02

- Não, só preciso de uma carona mesmo. - falei lhe dando um beijo rápido. - Bom já vou, a gente se vê amanhã na escola. - Falo para o pessoal que assenti e se despede de mim, Isaac e Kiari.

Caminhamos os três até o estacionamento em completo silêncio, aquele lugar está escuro e isso dificultava em acharmos o carro do Isaac.

Dez minutos apertando o alarme para ver se o carro ascende e indica onde está, e ainda estamos aqui. Meus pés doem, estou só de maiô, e estou começando a ficar com frio.

Passo a mão sobre meu cabelo ainda molhado e minha pulseira da sorte prende em algum fio e se solta caindo quase que embaixo de um dos carros. Bufo irritada e me abaixo para tentar pegá-la deixando o Isaac e a Kiari andando na frente, tenho um pouco de dificuldade mais consigo pegar, arrasto minha mão até um pouco abaixo do carro, até conseguir finalmente pega-la. Quando levanto olho para trás e dou de cara com Nicola olhando fixamente para mim, dou um pulo de susto e coloco a mão no peito.

- Que bom te ver Alexandra. - Ele diz meu nome como um sussurro, e eu olho em volta vendo o vulto de Isaac e Kiari a uns dez metros de mim.

- Oi Nicola, quanto tempo? - Pergunto tentando ser simpática e ele chega mais perto fazendo a pouca luz que tinha ali refletir nos seus olhos azuis. Eu não tinha notícias dele tem bastante tempo e é um pouco assustador vê-lo de volta.

Nicola não me coloca medo como no resto das pessoas que convivem com ele, apesar de agora ter se tornado líder de uma gangue, eu o conheço desde criança, vi o lado mais vulnerável dele diversas vezes, além do que, namorei com Nicola até os meus quinze anos.

  Ele ainda me encarava sem dizer nada é isso estava me deixando nervosa, ele só ficava me olhando fixamente.

- Foi bom te ver. - dei um sorriso apressado e tentei sair, mas ele estava na minha frente bloqueando a passagem. - Olha, eu tenho que ir, Isaac e Kiari estão logo ali. - Falei apontando para eles, mas Nicola nem se quer se mexeu, continuou parado olhando para mim como se estivesse em transe.

- Como você fica linda de maiô, Alexandra. - Ele diz com um sorriso safado e eu cruzou os braços o encarando, ele acha que eu sinto medo dele como todos os outros, mas vou provar que conheço ele o suficiente para não sentir nada além de pena.

- Vamos embora Nicola. - Um garoto com uma garrafa de bebida na mão falou surgindo atrás dele.

- Parabéns pela vitória, a gente se vê. - Ele falou com um sorriso e saiu rindo com o cara. Cominho até Isaac e Kiari que estavam parados ao lado do carro sem entender nada.

- Era Nicola? - Isaac perguntou me olhando e então assenti. Ele não poderia fazer nada, Nicola é praticamente um marginal e ele era todo certinho apesar das tatuagens feitas contra os seus pais num ano de rebeldia, que no caso foi ano passado, e eu sei que ele se arrepende de cada uma delas.

É incomparável a diferença entre eles, então Isaac apenas me olhou e entrou no carro, eu sabia o quanto ele estava chateado com a situação do Nicola ter voltado, sabia que ele se sentia inseguro. Fiz o mesmo que ele me sentando no banco do carona sem dizer nada. E o que eu poderia dizer? Não tinha nada demais, Nicola voltou mais isso não afeta em nada nosso relacionamento.

Aquele silencio dele estava me matando, eu precisava falar algo. Peguei sua mão que segurava o volante e ele me olhou.

- Está tudo bem, você não precisa ficar assim, estamos juntos, certo? - digo, confortante. Ele morde o lábio e suspira. Nicola mal está de volta e já está arrumando problemas para a minha vida.

- Só não quero ver esse cara em todos os lugares, ainda por cima atras de você. - A revolta era nítida em sua voz, eu a entendi. Mas o que eu podia fazer?

- Foi por acaso, ele não estava atras de mim-minto, Isaac me olha revirando os olhos.

- Pensei que ele tivesse sumido desde que foi expulso da escola. - Comenta Kiari do banco de trás e suspiro, até um pouco aliviada por ela ter entrado no assunto.

- Ele tinha sumido desde então, mas pelo visto voltou. - Falei, tentando colocar a minha pulseira no pulso novamente.

Fazia tanto tempo que não o vejo e posso dizer que fiquei preocupada. Sim eu me importo com ele, como eu disse conheço Nicola desde criança.

