Capítulo 2 - No need to say goodbye

"And now the end is near

And so I face the final curtain

My friend, I'll say it clear

I'll state my case, of which I'm certain

I've lived a life that's full

I’ve traveled each and every highway

And more, much more than this

I did it my way"

My Way - Frank Sinatra

Capítulo 2 - No need to say goodbye

O dia já havia começado estranho, meu telefone não havia despertado é já passava das dez quando levantei com um aperto no peito. A sensação ruim só aumentou quando meu celular vibrou e eu logo o peguei. Na tela vejo a foto de Cherry, atendo na hora.

—Oi Cherry, acordou cedo hoje?— Pergunto com a voz um pouco animada.

—Audrey, eu não...não.— A voz de Cherry está embargada.— Preciso que você venha a casa do Jeremiah o mais rápido possivel.— Sinto meu corpo gelar na hora, digo a Cherry que chegarei rapidamente lá.

Uma dor me invade de uma forma lacinante, me seguro para não chorar ainda não é hora para isso. De forma metódica eu vou até meu armário e escolho uma calça jeans preta e uma camisa branca, pego uma jaqueta e um par de botas. Vou para o banheiro e tomo um banho quente um pouco demorado. Assim que termino, me arrumo e volto para o meu quarto, pego minha bolsa e coloco meu celular e minha carteira dentro, saio do quarto e vou para sala onde pego minha chave do carro e deixo o apartamento.

As ruas estão razoavelmente vazias para uma manhã de sábado, pego meu carro na garagem do prédio e sigo para casa de Jemi. Enquanto dirijo até lá repasso a noite anterior na cabeça, a festa, as danças, as risadas e a nossa despedida.

—Que festão em Jemi? Deu para balançar bem o esqueleto, não acha?— Perguntei fingindo dançar.

—Sem dúvidas minha menina, esse velho se divertiu bastante.— Jemi sorriu e me puxou para um abraço. Estávamos em frente ao prédio dele e já passavam das três da manhã.— Obrigado por ter feito essa noite tão divertida, fazia muito tempo que não me sentia tão bem.

—Não foi nada tio, o senhor que tornou tudo muito melhor.— Falei apertando Jemi no abraço.— Já está tarde e eu tenho que ir, amanhã vou visitar minha mamãe e papai.— Disse sem o soltar, algo me prendia a Jemi.

—Você é uma boa filha, uma boa sobrinha, você merece tudo que está por vir Audrey.— Jemi beijou minha testa e sorri.— Fique com deus e mande um abraço para todos amanhã, diga que estou com saudade de todos.— Jemi me soltou e logo eu senti o frio, o mesmo frio que está gelando minha alma agora.

—Estou com ciúmes disso, Jeremiah, durma bem.— Falei antes de voltar ao carro que me esperava. Vi Jemi entrar no prédio e só depois deixei o motorista seguir.

Sei que posso estar pensando no pior à toa e Jemi ter apenas passado mal.a

Não seja burra Molly, Cherry não iria ligar se ele estivesse bem, falo para mim mesma. Cherry nem estaria lá se tudo estivesse bem, Jemi tinha Astra e Bernard, eles que teriam me ligado não Cherry.  O aperto no meu peito só aumenta, eu me seguro mais uma vez e acelero o carro, paro em um sinal vermelho e escuto meu telefone tocar, o pego dentro da minha bolsa e vejo que é minha mãe, ignoro a ligação e deligo o telefone o guardando novamente. Assim que o sinal fica verde eu arranco com o carro.

Chego ao prédio de Jemi. só aumenta o aperto no peito, saio do carro e o porteiro libera  libera minha entrada me olhando com pesar. Vou até o elevador lembrando da noite passada quando estive ali com meu velho tio. Ele já  estava estranho quando saímos, ele ficava diferente perto do dia 27 de março, esse dia foi quando Madeleine Hill, o amor da vida do tio Jemi morreu em um terrível acidente, 27 de março havia virado um dia maldito para todos que o cercavam. Quando o elevador para e se abre na cobertura eu respiro fundo.

O apartamento de Jeremiah está diferente, mesmo com tudo no lugar, tudo parece vazio. Cherry e Bernard estão sentados em frente ao balcão da cozinha onde Astra serve café aos dois. Assim que entro todos me encaram e posso ver os olhos de Cherry se encherem de lágrimas, ela se levanta e abre os braços para mim, não sei como acabo por chegar até ela, apenas me vejo abraçada.

— Astra me ligou, Jemi não acordou e eu vim correndo para cá.— Cherry solta um soluço enquanto afaga minha cabeça, eu me esforço o máximo para não chorar.— Chamei o médico dele, que apenas confirmou. Audrey Jemi se foi.— Ouço o soluço de Astra misturado aos de Cherry, me afasto desnorteada.

— On...on..onde ele está?— Pergunto sentindo minha garganta se apertar.— Eu preciso vê-lo.

