A Pelada

O filme estava muito legal, embora muitas vezes eu tivesse ficado com medo e como se não bastasse isso Victor ainda ficava rindo da minha cara e dizia que eu estava parecendo uma garotinha, o que me deixou bastante irritado porque mesmo eu sendo gay odiava que falassem que eu pareço uma garota, o que não era verdade., as vezes, eu achava que ele fazia isso só para me irritar porque ele sabia que eu não gostava disso.

Após o cinema eu peguei as minhas coisas na casa do Victor e voltei para a minha casa, mamãe e Karolayne queriam saber tudo que havia acontecido na casa de Victor e eu falei das pizzas, do filme que a gente vira em sua casa, só não mencionei a parte que a gente matara aula, porque senão mamãe ia matar seria eu. No ano passado eu resolvi matar aula com meus amigos porque a gente tinha prova de física e estávamos muito mal na matéria, então resolvemos ir dar um passeio pela cidade já que para a nossa sorte naquele dia era passe livre porque era dia de vacinação e quando descemos do ônibus para voltar para nossas casas eu dei de cara com mamãe que estava indo fazer um pagamento de seu serviço, algo que até hoje não estava muito bem explicado, as vezes penso que mamãe adivinhou que eu mataria aula naquele dia, mas a questão é que quando ela me viu ela me olhou de um jeito como se fosse me comer vivo, pensei em um método de fugir mas ela foi mais rápida que eu e me puxando pela orelha me arrastou para casa e me deixou de castigo por um mês, sem computador, sem sair de casa e sem ver TV, só podia ir para a escola, isso sem contar a bronca enorme que ela me deu, desde então eu nunca mais tinha pensado em matar aula novamente, até Victor me convidar para dormir em sua casa, o que fez eu esquecer completamente desse ocorrido com mamãe, e eu estava torcendo para dessa vez ela não descobrir nada.

No dia seguinte Victor não foi ao colégio, o que me deixou bem preocupado, pois pensei que ele estava matando aula de novo e dessa vez sem mim, talvez ele já tivesse um novo melhor amigo e nem tivesse me contado, devo confessar que fiquei um pouco enciumado ao pensar nessa hipótese.

- Vocês sabem do Victor? - Perguntei para Isabella e Vinicius assim que o sinal do recreio tocara.

- Não. Ele não veio ontem, nem hoje. - Falou Isa.

- Ontem eu estou sabendo, mas não sabia que hoje ele também não vinha. - Falei um pouco chateado.

- Ele não nos falou nada. Talvez esteja doente. - Disse Vinicius.

- É. Talvez seja isso. - Falei pensativo.

Minha vontade naquele momento era de sair correndo daquele colégio e ir ver o que acontecera com Victor, mesmo sabendo que eu não poderia fazer isso. O professor de física faltou naquela manhã e como nós teríamos os dois últimos períodos com ele acabamos saindo mais cedo. Eu sai voando do colégio naquele dia como se eu estivesse em um filme de terror e estivesse em uma perseguição sendo seguido pelo assassino.

Cheguei na casa de Victor e toquei a campainha umas três vezes, porém ninguém atendeu, o que me deixou um pouco preocupado.

- Eles não estão. - Falou uma vizinha.

- Sabe onde eles foram e que horas voltam? - Perguntei.

- Estão no colégio. Voltam só mais tarde. - Falou a senhora.

- Obrigado. - Falei cabisbaixo e me pondo a me retirar.

Que Ariele e Christopher estavam no colégio eu sabia, porém Victor não estava. Fui para a minha casa e não tinha ninguém, mamãe e Giovanni, nosso padrasto, estavam trabalhando e Karol estava na casa de uma amiga, tentei ligar para o Victor, mas seu celular estava desligado, e isso acabou me deixando mais preocupado ainda, mandei uma mensagem de texto pedindo para ele me ligar quando fosse possível e fiquei na esperança dele ver logo minha mensagem, porém de tanto esperar uma notícia dele acabei adormecendo, acordei era 12h15 com a Karol que havia chegado da casa de sua amiga em cima de mim perguntando se eu não havia ido no colégio e se mamãe sabia disso. Eu expliquei o ocorrido e ela saiu de cima de mim me deixando respirar novamente, Karol era magra, porém era bem pesada.

13h00 quando Victor resolveu lembrar que eu existia e me ligou.

- Nossa, você está vivo, que bom saber. - Falei ao atender o telefone.

- Putz, cara foi mal. Quer dar um pulo no campo? Aí eu te explico o que houve.

- Beleza. - Falei.

Desliguei o celular e coloquei um tênis, pois não queria ir no campo de chinelo, e então, fui até a sala, onde avistei minha irmã sentada no chão enquanto brincava de montar um quebra-cabeça das princesas.

- Vai sair? - Perguntou Karol.

- Vou ao campo com um amigo. - Falei ao amarrar meu cadarço.

- Com o Victor? - Perguntou Karol enquanto terminava de montar um quebra-cabeça.

- É. - Falei ao colocar um boné virado para trás.

- E eu? - Abaixou a cabeça.

- Ah, já que você não tem aula hoje você vai ficar na casa da Evelyn. - Falei me referindo a melhor amiga da minha irmã.

- Ah, eu queria ir junto. Manu, você promete que um dia me apresenta o Victor? - Me acompanhou até a porta para a gente sair.

- Claro. - Tranquei a porta por fora e saimos.

Levei a mana na casa da amiguinha dela e depois fui encontrar o Victor no campo. Ele já estava lá e estava a conversar com duas barangas, no mínimo estava dando em cima delas, ao me ver ele deu um beijo no rosto de cada uma e foi ao meu encontro.

- E ai cara. - Falou Victor ao chegar até mim.

- E ai. - Falei.

Nos sentamos em um banco e ficamos em silêncio durante algum tempo, até que eu lhe perguntei o porquê dele ter matado aula sem falar nada para ninguém.

- Ah é que normalmente eu só trabalho de tarde e principalmente de noite que é o horário que eu tenho mais clientes, mas o meu chefe me ligou ontem de noite, já era bem tarde, ele falou que eu tinha que ir trabalhar hoje de manhã, pois havia surgido algumas clientes que queriam o meu trabalho e aí como não dá para dizer não para o patrão eu tive que ir. - Falou o garoto.

- Victor, no que você trabalha? - Perguntei curioso.

- Hã, quer jogar bola? - Perguntou Victor ao mudar de assunto e se pondo a rodopiar a sua bola que estava em suas mãos.

- Quero. - Falei.

Ficamos jogando pelada no campinho até de tardinha quando bateu uma fome e resolvemos ir fazer um lanche em alguma lancheria.

- Você não me contou no que você trabalha. - Falei enquanto tomava um pouco de refrigerante.

- Um dia eu te conto, mas não agora. - Falou Victor se pondo a comer seu pastel.

- Por quê? 

- Sem mais perguntas, por favor. - Pediu.

- Ok. 

Parece que Victor era cheio de segredinhos, só não entendia o porquê, nós éramos amigos e eu sabia guardar segredo, não tinha o porquê dele não querer me contar onde ele trabalhava, pois assim fiquei imaginando mil coisas, que talvez ele fosse traficante ou trabalhasse em alguma gangue como assassino de aluguel, ou vendedor de órgãos, ou coisas do tipo. Ah, por que ele não me dizia nada?

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