Capítulo 2

Continuei trancada no quarto até de noite. Fechei as cortinas, desliguei a luz, queria estar no escuro, fechei meus olhos. Eu não queria ver ninguém. Fiquei num cantinho, de cócoras, querendo me trancar mais.

Eu estava mal, me sentia tão cansada em pleno domingo. Sem ter feito nada. Eu queria encontrar um enorme abismo e pular. Então me veio a ideia de escrever meu sofrimento. Me levantei, acendi a luz, fui até a mesinha do meu quarto, e pensei como eu poderia ver o vazio e gritar bem alto, dizer que não ligo para nada, dizer o quanto é difícil ser pobre e mulher. Porque tem que existi este abismo separando as vidas?

Abismo

Fenda que separa duas porções de terra

Mas para mim, mas do que isso:

Separa dois mundos

Um podre de um rico

Um velho de um novo

Um crente de um descrente

Um simples de um elegante

Um tímido de um extrovertido

Um inteligente de um tolo

Infelizmente real

Num mundo preconceituoso

O que vale é o ter

Cria um abismo entre as pessoas

Mas tenta parecer

Que não existe valor neste ser

E a fome cresce

E o amor esfria

Que às vezes contagia

Até pessoas de bem que anuncia

Uma nova vida próspera de alegria

Mas que influencia até os pequenos

Com uma cultura cheia de erros

Corrupta e dominadora

Gerar padrões inúmeros

O esnobe não percebe

O abismo deixou de ser metáfora

O mundo não aprecia

Diz que não existe

De uma sensação diferente

Não é como tomar banho de bacia

O povo sabe sobre ti

Mas fecha os olhos de proposito

Sabendo que precisa de Deus

Se tranca no deposito

E diz que são ateus

Mas que no momento certo interfere

Na dor que grita de repente

Para que todos cheguem ao mesmo fim

“Amar uns aos outros”

Pois um dia o abismo vai ser real

Não apenas um conto espiritual

Entre o divino e o humano

E nem todos poderão atravessar

Quando a trombeta tocar

E a terra acabar

E chegar o grande dia

Que só O SER importará

E aqui, os céus finalmente chegarão

Para brinda com alegria a ponte para nós atravessar.

Aleluia! Que gratidão!

No dia do meu aniversário, eu acordei bem, não estava mais mole como ontem, eu queria conversar. Eu estava me sentido melhor. Fui ao banheiro, tentei sorrir, me deu uma dor, não era de barriga, era no peito.

Uma pontada forte que fez eu me preocupar em ir logo para o médico.

Eu me sentei no vazo sanitário, e esperei a dor passar. Eu me acalmei um pouco, parecia um aviso que ainda estava mal. Eu precisava me curar da dor de ser abandonada.

Eu ainda tinha pensamentos destrutivos, precisava me expressar, não queria contar a ninguém, mas tinha que soltar minha loucura, minha raiva, meu ódio.

 Então fui a meu quarto, peguei o caderno e voltei para o banheiro, me sentei, e comecei a escreve, enquanto cagava.

Foi tão bom, relaxei, pensei, crie verso, imaginei coisas malucas, palavras sem noção, vasculhei meu passado, meu presente, minha religião. Eu queria entender porque sou assim.

Num forte intensão de libertar até minhas entranhas naquela posição de rei, eu soltava minha frustração da vida com gosto de gás.

Retas e linhas

Preto no branco

Cinza no claro

Bosta no vazo

Gente se espremendo

Numa luta constante

Certo que passou a ser errado

Nada é como antes

Começa com danos invisíveis

De repente se torna completamente inservíveis

Retas de sombra espalhada

Que se movia de maneira encantada

Que antes era torta

Antecipa as derrotas

De quem não luta

Todavia o tolo a usa

Para desvenda o futuro

Mas escreve em linhas tortas

E procurar carta confusa

Com cálculos imprecisos

Uns prevê só destruição

Já outros acham que tem muita informação

Mas o futuro já é previsto

A doença não resistiu

A guerra não prossegue

O mal não domina

O pecado não reina

E tu conseguiu

Agora você acredita

Que tudo passará

O caminho certo existe

Na vida de desilusões

Vence quem persiste

Só Cristo é a salvação

Quando tu ouves a canção

Uma reta perfeita

Ajeitando a imperfeição

Com tanta miséria no mundo

Temos a divina revelação

Isto parece um mito

Mas há pureza do coração

Daquele que se arrepende

Foge do inóspito

Sua virtude vale mais que muito ouro

E prova que o sabidão demais é igual um tolo

Quando não tem fé

O saber humano valer menos que unheira do pé

Mas quando se busca conhecer a Deus

A linha torta vira reta

Aí sim, tudo se torna claro,

E aquela ideia passa a ser obsoleta

Como dia vem depois da noite

A tormenta se acaba no momento da oração

Para dá lugar a bonança

Finalmente a tristeza não mais reina

E todas retas e linhas da humanidade se cruzam

Tocam-se ponto de quem domina

Com exatidão.

