PASSEIO NA SELVA

Foi em uma tarde ensolarada de sexta-feira, após dois dias de chuva torrencial, enquanto Lidia ajudava a cunhada no jardim, que chegou o convite para um chá na casa dos Hardy.

 Selene trouxe o convite com cara de quem já conhecia a reação que se seguiria. As duas jovens que cuidavam do jardim, sentaram-se sob a pérgola decorada com flores de jasmim, Kat leu a invitação.

– Ela quer que nos juntemos a ela no chá das 17h00, amanhã…

 Kat ergueu a sobrancelha e torceu os lábios com desagrado. Uma suada Lidia, lutava com a franja grudada na testa, enquanto expressava sua indignação para com o convite.

– Mas que absurdo, depois de tudo! É claro que você… - Sorriu de repente.

– Ah, sábado temos o convite de Victor e Matilda – Kat olhou com surpresa para Lidia – Você sabe, para vermos a sede da futura escola?

– Sim, temos. Mas temo que não possa acompanhá-los no sábado, são quase duas horas a cavalo ate a aldeia e… - Kat apontou para a barriga crescente.

– Eu sei – Lidia respondeu desanimada – Eles estão tao empolgados com a reforma para a nova escola… mas sei que não é apropriado para você – Completou sorrindo para Kat.

 Piscando para a cunhada, Kat se levantou e caminhou até as roseiras floridas.

– Ao menos, posso usar esse mesmo argumento como desculpas para não precisar me juntar ao chá da tarde da senhora Hardy.

 Lidia soltou uma risada, caminhando até a cunhada.

– Venha Lidia, façamos dois arranjos, um para nos desculpar pela ausência no chá, outro para decorar a futura escola.

 Lidia atendeu prontamente o chamado da cunhada, indo buscar os instrumentos de jardinagem.

– Lidia? - Uma intrigada Kat olhava para a jovem.

– Sim? - Por um minuto Lidia achou que a cunhada não se sentia bem, caminhando mais rápido em sua direção, notou que a ruga na testa se transformava em um sorriso malicioso.

– Desde quando você chama ao doutor Bysshe de Victor?

 Aquela era nova, uma Lidia de rosto corado, abriu e fechou a boca algumas vezes antes de articular uma resposta apropriadamente.

– No… no jantar! - a voz saíra mais fina que planejara, limpando a garganta Lidia seguiu sob o olhar divertido de Kat – No jantar ele pediu que eu o chamasse assim.

– Que intrigante – Kat falou divertida.

– Mesmo? Você considera inapropriado? - Uma Lidia que aparentava preocupação, perguntou.

– Você se importaria realmente se fosse? - Kat riu do jeito da garota, deixando-a ainda mais vermelha.

– Não é inapropriado, eu mesma o chamo assim, é um amigo da família. Mas…

– Tem sempre um mas, não é? - Lidia parecia mais relaxada.

– Sim, infelizmente, para nós tem sempre um mas… Victor é um homem solteiro e ainda jovem, se de alguma forma perceberem uma amizade crescente entre vocês e se seus pais forem avisados disso…

– Eu sei, eu sei – Lidia fitava os próprios pés – Me mandarão buscar. Mas não tem nada de errado, certo? Quer dizer, somos amigos, como eu e Peter…

 Katherinne pegou a cunhada pela mão, levando-a até o banco onde estiveram sentadas antes.

– Lidia, o doutor Bysshe nunca agiu daquela maneira antes…

– Você está se referindo ao jantar?

– Sim… Ele, é claro sempre esteve ao lado de Peter e Matilda, na verdade ele se sente responsável de certa forma por ela, por ela e pelo irmão…

– Sim, Travis comentou que o pai de Matilda foi o primeiro amigo que o doutor fez na ilha, e que teria até salvo a vida dele em certa ocasião.

– Exatamente, quando os pais de Matilda e Nuno morreram, Victor se responsabilizou por ambos, ele inclusive ajudou o irmão de Matilda a ingressar na escola de medicina…

 Lidia ouvia atentamente…

– Pois bem, ele sempre esteve ao lado deles e também do povo… há muito os Hardy parecem não concordar com isso, ou melhor a senhora Hardy. Mas, nunca haviam chegado a um embate antes.

– Ah… – Lidia franziu o cenho enquanto escutava a cunhada.

– Victor Bysshe nunca nos pareceu um homem de debates, ele agiu sempre com muita ponderação, a estratégia de ação dele, era incluir aqueles que, pessoas como os Hardy tentam menosprezar…

– Entendo, ele apenas os inclui mas nunca os defendeu de fato – Disse Lidia um tanto irônica.

