Capítulo 01: Adeus Riverwood

Ou esse é o melhor ou esse é o pior dia da minha vida. Não tem como ser os dois!

Bem que hoje podia ser um dia normal.

Suspiro enfrentando o céu escuro que se exibe pela janela aberta a minha frente e repito para mim que talvez possa ser o melhor, mas meu consciente faz-me o belo favor de me lembrar que mentir é inútil. Ainda mais se for para eu mesma.

O piso de madeira frio inicia um processo para congelar minhas pernas expostas que repousam sobre o mesmo as atribuindo um leve castigo.

O vento que atravessa a janela afasta meus cabelos escuros e se faz sentir na região do meu pescoço buscando pagamento da divida que também tem que ser paga por eu sentar ali exposta perante ele e para a noite que esta se despedindo dando sucessão ao dia.

Dentro de mim inicio uma tortura ainda pior a que está sendo atribuída o meu corpo começa ao abrir uma das inúmeras caixas que estavam no chão do quarto pequeno.

Se eu queria uma prova de que algo me incomodava ali estava ela, sorrindo para mim.

Agora enfrentando a verdade me arrependo e tento insistir novamente na mentira.

Insisto na possibilidade de eu acordar com o cheiro das rosas vindas do jardim maravilhoso da minha casa perfeita cor rosa, que eu olhasse para janela e o sol abrisse um sorriso enquanto pisca para mim.

Com o som da minha mãe cantando uma música perfeita antiga vinda da sala e com os passarinhos na janela cantando e dançando em perfeita harmonia com ela...

Mas não! Não adianta.

Também mais ninguém acorda assim em pleno século vinte um, ou se sim acho que é pouca gente.

E minha realidade realmente é outra muito diferente.

— Bom dia ALISSA — A voz de Peter surge no quarto escuro, ergo meus olhos até sua silhueta que surge atravessando a janela e vem gritando como um Tarzan pulando para cima de mim.

Um dia esse garoto vai acabar por me matar.

— Você quer me esmagar é? — faço uma careta de dor assim que me pego deitada no chão analisando o teto pálido igual as paredes e depois volto meu olhar a Peter.

Ótima forma de começar o dia.

— Desculpa Ali — Ele abre um sorriso enorme enquanto olha para mim também deitado piso torturante e gélido que abraça nossos corpos— Eu vi você se movendo no meio do escuro da minha janela.

 — Achei que tínhamos combinado que você ia parar de me espiar no meio da noite— sorrio com certo sarcasmo e logo um sorriso fino do mesmo tipo nasce no rosto dele também.

O céu escuro, não permanece mais no seu estado sombrio por muito tempo, a luz sempre vem para espantar a escuridão que aterroriza o ser humano, com a intenção de lhe trazer o dia como recompensa e paz.

Mas hoje eu não quero tanto a luz pois não tem nenhuma paz nesse dia que se assemelha a um castigo, tanto que faz com que eu implore novamente pelo escuro.

— E eu achei que tínhamos prometido que ia ao menos tentar não parecer muito melancólica hoje. E abrir aquela maldita caixa não ia ajudar em nada.

— Peter Griffin querendo me ditar as cinco e meia da manhã — faço careta bem feia para ele — Eu estou bem ok? E eu não ia abrir aquela caixa eu sou fiel as nossas promessas.

Atribuo a minha mentira a ilusão de um sorriso, e como previsto foi o suficiente para ele acreditar e encobrir a confusão dentro de mim, esse ato já sé tornou automático para mim, algo que por razoes duras na vida as pessoas aprendem.

 Eu virei especialista nessa arte

Arte de abrir um sorriso fácil para o resto do mundo e depois lidar com consequências difíceis da tempestade que ocorre no mundo dentro de nós.

— Não vamos fugir da parte que você me explica porquê de me estar espiando — Faço uma careta para ele — No meio da noite…

— É seu último dia aqui em Riverwood e eu quero aproveitar ao máximo com você Alissa.

Peter começa com seu drama e eu deixo os problemas de lado e lhe lanço um outro sorriso dessa vez de verdadeiro mesmo não conseguindo evitar rolar meus olhos em seguida.

— Minha melhor amiga vai se mudar que tristeza — ele faz uma pose dramática pondo a mão no peito e na testa, enquanto solto um risinho. — Seremos separados para sempre e nunca mais vai me ver.

