Capítulo I: O ouro no mundo

Dez anos depois.

Reino de Ertiron.

 A tranquilidade sempre se faz no caminho. Chega com delicadeza, despercebida. As ondas agitadas do mar de pensamentos se transformam na calma corrente de um rio. Por um breve instante ou um longo período. Às vezes, como dizem, é a calmaria antes da tempestade. Em qualquer caso, Endrick geralmente faz o mesmo, aquilo que precisou viajar longe para aprender a apreciar. Ele relaxa, pois nunca sabe quando ou se haverá outro.

 Existia uma noite até pouco. Ela se foi sem despedida, deixando seu frio e trazendo uma névoa fina. Não era um novo dia, o sol ainda não viera ver sua face. Porém havia uma leve claridade na madrugada, anunciando que estava próximo. O alívio de sair da cidade de Cinstrice estava explícito, algo que não era raro. Não existia uma boa alma viva que queria permanecer em uma Nider.

 Endrick guiava a carroça sem pressa de volta ao vilarejo de Ellefen. O lento sacolejar não incomodava, tornava-se parte da tranquilidade. O seu companheiro de viagem dormia atrás após sua última noite na Arena do Lustre de Ferro. Não foi a melhor, isso é fato. Ele estava na mesma posição de quando o colocaram lá, encolhido no espaço apertado.

 Sim, Endrick teve que pagar para que o carregassem novamente. Esperava ter sido a última vez. Sentia-se responsável por aquele rapaz. Afinal, ele era desde a morte de Johen. Apesar do seu potencial, não podia permitir que se arriscasse sempre na Arena. Se tinha algo em que Nico mais se assemelhava com o velho Johen, era a teimosia.

 Nico se tornara um rapaz forte e saudável. Não tão inteligente, verdade, mas Endrick sabia que seria assim na primeira vez que o encontrou ao lado de Johen na cidade de Cadisce oito anos atrás, quando Nico tinha onze anos. O velho Johen dissera que encontrou o garoto perdido e confuso próximo à ponte do rio Arnes, tirou-o das ruas quando sabia que ninguém faria. Nico via o gesto como bondade, no entanto descobriu que tal coisa não existia naquele homem. Não mais.

 Endrick notou ele acordar, como se seus pensamentos o chamassem. Aproveitou para começar provocando:

 — Foi uma bela surra— sorriu com o canto da boca.— Quase fiquei com inveja.

 Nico esfregou os olhos.

 — Era o que eu precisava ouvir.

 — Eu imaginei que sim.

 — Que dia é hoje?— Perguntou, passando as mãos no cabelo e resmungando de dor.

 Endrick o olhou de soslaio.

 — Eu digo quando chegar.

 — Entendi— olhou ao redor, mirando o horizonte.— Já estou ansioso.

 — Não precisa, está perto.

 Nico bocejou no instante em que dizia algo.

 — O que foi que você bodejou?- Endrick franziu o cenho.

 — O que você quis dizer com isso?

 — Isso o quê, doido?

 Nico sentou-se com cuidado ao lado dele.

 — De quase ter ficado com inveja.

 Endrick deu de ombros.

 — Só me fez lembrar…

 — E eu não sou doido.

 Endrick revirou os olhos.

 — Me fez lembrar uma noite minha.

 — Sério?

 — Sim, você quase apanhou como eu.

 — Uma coisa realmente invejável— disse Nico, espreguiçando-se.

 — Concordo— Endrick arrastou um suspiro.

 — Você não vai me contar?— Incentivou-o com o olhar.

 Ele assentiu.

 — Já que você insiste.

 — Bom, já estou sentado.

 — No meu tempo na Arena, existia uma boa premiação para quem vencesse suas cinco primeiras lutas.

 — Sim, eu sei.

 — Eu estava na última. Carregava a certeza da vitória, mas enfrentaria um lutador jamais visto. Menor, porém mais velho. Via em seus olhos algo diferente do que tinha visto em outros. Aquele homem parecia ter alcançado um grande propósito.

 — Lutar na Arena?

 — Não, acho que não, talvez. Entre os mistérios que vi, uma certeza, não sairia derrotado. Estava certo que ele via o mesmo em mim.