— Ele está no quarto senhorita.— Fala Bernard ao lado de Cherry.

— Vocês vão ver, o Jemi está apenas brincando com vocês, ele está bem.— Digo ignorando o olhar de Cherry.

Passo pelo corredor que liga a imensa sala de Jemi até o seu quarto. Hoje o corredor parece ter o dobro do tamanho. Corro em direção ao quarto de Jemi só parando em frente a porta, tudo está muito silencioso o ar do lugar parece estranhamente leve, como se todo peso que Jemi carregou tivesse ido com ele. Quando abro a porta do quarto, eu entro devagar olhando cada detalhe, as fotos em cima da lareira que ainda está ligada, os quadros espalhados pelo espaço imenso e o teto totalmente envidraçado. No centro do quarto está a cama de Jemi. Ele está deitado, o nó na minha garganta se aperta mais a cada passo que eu dou em direção ao seu corpo, chego ao meu limite, deixo que todo choro aculamado pela falsa aparência de força saia. começo a chorar culposamente.

Jeremiah parece estar dormindo, calma e ternamente. Toco seu rosto e o contraste entre a pele fria dele e o ar quente do quarto me deixa ainda pior, me deito e me alinho no corpo de Jemi me abraçando a ele como já fiz várias vezes.

—Você não podia fazer isso comigo Jeremiah, você não podia.— Falo em um sussurro. — Jemi o que eu vou fazer sem você aqui? Essa não é a sua hora, não é Jemi.— Choro ainda mais soltando alguns soluços, perco a noção de quanto tempo fico ali chorando, por fim acabo dormindo.

***

Não sei quanto tempo passou, mas quando acordo já é tarde pois o sol já não ilumina mais o quarto e o céu já está alaranjado. Mas não foi o tempo que me acordou, mas sim uma gritaria, distingo a voz de Cherry e a de um homem, uma voz grave é profunda, uma voz parecida com a de Jemi, Connor. Me levanto o mais rápido possivel e saio do quarto indo para o corredor. Dessa vê o corredor não parece tão grande e eu consigo chegar a sala rápido, na sala vejo Astra em um canto chorando abraçada a Bernard enquanto Cherry grita com um Connor visivelmente transtornado.

—Você não tem o direito de cobrar nada, você estava onde todo esse tempo? — Grita Cherry afundando seu dedo no peito dele.— Você não precisa fingir que gosta e se preocupava com o seu pai, eu sei que você não fazia isso.

—Como você acha que eu poderia me preocupar com uma pessoa que não gosta de mim?— Grita Connor, sinto meu punho se fechar enquanto ouço o que Connor diz.— Meu pai me odiava, ele me queria longe e eu apenas fiz o favor de sumir.

— Isso é uma grande mentira, Jemi te amava mais que tudo.— Acabo falando quando a raiva me domina.— Seu pai sentia a sua falta a cada momento, ele te amava muito Connor.

— Chegou quem faltava, a amante gorducha do meu pai.— Connor fala me olhando.— Ele estava com você quando morreu?— olho para Cherry sem ação, ela me olha bestificada com o que Connor diz, minha fúria chega ao máximo quando dou um soco na cara de Connor, logo seguido por outro e outro, em segundos Bernard me segura enquanto tento avançar em Connor.

— Como você pode dizer isso seu canalha, Jeremiah era como um pai para mim, eu não sou como as vadias que você leva para cama desgraçado.— Grito me debatendo, a sorte de Connor é que Bernard é um homem forte e consegue me conter.— Você é um merda Connor, você não merecia um pingo do amor do seu pai.

— Vai à merda.— Fala Connor colocando a mão no nariz.— Sua vaca louca de merda.

—Seu bêbado, eu tenho pena de você.— Grito enquanto Bernard me puxa para longe do filho de Jemi.

Já passavam das sete quando removem o corpo de Jemi, Connor estava sentado do outro lado da sala visivelmente transtornado, eu estava em um banco perto do balcão da cozinha junto com Cherry. Astra havia feito café para nós, eu tinha pegado o notebook de Jemi e estava tentando escrever uma nota para impressa quando meu telefone apita com uma mensagem de Pfeiffer perguntando como eu estava, respondo que não estou muito bem e que em breve ligo para ela. Volto minha atenção para nota onde coloco que Jeremiah Embry havia falecido naquele mesmo dia e que a família estava abalada no momento e pediam as orações de todos, e a promessa de que em breve divulgaríamos informações sobre o funeral. Após enviar para redação da revista fecho o notebook e ligo para minha mãe, conversamos por um longo tempo, ela avisa que virá para cidade o mais rápido possivel mesmo contra a minha vontade. Depois ligo para Pfeiffer e conto tudo o que aconteceu, escuto ela chorar e acabo em lágrimas junto com ela por um tempo, quando desligo me afasto de todos e me sento perto da janela onde Jemi estava de pé ontem, olho a vista da cidade olhado as primeiras gostas de chuva caindo no vidro da janela.