-Talvez tenha voltado só para ver sua competição. - Isaac falou visivelmente irritado e com ciúmes. Coloquei a mão na nuca dele para tentar acalma-lo, novamente.

- Alex, sabe aqueles shorts de educação física que você disse que estão apertados em você? - Kiari pergunta e eu murmurei um sim. Finalmente mudamos de assunto. - Então, você poderia me emprestar para a aula de amanhã? - ela perguntou meio sem jeito pelo fato do irmão está bem na sua frente e eu dou um risinho quando o Isaac balança a cabeça dizendo não.

- Para que, Ki? Estão apertados em mim e temos quase o mesmo tamanho. - Falei constatando que iriam ficar apertados nela também é ainda curtos pelo fato de ela ser um pouco mais alta que eu.

- Nem pensar que você vai usar um short curto, Kiari. - Isaac fala a repreendendo e eu o olho de lado. Irmão ciumento, se eu fosse a Kiari me sentiria sufocada.

Kiari não diz mais nada e se encosta no banco de trás frustrada, bufando e com os braços cruzados. Depois preciso saber o que está acontecendo com ela. Kiari não é de se abrir para ninguém, ela é uma menina calada e até um pouco sozinha, e eu acho que ela precisa de alguém para conversar.

 Em poucos minutos já estamos na frente da minha casa e eu olho para mesma e dou um suspiro.

- Te vejo amanhã. - Isaac diz enquanto se inclina para me beijar. O nosso beijo e calmo como sempre. E tenho que admitir que amo com uma intensidade que não sei explicar.

- Tchau, vejo vocês amanhã. - Falo abrindo a porta e saindo do carro.

 Esperei um pouco e fui em direção à porta de casa sem a mínima vontade de entrar.

 Abro a porta e vejo Pamela sentada no sofá cercada de livros de ciências, e isso me faz sorri.

- Boa noite. - Falei enquanto me aproximava dela que estava concentrada. Assim que ela me olha levanta correndo sem jeito e vem até a mim.

- Você ganhou? Me diz você ganhou? - ela pergunta com dificuldade por conta do aparelho ortodôntico que ela tem na boca.

Dou um sorriso e pego a medalha na bolsa e estico para ela ver, no mesmo instante ela endireita os óculos para olhar melhor e dá um sorriso desajeitado.

- Incrível. - Ela diz com os olhos brilhando e eu ouso umas risadas escandalosas ao longe que me chamam a atenção. - Ah, a mamãe está com as amigas na cozinha. - Ela diz e eu assenti. Por isso ela estava estudando, se a mãe dela estivesse perto ela não poderia fazer isso.

Pamela tem apenas quinze anos e é uma fofa, diferente da mãe. Com seus olhos azuis e cabelos loiros crespos que é digamos que bem peculiar, não é bonita, mas é especial, e quer ser uma cirurgiã plástica, por isso os livros de ciência.

Vou andando em passos lentos até a cozinha e vejo a minha madrasta sentada à mesa com um bando de senhoras de meia idade assim como ela, tomando uma espécie de chá, todas com cara de ricas e esnobes assim como ela.

- Alexandra - Minha madrasta diz assim que me vê encostada no batente da porta. Ela estava usando a louça que minha mãe tanto amava e isso me deixou furiosa, essa bruxa não merece encostar em nada que era da minha mãe. - Vamos querida, as panelas não vão se limpar sozinhas. - Ela diz apontando para a louça lotada de coisas e me dá o sorriso mais maldoso que alguém poderia dá.

- Estou cansada, acabei de competir na natação. - Falei tentando ignorar aquelas senhoras me olhando de cima a baixo.

Eu odiava aquilo tudo.

- Problema é seu, foi competir por que quis, nem te autorizei a ir. - Ela falou me avaliando de cima a baixo também, gritando furiosa pela minha ousadia em responde-la.

- Que jovem linda. - Uma senhora que aparentava se a mais educada falou com um sorriso fofo no rosto.

Agradeço com um sorriso também sincero.

- Muito linda, parece uma modelo. -Uma outra senhora falou me admirando e minha madrasta parecia enfurecida pelos os comentários bondosos sobre mim.

Ela me odiava com todas as forças dela, e me odiava ainda mais por não ser ruim em nada. Ela queria que eu fosse uma fracassada que nem ela.

- Alex, posso colocar a medalha no meu quarto. - Pamela corre até a mim de um jeito desengonçado e eu afirmo que sim com a cabeça.

As moças da mesa se olham por alguns instantes e olham para mim e para a Pamela como se tivesse nos comparando mentalmente, me senti incomodada com isso. Pamela é uma menina tão boa e não merece ser vista com desdenha por essas madames.

