Deixe-me entrar  vol. 1
Deixe-me entrar vol. 1
Por: Erica Queiros
Capitulo 1.

 

Camile. 

Com 5 anos...

 

Eu não conseguia enxergar direito. Meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas que não paravam de correr, mais não precisava enxergar, sentia seu toque.

Era suave e delicado, sua voz era melodiosa, Porém ainda assim por algum motivo me apavorava.

—Ei! Não, chore criança, você vai gostar! vou cuidar bem de você- declarou, enquanto tocava em minha intimidade, por cima da calcinha. Me fazendo estremecer de medo. A sensação era agoniante.

Não entendia nada. Só queria que ele parasse com aquilo.

Meu irmão se encontrava sentado encostado na geladeira azul. Que era no mesmo tom da mesa. Ele abraçava as pernas deixando somente os olhos a vista, entretanto eu o via travar os olhos de vez enquanto. Como se tentasse apagar aquela cena ou como se quisesse acordar de um pesadelo.

Pietro era cinco anos mais velho, ele era quem cuidava de mim quando mamãe e papai nós deixava em casa para trabalhar.

Vovó costumava tomar conta de nós enquanto os dois saiam para trabalhar, Porém andava doente e ainda não havia se recuperado.

Carlos era nosso vizinho. Tinha por volta de uns 35 anos, era alto, moreno escuro, e olhos negros.

Morávamos em um bairro tranquilo em uma cidadezinha pequena de Delfinópolis em Minas Gerais. Uma casa pequena em um terreno extenso. O que pra nós era maravilhoso. Não precisávamos ser ricos para ser felizes, tínhamos tudo que precisávamos, bem ali.

Carlos era gentil. Sempre que nos visitar levava pequenos mimos, pirulitos, balas, chocolates. Costumava me chamar de estrelinha.

Um dia enquanto mamãe estava ocupada com seus afazeres ele apareceu.

A casa ficava aos fundos do grande terreno. Eu brincava com panelinhas e xícaras em baixo de uma árvore, próximo ou portão. Há uns vinte metros de distância da casa.

—Tomando chá da tarde? — Carlos perguntou.

Havia um sorriso malicioso em seus lábios, que não soube decifrar.

—Sim! quer um xícara? —perguntei

—Adoraria!

Fingi encher uma pequena xícara rosa com uma flor desenhada. Entreguei para ele, que pegando se sentou no chão, enquanto permaneci de pé.

—Mas você vai ficar em pé? —Perguntou, me fitando com um brilho estranho no olhar.

—Sente-se aqui, assim poderá tomar seu chá mais confortável. — Ofereceu indicando seu próprio colo.

Não vi maldade naquele ato. Portanto fiz exatamente o que ele havia indicado. Sentei em uma de suas pernas meio de lado.

Usava um vestidinho, um dos meus preferidos, era de malha fina de alça grossa lilás florido.

Suas mãos entraram entre minhas pernas fingindo me ajeitar um seu colo, Porém ele não tirou a mão. Começando a passar o dedo em minha intimidade, por cima da calcinha.

—Camile! — Escutei Pietro chamar próximo a nós. Ele chamou tão alto que dei um pulo.

—Entre agora mesmo! — Pietro ordenou. Tão ríspido e frio que eu gelei. Até pensei em rebater pois não sabia o que eu tinha feito de errado, Porém não iria desobedecer, não com ele tão irritado.

Nós brigávamos o tempo todo. Afinal éramos irmãos. Não tínhamos nada em comum. Na verdade éramos o oposto um do outro.

Ele era mais parecido com papai, alto, branco, cabelos e olhos claros, meu irmão era lindo. Entretanto era sério, mesmo para uma criança de dez anos, mostrava uma frieza assustadora até para certos adultos, mais não a mim.

Lembrava-me da vez que havia quebrado uma perna, ele sequer chorou. Eu o admirava e amava, confiava nele em tudo. Pietro sempre foi meu protetor. Estava sempre ao meu lado. Era meu protetor.

Porém ali parecia assustado. Não! acho que não! apesar da minha idade, podia enxergar o ódio em seus olhos. Direcionado a Carlos.

Via que a qualquer momento ele pularia em cima do homem, mas o que ele poderia fazer? Se tentasse algo Acreditava que seria ainda pior.

Provavelmente ele se machucaria.

Voltei minha atenção em Carlos. Que agora usava os dedos tentando abrindo espaço em minha intimidade. O que me fez tentar me desvencilhar de seu toque. Entretanto ele usou sua força pra me prender no lugar.

—Relaxa! tudo vai acabar logo. Você não quer que seu irmão se machuque não é mesmo?

Aquilo me apavorou. Prendi a respiração por um instante. Meus olhos foram para meu irmão voltando a chorar copiosamente.

Não posso deixar que ele machuque meu irmão, tenho que suportar— pensava.

Foi um grande alívio quando senti que ele se afastou. Entretanto meu alívio não durou. Ele me puxou para a beirada da mesa, rosando algo quente em minha entrada. Travei apavorada.

Olhei novamente para Pietro, que agora estava de pé. Seus olhos estavam arregalado, punhos serrados e dentes trincados.

—Pare! —Bradou Pietro -desgraçado, vai matá-la se fizer isso- me assustei com suas palavras

Eu iria morrer? Porque? O que ele pretendia fazer comigo? me debati mais, não tinha força nenhuma contra aquele homem. Ele parou e me olhou, parecendo pensar no que Pietro avisa acabado de dizer.

—Bom! talvez você tenha razão —disse por fim —que tal você tomar o lugar dela? —indagou para meu irmão que agora parecia chocado. Parecia não acreditar no que acabara de ouvir.

— Você quem sabe? você ou ela! —disse dando de ombros, como se não tivesse dito nada demais.

— Eu vou...—falou Pietro, em um tom baixo.

Pietro tinha o temperamento forte, nunca via ele aceitar nada do que não queria, foram poucas as vezes que o vi se render a algo, ali não parecia ele, era como se tivesse perdido sua alma ao dizer aquelas palavras.

Carlos me pôs sentada na mesa, ajeitando meu vestido no lugar, com tranquilidade.

—Fique aqui estrelinha, não saia daí e tudo ficará bem.

—O que v- vai f- fazer? —gaguejei, em um fio de voz.

—Eu e Pietro vamos brincar um pouco, Mas seu irmão é egoísta e não quer que você participe — ele disse com um sorriso irônico.

Ele foi em direção ao quarto onde eu e meu irmão dormíamos. Entrou encostando a porta, Porém não fechou totalmente.

Me sentia aflita, agoniada de esperar.

Desci da mesa com cuidado para não fazer barulho ou me machucar no processo. Caminhei até chegar próximo a porta, pela brecha consegui ver Pietro.

O que vi jamais esqueceria. A dor o sofrimento em seus olhos a tristeza cravada em seu rosto. Quando eu vi sabia que aquilo nunca mais sairia.

Quando Carlos saiu, passou por mim.

—Brincaremos outro dia estrelinha. — parecia uma Promessa. Uma que eu não gostaria que cumprisse.

Como Pietro não saiu eu entrei no quarto. Ele estava sentado no chão com uma expressão vazia, não avia sobrado nada dele ali naquele momento.

Ajudei ele a ir até o banheiro e tirar as roupas que notei ter vestígio de sangue. No entanto não comentei nada.

Apenas peguei e coloquei no tanque cheio de água para limpar.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo