Let's Rollets (parte 3)

– Ufa! O que foi aquilo?! – Perguntei a Baboo que sai de cima de mim desajeitadamente.

– Não eram... São mortons! Eles estão por perto. Seus sonhos invadidos têm muito a ver com a realidade... Acostume-se!

– O quê?! E todas aquelas pessoas mortas?! Quem as matou?! – questionei angustiado.

– Os mortons querem tomar seu planeta, destruir sua espécie. Você não entendeu? Não querem escravos nem sobreviventes. Eles são criaturas sem emoções, movidos pelas razões que os fazem continuar vivos. O planeta deles está em colapso, por isso buscam outro para habitar. Ou vocês acham que são a única espécie que extrai ao máximo os benefícios de seu planeta, se preocupando apenas com a tola ganância? Ou os únicos que precisarão de um novo lar?! Eles têm observado vocês humanos destruírem seu próprio planeta aos poucos. Matarão todos porque querem seu planeta.

– Os corpos aumentavam a cada metro que eu andava! – disse angustiado.

– Quanto mais demorarmos a agir, mais pessoas eles matarão. A diferença é que hoje eles matam às escuras. A raça humana lutará por oito anos, e se esconderá por mais quatro, até que sobre apenas uma nave tripulada por terráqueos, indo em direção a outro sistema solar. Por isso estamos ficando sem tempo! O tempo é relativo nos diferentes sistemas solares, então temos que ser rápidos e precisos. Se falharmos novamente toda a espécie humana poderá ser varrida do universo! – disse ela ao olhar para baixo do mezanino pela janela de vidro.

Baboo estava impaciente e apressada para chegarmos a um lugar mais seguro do que aquele barracão.

Que responsabilidade... Será que estou preparado? Pensei comigo. Ela disse tudo... Se "falharmos novamente". Já havíamos falhado anteriormente, e isso me preocupou.

– Não estou preparado para essa jornada, Baboo! Mal sei segurar em uma faca! Nunca lutei na minha vida! – afirmei completamente inseguro.

– Não está ainda, mas estará se me seguir... – disse Baboo extremamente ansiosa.

– Tudo bem – respondi sem graça.

– Não sou humana, esqueceu? Sou belaciana, do planeta Belácia – disse Baboo – temos algumas diferenças físicas que em Belácia você verá.

– Aqui – disse ela enquanto sacava a adaga de sua bainha.

– O que é? – perguntei.

– É uma adaga. Pode ser bem útil se algum morton chegar perto demais – disse ela mostrando alguns movimentos com a adaga, entregando-a a mim.

– Fique com ela – disse Baboo.

O cabo da adaga era eximiamente talhado, uma obra de arte nas cores vermelho sangue, roxo e azul marinho, com finas linhas mescladas, tornando-a ainda mais magnífica. O desenho do entalhe era algo que nunca tinha visto, e muito menos sabia o que representava, mas parecia um animal que nunca tinha visto. Corpo como de tigre e cauda mais comprida que o normal, e foi praticamente o que reconheci no desenho. Sua lâmina fazia uma leve curvatura.

– Agora vamos! Como lhe disse, eles estão por perto! – Disse Baboo apressada saindo pela porta.

Peguei minhas coisas e corri atrás dela rapidamente. Saímos por um portão levadiço que abrimos com mais facilidade, que ficava na lateral da fábrica. Corremos para o leste, em direção a rodovia que avistamos ao longe.

O sol já estava surgindo, então nos apressamos para evitar seus tórridos raios novamente.

De repente me vi saindo de uma vida monótona e cansativa para iniciar uma jornada cheia de aventuras, perigos e responsabilidades e, contudo, confesso que estava empolgado, apesar de não estar entendendo muita coisa. Baboo tinha dito para deixar para trás meus pertences, pois não iria mais precisar deles, mas hesitei em deixar meu celular, e logo que saímos do galpão Danton me ligou. Disse que estava preocupado, pois não sabia de mim. Não podia contar-lhe o que estava acontecendo, não agora. Disse apenas que estava tudo bem, e que iria fazer uma viagem longa, mas não falei para onde. Então comentou que tinha ganhado alguns suplementos alimentares para emagrecer, e me preocupei, porque me fez lembrar o sonho em que ele estava com aparência horrível. Alertei-o de que não fizesse uso daquilo e logo desliguei. Baboo ficou brava com aquela ligação e tomou de mim o celular.