***

A chuva não para de cair há três dias, desde a morte de Jemi não consigo ficar animada com nada e hoje quando tenho que me arrumar para ir ao funeral dele, penso na possibilidade de não ficar feliz por um bom tempo. Cherry e minha mãe estão me esperando na sala, arrumo meu vestido preto e depois prendo meu cabelo castanho que agora parece um ninho de pássaros. Assim que venço minha luta contra o cabelo rebelde pego um casaco e saio do quarto. Não falo com minha mãe e Cherry quando me retiro do quarto, apenas pego minha bolsa e o guarda chuvas e me dirijo para fora do apartamento. Quando entramos no elevador vejo Cherry colocar um par de óculos escuros assim como minha mãe, o que é muito estranho já que está chovendo. O elevador desce lentamente até a portaria do meu prédio, assim que a porta abre saímos para portaria onde Bernard nos espera.

O caminho até a igreja onde será o funeral acaba sendo rápido demais. Assim que chegamos vejo uma tropa de jornalistas na porta, Bernard para o carro o mais perto da igreja e sai para abrir a porta para nós, quando estamos fora do carro os fotógrafos correm ao nosso encontro tirando fotos, deixo que eles tirem suas fotos enquanto vou me despedir de Jemi.

O Funeral corre bem até o momento em que o reverendo chama Connor para dizer algumas palavras, o que ele faz de forma rápida e logo o reverendo me chama, respiro fundo antes de me levantar e passar por Connor em direção a o mezanino, subo no lugar e olho para todos que estão a minha frente.

—Gostaria de agradecer em nome de toda a família Embry  a presença de todos aqui hoje.— Falo olhando para Connor que olha para o caixão de Jemi.— Jeremiah era um grande homem, um bom pai, um bom amigo e um excelente confidente, acreditem, Jemi era um ótimo ouvinte. Ele acima de tudo era um homem de fibra, o início de sua vida não foi fácil e não é algo que ele gostasse de falar.— Digo lembrando-me das vezes que ele tinha me contado de sua juventude.— Jeremiah Embry era uma daquelas pessoas que realmente venceu na vida de forma honesta e limpa, quando eu o conheci ele já era o dono da maior revista do mundo e eu uma recém formada que estava a um passo de ir morar na rua pois não tinha onde cair morta e se negava a voltar para casa.— Olho para minha mãe.— Eu sempre tive pais maravilhosos, mas encontrar Jemi foi como encontrar um segundo pai, eu o via como um pai que deixava tomar sorvete quando quise-se, mas que chamava a atenção quando tentava colocar biscoito junto do sorvete. Quando ele me contratou e me ajudou a pagar o aluguel, eu pensei que ele era um velho louco, quem ajudaria uma desconhecida dessa forma? — Pergunto de forma retórica.— Jeremiah Embry ajudou e em pouco tempo eu já tinha a minha vida dos sonhos, um emprego bom, uma casa boa é eu ganhei uma segunda família incrível.— Falo olhando Cherry e Pfeiffer.— Na última noite de Jemi havíamos ido à uma festa e ele dançou durante todo o evento. Ele se divertiu como eu nunca tinha visto, no  final de tudo, eu o levei em casa junto com Bernard, naquele momento ele já deveria saber que aquele era o fim pois ele me pediu para dar um recado a todos. Ele pediu para dizer que os amava demissão e faria isso para sempre.— Paro sentindo meus olhos se encherem de lagrimas.— Quero que todos se lembrem do grande homem que Jemi foi, é hoje ao invés de chorarmos pela perda, fiquemos felizes porque finalmente Jemi pode ir para onde sempre quis.— Sinto as lagrimas rolarem quando olho para o caixão onde Jemi repousa.— Ele foi para lua encontrar com sua amada.

 Termino de fala contendo um soluço. Em um momento mais que estranho, Connor se levanta e vem até mim me abraçando, meio sem jeito o abraço de volta, sinto que ele está chorando quando escuto um pedido de desculpas e ali no meio da emoção as aceito.

Jeremiah foi sepultado no jazigo da família Embry ao lado de sua esposa, todos os amigos, conhecidos, contatos comerciais e figurões da sociedade deixaram flores no local indo embora logo após o sepultamento. No fim apenas eu, Cherry, minha mãe, Pfeiffer, Connor, Bernard e Astra ficamos no local. Ficamos ali parados olhando as flores em frente ao jazigo. Um silêncio opressor dominava o ambiente até que o som de alguém limpando a garganta tira todos do transe.

—Não queria incomodar vocês nesse momento, mas estou apenas seguindo as ordens do meu velho amigo.— Diz Abraham olhando para todos.— Jeremiah mandou que eu fizesse a leitura do seu testamento no mesmo dia do seu enterro, então sugiro irmos para um lugar mais adequado.

Eu sabia que Jemi tinha aprontado alguma coisa, mas não poderia pensar que seria algo que mudaria minha vida para sempre.

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