 — Qual era mesmo o nome dele?- Perguntou Nico.

 — Sei lá! Me esqueci. Só lembro que diziam que ele vinha do Oeste. Mas enfim, aconteceu que aquele homem foi uma grande surpresa, maravilhosa surpresa. A minha vantagem no início não decidiria o final. Ele só estava me desvendando, descobrindo meus movimentos, os meus golpes.

 — Qualquer um pode fazer isso. Ou pelo menos tentar.

 Endrick assentiu.

 — E ele usou isso perfeitamente ao seu favor. Era uma habilidade, velocidade e força que vi em poucos— riu brevemente.— Quando dei por mim, estava no chão. Jogado como você hoje, só que de uma forma menos humilhante. O favorito da noite perdera. Todos aqueles bêbados apostadores em silêncio. Sem gritos e canecas se batendo, derramando cerveja. Nada até anunciarem o vencedor.

 Nico olhou bem o rosto do amigo, procurando traços de mentira.

 — Aquele homem sem nome derrotou você?

 — Claro! Não prestou atenção?— Arqueou uma sobrancelha— E nem fizeram muito barulho para ele. Depois, nunca mais o vi lutar.

 — O Vanmorrênio não foi invicto na Arena então?

 Endrick balançou a cabeça.

 — As pessoas me enalteciam muito. Essa nem foi a única vez em que fui solado.

 A carroça parou. A névoa tênue que cobria a estrada se dissipara completamente, as casas do pequeno vilarejo surgiam não muito longe. A claridade se tornava mais forte do que os pensamentos de Nico após os últimos acontecimentos. O Lustre de Ferro ainda se destacava em sua mente, girando sobre sua cabeça e desaparecendo na escuridão do seu subconsciente.

 — Vamos esperar um pouco aqui— disse Endrick.

 — O que aconteceu?

 —Não se preocupe— disse, colocando a mão na testa e olhando para o que estava à frente.— Vou assistir um pouco isso aqui.

 Nico suspirou, seguindo o exemplo.

 — Acho que já entendi.

 No horizonte, o véu fino das nuvens que passavam se tingia com o brilho áureo ensanguentado que aos poucos se tornava mais intenso, da mesma forma que o céu ficava mais azul. A aurora se fez magnífica, o sol se ergueu para ambos, exibindo o seu esplendor.

 — O sol nasceu— disse Endrick—, revelando o ouro no mundo.

 Nico sorriu.

 — Um pouco de ouro para o povo desse reino não faria mal.

 — Não quis dizer dessa forma.

 — Eu sei, mas…

 — Acho que isso não deve ser dito— olhou-o sério.— Imagine Wendevel e sua ambição.

 Endrick retomou as rédeas, fazendo a carroça prosseguir. Lino, o cavalo, permaneceu com passos lentos.

 — Você está certo— disse Nico, esfregando os olhos.— Mas como está sua visão?

 Endrick pestanejava com força.

 — Só um pouco ofuscada.

 A carroça passou sobre a pequena ponte do rio Arnes, provocando aquele forte e frequente solavanco. Nico resmungou.

 — Desculpa aí— disse Endrick.— Eu não vi por causa do sol, sabe?

 — Passa mais rápido da próxima vez.

 Endrick riu.

 Muito se falava que a pontezinha de pedra era inútil e só servia para enraivecer as pessoas. Ela não tinha culpa de ter sido construída sem esmero e nem de estar no trecho mais fino do rio Arnes. Passar sobre ela com uma carroça, ou até mesmo a pé para pessoas mordidas três vezes por um lobo, não era muito agradável. De qualquer forma, reclamar seria mais inútil do que diziam que ela era.

 O calor crescia e a sensação na pele era revigorante, o sol estava quente o suficiente para superar a última noite fria e detestável. Nico sentia-se fraco física e mentalmente, esperava que isso passasse e suas dores fossem embora ao amadurecer do dia. O sol seria seu aliado como fora outras vezes. Olhou ao redor e suspirou fechando os olhos, deixaria a beleza do mundo entrar em si.

 — Agora faça sua parte— a voz de Endrick o puxou de seus pensamentos.

 — O quê?

