Capítulo 2.1

Era uma arquitetura comum na Terra e tinha um ar aconchegante. Apesar disso, ela precisava descobrir onde estava realmente.

Carlo entrou na sala e a viu sentada. Se aproximou.

_ Que bom, acordou - parou ao lado do sofá com uma bandeja nas mãos.

Ela levantou o rosto para olhá-lo e agora sim ele podia ver bem seus olhos cinza. Sorriu de leve. Não queria deixá-la nervosa.

Parecia confusa ainda e sua postura mostrava um pouco de indecisão e timidez. Talvez uma certa desconfiança, o que era perfeitamente normal.

_ Estava muito preocupado com você - colocou a bandeja na mesinha em frente ao sofá.

Sentou ao lado dela e pegou sua mão com delicadeza, sentindo seu pulso, sorrindo para ela enquanto examinava sua feição agora que estava acordada.

E a achou mais bonita ainda.

Amina gostou do toque suave em seu pulso e do sorriso. Ele não parecia em nada ameaçador.

Sentiu seu cheiro e gostou, meio cítrico. O cabelo estava penteado agora e seus olhos eram de um castanho brilhante.

Mirou seu queixo e sem perceber cutucou o furinho atraente. Ele riu fazendo um som engraçado.

_ Se sente melhor? - mexeu no cabelo dela.

Ela olhou os movimentos da boca dele e agora já captava seu idioma nativo. Ainda assim tocou novamente seu pescoço embaixo do queixo para sentir a vibração.

_ Onde estou? - perguntou firme.

_ Na minha casa na montanha.

Ele mexeu as sobrancelhas, achando estranho e engraçado também ela segurar sua garganta.

_ Quem é você?

_ Meu nome é Carlo Fernandez - continuou sentindo seu pulso, depois tocou seu rosto, puxando as pálpebras e abrindo seu olho _ Quantos dedos tem aqui na sua frente?

_ Um... - olhou para a mão dele _ Agora três... Um de novo - franziu a testa. Sabia que era um teste.

_ Certo... E você pode me devolver minha garganta? - sorriu.

Ela retirou a mão o encarando.

_ Vê bem meu rosto?

_ Vejo sim - cutucou de novo seu queixo _ E você tem um buraco no queixo.

_ Desde que nasci - riu.

_ Eu gosto. É... É bonito.

_ Obrigado - meneou a cabeça.

Ele gostou de ouvir o elogio. Há anos ninguém o chamava de bonito. De inteligente, boa pessoa, competente e coisas assim era mais fácil de ouvir.

_ Seu nome é Amina, não é?

Ela tocou a cabeça piscando rápido.

_ É... Amina Fiuzza.

_ Não forçe, você bateu a cabeça.

_ Estou sentindo - suspirou.

_ Tem fome?

Pegou a xícara de café e passou com cuidado para ela.

_ O que é isso? - olhou o líquido escuro e a fumaça que saía _ Cheira bem.

_ É café - riu _ Quer leite? Ou prefere um suco, talvez? Posso pegar para você.

_ Café? - arregalou os olhos.

Ela pegou a xícara das mãos dele e tomou um gole de vez e quase derrubou tudo.

_ Calma, está quente - tomou a xícara de volta.

_ Já percebi - ela murmurou fazendo uma cara engraçada _ E queimou minha garganta. Não sabia que era tão quente assim.

_ Desculpe, deveria ter avisado.

Bem, a culpa não era dele. Ela sempre quis provar a bebida, mas nunca fôra possível, apesar de saber que era boa.

_ Se esperar um pouco pode beber.

_ Por que me trouxe aqui?

_ Fiquei agoniado para tirar você da estrada e não tinha como levá-la a um hospital grande - explicou enquanto trocava o curativo _ Chovia muito e esqueci de ligar para a polícia para avisar. Mas creio que a queda de um avião tenha chamado a atenção de todos por aqui. De certo alguém deve ter avisado.

_ Um avião? - não entendeu.

_ Sim... Não se recorda? - ele ficou um pouco preocupado _ Só espero que não tenha perdido a memória. Ás vezes uma pancada na cabeça pode prejudicar um pouco a memória - ajeitou seu cabelo atrás da orelha _ Teve muita sorte. Poderia ter sido fatal.

_ Ainda bem que não. Eu não gostaria de morrer.

Ele achou engraçado.