– Sem comunicações Rick! – me repreendeu Baboo – eles podem descobrir nossa localização! Vamos logo!

Ela simplesmente quebrou o aparelho para que eu não o utilizasse novamente.

Andamos em direção à rodovia e quando a alcançamos andamos por ela. Baboo disse que nosso transporte estava próximo dali, mas não estávamos os encontrando, pois eu via apenas pedras e terra ao redor. Então ela apontou para duas rochas grandes mais afastadas...

– Esqueci que eu os coloquei mais à frente... Lá estão!

Ri descontraidamente.

– Então nossos transportes são rochas? – disse com tom de ironia.

– Observe engraçadinho... – respondeu ela com um sorriso forçado.

Baboo puxou o que pareciam ser capas com a aparência de rochas e embaixo estavam nossos transportes.

– Esses são os Rollets – disse Baboo – rápidos, pequenos e fáceis de esconder.

– Venha cá – me chamou para perto do segundo Rollet – coloque sua mão nesse painel e ele irá memorizar sua digital e só abrirá para você, ou para quem estiver com sua mão – disse ela fazendo uma piada sem graça.

– Ninguém vai carregar minha mão tão cedo – falei convencido.

­– Como se pilota isso? – perguntei curioso ao entrar e não ver nenhum volante no interior dele.

– Já designei o curso do nosso trajeto. Iremos através de piloto automático, mas caso aconteça algum imprevisto, você puxa a alavanca amarela embaixo desse painel à sua frente e transfere para o modo manual – explicou ela.

– Vê esse botão preto redondo?

– Sim – respondi rapidamente.

– Aperte-o – instruiu Baboo.

Apertei aquele botão preto e a minha frente saíram dois tubos finos bem articulados, de suas pontas surgiram outros cinco pequenos tubos com esferas negras na extremidade, de um centímetro cada, aproximadamente.

– Agora toque com a ponta de seus dedos as esferas negras – continuou Baboo.

Toquei as esferas e intrigantemente elas fixaram-se perfeitamente em meus dedos e o Rollet iniciou o motor.

– Pronto, é isso! – disse Baboo animada – você o orienta com suas mãos. Simples assim!

– Certo. Entendi! Vamos então?! – respondi, acelerando nossa partida.

Cada um tinha seu Rollet, e cada Rollet tinha espaço para duas pessoas de forma compacta. Aquela tecnologia era terrestre, mas havia sido inventada há alguns anos no futuro. Baboo teve o cuidado de guarda-los ali para nos ajudar no transporte, mas como eles haviam chegado ali do futuro eu não fazia a mínima ideia.

Partimos...

Eles eram de fato muito rápidos para seu tamanho. Parecendo bolas enormes girando a uma velocidade de cento e oitenta quilômetros por hora, estávamos finalmente indo em direção ao Complexo da Capital. Quatrocentos e vinte e dois quilômetros para chegar à Capital, o que demoraríamos três horas e meia pelos meus cálculos.

Observando a paisagem vi um relâmpago tomar espaço gigantesco no céu. Olhei para trás e avistei uma tempestade fantástica, nimbos tomaram o céu atrás de nós. As nuvens estavam tão baixas que vinham formando uma onda, mesclando o branco com o escuro tenebroso, enquanto os relâmpagos e os raios caíam no meio da poeira deixada pelos Rollets naquele chão de terra vermelha seca, à frente um céu límpido. Ouvi como se fosse à minha mente uma voz dizer:

– Os mortons estão fazendo isso, mas vamos chegar a tempo no abrigo. Temos que ser rápidos ao entrar. Ok? – informou a voz.

Olhei para o lado e Baboo olhando para mim, acenou. Sinalizei com a cabeça que havia entendido.

– É o sistema de som dos Rollets. Eles são interligados. Tudo o que eu disser aqui você vai ouvir, e vice versa. – explicou Baboo.

– Ok! – Concordei com um suspiro – pensei estar ouvindo vozes! – falei tranquilizado.

Continuei observando aquela magnifica tempestade que nos perseguia, embora criada pelos mortons, era fantástica aos meus olhos.

Fechei os olhos pensando em tudo que estava ocorrendo e acabei adormecendo.

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