 — Eu não quero atropelar alguém- passou as rédeas para o rapaz.

 Nico sorriu, eles haviam chegado ao vilarejo.

 — Deixa comigo.

 Ellefen era um lugar simples, assim como as pessoas que viviam nele. Elas respeitavam todos, eram justas, generosas e honestas, a menos que se criassem dívidas ou surgissem histórias que comprometessem alguém. Isso quase sempre acontecia. Suas ruas eram calçadas com pedras, embora quase não fossem mais visíveis. As casas faziam com que o caminho fosse sinuoso, pois foram construídas em desordem. Ambos achavam incômoda a semelhança entre elas, eram feitas de madeira escura, o que trazia uma aparência pesada e pouco atraente ao pequeno vilarejo.

 O movimento estava iniciado à essa hora. As pessoas se preocupavam em sair cedo para realizar aquilo que as tornavam dignas. Armavam tendas e abriam as portas de suas lojas ou suas casas para fazerem as vendas. Outras partiam com suas mercadorias para cidades próximas que possuíam um movimento considerável e retornavam quando o sol deixava de ser a única estrela no céu.

 Nico guiava a carroça com maior velocidade, a dor de cabeça se mostrava presente a cada solavanco na rua esburacada. As mãos fortes e avermelhadas seguravam as rédeas de forma descuidada, pareciam querer largá-las. Talvez estivessem apenas fatigadas de permanecerem fechadas. Endrick notou, mas decidiu não comentar.

 Havia uma velha e acolhedora estalagem na saída de Ellefen, foi em frente a ela que eles pararam. A Casa Mercstzine era um excelente lugar para abrigar qualquer pessoa que pudesse encher a mão da dona com uma certa quantia. Contudo, estava difícil fazer isso nos últimos dias. A tolerância daquela mulher lhes proporcionava teto e comida, mas com muita reclamação e principalmente cobrança.

 — Chegamos ao nosso confortável lar— Endrick desceu, apoiando-se com dificuldade com o braço direito, o qual tinha mobilidade afetada. Era um assunto que não gostava de tocar com ninguém.— Se é que ainda podemos dizer isso.

 — É o que veremos— disse Nico, olhando os próprios pés descalços.— Onde estão minhas botas?

 — Olá, meus amores!— Ouviu-se uma vozinha gentil atrás deles.

 Os dois se entreolharam por um instante.

 — Bom dia, senhora Mercstzine— respondeu Endrick.

 — Ah, bom dia!— Ela abriu um largo sorriso. Carregava abraçada a si algumas sacolas com pães e verduras.— Você sabe que pode me chamar pelo nome. Como passaram a noite?

 Endrick virou-se para Nico.

 — Bom dia, rapaz. A propósito, hoje é uma bela segunda-feira de primavera de 1618. Quase me esqueci.

 — Obrigado— Nico forçou um ligeiro sorriso.

 O semblante de Mercstzine se tornou carrancudo, entendera tudo.

 — Mais uma luta perdida! Eu não posso acreditar!

 Ela entrou na estalagem, batendo a porta com força.

 — Duvido chamar ela pelo nome agora— disse Nico, procurando algo na carroça.

 — Estamos na mesma situação.

 — O que aconteceu com as minhas botas? Você sabe?— perguntou, com olhar desconfiado.

 Endrick acariciou o pescoço do velho cavalo baio que passara a noite puxando a carroça, sentia a necessidade do animal de descansar.

 — Abriga o Lino no estábulo, dê comida e água. Ele andou demais, merece repouso. Assim como você e eu.

 Nico assentiu.

 — Olha bem o que você vai falar com ela.

 — Deixa comigo— Endrick deu uma piscadela antes de entrar.

 Manhãs que se iniciavam sem Mercstzine querendo conversa era motivo para ficar preocupado, geralmente não vinham coisas boas quando ela ficava pensativa. O seu silêncio machucava mais do que as palavras, porém o que ela tem feito bastante, desde que Endrick e Nico praticamente foram morar lá, é falar.

 — Essa foi a terceira vez que vocês se arriscaram em vão até Cinstrice— começou ela, ao ver Endrick entrar na cozinha.— Você ensinou esse garoto direito?

