Capitulo 3

Camile.

25 anos

Dias atuais ...

Fazia dois anos que papai havia morrido. Mamãe e eu vínhamos tocando a pousada, happiness (felicidade).

Quando há treze anos. Pietro desapareceu sem deixar rastros. Papai comprou o sitio e fez a pequena pousada. Onde oferecíamos hospedagem e alimentação. Tudo fresco e do campo.

No início, eu os ajudava a distância. Não morávamos juntos. Eu havia caído na besteira de me casar aos dezoito anos. Morava com André em um apartamento não muito longe.

Não durou muito, em razão de André meu ex-marido ter me traído com uma das enfermeiras que trabalhava com a gente no hospital.

Eu havia feito o curso de enfermagem ainda no ensino médio, então, assim que terminei consegui emprego em um hospital. Tinha pouco mais de dezenove anos quando André se envolveu com outra enfermeira do setor, engravidando a garota.

Continuei a morar no apartamento, por um tempo até a morte de papai e André eu nunca mais havia visto.

—Bom dia! Renan— cumprimentei.

Renan era nosso ajudante. Como eu morava nos fundos do sítio. Sempre passava por ele, antes de ir para pousada e depois voltava para ajudá-lo.

— Bom dia!  Camile — respondeu.

—Daqui a pouco, volto para te ajudar— informei.

Após a morte de papai, larguei tudo e fui ajudar mamãe, ela não queria, mas não iria abandona-la sozinha cuidando da pousada.

Então tranquei a faculdade de medicina que fazia. Larguei o emprego de enfermeira, que tinha no hospital da cidade e vim morar no sítio para ajudá-la.

—Oi Pri! —cumprimentei, ao entrar na cozinha da pousada.

Priscila era nossa cozinheira. Uma ótima por sinal.

Ela era uma senhora baixinha de uns 45 anos, morena um tanto gorduchinha e uma da melhores pessoas que eu conhecia. Ela já estava com a gente a quase dez anos.

— Oii! menina Camile — era assim que ela sempre me chamava.

Depois que abrimos a pousada encontrei Priscila trabalhando em uma espelunca no centro, então convenci papai a contrata – lá.

—O cheiro está maravilhoso, que vai ser hoje? —sondei, já abrindo as panelas e sentindo o cheiro maravilhoso que vinha delas.

— Estou fazendo o seu preferido.

—ESCONDIDINHO DE CARNE SECA, COM ABÓBORA —falamos juntas em uníssono. Disparando na gargalhada a seguir.

— Como estão as coisas menina? —sondou, com voz preocupada, sabia do que ela estava falando.

Já fazia um bom tempo que as coisas não andava muito bem na pousada. Talvez por isso papai queria tanto fazer novos negócios —pensei.

Papai havia saído pra viajar. Tentava fechar negócio com um novo fornecedor de vinho. Na intenção de trazer mais clientes e qualidade a pousada, entretanto sofreu um acidente no trajeto.

—Estamos indo Pri, não estamos nadando em dinheiro, mas acredito que dará pra pagar as contas.

—Aí, menina espero que as coisas melhore. Está pousada é tudo pra você e sua mãe — disse com um certo pesar.

—Não se preocupe, se depender da sua comida maravilhosa, isso vai lotar— afirmei, roubando um fiapo de carne já refogada que estava em uma panela. Correndo em seguida, pois Priscila me lançou um olhar de repreensão com falsa cara feia.

Entrei no meu escritório. Eu quase não ficava por ali, pois ajudava em tudo desde a limpeza até tirar leite das vacas e alimentação dos animais no sítio, posto que quase tudo oferecido na pousada vinha do sítio.

Meu escritório era apertado, uma mesa pequena, duas cadeiras e um sofá de dois lugares perto da janela. Em cima da mesa havia vários boletos e papéis de cobrança. Eu sabia que se as coisas continuasse como estava, não poderia manter as portas abertas por muito tempo.

Abri a gaveta para guardar tudo e vi os pequenos envelopes.

Há uns 5 anos comecei a receber pequenos bilhetes, simples sem remetente ou assinatura, Porém eu imaginava bem quem poderia ser.

Queria poder olhar em seus olhos, mais uma vez, mas você está melhor sem mim. Minha pequena caracol.

Somente uma pessoa me chamou assim em toda minha vida. Pietro havia me dado aquele apelido, quando ainda era pequena, devido ao fato de quando estava com medo, me escondia dentro ou em baixo das coisas.

Pelo menos sabia que ele estava bem, seja lá onde estivesse. Sentia muito sua falta.

Segurei meu colar com um pingente em forma de uma concha de caracol. Que em uma das vezes veio com um dos bilhetes. Eu não sabia quem trazia ou de onde vinha simplesmente aparecia.

— Toc, Toc —escutei Renan dizer, me trazendo de volta ao presente.

Renan era um moreno alto de 1,80 mais ou menos, tinha seus 22 anos, cabelo lisos e olhos negros, com um corpo de tirar o fôlego de qualquer mulher. Gostava de usar roupas de boiadeiro, jeans apertada com sinto de fivela. O que trazia um certo charme, mas que não me chamava atenção.

— Desculpa! A porta estava aberta.

—Tudo bem! eu já estava saindo para te ajudar.

Sempre pela manhã ia ajudá-lo nós afazeres do sítio. Era muitas coisas pra uma pessoa sozinha, animais, Horta, pomar e a pousada, seria injusto deixar tudo para ele.

—Não se preocupe eu termino tudo—afirmou—Só vim avisar que vou pegar a caminhonete pra ir na cidade compra ração e ver se você não quer ir junto, quem sabe tomar um sorvete? —indagou.