- Vamos indo, Pamela. - Falei olhando feio para as mulheres e minha madrasta se levantou.

- As louças, Alexandra. - Ela falou com autoridade e eu nem dei ouvidos me virando para sair.

Sei que isso vai deixá-la furiosa, mas eu não queria mais ficar nem um minuto se quer junto com aquelas mulheres ridículas.

- Você está bem? - Perguntei a Pamela enquanto ajudava ela a esconder os livros de ciência em baixo de um dos degraus da escada.

- Sim estou. - Ela diz me entregando os últimos livros. Mas no fundo eu sabia que ela não estava bem, e que assim como me incomodava, isso acontecia com ela também. - Não liga para elas, você é especial. - Falo enquanto levanto e Pamela ri de um jeito engraçado.

- Sei que não sou bonita como você, Alexandra, e minha mãe fica uma fera com isso, diz que devo ser que nem você. - Pamela diz envergonhada. Ela já cansou de me devolver roupas e coisas minhas que a mãe dela coloca no seu quarto sabendo que não são dela. Minha madrasta que que ela seja como eu.

- Vamos lá em cima arranjar um lugar para essa medalha. - Falo tentando mudar de assunto é puxo Pamela pela mão.

Ficamos algumas horas no quarto dela conversando sobre a escola e ela me explicando que é possível mudar a cor dos olhos sem usar lestes de contato.

Eu sou boa em matemática, amo muito essa mataria tudo na minha vida tem a ver com isso, desde que era pequena eu já resolvia fórmulas e teoremas difíceis para uma menina de sete anos.

Pamela me contava sobre a mutação aos olhos dos outros, que é quando você acha que uma pessoa se parece com outra só por conta de alguns detalhes em comum, quando ouvimos um barulho estrondoso no andar de baixo, nós olhamos e saímos correndo para ver o que era.

 Chegamos na cozinha e minha madrasta estava quebrando todos os pratos da louça predileta da minha mãe.

- O que está fazendo? - gritei desesperada e ela parou por um momento para me olhar com um olhar de superioridade. Já sentia a ardência em meus olhos.

- Quando eu m****r limpar, é para limpar. - Ela falou jogando mais um prato no chão e Pamela me segurou para que eu não fosse até ela. - Minha casa, minhas regras entendeu, quando eu m****r você obedece... você só tinha que lavar a louça, agora vai ter que limpar toda essa sujeira. - Ela fala derrubando o último prato no chão e vindo em minha direção. - Espero que seja a última vez que me desafia ou se não as coisas vão ficar muito piores para você.... - Ela mexeu no meu cabelo e sai rindo escandalosamente.

Não consigo conter as lágrimas que dessem dos meus olhos. Aquela louça era uma das poucas coisas que sobrou da minha mãe nessa casa. E agora não restava mais nada, além de cacos que iram parar no lixo. Estava com raiva, uma dor no meu peito cresceu e minha vontade era de avançar nela. Ela não tinha esse direito.

- Sinto muito... - Pamela fala sem saber ao certo o que fazer. Meu coração estava doendo vendo tudo quebrado.

- Pamela. - Minha madrasta gritou e eu fechei os olhos tentando ignorar a voz daquela megera.

Pamela saiu correndo para ver o que a mãe queria e eu fiquei sozinha naquela cozinha sem saber o que fazer e sem conseguir parar de chorar, eu odeio aquela mulher, ela acabou com a minha família. Ela está acabando com a minha vida.

Marina Mason, é a pior pessoa da face da terra. Muito pior que as madrastas dos filmes que assistia quando criança. Como sinto falta dos meus país. Com eles aqui nada disso estaria acontecendo, eu não precisaria passar por isso, desaforos e humilhações.

Infelizmente eu só a tenho de família, além de madrasta Marina é prima de primeiro grau da minha mãe, para todos os efeitos ela é a única pessoa que eu tenho e apensar de me odiar não me colocou na rua quando meu pai morreu, mas eu sei o porquê ela fez isso, só foi para me explorar como empregada dela e me humilhar das diversas formas que ela pode encontrar.

Depois de arrumar tudo subo para o meu quarto e pego o meu celular de presa e mandou uma mensagem para a Julia " pelo amor de Deus me tira daqui antes que eu mate aquela vadia". Se alguém me permitisse ficar ali por alguns segundos a mais, era isso que eu ia fazer, matá-la com as minhas próprias mãos. Ia fazê-la engolir cada porcelana que foi jogada no chão.

Vejo meu celular vibrar e é a Julia "Tô passando aí daqui a vinte minutos" sorri e levantei para me arrumar.

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