– Lidia – Kat chamou-a como quem pede atenção – Na Ilha Sul, aqueles que podem, fazem o possível… Mas a questão é, percebo agora ainda mais, na verdade eu e Travis conversamos sobre isso, Victor parece um tanto mais audaz.

– Isso é bom! - Lidia parecia feliz ao ouvir a análise da cunhada – Você sabe, “a sorte favorece os audazes”.

 Kat riu da atitude quase ingênua de Lidia, continuou a compartilhar sua percepção.

– É possível que favoreça, o ponto é que notamos essa atitude do doutor, justo no momento de sua chegada…

Lidia ficou pálida. O que Kat estava tentando dizer era mesmo o que ela entendia? Uma estranha sensação cresceu na boca de seu estômago, Kat continuo falando.

– Aliado a informação que acaba de me passar, sobre o pedido de chamá-lo pelo primeiro nome…

– Eu entendo – Lidia falou em um sussurro. Recebendo de sua cunhada, um afago na bochecha e um sorriso compreensivo.

– Pode não ser nada, entenda, só deve tomar cuidado com o nível de intimidade que poça vir a se estabelecer entre vocês. Apenas para que não tenhamos uma intervenção de seus pais, você sabe que eles devem ter plantado olhos na Ilha Sul desde que chegamos aqui.

– Sim, eu sei… obrigada.

 Kat sorriu para a jovem.

– Vamos Li, não é o fim do mundo ter um homem tao charmoso quanto o doutor Bysshe interessado.

 Lidia pegou a mão da cunhada, lutando contra a gama de sentimentos que cresciam dentro dela. As duas caminharam até a casa, Selene estava na porta, o chá logo seria servido.

 Enquanto se refrescava antes de descer para o chá, Lidia pensou no que Kat havia lhe falado. Ela tivera interessados em casa, jovens de, ditas, boas famílias que iam e vinham com galanteios, e flores entediantes, mas aquilo era coisa de sua mãe.

 Lidia nunca conhecera ninguém por autonomia, e nunca se julgara capaz de provocar tais sentimentos sem que o nome e a fortuna da família não estivessem envolvidos. Não que fosse feia, na verdade se considerava apenas comum – Muito magra e alta para um bom casamento, segundo a tia Berth – Riu em frente ao espelho.

 Um amalgama de pensamentos turbilhonavam a mente de Lidia.

– Victor era velho – Que idade teria? Provavelmente quase a idade de papai… - Não, ele é bem mais jovem…

– Não – Disse em voz alta na frente do espelho, encarando o próprio reflexo acalmou a mente, estava decidido.

– Nada desses devaneios românticos de donzelas inglesas. - Pensou consigo – Victor Bysshe seria tratado como um bom amigo e nada mais. Ele perceberia, caso estivesse realmente interessado, que Lidia não estava disponível para investidas românticas e galanteios de solteirões, mesmo dos charmosos, como Kat se referira ao doutor.

 O sábado amanheceu adorável, ensolarado e úmido como apenas a Ilha Sul conseguia produzir, Lidia gostava do clima da Ilha, nunca se dera muito bem com os frios de sua terra natal, casacos e narizes vermelhos.

 Quando desceu para o café da manhã Travis já estava na porta aguardando.

– Então, você não virá?

– Por que não me chamou? - Respondeu carrancuda.

– Por que não acordou? - O irmão também não estava em seu melhor humor.

– Travis!

– Hei vocês dois – Kat tomava o café da manha tranquilamente na cabeceira da grande mesa – Você perdeu a hora – Piscou para Lidia – E você não vai levá-la sem que ela esteja devidamente alimentada.

 Lidia sorriu para a cunhada e sentou-se ao seu lado esquerdo, Travis dando-se por vencido, sentou-se na outra ponta da mesa.

 Assim que Lidia terminou o café, saíram apressados sob avisos de atenção e cuidados em sua aventura pela selva da Ilha Sul. Enquanto pegava o chapéu ouviu o irmão e a cunhada se despedindo.

– Não gosto de deixá-la aqui sozinha…

– Não estarei sozinha – Kat tranquilizava o marido.

– Tenho Selene, Allen e Diana… - Travis revirou os olhos – Ora vamos, eu e Diana amamos o mesmo homem, temos muito para compartilhar.

– Nem brinque com isso… nem brinque – Respondeu um risonho Travis.

 Marido e mulher beijaram-se e logo os dois irmãos estavam em suas respectivas montarias.

 Tomaram caminho até o consultório do doutor Bysshe, Travis montava Noturno, enquanto Lidia reencontrou a amiga Filosofia. Os demais já os aguardavam quando chegaram ao local de encontro, sem nada dizer, Travis lançou um olhar de ‘eu avisei’ para Lidia. Bufando ela respondeu ao irmão.

