O Pedido

- Mana, vem cá. - Falei para minha irmã no dia seguinte enquanto eu me sentava em minha cama.

- O que foi? - Perguntou Karol se sentando ao meu lado.

- Sabe, eu conversei com a sua professora e ela disse que você anda muito diferente e quer saber? Eu também notei isso. Você não parece mais a minha irmãzinha de antes, sei que tem algo te incomodando, mas não sei o que é. Quer me contar? - Perguntei acariciando a sua mão que estava em cima da minha.

- Desculpa, mas eu não posso. - Falou Karol cabisbaixa.

- Por que não? - Perguntei preocupado.

Karol não respondeu, apenas me olhou e voltou a abaixar a cabeça.

- Alguém te ameaçou? - Perguntei.

Ela negou num gesto com a cabeça e depois eu pude perceber uma lágrima cair de seu olho. Eu tentei explicar para a minha irmã que não era preciso ela ficar com medo, que ela podia me contar o que estava havendo, Karol, no entanto, apenas me falou que não podia e não queria que eu insistisse, pois ela não me falaria nada e nem eu deveria me meter nos problemas dela. Mas ela era minha irmãzinha e era impossível eu não me meter em seus problemas, eu me preocupava com ela e nada, nem ninguém mudaria isso. Nisso Victor me ligou, ainda estava um pouco chateado com ele pelo fato dele usar drogas, pois eu sabia que não tinha nada a ver com isso, mas me incomodava saber que o garoto que eu gosto fazia isso e eu nem podia ajudá-lo. Mas mesmo assim não pude deixar de atender a ligação, até porque se Victor usava drogas o problema era dele, ah, mas se eu pudesse fazer algo para que ele visse que drogas não está com nada.

- Tá melhor? - Perguntei ao atender o telefone.

- Estou. Manuel, eu tô aqui na frente de sua casa, tá eu e o meu irmão. Você e a Karol podem sair pra rua? - Perguntou Victor.

- Ok. - Olhei pela janela e avistei ele e o Chris.

Desliguei a ligação e fui falar com a Karol que adorou a ideia de ir brincar com o Christopher, acho que era isso que ela estava precisando, se distrair um pouco. Karol e Chris ficaram brincando perto da onde estávamos eu e Victor, que havíamos nos sentado em um banco próximo a minha casa, Victor e eu ficamos um bom tempo em silêncio apenas observando os nossos irmãos brincando de pega – pega, quando de repente, por fim eu perguntei:

- Há quanto tempo você usa essas porcarias?

- Já faz um ano. - Falou Victor sem conseguir me olhar nos olhos.

- E porque você começou a fazer isso? - Perguntei enquanto observava a Karol e o Chris brincando.

- Foi logo que eu comecei a trabalhar como garoto de programa. Embora eu adorasse poder fazer amor com as garotas, eu não gostava de ter que usar o meu corpo para trabalho, digamos assim, e aí os garotos me apresentaram a maconha, no começo eu não queria experimentar, mas uma vez eu resolvi aceitar porque eles falaram que ia me ajudar a trabalhar melhor, me deixaria mais relaxado e tal. E eu acabei me viciando, experimentei várias outras coisas também, algumas vezes eu cheguei a ficar mal, bem mal mesmo, mas eu não conseguia mais parar. Sei lá, mas eu nunca me senti motivado a não querer usar mais. - Falou Victor.

- E os seus irmãos? - Perguntei me pondo de frente a ele.

- Nem sonham. - Falou Victor me olhando pela primeira vez naquela nossa conversa.

- E você gostaria que a Ariele usasse também? - Perguntei.

- Não, não gostaria. - Abaixou a cabeça.

- E como você pode fazer algo que você não quer para os seus irmãos? Você é o mais velho, tem que dar o exemplo. - Falei.

Victor não falou nada, apenas ficou quieto como se estivesse pensando naquilo que eu falara. Sabia que minhas palavras não fariam ele mudar e largar o vício, mas mesmo sabendo disso eu rezava para que um dia ele pudesse sair daquele mundo, para que pudesse colocar juízo em sua cabeça.

- Mãe, o Victor pode dormir aqui em casa amanhã? - Perguntei durante o jantar.

- Por quê?

- Porque amanhã é sábado, e domingo não tem aula. - Falei.

- É, deixa mãe, por favor. - Pediu Karol.

- Ok, vai ser bom mesmo porque eu quero conhecer esse tal de Victor que vocês falam tanto. 

Na verdade mamãe havia deixado só porque a Karol pediu, mamãe não conseguia dizer não para a minha irmã e na real nem eu conseguia. Karol era a pessoa mais incrível desse mundo para mim, ela era minha irmã, minha melhor amiga e mesmo sendo bem mais nova que eu, ela também era minha confidente e conselheira, contava 99% das coisas que aconteciam comigo para ela, só deixava em off o fato de eu estar super a fim do Victor, Karol era muito pequena e eu não sabia se ela sabia ou não que duas pessoas do mesmo sexo poderiam namorar, nunca havíamos conversado sobre isso até por eu achar ela muito pequena, estava esperando o momento certo, queria que ela crescesse um pouco mais.

- A minha mãe deixou você dormir lá em casa amanhã. - Falei ao Victor enquanto estávamos caminhando pelas ruas de nosso bairro.

- Ai que show! - Deu um pequeno sorriso.

- E quanto aos seus irmãos? - Perguntei.

- Ah, eu vou deixar comida pronta para eles e é só a Ari esquentar no micro e ela já tem quinze anos, sabe tomar conta de si e do Chris. Eles vão ficar bem. - Falou Victor olhando para frente e depois para mim.

- Legal. 

Já estava ansioso para chegar sábado, o chato seria que mamãe e Giovanni estariam em casa e não teríamos tanta privacidade como eu gostaria.

Victor e eu havíamos ido ao campinho jogar pelada como fazíamos de vez em quando, Karol havia ficado em casa vendo desenho e Giovanni ficou tomando conta dela, já que ele estava de folga nesse dia. Minha irmã implorou para eu não sair de casa, queria que eu ficasse vendo desenho com ela e lhe fazendo companhia, mas confesso que eu estava louco para ficar um pouco sozinho com o Victor. Ai, o que fazer se sou louco por aquele garoto?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo