Capítulo 4

Dia seguinte chegou, um vento frio e uma massa de nuvens cinzentas e pesadas era a paisagem daquela manhã. Não choveu, porém, Priyanka enrolou um xale bem apertado nos ombros, colocou sobre o cabelo ralo de Neville uma touca e partiu em direção ao centro da pequena cidade.

A cidade estava situada a cerca de alguns quilômetros da porta da cabana em que Priyanka fazia de lar, a maioria dos edifícios se espalhando nas paredes do castelo de Berany, um forte decadente que passou os últimos dois séculos curvado à vontade do vento e das ondas que batiam contra ele.

O castelo ficava cada vez maior a cada passo ao longo da estrada esburacada e lamacenta, suas paredes desmoronando contra o céu cinza e gélido. Priyanka colocou uma das mãos no chapéu enquanto olhava para ele, seus olhos penetrantes procurando várias formas e sombras nas ruínas, todas elas se transformando em personagens da história que ela contou a Neville quando ele pulou alegremente em seu quadril.

Ela precisava de alguns tecidos e linhas para terminar os reparos nas cortinas e roupa de cama. Seu prazo estava acabando e muito provavelmente Lady Nanachi bateria em sua porta a qualquer momento para levá-la, se não amarrada, para sua mansão. Sorriu só de imaginar. Aquela caminhada matinal também serviria para recuperar um pouco da energia que havia se esvaecido dela desde seu encontro com o marquês Davoglio. Ela mal tinha dormido, teve uma leve febre e seu travesseiro recebeu inúmeras pancadas e batidas de seus punhos, como se o enchimento fosse a única causa de sua insônia e corpo febril.

Tudo sobre a visita do marquês Davoglio a encheu de ira. Sua chegada inesperada em sua porta, seu conhecimento e suposição de muito da situação de sua família, seus insultos contra a ilegitimidade de Neville e, em seguida, a postura de auto engrandecimento que assumiu ao fazer sua oferta, como se ela devesse agradecer de joelhos por sua caridade.

Típico da alta nobreza. Simplesmente ditavam suas regras e ordenavam que outros obedecessem sem questionamentos e com absoluta submissão. Era o que ela mais odiava. Quando seu pai faleceu, nenhum dos contatos e “amigos” nobres de seu pai ajudou sua família que com o tempo, foi a falência. Todos eles abandonaram quando o prestígio e o dinheiro se dissipou. Sua mãe, fez o impossível para mantê-las seguras, não a ela realmente, mas a Adele. Quando Gustaaf decidiu pedir a mãe de Priyanka em casamento, ela sentiu que as coisas ficariam melhores, mas no fim, para ela pelo menos, nada deu certo.

E então, Neville está aqui, em seus braços. Nascido de dois pais irresponsáveis sem nem ao menos conhecer sobre as circunstâncias em que sua vida futura tomaria. E onde estava o desgraçado do pai de Neville? Ela ou Adele não tinham ouvido uma palavra dele, como se ele fosse incapaz de manter interações humanas normais. Talvez ele não fosse. Se era do tipo que ficava tropeçando com as moças da classe de Adele - que aparentemente poderiam ser casadas ou não - sem qualquer oferta de proteção ou casamento, seguia-se que não seria o tipo de checar suas conquistas depois que ajustasse as calças e voltasse para sua vida acomodada.

E assim veio seu irmão, pronto para limpar a bagunça feita por seu irmão. Seus pensamentos pararam de repente. Quantas vezes o marquês teve que fazer isso? Quantas outras mulheres foram seduzidas e depois abandonadas? Por tudo que sabia, o pequeno Neville poderia ter um bando de meios-irmãos espalhados por todo o país. Ela não tinha ideia de quão feraz esse jovem senhor era, e quanto mais ela considerava isso, mais que não queria saber.

