Reencontros: Alex & Nathália
Reencontros: Alex & Nathália
Por: Freya Hawk
Prólogo

Nathália

Última semana do curso de Administração. Todo mundo estava empolgado com a entrega dos últimos trabalhos para receber logo o diploma e sair da rotina universitária. Chega a ser até engraçado... Ficamos ansiosos para encontrar o nosso nome na lista dos aprovados, festejamos com a família e amigos, mas a comemoração do término é ainda maior. E um tanto cansativa depois de tanta luta e estudos...

Cursei os três primeiros anos no turno da manhã e fazia estágios de meio período à tarde. Mas, no último ano, com o emprego em tempo integral na Executive Premium, agência especializada em eventos corporativos, eu tive que pedir transferência para o turno da noite. Trabalhar o dia inteiro e seguir para a faculdade era extremamente exaustivo. Mesmo assim, havia um incentivo para não faltar qualquer aula: Alexandre Prado Ramos, mais conhecido como Alex pelo seu fã-clube.

Alex era bonito, alto, cabelos e olhos castanhos. Seu charme nato e jeito sedutor eram irresistíveis. Garotas suspiravam, professores admiravam sua capacidade persuasiva de expor trabalhos e os garotos queriam ser como ele. Eu, obviamente, fazia parte da galera dos suspiros. Ainda mais depois que o professor decidiu sortear os grupos para o trabalho final de Administração de Novos Negócios. Nunca havia sido sorteada para nada, mas Deus resolveu me dar um presente de formatura me colocando no mesmo grupo que ele. Além do período das aulas, eu ficaria perto dele durante as reuniões em grupo.

Percebi na primeira reunião que o “presente de Deus” seria mais uma espécie de purgatório. Por quê? Imagine a seguinte cena: você recebe uma caixa bem grande, embrulhada em papel dourado e sabe que dentro dela tem uma coisa que você deseja muito. A caixa vem com um cadeado e só poderá ser aberta por quem tiver a chave. Você já tentou abrir qualquer fechadura com a chave errada? Não dá muito certo, obviamente. Essa era a minha sensação: eu tinha o presente perfeito, o cadeado ao meu alcance, mas tinha a chave errada... Tá complicado de entender? Calma, eu vou chegar lá.

Como todos do grupo estavam na mesma situação que a minha, trabalhando e estudando muito, tivemos que marcar as reuniões aos sábados pela manhã. A parte boa disso é que o Alex ofereceu o apartamento dele para os encontros. A parte ruim foi que o calor não deu trégua nem mesmo na primavera e ele escolheu justamente as mesas perto da piscina do condomínio para os encontros.

Éramos quatro pessoas no grupo: Alex, Gabriel, Helena e eu. Gabriel era meio nerd/geek e sabia elaborar planilhas eletrônicas como ninguém. Eu gostava da parte de marketing do projeto. Alex contribuía com todas as etapas. Helena, além de ser ótima em negócios virtuais, possuía uma vasta cabeleira loira até a cintura e seios que deveriam exigir um sutiã tamanho 46.

Eu sempre tentei ser uma pessoa boa, cultivar sentimentos e pensamentos legais, mas todas as vezes que a reunião terminava e a Helena mergulhava na piscina, sentia que São Pedro anotava coisas não muito favoráveis no meu Livro da Vida. Era quase impossível não xingar a criatura em pensamento e me consumir de recalque e inveja. Enquanto ela caminhava até a beira da piscina, os raios de sol deixavam seus cabelos ainda mais loiros e brilhantes. Alex, claro, a seguia como uma criança segue o vendedor de algodão doce.

Só me restava sempre recusar o mergulho, tomando meu chá de pêssego com quatro pedras de gelo. Por que tanto gelo? Para a bebida extremamente gelada aplacar o fogo que parecia me queimar por dentro todas as vezes que Alex tirava a camiseta e a bermuda, ficando apenas com uma sunga preta que deixava pouco para a imaginação. Diferente dos demais caras sarados de academia, que malham os braços e se esquecem das pernas, ele era uma perfeição de músculos bem trabalhados. Alex não era do tipo bombadão exagerado, mas seu corpo era forte e bronzeado na medida certa.

Ficávamos Gabriel e eu olhando para a direção da piscina sem coragem de sair do pergolado da piscina, que proporcionava conforto e sombra. Ele babando pela Helena e eu pelo Alex. Claro que isso ficava subentendido, pois nenhum dos dois precisava comentar sobre o assunto. Era tão óbvio quanto o ato de respirar. Desconheço os motivos de o Gabriel recusar entrar na piscina, mas os meus eram bem incômodos: meus dois espetos de churrasco que se faziam passar por pernas.

Via tanta gente reclamando de gordurinhas extras e tudo o que eu queria era ser uma mulher com seios fartos e pernas grossas. Ficaria imensamente feliz ao passar do manequim 36 para o 42. Ou 44. Seria maravilhoso! Se eu ousasse colocar um biquíni para aproveitar aquela piscina com o Alex, acabaria entregando um dos meus maiores segredos: eu usava calcinha com enchimento na bunda. Só assim eu conseguia usar calça jeans com alguma dignidade.

Meus olhos castanhos esverdeados, que parecem olhos de gato quando eu uso maquiagem, viviam um tanto escondidos atrás das lentes grossas dos meus óculos. Tentara usar todo o tipo de lente de contato, mas elas me causavam irritação com o uso prolongado. Só conseguia usar temporariamente aquelas do tipo descartáveis para uma festa e olhe lá. Meus cabelos, bem pretos, com um ondulado leve que gostava de conservar na altura dos ombros. Os lábios carnudos, herdados da minha mãe, elevavam a minha autoestima todas as vezes que alguém comentava que eram parecidos com os da Angelina Jolie. Era aquele tipo de pessoa que recebia elogios da categoria “você tem um rostinho tão bonito”.

Voltando para a última semana de aulas... Todos comemoravam o fim do ano e tudo o que eu fazia era lamentar em segredo. Não teria mais Alexandre Prado Ramos para alegrar as minhas noites. E nem os meus sábados de manhã com aqueles mergulhos dignos de seriado de salva-vidas.

Até que, sete anos depois, um e-mail recebido no trabalho me fez suspirar como nos tempos de faculdade: eu veria Alex novamente! Mas, agora, a situação seria bem diferente...

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