_ O celular está sem sinal e não tenho rádio comunicador ou um telefone fixo aqui na cabana. Mas quando tiver sinal de novo ligarei para um médico. Também é bom chamar a polícia.

No caso dela não seria bom. Não antes de saber mais sobre o lugar e encontrar sua nave para sair dali e voltar para casa.

_ O que diz... Celular?

_ Aqui - levantou e pegou o celular _ Vê? Está sem sinal, deve ser por causa da chuva pesada.

_ Ah, seu comunicador.

Ele riu. Ela falava engraçado e parecia um pouco alheia ás coisas em volta.

_ De onde veio? Gosto de saber sobre as pessoas que resgato - brincou.

_ E resgata muitas?

_ Não - balançou a cabeça _ Já resgatei cinco gatos e dois cachorros. Você é a primeira mulher.

_ Que bom pra mim - sorriu de leve.

_ E então? De onde é?

Ela mexeu a cabeça. Estava tudo branco em sua mente.

_ Não sei... - tocou a testa _ Não me lembro...

_ Tudo bem, não fique preocupada. Isso pode acontecer.

Ela não podia ter esquecido, era só uma tontura, é claro.

_ Aos poucos tudo fica mais nítido - pensou na burrice de não ter um rádio na cabana para algo que precisasse, seu pai sempre lhe dizia para ter _ Coma um pouco - pegou um pratinho _ Esses pãezinhos são de queijo, comprei na cidade lá embaixo.

_ Onde estamos?

_ Na montanha. No meio dela, na verdade. Estamos há seiscentos e sessenta e três metros de altura acima do nível do mar.

Ela mordeu um pão de queijo cheio de recheio e fez um som de satisfação. Ele gostou e foi para a cozinha preparar algo mais para eles comerem.

Gostaria de saber de onde ela viera. Não tinha documentos, que por certo deviam estar nos escombros.

Voltou para lhe perguntar e estava deitada de novo. Deixou que dormisse um pouco mais e voltou para a cozinha.

Ela poderia ter marido e filhos a esperando, mas não viu nenhuma aliança. Talvez pais e amigos preocupados com sua demora.

Iria ligar a tevê depois e ver se havia alguma notícia sobre a queda de um avião.

Era possível que estivessem já procurando por ela. Não era algo que demorassem a fazer.

Mexeu bem os ovos e colocou um pouco de tempero e queijo como ele gostava. Aumentou a chama da boca onde estava o cuscuzeiro e colocou a frigideira pequena para esquentar.

Quando se virou para pegar o bacon em cima da mesa, se assustou.

Sua recém resgatada e nova paciente estava encostada na porta da cozinha o olhando.

_ Amina! - foi até ela _ Não deveria ter levantado.

_ Queria mais, estou com fome - devolveu o pratinho.

E caiu.

Sua vista ficou escura e só ouviu o barulho da porcelana se quebrando. Ao abrir os olhos o rosto dele estava em cima dela e ele xingava lhe dando tapinhas na bochecha.

_ Se estou machucada, por que me bate? - murmurou.

_ Por Deus... - a envolveu com os braços _ O que faz aqui, garota?

Carlo não queria prestar atenção no detalhe de que ela estava nua no chão de sua cozinha.

Suprimiu o interesse que fez sua pele arrepiar quando se apressou para segurá-la antes que batesse a cabeça outra vez.

Ela passou os braços por seu pescoço e ele segurou em suas costas, passou o braço por baixo de suas pernas, mirando seus olhos cinza para não descer até os seios descobertos, que para ela não parecia incomodar a exposição em nada.

Para ele, sim.

_ Desculpe, quebrei seu prato.

Ele não ligava para um simples prato, mas sim para a mulher em seus braços. Ele se ergueu a levando nos braços.

Amina não pesava muito, era magrinha, porém com curvas.

_ Tudo bem, tenho outros.

Ele percebeu um pequeno sorriso que passou por seus lábios. Ela parecia se divertir de certa forma.

_ Ainda não está forte o suficiente para sair caminhando pela casa. Tem que esperar por mim.

_ Nunca esperei por macho nenhum.

_ Macho? - ele riu _ Fique aqui. Vou ver se acho algo para você usar e se cobrir - a deixou no sofá.

_ Meu corpo o incomoda?

_ Não... De forma alguma - ficou um pouco sem jeito. Ela deitou de novo _ Não saía daí, eu já volto.

_ Está bem.

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