Uma ligeira curva na estrada trouxe Priyanka para a parte principal de Berany, suas fileiras organizadas de casas baixas e desregular. Colocando Neville contra seu ombro enquanto uma forte rajada de vento soprava dentre duas casas, Priyanka entrou em uma das lojas, Teáceo, para uma breve trégua do frio.

Uma campainha tocou na porta, alertando os proprietários sobre a entrada de um possível cliente. A Sra. Ricci foi a primeira a aparecer, a mulher deslizando para fora da sala dos fundos em uma confusão de rendas engomadas e babados, seu chapéu tão pesado com fitas que seu pescoço parecia prestes a desmoronar sob o peso dele.

O Teáceo, com suas prateleiras escuras e cheias de chás, café, especiarias, rendas e fitas, peças de tecido, padrões, livros (nada de romances, como a Sra. Ricci desaprovava tal absurdo) e várias outras bugigangas que poderia facilmente distrair uma pessoa de seu propósito original ao entrar no estabelecimento. Priyanka aproveitaria e compraria o que precisava para finalizar seus trabalhos ainda aquela semana.

Havia um sorriso no rosto da Sra. Ricci quando ela entrou na sala, mas assim que seus olhos pousaram em Priyanka, seu sorriso sumiu e seus lábios já finos quase não existiam.

— Posso ajudar?

— Um pedaço de tecido e linhas, posso vê-los, por favor. — Tentou ser o mais gentil possível e ganhar tempo, pois precisava de uma desculpa para ficar um pouco mais na loja até tirar o frio dos ossos.

Claro, a Sra. Ricci lhe olhou com extremo desagrado, trazia os tecidos e linhas com relutância percebida. Priyanka mudou Neville para o outro quadril e deu um aperto em suas mãos enluvadas para se certificar de que não se incomodassem com o friozinho no ar. Sem dizer uma palavra, a Sra. Ricci largou os pedidos no balcão e esperou Priyanka decidir o que levaria. Ela queria permanecer mais um pouco, mas sabia que nada de bom viria em postergar sua decisão, e ainda seria pior caso não levasse nada, mesmo agora, ela vendo que os produtos mostrados pela Sra. Ricci foram de qualidade inferior ao que ela necessitava. Então escolheu alguns, poderia usá-los como pano de prato se bordasse e costurasse alguns enfeites neles.

Priyanka suspirou em desalento, quando a Sra. Ricci mencionou um preço que ela sabia ser mais alto do que o oferecido a outros clientes.

Havia várias pessoas em toda a cidade que insistiam em tratá-la como uma pária, não importando que tivesse chegado à cidade enlutada de verdade e encarregada de cuidar de seu filho. Conhecia as fofocas que começaram a circular não muito depois de sua chegada, fofocas que aumentaram dez vezes depois que Adele foi embora a largando sem qualquer palavra. As histórias diziam que Priyanka nunca havia se casado ou que fora amante de algum nobre que a havia deixado depois que seu marido morreu e ela se viu com o filho do homem, por isso sua irmã a abandonou.

Após pegar os tecidos e linhas caríssimo e enfiá-lo na sacola pendurada em seu braço, saiu da loja preparada para ser atingida no rosto por outro forte vento vindo da costa. Ficou receosa de acabar resfriada por conta desse mau tempo, isso dificultaria seus planos de mudança. O som dos vários tipos de tráfego - tanto de rodas quanto de pedestres - soando especialmente alto, assustaram um pouco Neville que se remexeu inquieto em seu quadril.

Só depois que o telhado do vicariato apareceu é que a primeira gota de chuva caiu em sua testa. Ela estava prestes a voltar para casa quando o barulho das rodas de uma carruagem surgiu ao lado dela, o arreio dos cavalos tilintando quando o cocheiro ordenou que parassem.

— Garota boba! — A voz esganiçada quando a janela caiu e uma velha cabeça apareceu para fora do pequeno espaço retangular com sua enorme chapelaria. — O que você está fazendo, levando uma criança para sair com um tempo tão terrível?

