Capítulo 2.2

Ela concordou com um suspiro. Sua cabeça doía. Ter levantado depressa e ido atrás dele não tinha sido boa ideia.

Ainda se sentia um pouco mole e detestava se sentir assim. Há muitos anos ela não ficava doente e fraca.

“Há quanto tempo”?

Não tinha certeza agora, não se recordava de certo as coisas.

Sabia que teria que esperar até que as imagens voltassem a encher sua mente de novo. Mas sabia que adoecer era algo difícil e raro para ela. Em breve lembraria.

Ainda estava apagada de sua lembrança, como ela tinha ido parar ali. Sabia que deveria estar em outro lugar, só não sabia onde. Pelo menos ainda não.

Carlo insistia em dizer que havia um avião envolvido em seu acidente, mas ela não se recordava de nenhum avião. Embora...

_ Aqui - voltou com as roupas _ Pode sentar? Devagar. Cuidado com a cabeça.

Ela sentou e a manta caiu de novo. Ele prendeu a respiração tentando não abaixar os olhos.

_ Vão ficar folgadas em você, mas é o que tenho aqui.

_ Carlo, por que não olha para o meu corpo? - sentou mais para a frente.

_ Porque está nua - meio óbvio.

_ E daí? - sorriu e pegou a camiseta cinza e ele a ajudou a vestir.

_ Além de não ser adequado - limpou a garganta _ Não quero ser processado por assédio sexual.

_ E por que eu faria isso? - franziu os olhos _ E o que é assédio sexual? - não recordava disso.

Ela levantou e se apoiou no ombro dele para que a ajudasse a vestir a calça do moletom. Carlo estava sentado na mesinha e a virilha dela ficou bem em cima de seu rosto.

O coração e outro membro pulsaram forte ao mesmo tempo.

_ Assédio sexual, sendo verdade ou mentira, é um processo muito sério e pode acabar com a reputação e a vida de uma pessoa. Não é algo que quero experimentar - balançou a cabeça _ E agora virou moda as mulheres processarem os homens por assédio e violência, sendo que muitas que realmente sofrem, acabam sendo prejudicadas por aquelas que mentem para ter proveito.

_ Como assim, moda? - puxou a calça.

_ Quero dizer que algumas mentem para tirar algum proveito da situação e até mesmo extorquir dinheiro dos homens, ameaçando sujar seu nome ou causar grandes problemas.

_ Mesmo se for mentira?

_ Mesmo assim - deu de ombro _ Não dá pra saber quando é verdade ou mentira e na maior parte das vezes, o homem leva a culpa, mesmo tendo provas que é armação.

_ E por que?

_ Infelizmente, muitas mulheres são mesmo vítimas de homens canalhas e as que são mais espertas, por assim dizer, aproveitam e entram na onda. Isso prejudica as vítimas reais.

_ É uma pena.

_ Realmente, mas caráter não escolhe gênero e nem a falta dele - torceu a boca.

_ Entendi - ela amarrou o cordão da cintura, puxando bem _ Obrigada pela roupa.

_ Suas roupas estão secando. Quer comer agora? - ela assentiu _ Vamos para a cozinha - a pegou no colo de novo e a levou até lá _ Fique aqui, eu te sirvo - a deixou na cadeira.

_ Certo.

Ficou olhando enquanto ele se movia pelo lugar. Até que o ambiente era bonito, embora sua cozinha estivesse há anos luz de diferença daquela.

“Anos luz”?

_ O que foi? Sente algo? - a viu franzir a testa.

_ Não... Tudo bem.

Amina focou na paisagem lá fora, pela janela, algumas coisas voltando devagar.

_ Coma, vai ajudar a se fortalecer.

Colocou um prato em sua frente e serviu uma porção pequena. O cheiro entrou direto em suas narinas, despertando sua fome. Após a primeira garfada o olhou surpresa.

_ Hum... É bom. O que é essa coisa amarela?

Ela sorriu de leve, percebendo que algumas palavras vinham de imediato. Seu chip estava funcionando bem, até definia as cores, podendo ser entendida.

“Ela tinha um chip? Na cabeça?”

_ Nunca comeu cuscuz?

_ Não - pegou mais _ E esses ovos com...- futucou com o garfo a comida.

_ Bacon.

_ Bacon? - estreitou os olhos _ Ah, é gordura de porco. É bom, eu gostei.

_ Que bom - ficou olhando-a comer apressada _ Pode comer mais, só vá com calma.

_ Por agora já está bom - parou _ Obrigada pela comida... E por me resgatar.

_ Foi sorte que eu estava lá fora, observando a chuva noturna.

_ Por que mora aqui? - gesticulou.

_ Não é aqui que moro. Já foi minha casa antes - mexeu na comida _ Estou aqui para pensar, me isolar.

_ De quê? - franziu a testa sem entender.

_ Da morte.

Ele respondeu rápido sem pensar e viu que a assustou, mas infelizmente era o que estava acontecendo nos últimos meses e não apenas ali, mas em todo o mundo.

Ainda não havia segurança de que as coisas iriam melhorar em breve e enquanto isso muitas pessoas morriam.

Algumas por ignorância e outras por estupidez.

A vida era assim.

Cheia de dúvidas, algumas certezas e poucas mentes brilhantes.

E no meio disso tudo estava ele, tentando sobreviver enquanto podia e da melhor forma possível, aguardando que algo muito interessante e diferente o fizesse encontrar um caminho.

De preferência um caminho tranquilo e que pudesse dividir com alguém.

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