— Isso não é verdade.

— Sua mãe vem buscar você ao meio dia, temos pouco tempo — seu tom está mais sério enquanto seus olhos escuros me analisam.

— Nem me lembra isso — suspiro enquanto encaro seus olhos escuros banhados pelo luar — A ideia de viver com minha mãe é o que mais me assusta.

Isso era verdade. Minha tempestade interna ocorre por causa disso.

Ver minha mãe depois de tanto tempo me deixa confusa. Não sei se depois de tanto tempo muito dará cedo, ainda mais depois do que aconteceu no passado.

— Ela parece ser uma boa pessoa — Ele se deita de barriga para cima na cama encarando o teto pálido de meu quarto.

— Você disse bem "parece" — faço aspas com as mãos — Mas não quero falar disso agora, vou no banheiro e já volto.

— Não demora porquê quando você entra nessa coisa fica umas três horas aí dentro.

— Não exagera Peter — bagunço seus cabelos castanhos enquanto ele resmunga.

Pego uma roupa antes de sair do quarto e espero ver meu pai ou Lauren, mas nenhum sinal deles não estranho muito porquê ainda era realmente cedo.

Suspiro ao sentir a porta do banheiro pequeno ser fechada a minha trás e me encaminho ao espelho encarando meu próprio reflexo.

Só espero que tudo de certo! Por mais difícil que pareça que isso seja possível eu espero...

Tomo um banho longo, e relaxo sentindo as pequenas gotas de agua levarem grandes cargas da mina tensão Troco de roupa ponho um short e meu moletom amarelo, tomara que a boa energia da cor me inspire porquê estou a precisar.

— Ótimo você não demorou — me assusto quando dou de cara com Peter na porta e as coisas que estavam em minhas mãos vão ter um encontro com o chão.

— O que você estava fazendo aí ?!— Me agacho para pegar minhas coisas enquanto ele sorri.

— Nada só estava passando — o encaro seus desconfiada, mas deixo passar.

— Você é meu amigo Peter, mas você é muito estranho — ele ri e engancha seu braço a volta de meu pescoço e ri enquanto vamos para o quarto.

— Você nem imagina...

[...]

Arrumar e por tudo em caixas é mais difícil do que pensei! Sento no chão de madeira e olho em volta o quarto que antes era preenchido por posters dos one direction marcando uma boa fase da minha adolescência.

Agora só restam marcas dos pósteres em diferentes tamanhos na parede, que variam de tamanho médio e grande. O armário sem nada e por fim vazio, igual ao vazio enorme que me preenche por dentro.

— Aí eu vou sentir tanto a sua falta minha filha — Lauren fala tristonha entrando no quarto.

Lauren é minha madrasta, mas eu lhe considero como uma mãe, ela cuidou de mim esses anos todos sempre fazendo o papel da mãe que eu nunca tive. Ou melhor a mãe sim que eu tive mas que decidiu sumir.

— Você cresceu tão rápido pequena! Com quem eu vou brigar agora?

Sorrio com seu comentário e levanto para ir abraçá-la.

— Eu também vou sentir sua falta sua chata maravilhosa — dou um beijo na sua testa — Vamos continuar mantendo contato.

Por um momento me sinto mal por ela. Eu não acredito que vou ter de sair daqui!

Riverwood é uma cidade pequena, velha e com sua população de mil e duzentos habitantes, a maioria idosos.

Não é um lugar a qual eu atribuiria o titulo de perfeito ele estava muito longe disso ainda mais pelo fato de que devido ao número pequeno habitantes as chances de encontrar alguém indesejado na rua triplicam.

Pode ter e mais mil defeitos também, mas essa é minha casa.

Sair daqui é doloroso e ainda mais para ir morar com minha mãe a mesma que um dia também saiu por aquela porta e nunca mais voltou a entrar pela mesma.

Vai ser difícil viver com ela, mas não tenho escolha. Talvez possa estar exagerando e ela é legal e até possamos nos dar bem.

Repito cobrindo os pensamentos a ilusão de um sorriso curto e dolorido.

— Eu fiz panquecas para você — Lauren abre um sorriso encantador enquanto prende os cabelos grossos para trás— É melhor você ir logo antes que aquele seu amigo coma tudo.