— Lady Nanachi — Respondeu Priyanka com uma reverência. — Eu estava voltando para minha casa.

— Absurdo! — As penas do chapéu da velha estremeceram acompanhados pelo seu horror fingido. — Você vai trazer este bebê para esta carruagem imediatamente, e então eu o levarei a minha residência e de lá, dessa vez e em definitivo, ele não sairá sem minha companhia.

Priyanka sabia que não devia discutir, por isso permitiu que a porta da carruagem se abrisse e inclusive permitiu que Lady Nanachi colocasse um cobertor sobre suas pernas antes que partissem.

— Agora, me dê essa criança! — Lady Nanachi estendeu os dois braços magros, os dedos enfeitados com joias brilhando mesmo na penumbra na carruagem.

Priyanka obedeceu e passou Neville para a senhora risonha a sua frente, que o pegou ansiosa antes de dar um beijo forte no nariz do menino.

— Que tesouro. — Priyanka ouviu seu comentário baixinho. — Uma coisa tão pesada. — disse agora em um volume muito mais alto. — Eu não acredito que ele cresceu desde… Oh! Quando eu o vi pela última vez?

— Era sexta-feira. — Priyanka recostou-se no estofado, sentindo um orgulho silencioso pela óbvia boa saúde e apetite do menino.

— Hum, sexta? — Contou nos dedos. — Muito tempo. — murmurou. — E precisei quase atropelar vocês dois, para ter o prazer de sua companhia. Quando que você irá definitivamente ser minha acompanhante? — Deu outro beijo na cabeça da criança.

— Ainda estou no prazo. — protestou Priyanka.

— Pediu um prazo, e estou aguardando. — retrucou. — O que diabos você tanto faz naquela maldita cabana?

— Cuidando de Neville, reparando algumas coisas da casa, cozinhando. E ainda tem as entregas com os bordados.

— Ah, seus lindos bordados! — Tirou um lenço e o ostentou vaidosa pelo belíssimo trabalho de Priyanka.

Priyanka deve muito a Lady Nanachi. Ela quem primeiro reconheceu seu trabalho de costura enfatizado pelos seus magníficos bordados. Se não fosse por ela, não sabia o que poderia acontecer quando acabasse a pequena quantia que reservou, afinal, precisava achar um meio de renda ainda que fosse um pouco difícil visto como parte da cidade a trata.

— De todo modo, só esqueça aquela cabana e ponto. Ou desistiu de ser minha dama de companhia? — Lady Nanachi perguntou indignada fazendo uma careta que fez Neville gritar de alegria.

— Oh! Não, claro que não! Falando no assunto, pedi para Suzette me ajudar, espero que não seja problema. A menina estava quase ao choro em saber que irei me mudar para sua casa.

— Hum, sem problemas. Se isso fizer você se aprontar mais rápido. Se bem que não sei o que exatamente você precisa aprontar.

Priyanka olhou pela janela quando os portões do portão de entrada da residência Nanachi surgiram.

— Ainda não estou segura quanto a adaptação de Neville em outro local, e quero deixar a cabana habitável pelo menos.

— Ah! — gemeu terrivelmente — Tenho toda a certeza que você está querendo definhar naquela casa, querendo punindo a si mesma e a esta criança por algo que nem é culpado.

Ao passarem pelos portões e iniciarem o longo caminho que levava à entrada principal da casa de Lady Nanachi, Priyanka deixou seu olhar pousar na senhora idosa enquanto ela adorava Neville. Sua família conhecia Lady Nanachi há anos, seu avô materno a conheceu na Capital, no início de seus negócios. Lady Nanachi dizia ter bons olhos para os negócios e assim, tornou-se um dos patrocinadores da família. Foi por causa dela que teve uma segunda chance de uma vida não contaminada pelo escândalo. E é também por causa dela que não odeia completamente as pessoas da alta nobreza.

— Eu não tenho que me punir. A maioria da cidade parece mais do que capaz de fazer isso por mim.

