Nathália

Oito anos de empresa. Sinto um orgulho imenso de trabalhar na Executive Premium, considerada a melhor agência de eventos corporativos da região. Comecei o primeiro ano como estagiária e depois fui efetivada como Assistente de Eventos. Quando fiz a faculdade de Administração, pensava em trabalhar com Marketing. Mas, durante o período do estágio, me apaixonei pelo trabalho e resolvi fazer pós-graduação em Gestão de Eventos. Por causa da demanda crescente, investi nos cursos de inglês e espanhol, falando fluentemente os dois idiomas. Trabalho muito, até mesmo nos finais de semana e feriados. Como gosto demais do que eu faço, eu não me importo de passar os dias que seriam de folga para fazer cursos extras na minha área. Com o crescimento da empresa e a frequente recomendação dos clientes, agora somos solicitados por outras cidades e há três anos me tornei coordenadora.

Roberta, sócia majoritária da empresa, foi minha diretora todo esse tempo. Ela acreditou no meu potencial e é a minha maior incentivadora. Como minha família mora no interior, Roberta tornou-se muito próxima, me convidando até mesmo para temporadas na sua casa de praia. Tem a idade da minha mãe e realmente me adotou como filha, o que provoca certo ciúme. Finjo que não percebo os olhares meio tortos para a nossa ótima relação, especialmente agora que serei promovida para ocupar seu lugar, o de Diretora Executiva. Ela era viúva e já tinha desistido de refazer sua vida amorosa. Mas, quando conheceu Paulo Henrique em um jantar de negócios, resolveu se permitir uma nova chance. Faltam dois meses para seu casamento e afastamento definitivo da empresa. Resolveu se aposentar e viajar com seu novo amor por tempo indeterminado.

Aquele parecia ser mais um dia de trabalho como todos os outros. Liguei meu computador e, enquanto carregava todos os sistemas, peguei meu café e molhei o vasinho de plantas que conservo na minha mesa. Depois da minha primeira dose de cafeína, acessei os e-mails para checar novos pedidos de orçamento. Até que naquela manhã havia poucas mensagens, mas uma em especial me deixou boquiaberta.

De: Alexandre Prado Ramos

Para: Agência Executive Premium

Assunto: Reunião Estratégica – Urgente

Prezados senhores,

                Dentro de dez dias teremos a nossa reunião estratégica anual no Hotel Silver Ritz. Serão cinco dias de reuniões, em horário comercial, de segunda a sexta, com a participação de executivos de várias cidades do país.

A pessoa responsável pela organização do evento sofreu um acidente e ficará afastada temporariamente das suas funções. Como não podemos adiar as reuniões, precisamos de suporte técnico e administrativo para o evento. A agência foi recomendada pelo Silver Hitz com excelentes referências na experiência em eventos corporativos.

Solicito contato urgente para negociação do contrato de prestação de serviços.

Atenciosamente,

Alexandre Prado Ramos

Global Telecomunicações

Analista de Planejamento Pleno

— Nath? Que cara é essa? Alguma bomba que teremos que resolver logo cedo?

 Saí do transe com a pergunta da Roberta. Nem percebi que ela havia chegado tamanho o susto que eu tomei ao ver o nome dele na solicitação de serviço. Segui Roberta até a sua sala e me sentei diante dela ainda meio anestesiada.

Uau! Sete anos sem ver o Alex, a não ser através do seu perfil do I*******m. Sim, eu fucei a vida dele algumas vezes e sabia que ele trabalhava na Global Telecomunicações. Não o adicionei por achar juvenil demais essa paixonite platônica e por constatar que apesar dos anos ele continuava o mesmo: garanhão e sedutor. Alex estava com 30 anos, mas parecia se comportar ainda como nos tempos da faculdade. Festas, baladas e fotos com “amigas” em todas elas. Mas o homem estava ainda mais bonito, usando os cabelos um pouco mais cheios que na época da faculdade e levemente caídos na testa. Algumas fotos o mostravam vestindo terno, deixando com ar executivo, exalando poder.

O meu nível de amizade com a minha chefe era tamanho que ela sabia da paixonite platônica pelo Alex. Afinal de contas, eu era a sua estagiária no último ano da faculdade. Roberta acompanhou de perto todo o meu “sofrimento” com as reuniões de sábado. Ela se divertia com os meus relatos. Informei sobre o pedido de orçamento da GT para um evento corporativo. Como também tem acesso aos e-mails, abriu a mensagem no seu computador e fez a leitura com uma expressão estranha.

— Quero que atenda esse pedido pessoalmente, Nath. Você vai ficar os cinco dias no hotel dando assistência direta no evento.

— Como assim, Roberta? — Minha voz saiu feito a de uma gralha tamanho o susto. — Essa é a função das assessoras. Esqueceu que estamos na reta final antes do seu casamento? Preciso estar a par de tudo antes da sua saída. Fora as duas semanas de férias que eu praticamente serei obrigada a tirar.

— Para de drama, Nath. Se eu não te obrigasse a tirar essas duas semanas de descanso, conhecendo esse seu jeitinho, nunca mais tiraria uma folga até a sua aposentadoria. Quero você linda, leve e descansada para assumir a diretoria. Está mais por dentro das coisas do que eu de tão workaholic que é. Uma semaninha fora do escritório não vai atrapalhar em nada. Chegou o momento de resolver esse caso do passado.

— Caso?! Que caso? Foi uma paixonite adolescente tardia, apenas isso. Além do mais, não é nada profissional se envolver amorosamente com clientes.

— Não confunda as coisas. Eu apenas falei para você trabalhar no evento do cliente. Vai ser ótimo ter a GT no nosso portfólio. Agora, se depois do último dia de evento ele te convidar para um drink para relembrar os velhos tempos, não vejo nada de mais. Antigamente você se escondia atrás da sua pretensa magreza. Você está muito diferente agora, dona Nathália Martins.

Agora ferrou! Ela me chamou pelo nome e sobrenome, a coisa ficou séria. Senti um calafrio percorrer toda a espinha. Eu, de novo, frente a frente com o Alex? Antes de qualquer coisa eu era uma profissional. E, muitíssimo em breve, a nova diretora executiva.

— Desafio aceito, Roberta. — Sua expressão era uma mistura de orgulho e diversão. — Vou fazer o que me pediu.

— Eu não pedi. Ordenei, minha querida. — ela continuava com a expressão divertida.

— Sim, senhora. Manda quem pode, obedece quem tem juízo! — Entrei na brincadeira. — Vou responder a solicitação e garantir esse contrato.

— Não faz mais do que a sua obrigação.

Começamos a rir, mas o meu riso era de puro nervosismo. Já enfrentei diretores e presidentes de empresas muito exigentes e nunca desci do salto. A minha habilidade em lidar com pessoas problemáticas era sempre requisitada para a categoria “clientes difíceis”. Eu mesma me espantava com a minha segurança para lidar com os desafios. Então usarei os mesmos requisitos para lidar com Alex Ramos. Que venha o evento da GT!