Capítulo IV

MELANIE

Passadas algumas semanas após ter saído do castigo no quarto escuro, e já recuperada, caminho por entre as pessoas do vilarejo, ao lado da irmã Consuelo. Nós estamos indo até o mercado fazer a encomenda dos mantimentos para o convento e já que sou sua ajudante tive que acompanhá-la, pois algumas coisas levamos agora mesmo.

Ao passar em frente ao Centro Médico, meu coração tem um solavanco e parece que vai sair pela boca, porque imediatamente me recordo da última vez em que andei por este mesmo caminho e que me deparei com o homem mais bonito que já vi em toda minha vida. Não consigo desgrudar os olhos do prédio todo branco o corpo tenso e ansioso ao mesmo tempo, querendo vislumbrar ao menos o rosto do homem só mais uma vez. Seguimos caladas e quando estamos quase próximas ao prédio um carro vem e estaciona ao lado do prédio nesse momento meu coração bate descompassado ao ver o homem todo vestido de branco sair pela porta do motorista e olhar para a frente, mas ele fica estático, assim como eu, quando nossos olhos colidem.

Não consigo compreender que tipo de força é essa que me detém no lugar, sem querer me mover. Arfo profundamente buscando ar para meus pulmões que necessitam, pois o simples movimento de respirar se torna impossível no momento. Tudo para e não há mais nada, além de nós dois e essa força que me puxa em sua direção.

─ Noviça?! Venha logo ou nos atrasaremos. ─ A irmã Consuelo faz com que o momento seja quebrado.

Baixo a cabeça para fugir dos olhos penetrantes que desnudam minha alma e sigo a irmã, não ouso mais olhar em sua direção para não mais me perder.

Passamos ao lado do seu carro, não me permito levantar a cabeça, mas consigo sentir seus olhos queimando sobre mim.

Algumas horas mais tarde, estamos saindo do mercado cheia de sacolas e com um dos meus amiguinhos nos ajudando com algumas as compras. Andamos pela rua principal do vilarejo apressadas para chegar logo, pois está escurecendo e logo é hora de começar os preparativos do jantar.

Como estou carregada de sacolas em meus braços esbarro em uma pessoa, sem querer.

─ Desculpe-me, senhor. ─ Peço, baixando a cabeça logo em seguida, pois foi assim que nos foi ensinado a nos portar diante de homens.

─ Hora, hora se não é a freirinha que estávamos procurando. ─ Não compreendo o que o rapaz quis dizer e levanto minha cabeça para olhar o homem a minha frente.

Reconheço-o na mesma hora, pois me recordo do dia em que fugi do convento para brincar com os meninos, ele e outros homens ficaram me observando enquanto passava. Olhando ao redor reconheço os outros homens que estavam com ele aquele dia. Observo também que um deles olha sem cessar para uma foto em suas mãos e para meu rosto logo em seguida, como se quisesse realmente confirmar que sou. Quando, por fim, dá-se por satisfeito, diz:

─ É ela mesmo. Ela é a garota que o chefe pediu para levarmos para ele. ─ No momento em que escuto as palavras, meu corpo todo gela e meu coração começa a batucar em meu peito a ponto de explodir, pois não sei o que esses homens podem querer comigo, muito menos o chefe deles, porque tenho plena consciência que esses homens fazem parte do Cartel de Sinaloa e o chefe deles é o traficante mais poderoso de todo o México.

─ Se...senhor eu não sei a que se referem. N...não conheço nenhum de vocês... deve ter havido algum en...engano. ─ Gaguejo tomada pelo nervosismo.

Mas apesar dos meus apelos sinto duas mãos fortes agarrando meus braços e me puxando.

─ Me soltem, por favor!

─ Noviça o que está acontecendo? ─ Irmã Consuelo questiona.

─ Mel por que esses homens estão te levando? ─ Juan pergunta assustado.

─ Deve ser um engano. Me soltem por favor! ─ Suplico angustiada.

