Capítulo 6

Maria Eduarda

Depois que minha irmã sai para ir ao trabalho, eu fico em casa pensando no que ela disse. Ligo para o meu cunhado.

— Oi, Duda, como está?

— Bem, Lucas, graças a Deus! Está ocupado?

— Para minha cunhadinha, nunca! Em que posso ajudar?

— Lucas, estava pensando no que a minha irmã falou.

— O que ela disse?

— Que eu tenho que sair de casa e me divertir, e também falou que já passou da hora de eu procurar ajuda.

— Duda, a sua irmã está certíssima, eu mesmo já tinha comentado com ela sobre isso. E então, você está disposta a se ajudar?

Eu penso, e sim, está na hora de me curar, mesmo que poderia demorar um pouco, mas eu logo ficaria bem.

— Alô, Duda?

— Desculpa, e, respondendo à sua pergunta, sim, estou querendo me curar.

— Maravilha, eu posso te indicar uma psicóloga.

— Eu agradeço!

— Depois te ligo — nos despedimos.

Volto para a cozinha e guardo o que restou do café, limpando tudo.

Assim que termino, subo para o quarto e tomo um banho rápido. Saio correndo, para não chegar atrasada ao meu curso.

Eu não poderia saber se foi intuição ou prevenção, mas sinto alguém se sentando ao meu lado, e nem preciso me virar para ver que é o idiota do Pedro.

— Ora, ora, se não é a esquisita!

E ali fiquei, tranquila, ou melhor, tentando ficar tranquila com uma peste bem do meu lado. Não estava dando certo mesmo. O babaca andava me perturbando muito com brincadeiras idiotas e decidiu ficar no meu pé.

— Pedro, me deixa em paz! — peço, já perdendo a paciência.

— Sabe, quanto mais você me despreza, mais fico gamado em você! — ele diz, e sinto ânsia de vômito.

— Você é nojento — comento, com desprezo.

— Qualquer hora vou te ensinar uma bela lição! — ele fala, em tom de ameaça, e gelo na hora, tenho certeza de que fiquei pálida. Pego as minhas coisas e, sem olhar para ele, acabo me mudando de mesa. Quando acho que vou ficar tranquila, a praga volta a me atormentar.

— O que você quer, Pedro?

— Você ainda não entendeu, né? — ele provoca.

— Não, e nem quero — me levanto e saio de perto dele, ouvindo-o rir. Quando acho que a praga vai vir para o meu lado novamente, o professor chega, e sinto um alívio muito grande.

— Você está bem, Maria Eduarda? — o professor pergunta, ao me ver quieta.

— Hã… Estou, professor! — respondo, com voz trêmula, e o professor começa a passar a matéria. Fico ali, ainda em transe.

As horas vão passando. Hoje com certeza não prestei atenção a nada que foi passado, e não posso ficar desse jeito.

O professor dispensa todo mundo e me chama:

— Algum problema, Maria Eduarda? Você é uma das alunas mais aplicadas no curso de Administração, e hoje você não estava tão presente como é nas outras aulas. Tem certeza de que está bem?

O que eu devo dizer? “Olha, professor, fui violentada há dois anos, e o babaca do seu aluno fez insinuações sexuais dando a entender que quer me foder”? Não posso falar uma coisa dessas, porque por incrível que pareça é a minha palavra contra a dele.

— Nenhum, professor. Posso ir?

— Sim, está dispensada.

Agradeço e saio correndo, com a sensação de que estou sendo seguida, mas olho para trás e não vejo ninguém. Pode ser impressão minha.

Volto para casa o mais rápido possível. Quando chego, tranco tudo e subo correndo as escadas. Vou para o meu quarto e o tranco também. Pode até ser mesmo paranoia, mas não quero pagar para ver.

Sento no chão do quarto e começo a chorar, e muito. Eu não posso passar por aquilo novamente. Quando decido que eu poderia finalmente tentar esquecer, o babaca do Pedro resolveu deixar as manguinhas de fora.

Desde que comecei o curso, sempre evitei qualquer contato com os colegas. Se eles chegam muito perto, sem querer acabo travando e fico morrendo de medo.

— Minha Nossa Senhora, me ajude a superar esse pesadelo — peço, olhando para a imagem que a nossa mãe colocou no meu quarto. — Eu não quero mais sofrer, preciso esquecer — e desabo a chorar novamente. E ali fico durante algum tempo, depois seco as lágrimas ao lembrar que estava sem comer nada e desço para preparar algo. Assim que termino, limpo tudo e volto para o meu quarto, onde me tranco novamente. O meu celular toca, e a única pessoa que me liga é a Vanessa.

— Oi, Vane! — cumprimento-a.

— Aqui não é a Vane — diz uma voz abafada, e começo a tremer como vara curta.

— Quem é você? — pergunto, trêmula.

— Ah, sou a pessoa que vai infernizar a sua vida, vadia! — ele desliga. Bloqueio o número e volto a chorar, imaginando que deveria ser aquela peste. Como ele conseguiu meu número?

Meu Deus, mais uma vez não! Corro para o banheiro e jogo toda a comida que tinha comido no vaso. E fico ali um bom tempo. Quando acho que não vai sair mais nada, pego a minha escova e escovo os dentes para tirar o gosto amargo do vômito.

Assim que termino, ligo o chuveiro e entro, deixando a água quente cair em meu corpo. Lavo-me querendo tirar a sujeira que estava não no meu corpo, mas na alma.

Não querendo deixar a minha irmã preocupada, saio correndo do banheiro, me troco rápido, pego a bolsa e saio correndo. Logo vejo um táxi, entro nele e passo o endereço.

Não demoro a chegar. Quando o faço, pago o motorista, agradeço e entro no prédio. Aviso na recepção que vim encontrar com a minha irmã, e não deu cinco minutos já estava frente a frente com ela. Abraço-a, e estamos brincando quando ela fala, sobre o meu ombro:

— Leon, venha conhecer a minha irmã! — dou-lhe um olhar de advertência, e quando me viro dou de cara com o homem mais perfeito que eu já vi na minha vida.

Ele parecia o deus Adônis, o deus da beleza, e uma coisa eu posso dizer: nunca fiquei tão excitada e ao mesmo tempo confusa por causa de um homem. A minha calcinha tinha acabado de inundar só de ver aquele deus ali na minha frente.

O andar dele era de predador, e fez-me andar para trás. Não sei o que está se passando comigo, mas uma coisa eu posso dizer de olhos fechados: ele nunca me faria mal. O seu olhar tinha o poder de me levar direto para os seus braços, e fico chocada com esses pensamentos.

E ali ficamos, nos olhando durante um bom tempo, era como se estivéssemos presos em uma bolha só nossa, e eu não queria sair dela.

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