinda, menina. — diz. — Lacey, não é?

— Sim, senhora. No que posso ajudar?

— Pode me chamar de Úrsula, e pode me ajudar, cortando aqueles tomates bem ali. — ela aponta para a bancada. 

Após ajudar Úrsula com a preparação do jantar e a arrumação da mesa, ela coloca um pouco daquilo que cozinhamos para mim, junto de um copo com suco de melão, em cima da bancada.

— Coma, menina. — diz. 

— Não há mais nada que...

— Não. Eu assumo daqui. Coma. 

Acato a pequena ordem dela sem pensar duas vezes. Estava faminta. 

[...]

Seria minha primeira noite dormindo sozinha, desde que me conheço por gente. Eu não podia estar mais apavorada. Ainda mais com um quarto daquele tamanho. 

Estava prestes a pegar no sono, quando um barulho vindo lá de fora, me desperta. Na indecisão de permanecer deitada ou ir espiar, me vejo abrir a porta cuidadosamente. 

No corredor tinham algumas mesas para enfeite. Uma ou outra tinha vasos com lindas flores, mas aquela em especial, havia um porta-retrato, que agora se encontrava nas mãos de Brandon. 

Brandon era tão bonito, que eu seria capaz de ficar horas apenas o observando. 

— Quer que eu limpe? 

Eu já estava no meio do corredor, intercalando meu olhar entre Brandon e aqueles vidros no chão. 

O garoto se vira de repente, ficando mais branco que um papel. Ele olha para trás rapidamente, antes de caminhar furiosamente na minha direção.

— Que merda você pensa que está fazendo nesse andar? — murmura.

— Me-meu quarto... é... — tento avisar sobre o outro quarto estar inabitável, mas Brandon é grosso. 

— Não me importa! Eu vou sair, e se minha mãe souber, você quem sofre. Estamos entendidos? — não respondo. — E conserte isso.

Brandon empurra o porta-retrato em minhas mãos, onde acabo me cortando com um pedaço de vidro solto. 

Sem ligar para o meu gemido de dor, Brandon desce as escadas e sai porta afora. 

[...]

Desço as enormes escadas da mansão, terminando de arrumar meu cabelo em um rabo de cavalo alto.

Assim que me aproximo da sala de jantar, posso ouvir a grossa e dura voz do dono da casa.

— Você é muito mole com ele, Aby! Ele fugiu. Como sempre fez.

— Eu estava dormindo, Mark! Como saberia?

— Foi você quem me convenceu a não contratar os seguranças ontem ainda.

— É feio espiar a conversa alheia.

Praticamente dou um salto, diante da voz de Brandon.

Aquele Brandon ali, não tinha nada a ver com o cara bonito que havia fugido de casa na noite passada. Suas roupas estavam amassadas, os olhos vermelhos e fundos. Sem falar que sua aparência, denunciava a quantidade de álcool que ele havia ingerido.

— Eu não estava...

— Estava. — diz, subindo as escadas. — Não negue.

— Estão falando de você.

— Eles estão sempre falando de mim. Já estou acostumado.

— A se ferrar também? — quando dou por mim, as palavras já escaparam.

Brandon para no meio da escada e me encara.

— Vou relevar porque sei que você acabou de começar aqui, então ainda não sabe quem dá as ordens. Boa noite.

Sem saber o que responder, apenas observo aquele Brandon desajeitado terminar de subir as escadas e logo sumir no corredor.

— Lacey! — viro-me rapidamente. — O que faz aí parada? — ela olha para a escada e sussurra: — Brandon chegou?

— Sim... subiu.

Aby suspira.

— Toda essa situação com Mark e Brandon, me deixa estressada. — comenta, massageando as têmporas. — Aliás... notei que está faltando um porta retrato em uma das mesinhas do corredor.

— Oh... sim. Eu... eu esbarrei de madrugada e acabou quebrando o vidro. Limpei tudo, e deixei o porta-retrato no meu quarto. A ideia era consertar antes que alguém notasse. Me desculpe.

Ela ri, conforme falo.

— Não estou brigando com você, Lacey. Apenas notei a falta e queria saber o que tinha acontecido. 

Sorrio, sem saber o que dizer.

— Vá tomar seu café e depois ajude Úrsula com a limpeza da casa. 

— Tudo bem. 

Aby sorri para mim e brinca com meu cabelo, antes de subir as escadas.

[...]

— Me pergunto como a senhora consegue dar conta de toda essa casa. — comento, passando o aspirador pelo enorme tapete da sala. 

Úrsula ri. 

— Não dou. A outra empregada era minha fiel escudeira em relação a isso. Que Deus a tenha. 

— Sinto muito.

— Ahhh não sinta. — ela solta uma risadinha. — Aquela mulher era bem velha... e chata. — ela sussurra a última frase. — Só não deixe a senhora saber que falei isso. Era a babá dela. Acabou sendo a de Brandon também.

— Oh... 

Estava prestes a perguntar sobre Brandon, quando o mesmo desce as escadas. 

Sabe aquelas cenas de filmes, quando o galã aparece e tudo fica em câmera lenta? Foi exatamente o que aconteceu, quando Brandon desceu usando apenas uma cueca preta. 

Eu não sabia o que era sexo na prática. Muito menos a sensação que o ato causava. Mas ao olhar Brandon seminu, com aquele corpo todo tatuado, descer as escadas, cada pelo do meu corpo se eriçou. Ele era... sexy. 

— Se você babar no carpete, vai precisar lavar. — ele murmura, passando por mim. 

Só depois daquele comentário, eu reparo que tinha parado meus afazeres para admira-lo descendo as escadas. Balanço minha cabeça negativamente, me repreendendo mentalmente pelo último ato. 

Atrás de mim, Úrsula ria. 

— O que foi? — pergunto, voltando a passar o aspirador no tapete. 

— Esse jeito de Brandon... é engraçado.

— É grosseiro. — digo, sem pensar duas vezes. — Ele é...

— Um menino mimado e rebelde. Acontece nas melhores famílias. 

— ÚRSULAAAAAA!? ESTOU COM FOME.

A mulher suspira e coloca a mão na cabeça.

— Deixa. — falo, desligando o aspirador. — Eu vou.

— Tem certeza?

Não.

— Sim. 

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