Mas apesar dos meus protestos, eles não me ouvem e me arrastam pela rua em direção a uma caminhonete velha mais adiante. Vejo Juan gritando e tentando bater em um dos homens na tentativa em vão de me libertar. Eu me debato tentando escapar das mãos que me seguram com firmeza, esperneio e luto me debatendo para que eles não consigam me levar até o carro.

─ Por favor, alguém ajude! ─ Escuto os gritos da irmã Consuelo. Todos vêem a cena, mas não têm coragem de interceder por mim, porque ninguém quer bater de frente com os homens do Cartel.

Quando o homem que me arrasta é atingido por uma pedrada na cabeça e leva a mão até onde foi atingido, ficando um pouco desnorteado, aproveito o momento para correr e tentar fugir. Saio em dispara me embreando mata a dentro, não olho para trás, mas dá para ouvir quando um deles grita para virem atrás de mim.

Seguro a saia do hábito, para facilitar, e corro o mais rápido que consigo. Como a mata é bastante fechada adquiro alguns hematomas por causa dos galhos das árvores, mas não me importo, pois tudo que quero é conseguir despistar aqueles homens horríveis.

─ Meu Deus, me ajude. ─ Imploro ainda tentando entender o que foi que aconteceu e por que esses homens estão querendo me sequestrar. Porém não consigo pensar em mais nada, pois escuto o barulho de pneus se aproximando pela estrada de terra que corta toda a floresta.

O suor escorre do meu rosto, mas não ouso parar por que se esses homens me pegarem eu não sei o que será de mim e nem o que eles querem comigo. Garanto que não deve ser nada de bom. Sigo entrando mata adentro, desviando dos galhos espinhosos das árvores, sem sucesso, mas não desistindo de continuar, pois minha vida depende disso.

─ Ela está ali! ─ Escuto o grito e olho para trás, constatando que dois homens estão a pé, quase me alcançando.

─ Tenho que correr mais rápido! Não posso deixar que eles me peguem.

Mesmo estando exausta não ouso parar, não quando eles estão tão perto de mim. Tropeço em uma pedra no caminho e saio deslizando pelo barraco acima da estrada por onde o carro com os outros dois homens me seguem. Rolo mais um pouco, mas consigo me estabilizar e levantar quando quase ia deslizando completamente pelo barranco até cair no meio da estrada. Levanto sem me importar com os machucados pelo corpo, que com certeza não devem ser poucos, e começo a correr novamente.

─ Parada! ─ Não! Não! Eles não podem ter me alcançado. Não permita, senhor, por favor. Clamo em silêncio.

Olho para trás e vejo que eles estão a poucos passos de mim, mas não me intimido e volto a correr.

─ Parada, senão eu atiro, vadia! ─ Estanco no lugar com a ameaça. Viro lentamente e constato que um dos homens está com uma arma apontada em minha direção.

─ Se você se mover eu atiro. ─ Sei que sua ameaça é verdadeira, mas sei também que se eu for com esses homens poderá também ser meu fim, então tomo a decisão mais difícil de toda minha vida.

Saio em disparada pelo meio das árvores e é então que escuto o primeiro tiro ricochetear em um galho de árvore próximo a minha cabeça, abaixo-me e sigo correndo sem olhar para trás. Tiros e mais tiros passam próximos a mim, mas não ouso parar.

Quando chego perto de uma clareira fico sem saber o que fazer então paro para decidir para que lado ir, mas é nesse momento que um tiro acerta meu ombro.

─ Ai! ─ Grito de dor colocando a mão sobre o ombro.

Mas apesar da dor vou descendo a clareira, mesmo estando um pouco tonta pela perda de sangue, vou cambaleando sem forças, porém minha visão turva e as pernas fraquejam, pois já não consigo mais me manter de pé. E é nesse momento que meu corpo tomba e vai deslizando pela montanha. Não consigo mais ver nada, porque a escuridão me toma e eu desmaio.

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