Lady Nanachi iria comentar algo, porém, passou a tossir descompassadamente. Tapou a boca com o lenço e rapidamente entregou Neville a Priyanka que a olhava preocupada. Parou um instante olhando para o próprio lenço e o ameaçou em suas mãos o escondendo de suas vistas.

— As pessoas desta cidade são muito idiotas. — Começou depois que se recompôs. — Eles evitam as pessoas por causa das coisas mais idiotas. Você se lembra da garota Lamier? Aquela que eles alegaram ter criado um escândalo porque ela não tinha a quantidade adequada de renda em seu vestido? — comentou enquanto o cocheiro abria a porta da carruagem e baixava o degrau. 

Priyanka tomou Neville esperou a senhora descer da carruagem. Lady Nanachi, com toda a sua vitalidade e fanfarronice, não se mantinha firme em pé, por isso foi preciso a ajuda do cocheiro com a bengala para ajudá-la a chegar à porta de sua casa.

— E aquele vigário! — A mulher entrou na casa, quase derrubando o mordomo com a ponta da bengala. Priyanka acenou com a cabeça para o homem igualmente idoso, que voltou sua atenção com um sorriso genuíno para ela e para o bebê. — Qual é o nome dele? Dauri?

— Dung — Corrigiu Priyanka, e seguiu Lady Nanachi até a sala depois que uma das empregadas apareceu para despojá-la de seu chapéu e xale.

— É mais parecido com um tolo. — Lady Nanachi foi mancando até o sofá, uma grande e luxuosa coisa estofada em veludo verde-escuro. — Eu nunca vi um hipócrita tão hipócrita, não em todos os meus anos. E uma criatura tão viscosa também. Ora, eu não posso contar às vezes que ele ficou nesta mesma sala, passando com seus olhos avarentos em torno da minha mobília e bugigangas, como se ele fosse guardá-los nos bolsos no momento em que minhas costas fossem viradas. Puxe a campainha, sim?

Priyanka puxou com força a campainha e se acomodou no chão com Neville, para melhor mantê-lo ao alcance do braço e longe de todas as belas bugigangas de Lady Nanachi.

— É por isso que não convido ele ou aquela esposa viscosa dele para jantar aqui. Não posso confiar que ainda terei toda a minha prata intacta até o final da noite. — Priyanka riu.

— Eles não devem ser tão ruins assim. — duvidou.

— Claro que são! No entanto, o filho deles não é tão ruim principalmente por conta da maneira como ele olha para você. — Lady Nanachi insinuou.

— O que a senhora quer dizer? — Priyanka ergueu os olhos bruscamente.

— Oh! Não se faça de bobinha! — bateu com a bengala no chão com força. — Acredite em mim quando digo que aquele jovem está de olho em você desde o momento em que entra na igreja até o segundo em que você sai. Se não fosse pelos pais dele ou pelo fato de que você deveria estar sofrendo com a morte de um marido, eu diria que ele já teria manifestado seus sentimentos.

Priyanka balançou a cabeça e soltou os dedos de Neville da borda de uma toalha de mesa de renda que ele parecia ter a intenção de puxar para baixo em sua cabeça.

— Está enganada. — disse tentando distrair a criança com uma pequena almofada com borlas. — Ele quase não falou comigo uma vez desde que chegamos aqui.

— Porque seus pais provavelmente não permitirão que ele se aproxime de você — disse apontando a ponta de sua bengala na direção de Priyanka. — Se eu posso ver como o garoto deles fica com os olhos arregalados quando está a vinte passos de você, então o mesmo acontece com todos os outros. E não tenho dúvidas de que eles já deram um sermão contra ele perseguir alguém como você.

— Alguém como eu?

— Pobre, sem conexões e muito teimosa para o gosto deles. Se há algo que um saco de ar pomposo como nosso querido reverendo Dung detesta mais do que qualquer outra coisa, é alguém que ousaria abrir a boca e dizer uma palavra contra ele. E essa é você da cabeça aos pés, minha querida.

