Era um sonho antigo e recorrente, talvez cheio de significados. Se eram lembranças do seu passado esquecido, ele não sabia, no entanto o sonho nunca estivera tão nítido quanto agora. Sentia tudo de forma concreta e intensa, era ele, uma criança entregue aos soluços do seu pranto. Nico duvidava que sua mente fosse capaz de criar uma ilusão tão perfeita em seu subconsciente, porém estava relutante em acreditar que realmente era uma cena ocorrida em seu passado.
O aperto no peito era insistente e cada vez mais doloroso, não havia nada que pudesse ser feito. Apenas segurar aquele maldito pano contra a testa do garoto, conter a febre. O medo, Nico pensou pela primeira vez em como o medo pode deixar alguém sem uma fração de si. As l&aacu
Nico mordiscava os pães e uma fina fatia de queijo, comumente ignorando o chá de Mercstzine servido a sua frente. Estava pensativo e pouco à vontade diante dos outros. O sonho com Leone, a aparição de Johen, seguido do roubo da misteriosa caixa de Tarci, foram tantos acontecimentos antes que o dia começasse direito que sua mente fazia acreditar que nem tudo havia acontecido de verdade. Em especial a parte de quase ter sido morto. A adaga voava em sua direção, o tempo ganhara diferentes engrenagens e ele se via incapaz de fazer o simples ato de piscar. Porém o giro do cabo e da lâmina não terminaria como qualquer pessoa pudesse prever, o vento veio e mudou tudo.
O dia amanheceu tão claro que Millena pensou que o sol batia na janela do seu quarto. O relógio marcava seis e meia, relativamente tarde para o que era acostumada a levantar. Com súbita surpresa, notou que não sonhara, nem se esforçando conseguiu trazer um vestígio. Ficou grata, mas o seu corpo estava dolorido por causa do passeio aéreo do dia anterior com Nerissia. Perderam a noção do tempo planando e fazendo as manobras que os ackaminoums permitiam. Quando pousaram, sua amiga levou broncas de Dinah na cozinha e teve que carregar caixotes e descascar legumes o dia inteiro. Enquanto a Millena, recebeu muito mais volumes do que esperava sua estimativa mais pessimista.Suas nádegas deviam estar marcadas até agora, pois ficara sentada até tarde da noite, levantando-se apenas para o indispensável. Podia ser atrasada, mas se orgulhava de ninguém poder dizer que não se dedicava.
A claridade bruxuleante das velas incomodava seus olhos, tinha em mão uma pena e a tinta intocada ao lado. Estava sem sono, diferente do que dissera a Sirius há meia hora quando deixou o banquete. Uma certa paz a envolveu, satisfação por ele e Argus terem dado um passo importante. Outra parte dela, contudo, mantinha seu ânimo baixo e lhe privava o sono.Tinha costume de escrever no caderninho de capa dura que ganhara do irmão anos antes, porém sua imaginação não estava ativa o suficiente para redigir nem uma receita de bolo de cenoura, algo que Dinah fez questão de ensiná-la quando era criança. Mesmo assim, tentava espremer qualquer coisa da sua infértil mente.Mergulhou a ponta metálica e cintilante na tinta, pensando na primeira palavra de uma possível história ou conto que ainda não existia na sua cabeça. Um calafrio a atravessou de s&u
“Duvenur era considerado por muitos povos da antiguidade o sleniano mais controverso dentre todos os hiadovanos, tal fato se manteve inalterado até o período atual pós-descrínico. Duvenur fez como moradia o interior do crânio do gigante Eltisdes, derrubado por Hallar’ken nas guerras de Belqzardu. Sendo considerado o deus da morte e da piedade, do ódio e do amor, Duvenur também é nomeado como Osein e Abierg. Filho de Ninguém, carrega os títulos mundanos de Preceptor Dúbio, Mestre Ambíguo e Senhor Desolado. Entre os deuses, era principalmente reconhecido como Corvo Sereno e Guerreiro de Negras Seda e Foice. Casado com Tarinfel, a próxima deusa a ser estudado no capítulo seguinte, teve cinco filhas cujos nomes são debatidos e observados até hoje. O mais aceitável é que elas eram Cecill, Niahr, Átilae, Ciliv e Analesia.”— A&i