 — Não se pode ganhar todas— disse ele, a voz branda.

 Ela largou a faca com a qual cortava suas verduras e virou-se para ele.

 — Também não se pode perder todas. Vocês precisam pagar por ficarem aqui. Os cobradores de impostos não serão tolerantes comigo da mesma forma que eu sou com vocês.

 — Sabemos disso. Não queremos abusar da sua paciência, mas precisamos de mais tempo.

 — Mercstzine assentiu e cruzou os braços.

 — Você acha certo?

 — Como?

 — Você acha certo ficar levando o garoto para aquele lugar?

 Uma espécie de culpa passou como vento por Endrick.

 — Não, senhora Mercstzine. Ele irá de qualquer forma se eu tentar impedi-lo, é o que ele quer. O mais seguro é que eu acompanhe, que continue aconselhando.

 — Você fica incentivando ele que eu sei!- Mercstzine elevou a voz.

 — Não, eu só tento ajudá-lo.

 — Acho que ele apanharia muito bem sem sua ajuda.

 Endrick revirou os olhos.

 — O que foi isso?— Perguntou ela, retomando a faca.

 — Nada— Endrick forçou um bocejo.— Só estou com sono.

 — Como eu havia pensado.

 — Ontem eu vi a vitória, sabe?— sentou-se à mesa.— Esteve próxima.

 — Imagina como o garoto está se sentindo, era ele quem estava sob a luz do Lustre. E perdeu mais uma vez.

 — Eu sei bem como é— disse Endrick, pensativo.

 Mercstzine balançou a cabeça.

 — Não sabe. Você era um campeão, Endrick. Nico é um iludido por pensar que pode vencer o novo ídolo da Arena. Ele deveria voltar para os pequenos torneios de Cadisce que o velho Johen o levava.

 Apesar das suas palavras, Endrick via que ela não pretendia ser cruel.

 — Eu acredito que ele pode, senhora Mercstzine.

 — Meus ossos doem...— disse Nico, entrando no aposento.

 O olhar de Mercstzine pousou nele.

 — O seu chá está aguardando.

 — Dispenso, obrigado— sentou-se sobre a mesa e tentou inutilmente massagear os próprios ombros.

 — Onde você aprendeu esses modos, garoto?

 Ao ver a mulher da casa empunhando uma faca, não levou dois segundos para puxar uma cadeira e sentar-se.

 — Eu não percebi— desculpou-se.

 — Assim está melhor— disse ela, voltando a preparar o caldo para vender na pequena feira de Ellefen, o cheiro que se espalhava pela estalagem estava delicioso. O sabor explicava ainda mais o porquê de vender tanto, mas as moedas ganhas não eram suficientes para pagar os impostos.

 — O que aconteceu com as minhas botas, Endrick?— perguntou Nico, que nunca deixava uma pergunta de lado.

 — Eu tenho outro par lá em cima, depois você pega.

 A Casa Mercstzine era dividida em duas partes. A parte superior possuía oito quartos distribuídos em dois corredores estreitos, servia unicamente para os hóspedes; enquanto a parte térrea era onde viviam os proprietários, sendo usada pelos hóspedes apenas com permissão e para o que não podia ser feito em cima, como a alimentação. Essa forma de divisão foi criada pelos antigos Mercstzine, pois gostavam de conviver o menor tempo possível com estranhos.

 Nico resmungou.

 — Mas eu quero as minhas.

 — Não posso fazer muita coisa— Endrick deu de ombros.— Onde está Tarci?

 — Olha se está escondido nas minhas botas.

 Endrick não evitou um sorriso.

 — Perguntei a ela, gaiato.

 Mercstzine ficou com o semblante sério.

 — Ele teve um sonho— disse ela, sem olhar para eles.

 — Contou o que viu?

 — Falou apenas que iria até Elisesile e que vocês deveriam buscá-lo ao anoitecer.

 — Só disse isso?

 Ela assentiu.

 — Se é o que ele quer— disse Endrick—, então faremos.

 — O que acha que ele foi fazer?- Perguntou Nico, arrancando um pedaço dos pães que estava sobre a mesa e enchendo a boca.

 — Não faço ideia— respondeu.— Vamos ter que descobrir mais tarde.