A boca de Priyanka abriu e fechou várias vezes antes que ela pudesse pronunciar uma palavra em resposta.

— Você me faz parecer horrível, como a mais beligerante das megeras.

Lady Nanachi negou com a cabeça.

— Você está incorreta. Essa coroa em particular pertence a ninguém menos que a mim mesma, e vou destruir qualquer um que tentar roubar esse título de mim. — Priyanka riu forte.

Lady Nanachi se abaixou enquanto Neville rastejava até ela, seu pulso girando bruscamente de um lado para o outro enquanto ela balançava a pulseira diante das mãos do bebê.

— Claro, o fato de eu possuir um título com esta propriedade, que se tornou refúgio para uma quantidade bastante grande de ratos e morcegos, eu temo, permite que um bom número de habitantes da cidade perdoe uma parte maior das minhas excentricidades. — Ela se endireitou de novo, embora a pulseira já tivesse sumido de seu pulso, as pérolas brilhantes presas entre a boca e os dedos rechonchudos de Neville. — Infelizmente, o mesmo título insignificante e esta pilha de pedra não é suficiente para emprestar a minha conexão a você. — Seu rosto tomou um tom tão sombrio que Priyanka ficou comovida.

Priyanka tirou a pulseira de Neville com um movimento hábil de sua mão. Tirou a joia de vista e conseguiu prender sua atenção com o tilintar de um pequeno sino de prata antes que seu lábio pudesse tremer com a perda da bugiganga de contas.

— Uma coisa surpreendente, o poder que um pedaço de moeda pode exercer sobre as transgressões de alguém.

— Ou como os outros os percebem — Lady Nanachi apressou-se em acrescentar.

A chegada da empregada foi o suficiente para direcionar a conversa para assuntos mais leves, e quando as coisas do chá foram trazidas, Lady Nanachi se divertiu com a tarefa de alimentar Neville com pedaços de bolo.

— A senhora vai estragá-lo por todas essas comidas. — Advertiu Priyanka, embora houvesse um sorriso em seu rosto.

— Que ele seja mimado. — A velha cantou. 

Priyanka se enfiou em seu próprio prato de iguarias, um que foi rapidamente seguido por um segundo quando Lady Nanachi ameaçou que as sobras fossem embaladas e entregues em sua porta se ela se recusasse a comer até se fartar.

— E agora é hora de partirmos. — Disse Priyanka enquanto enxugava a última migalha de sua boca e se abaixava para pegar Neville bocejando de seu posto nas saias de Lady Nanachi. Suas próprias mãos e rosto estavam pegajosos, mas não se importou com a bagunça quando ele enterrou o rosto em seu ombro e se acomodou mais confortavelmente em seus braços.

— Sabe, estou ficando velha e impaciente. — Começou, Priyanka já prevendo ela ameaçar quanto sua demora em se mudar.

— Não se preocupe! Em dois dias estaremos aqui sobre seus cuidados. Quero dizer, eu quem estarei cuidando da senhora. — Lady Nanachi riu alto em extrema felicidade.

Uma olhada nas janelas disse-lhe que a brisa e a chuva forte ainda não diminuíram, mas quando Lady Nanachi chamou para que trouxessem sua carruagem novamente, Priyanka acenou com a oferta e colocou o xale sobre os ombros.

— A senhora fez mais do que o suficiente por nós esta manhã. — E enrolou uma ponta do xale mais confortavelmente em torno de Neville cochilando. — Vai ser melhor a pé, os empurrões da carruagem têm mais chances de acordá-lo de seu cochilo.

Lady Nanachi bateu com a ponta da bengala no chão, um sinal de sua mente agitada.

— Isso será o suficiente sobre esse assunto, embora, estarei lhe aguardando em dois dias. Aliás, minha carruagem estará em sua porta em dois dias. Assim para de me enrolar e vem morar aqui permanentemente. Tenho quartos suficientes para que você use, caso a minha presença se torne insuportável.