Os que estavam presentes olharam de imediato para quem entrava, murmúrios incendiaram o local, calaram-se as vozes alteradas. Igualmente repentino foi a troca de olhar de reconhecimento entre pai e filha, Sirius e sua expressão ligeiramente surpresa, nada repreensiva. O formiguento silêncio se manteve enquanto Millena levava Brienqcorti até o seu assento no arco de arquibancadas à direita. Haviam seis anões munidos de machados, lanças e martelos aguardando-o em pé, sentando-se apenas após o líder.Na outra extremidade do arco, após um notável vazio, reunidos estavam os representantes de Suillardre. Homens grandes e altivos, com vestes em tons de vinho que nenhum artesão wendeveliano poderia reproduzir. Estavam acompanhados de uma pequena guarnição própria, lâminas de espadas curvas à mostra.Os Nove Patriarcas dos Pilares Políticos de Wendevel encontravam seus assentos no arco à esquerda, diferentes expressões tomavam seus rostos, sobressaindo a tensão que deixava a at
— Então, qual a sensação?— Demandou Nico, talvez pela milésima vez.— Faça isso de boca fechada— ordenou Endrick.O rapaz pegou mais um tapete enrolado sobre o ombro e levou para dentro da casa, voltando logo em seguida. Estavam em Elisesile, ajudando no transporte da mobília de uma senhora, um favor que custaria alguns grelv. Era o tipo de trabalho que mais conseguiam pela região, geralmente não compensava o esforço, entretanto era uma forma boa de mostrar a Mercstzine que faziam algo além de “se humilharem completamente” na Arena.— É só uma pergunta inocente.— Nada que passe pela sua boca é inocente, ainda menos que tenha passado muitas vezes.Nico resmungou e levou um estofado, agora só restava dois baús da pilha inclinada que antes havia sido forçada a se sustentar sobre a carroça.— Você faz um julgamento péssimo de mim— reclamou assim que retornou.— Faço o julgamento mais sensato.— Mas qual a sensação?— Perguntou, levando os
Nico despertou duas horas após o anoitecer, estava em uma cama na Casa Mercstzine, um quarto separado apenas para ele. Achava que reconhecia o local, onde havia um pequeno guarda-roupa com a lateral da parte de cima enegrecida, descendo como raízes para o seu centro, manchas causadas por uma goteira que havia sobre o móvel. Dez anos atrás, o som da água em colisão direta com a madeira o despertara de forma gradual, quase afável. Johen o havia encontrado na madrugada e se abrigaram na estalagem durante a chuva, não sem antes se molharem. Era um lugar desconhecido que se tornou difícil de imaginar como tal nas atuais circunstâncias.Houve uma discussão com a senhora Mercstzine para que fossem aceitos, além de estarem encharcados, ela sabia que o homem não teria dinheiro para pagar por um quarto, quiçá por dois. A estalajadeira, porém, viu a criança e soube que ela ficaria doente, concedeu um quarto para ambos e disse que prepararia um chá para quando acordassem. O pequeno Nico j
Percorreram vias com árvores retorcidas, relva e trepadeiras tomando casas e calçadas, no escuro, cães corriam lembrando lobos ou, para um arrepio na espinha, fantasmas com caninos tão assustadores quanto perigosos. Uma construção branca e enorme como um palácio assomou diante deles, poderia ser bonita se seu aspecto não prometesse guardar todas as sombras vivas do reino. Adentraram o portão, Endrick primeiro, o assobio do vento os acompanhou por uma aleia estreita de frondosas árvores. Perante a escadaria que levava às portas duplas de carvalho, Endrick pegou Nico pelo braço, o olhar misterioso.— Não fale nada, eu cuidarei disso. Não aceite provocações.O garoto assentiu, admirado com o tom de sua fala, como se cada sílaba possuísse um discurso próprio.— Sem mais ação desnecessária— garantiu.As portas se abriram quando o último degrau foi alcançado, um mordomo olhava para eles com a sua expressão vazia, suas roupas, de maneira impecável, brancas.—