 — Espero que sim.

 — Por ora, não acha melhor descansar? Você está quebrado.

 — Estou mesmo— gemeu—, mas não tenho sono.

 — Claro que não, doido. Dormiu...

 — Eu não sou doido!

 — Dormiu o caminho todo.

 — Só na volta— Nico ergueu o indicador.

 — O que estou querendo dizer é que você precisa deixar seu corpo se curar depois daquela Noite.

 — Não estou ferido, Endrick. Só estou com dor.

 — Nosso Criador, Nico! Quer se tornar o velho Johen?

 Mercstzine bateu com força a xícara sobre a mesa, fazendo parte do chá saltar para fora. Emanava dele um aroma levemente adocicado que todos gostavam, mas ninguém queria sentir o sabor invadir a boca. O chá de Mercstzine, como diria Tarci pelas costas da própria esposa, tinha gosto de agonia.

 Nico decidiu ignorar a bebida alaranjada de gosto duvidoso a sua frente.

 — Já está morno. Pode tomar, garoto.

 Ele olhou os olhos daquela mulher, que mais lembravam o céu sereno de uma tarde quente. Adorava ficar olhando eles, mesmo que por um curto momento, pois sabia que apanharia se fizesse isso por muito tempo. Ela usava um vestido azul levemente desbotado, a cor estava morta se comparada aos seus olhos. Um avental que talvez outrora tenha sido branco envolvia sua cintura de medidas largas que poucos podiam abraçar. Seu cabelo liso com mechas grisalhas estava preso em um coque desajeitado, porém não aparentava ser problema.

 Como o esteio de todos ali, tinha assuntos mais relevantes para tratar.

 — Me obrigue— Nico afastou a xícara.

 — Vira isso na boca de uma vez— disse Mercstzine, colocando o bule sobre a mesa e retornando a mexer o caldo no caldeirão, o vapor deixando seu rosto suado.

 — Também não começa com isso de Johen— disse Nico.— Não quero ser cópia de ninguém.

 — Mas é o que está parecendo— Insistiu Endrick.

 — Mas não é— ele bateu na mesa com a palma da mão.

 — Então para de teimosia, bebe logo esse chá— ordenou Mercstzine.— E não quero escutar mais batidas na minha mesa!

 — Só se Endrick devolver as minhas botas.

 — Estaria com elas se tivesse vencido— Endrick levantou-se.

 — Mas você viu como cheguei perto?— perguntou, sorrindo.

 — Claro que vi. Também assisti a bela surra do final, não se esqueça.

 — Não acha que fui bem?

 — Pode melhorar até que vença Abnor. Eu vou subir, pois sei que preciso descansar.

 — Concordo, grande Vanmorrênio.

 Endrick deu um tapa na cabeça dele.

 — Não me chame assim. Sabe que não gosto.

 — Precisava mesmo?— Nico gemeu.

 — Bebe o seu chá, doido.

 — Eu não...

 — Quer comer algo?— Perguntou Mercstzine.

 — Não, obrigado— Endrick retirou-se da cozinha.

 — Eu aceito— disse Nico.

 Mercstzine pôs a colher de pau diante dos seus olhos.

 — Você pode tomar o seu chá.

 — Não estou doente.

 — Servirá para suas dores, verá que vai deixá-lo mais forte.

 — Acho que estou um pouco melhor, não precisa. Aliás, bebi uma vez e não vi diferença.

 Mercstzine suspirou.

 — Quando eu terminar aqui, você vai beber o chá e depois me ajudar em umas coisas.

 — Eu não vou beber isso.

 — Você acha certo?— Ela cruzou os braços.

 — Claro.

 — Estou falando de continuar indo até Nider Cinstrice. Se arriscando para ser humilhado naquele lugar. Saindo de onde é seguro para onde é conturbado. Você acha certo?

 Nico assentiu.

 — Como eu disse, claro.

Lembrou-se de já ter escutado palavras assim, mas vieram de alguém que apenas queria prejudicá-lo. Não era uma pessoa como Mercstzine, sempre preocupada de verdade, era alguém amargo e cruel. O homem que Nico desejou nunca ter encontrado. O homem mordido três vezes pelo lobo.

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