Priyanka deu um passo à frente, deu um leve beijo na bochecha de Lady Nanachi e observou enquanto a velha tocava o cabelo felpudo de Neville com uma mão gentil.

— A senhora já fez tanto por nós. Só tenho a agradecer.

— Sua irmã… — começou, sua voz mais baixa agora que falava tão perto da forma adormecida do bebê. — Ainda não acredito que simplesmente não se importe com sua situação…

Priyanka lutou contra a vontade de suspirar, para permitir que seus ombros caíssem sob o peso de todas as incontáveis ​​responsabilidades que haviam sido adicionadas a seu fardo desde o momento em que Adele confessou estar grávida. Claro, Lady Nanachi não sabia sobre o seu segredo e isso a deixava não somente inquieta como essa farsa era cruel demais para ela.

Priyanka, na verdade, tinha medo de contar a verdade para Lady Nanachi, se bem que a velha era bem esperta e poderia já até saber de sua situação. Mas decidiu contar para ela quando fosse definitivamente para sua casa. Por isso mesmo, queria deixar a cabana habitável, pois também tinha receio de não ter mais a gentileza e amor de Lady Nanachi.

— Ela… — engoliu seco antes de consumar mais e mais mentiras. — cuidou de mim quando precisei. E ela é uma recém-casada, não há o que fazer se o marido demanda de seu tempo. — Sorriu amarelo.

A imagem do marquês surgiu em sua mente, espontaneamente, e um frisson de tensão percorreu seus membros. No dia anterior, a oferta dele tinha sido nada menos do que repelente para ela, mas agora que estava mais uma vez livre para pensar nas perspectivas sombrias que seu futuro reservava, se perguntou qual caminho seria a demonstração de maior força: tirar o dinheiro dele, concordar com suas demandas? Ou lutar com ele, apenas para aplacar seu próprio orgulho? E sabendo, obviamente, que iria perder.

— Estou curiosa, — disse de repente, antes de sair pela porta. — a senhora já ouviu falar de um marquês Davoglio, ou encontrou algum membro de sua família?

— Davoglio? — Apertou os lábios, os olhos semicerrados como se olhasse para trás através dos anais do tempo e da memória. — Quando você chega a certa idade, quase tudo faz parecer estar em seus lugares, mas ainda assim, não consigo me lembrar onde vi pela última vez meu par de luvas favorito. Mas Davoglio, sim… — Deu outra batida forte no chão com a bengala. — Orgulhoso, desagradável e abertamente preocupado com a importância da posição. Provavelmente mantinha uma cópia do Correio dobrada sob o travesseiro da cama. Embora eu deva admitir que sua esposa era uma criatura extraordinariamente bela e tão acolhedora quanto um prato frio.

Priyanka reprimiu uma risada enquanto Neville se contorcia contra seu peito.

— Então esse é o ex-Marquês Davoglio, eu presumo?

— Oh! Há um novo? — Lady Nanachi ergueu um ombro em um gesto nada feminino. — Eu não tinha ouvido falar. Claro, quando você vive no limite do mundo, leva um pouco de tempo para que as notícias cheguem até aqui. — Ela ergueu uma sobrancelha. — Por que você pergunta?

— Sem motivo. — ainda não era hora para contar. — Suzette pensou ter ouvido um pouco de fofoca e… Bem, parece que a chuva quase parou. — disse apressadamente. Eu realmente deveria ir embora.

O mordomo abriu a porta e ela abaixou a cabeça enquanto dava um passo rápido ao longo do caminho de cascalho. A chuva tinha realmente parado, embora a brisa parecesse mais inclinada do que nunca a esbofeteá-la de todas as direções. Mas o vento secaria as estradas, e se o vexatório Marquês Davoglio já estava voltando para a Capital, então ela fez uma rápida oração para que só servisse para apressar ainda mais sua jornada para longe dela.

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