Eu saí do banheiro aliviada duplamente, uma por ter cagado e outra por cagar minha raiva no caderno.

Fui ao meu quarto e resolvi que ia para Construtora trabalhar, não ia me deixar abater pela minha dor de cotovelo. Eu tinha que ser profissional.

Voltei para o banheiro e tomei um bom banho. Depois procurei uma roupa, me vesti e tomei meu café depressa para pegar o ônibus. Ela sai de casa quase correndo porque estava atrasada, e fui para parada para seguir o caminho do meu último mês de emprego. Pois é a vida, nunca traz apenas um problema para nos arrasar, vieram dois para piorar. Eu fui demitida e tinha que cumprir aviso prévio.

Eu não me importava tanto com o emprego, eu perdi naquela semana anterior meu marido e trabalho. E isto me deixou muito arrasada, mas enquanto caminhava pela rua, pensado no que perdia, eu olhei para o Sol. E ele continuava esplendoroso no seu brilho intenso e quente, fosse para um dia bom ou dia mal, para uma pessoa boa ou ruim, o astro estava lá para nos iluminar.

Então quando entrei no ônibus e me sentei, logo peguei uma folha de rascunho, e escrevi umas palavrinhas pensando no sol, esquecendo minha dor.

Sol

Luz do astro

Traz grande energia

Que contagia

A vida dos seres viventes

Lindo

Clareia nossa mente

Esplendido

Sem igual

Para quem admira

A criação divinal

Forma de expressão

Que preenche a vida da gente

Serve para nos dá direção

Raios de força

Que estremece o espaço

Até chegar até nós

De graça

Numa velocidade incrível

Para nosso amanhecer

Ficar mais saudável

Muito mais visível

Que tudo pode acontecer

Quando começa um novo dia

Para renovar as esperanças

Para criar novas ideias

Para simplesmente viver

Contente

Pois vivo para ver

Outra vez o Sol

Que tanto

Beneficia com sua claridade

Me faz pular do lençol

Quando a noite deixou de ser

Um pesadelo de problemas

Que tende a crescer

Sem sonhos

Sem desejos

E tudo vira alegria

Quando sol cria

Um belo dia

Eu desci do ônibus mais feliz, mais leve, sem pensar mais em nada. Eu comecei até a cantarola uma música que tinha ouvido domingo na igreja, sem me dar conta, já estava chegando no portão da Construtora.

Lá era bem grande do tamanho de um quarteirão com muros enormes que mal se via o prédio principal. Além disso tinha muitas árvores altas, para ser difícil a visualização, e ainda não colocaram uma placa na frente avisando que tipo de empresa era, pois, o bairro era perigoso, e tinha muitas máquinas pesadas caras e enormes, onde um pneu custava mais de R$ 18.000,00 por isso os donos tinham receio de mostrar seus bens para os bandidos da região.

―Bom dia! ―Eu disse, dando um sorriso por porteiro. Que prontamente me respondeu com seu ‘bom dia’, e abriu o portão. Eu passei e subi para minha sala. Abri a porta, fechei logo, acendi as luzes, liguei o ar condicionado, me sentei na minha cadeira, liguei o computador, e de novo me veio a vontade de escrever, mas nada triste, coisas aleatórias que vi no caminho para o trabalho, que de vez enquanto era até engraçada de observar.

Caminho e entrelinhas

Caminhada pelo caminho

Sem pensar em nada

Cálice com vinho

Pra encher a cara

Camisa com desenho de bichinho

Mesmo sem gostar

Como forma de carinho

Assim quis demonstrar

Capa azul marinho

Para escapar da chuva

Cacho que parece um ninho

Depois de tudo molhar

Cartaz que informa briga de vizinho

Que não deu para notar

Casal que não tem amorzinho

Mas sente ciúmes para xingar

Confidente não tem mais vez

Numa vista cheia de entrelinhas

Atraente pela janela se vez

Conhecer alguém pareceu um simples ato

Convencer foi bem rápido

Congelou a razão

Apagar o senso do ridículo

Contrariar a todos de antemão

Arisco num caminho perigoso

Curvas perigosas eu caio

Minha vida virou um cristal

Entre subidas e descidas

Piorou no dia chuvoso

Viu cores desfocadas

Que se tornaram escuras

De uma simples vista

Que piscou da pista

Deu para notar

O grande portal

Uma atração sem consistência

Para perder a consciência

E deixar de ser certo

Para correr nos caminhos ousados

Que dão sopa por aí

Sem saber o que vai atraí

Mesmo sendo errado fez tudo para cair

No mundo do pecado

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