Vou a correr para a sala e ouço ela rir no quarto, as panquecas da Lauren são as melhores que já comi em toda minha curta existência e se for essa a última vez que vou poder comer aquele pedaço do céu não quero perder a última chance.

Sento ao lado de Peter que me olha com um sorriso.

— Se continuar correndo como uma louca vai cair e partir a cara antes de chegar a Nova York. — Ele leva uma garfada a boca e aponta com o garfo.

Lhe mostro a língua como uma criança mimada e ele devolve o gesto rindo.

— Ele tem razão. Ali — A voz do meu pai surge no comodo e logo seu toque acolhedor me alcança para me cobrir em um abraço por trás. — Eu quero que você não quebre nada ate o final desse dia perfeito. Só os céus sabem como você esperou por isso.

E só eu sei também o quanto ele desejou isso.

— Steve eles não são mais crianças! — Lauren aparece ao seu lado — Eles já estão no na faculdade.

— Faculdade ou não, serão sempre crianças para mim e também porq...

Ele nem termina a frase e ouvimos o som de uma bosina alta de um carro e outra em sequência.

— Acho que sua mãe chegou — Ele vai até a janela e espreita — Oh céus é ela mesmo.

Todos saímos de casa rápido é como se meus passos competissem com meu coração para ver quem consegue ir mais rápido.

Paramos no jardim da frente onde um Cadillac preto que está a metros de distância de nós apenas somos separados pelo curto cercado branco de jardim que esconde metade das pernas de um motorista de terno com um chapéu engraçado que acena enquanto finalmente a dona do carro sai da parte de trás.

— Pedacinho de açúcar mamãe VOLTOU — ela grita com toda a força armazenada em seus pulmões.

Observo a bela mulher alta e muito parecida comigo, desde seus olhos marcantes que carregam iris azuis intensas até seus cabelos compridos a única diferença é que meus cabelos são mais curtos e sou mais jovem.

Mas mesmo assim ela não aparenta ter a idade que tem, quem não nos conhece pode acreditar que somos irmãs e não mãe e filha.

— Vem aqui não seja tímida bebé linda — Ela vem e me abraça com força dando tapinhas no meu rosto.

— Pensei que só viesse mais tarde — forço um sorriso — Mas é bom te ver mãe.

— Eu sei meu anjo temos tanto para conversar — grita mais uma vez.

Com certeza a atenção dos vizinhos fofoqueiros está toda aqui. Lembrete mental alem da maioria da população de Riverwood ser velha, também é muito bisbilhoteira

— Tyler ajuda a levar as malas dela e mete no carro — manda ao motorista.

— Eu ajudo — Lauren se oferece.

— E está quem é?

Ela olha com curiosidade a morena cacheada ao lado de meu pai.

— Ela é minha esposa — Papai abraça Lauren de lado de um jeito protetor — É bom te ver depois de muito tempo Mayra.

— Sua esposa é linda e também é bom te ver Stevie — Abre um sorriso malicioso enorme — O tempo passou, mas você continua gato.

— Mãe...acho que é melhor irmos logo — tento sair daquela cena desconfortável.

— Claro querida vamos embora — Seu sorriso longo se mantem mas a malicia é substituída por algo que desconheço mas julgo ser carinho.

Me viro para Peter e com um sorriso triste lhe dou um abraço apertado, ele retribui na mesma intensidade, Peter e eu jogamos o mesmo jogo de vez em quando.

Ele também esconde algumas coisas que sente, mas é péssimo a esconder por muito tempo ou simplesmente eu é que me tornei especialista em velo como agora, eu vejo sua dor.

— Não se preocupa Alissa você vai voltar mais cedo do que imagina — Peter abre um sorriso estranho e longo.

— Como assim? — pergunto confusa.

— Alissa vamos logo embora não aguento mais ficar aqui — minha mãe grita eufórica pondo um par de óculos de sol.

— Acho melhor você ir — ri e eu concordo — Vou sentir sua falta, muito mesmo.

Abraço meus pais e me viro para o carro onde Tyler acaba de por a última mala. Respiro fundo entro e vejo seus rostos tristes através do vidro escuro quando logo o carro parte.

Tenho um aperto enorme em mim quando vejo tudo ficar para trás.

Mas, porém, estou feliz, feliz por esse novo começo e por uma nova oportunidade. Agora começa uma nova fase da minha vida.

E a mais difícil.

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