Renan sempre mostrou certo interesse, Porém nunca foi direto, talvez por saber que não era recíproco.

—Oh, Não! eu estou atolada de coisas pra fazer— disfarcei. O que não era mentira, pois realmente tinha muitos afazeres.

—Ok, então! até mais tarde. — despediu-se saindo.

Fui logo atrás dele indo para o sítio cuidar das coisas, mas antes passei na recepção pra dar um oi para Jeniffer.

Jeniffer nossa recepcionista era a mais nova da equipe e uma irmã adotiva que arrumei. Quando conheci a menina, passava por poucas e boas com a mãe maluca dela, uma mulher que se achava a própria virgem Maria e que descontava suas frustrações na pobre garota.

Arrumei um trabalho pra a menina na pousada e um lugar pra que ela ficasse. Jeniffer era tímida e tinha problemas com confiança. Então a ajudei a sair daquela vida miserável que levava.

— Oi gatinha —era assim que eu a chamava

— algum hóspede novo? Alguém ligou fazendo reserva — indaguei beijando suas bochechas brancas como a neve.

—Na verdade sim! ligaram reservando pra semana que vem dois quartos, os nossos melhores— informou empolgada.

—Quantos dias?

—Não deixaram data de saída, só de entrada.

—Você viu o Renan por aí ...? — perguntou, um tanto sem graça.

Ela não precisava me dizer que tinha uma queda pelo cowboy, entretanto ele parecia não a enxergar.

Ela era jovem tinha dezenove anos. Era loira de olhos claros, baixinha e usava óculos, a garota era linda.

— Sim! ele foi a cidade, precisa de alguma coisa? — já sabia que ela só estava interessada em saber onde o vaqueiro estava, nós o chamávamos ele assim pelas costas, pela forma que se vestia.

— Não! Eu ...só não o vi hoje achei, que não iria vir—disse ficando vermelha, como um pimentão.

—Jenni gatinha, se quer alguma coisa tem que ir buscar—insinuei — não ficar esperando vir até você.

A garota parecia que queria se enfiar na terra de tão envergonhada que ficou, o que me fez rir.

No sitio contava com: mamãe, Jeniffer, Renan e Priscila e também Tabita que era meu braço direito. Cuidava de tudo junto comigo, desde alimentação dos hóspedes a organizações de eventos que eram raros ultimamente, mas ainda existiam.

Mamãe estava passando uns dias em São Paulo, na casa de tia Miriam, irmã de papai. Elas se davam muito bem e mamãe andava muito abatida ultimamente.

Assim que sai no estacionamento dei de cara com Tabita chegando, cheia de pastas e papéis.

—Olá! nossa, está maravilhosa — elogiei. Vendo minha amiga toda arrumada.

Usava uma saia lápis e um salto Anabela, camisa social branca com rendas no decote.

Tabita era uma mulher deslumbrante, com seus 25 anos assim como eu, 1,65 de altura e cabelos longos e lisos que iam até a cintura, sua pela clara e olhos cor de mel com seios pequenos e cintura fina deixava qualquer homem de quatro, No entanto, ela só tinha olhos pra uma homem. Romeu seu noivo.

— Ah! Obrigada, vou sair pra jantar com Romeu hoje—informou com um sorriso de orelha a orelha.

— Já marcaram a data do casamento? —perguntei, mais me arrependi imediatamente ao ver minha amiga perder o sorriso.

Romeu havia pedido a mão de Tabita em casamento já fazia quase um ano, entretanto nunca marcava a data do casamento. Sempre arrumando desculpas e desconversando.

—Não! eu não sei porque ele hesita, sempre que toco no assunto ele desconversa —falou chateada.

—Relaxa amiga! Ele já te pediu em noivado, então é óbvio que ele quer se casar. Talvez só esteja se acostumando com a ideia— afirmei para tranquiliza-la.

—É, pode ser! — cogitou

—Mas, me fale e você? Quando vai procurar alguém?

Tabita sabia que depois da minha separação com André não havia mais me envolvido com ninguém.

—Você precisa sair se divertir um pouco. Não precisa casar com o cara. Contudo, tem que arrumar alguém— declarou.

Ela nem imaginava meus reais motivos de não ficar com ninguém. E não era uma coisa que eu estava disposta a compartilhar.

Eu não me incomodava em ser sozinha na verdade eu vivia muito bem só. Não acreditava nessa história de amor verdadeiro ou príncipe encantado. Isso era conto de fadas.

Descobri que André me traia da pior forma possível. A menina com que me traiu trabalhava junto com a gente no hospital. E me mandou um vídeo dos dois me dizendo logo depois que está a gravida de André. Era pra mim ter surtado, mais na verdade não senti nada, aliás senti um grande alívio.

— Não! Não! E não —Repeti as palavra pra dar ênfase no que eu queria —eu não quero rolo com ninguém, nem agora nem nunca, pra mim já deu.

—Camile, você não pode deixar aquele cara destruir seus sonhos de ser feliz — afirmou.

—Tabita minha linda. André não estragou meus sonhos. Não se pode estragar o que nunca existiu — declarei. O que não era mentira.

Eu gostava de André. Ele era uma pessoa legal e estava sempre ao meu lado. Nós éramos grades amigos e acredito que foi isso que me fez ficar com ele, mas a verdade é que eu nunca o amei. Se existia algum culpado nessa história toda, essa pessoa era eu mesma.

— Não! fale assim amiga. Você ainda encontra seu príncipe.

—Estou correndo de príncipes. Porque do jeito que sou azarada com meu beijo ele certamente vai virar sapo — ironizei. Dando risada e saindo pra ir fazer minha tarefas.

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