– Eu sei, eu sei…

 Aguardando em frente ao consultório, Victor e Peter seguiam montados enquanto Matilda guiaria a carroça. Seguiriam para a última aldeia nativa de Ilha Sul. Almoçariam com os locais, na carroça, alguns remédios e provisões para a aldeia, além de algumas peças de tecido como presente para o líder.

 Ao dobrarem a esquina em direção ao caminhou que seguiriam, qual não foi a surpresa de Lidia ao avistar um cavaleiro se aproximar do grupo, era Karl Hardy, o governador o recepcionou.

– Senhor Hardy, que bom que pode se juntar a nós.

– Governador, senhoras, senhores – Karl Hardy parecia misteriosamente sorridente aquela manhã – Fico feliz em poder ajudar nesse projeto.

 Notando a cara séria e os olhares de Lidia, Travis virou-se para irmã e explicou.

– O senhor Hardy é um talentoso engenheiro, avaliará a estrutura onde pretendemos montar a escola.

 Lidia não disse nada, fazendo um gesto de concordância, alinhou seu cavalo ao lado da carroça que Matilda guiava e se afastou dos dois homens.

 Enquanto seguiam, a jovem observou o grupo, Travis e Peter conversando e cantarolando pela estrada, ainda se pareciam aos jovens de sua infância. De cada lado da dupla um homem em total silêncio, senhor Hardy e doutor Bysshe.

 Cravou os olhos nas costas de senhor Hardy, tinha a idade do irmão, mas usava uma barba tão densa que parecia anos mais velho, era um homem comum, não fosse a crespa cabeleira que ele domava através de um rabo de cavalo baixo, nada teria de exótico nele.

 Pousou os olhos em Victor, torcendo para que este não a visse observar, fosse pela conversa de ontem com Kat ou por uma coincidência, trágica nos conceitos de Lidia, ela flagrara o doutor Bysshe olhando para ela mais de uma vez naquela manha.

 Victor não tinha nada de comum, teve de admitir, mesmo que o preço que tenha pago fossem bochechas vermelhas. Olhou para todos os lados, ninguém prestava atenção nela, seguiu suas observações. O doutor Bysshe era mais alto e largo que Travis, seu irmao sempre fora usado como exemplo de Adônis pelas jovens da alta sociedade inglesa, riu alto com a lembrança e recebeu olhares curiosos dos companheiros de viagem.

 Usando o irmao como ponto de referência para não se perder com a resposta que daria, explicou para que todos escutassem.

– Estou muito feliz por conhecer a Ilha Sul.

 Quando, novamente, as atenções haviam sido desviadas dela, Lidia continuou a perfurar a nuca de Victor. Talvez não fosse tao velho quanto julgara, seus cabelos castanho claro, usados na altura dos ombros, começavam a pratear em certos pontos, mas mantinha o rosto escanhoado e por suas andanças pela ilha, em auxílio dos pacientes, adquirira um bronzeado que lhe caia bem com a cor do cabelo.

– Talvez seja realmente um homem charmoso, conforme disse Kat – Pensou consigo. Quando se deu conta do absurdo que acabara de falar para si, mordeu o lábio e desviou o olhar.

– Lidia… Lidia… você não é assim - censurou-se em pensamento.

 Ouviu chamarem seu nome.

– Lidia – era Matilda que observava-a e sorria – Tudo bem? Eu a chamei algumas vezes antes que me escutasse.

– Oh Matilda, sinto muito – Lidia corara outra vez – Eu realmente não a escutei…

– Tudo bem, você parecia distante. Já está com saudades de casa? - Matilda sorriu com compreensão para Lidia.

– Sinto falta dos meus pais, algumas coisas – Sorriu – Mas realmente tenho apreciado estar na Ilha Sul, mais do que na gelada Londres – Lidia riu com o próprio comentário fazendo com que a amiga também a acompanhasse.

– Então, eu a estava chamando exatamente para indicar que agora começaremos nossa aventura.

 Lidia olhou intrigada para a amiga, que continuou…

– Depois daquela curva, começa o caminho entre a selva, passam apenas dois cavaleiros por vez e a carroça sozinha, se conduzida com atenção.

 Lidia sorria de antecipação, seria a primeira vez que estaria na natureza selvagem. E quem sabe quanto de tudo que vira inerte no Museu Natural, estaria lá, a espreita, com pulmões cheios de ar e olhos atentos. Não contendo a empolgação comentou, fazendo Matilda rir.

– Oh imagine Matilda, quantos seres maravilhosos se escondem entre a densidade das folhas!

 Assim que terminou de falar notou o olhar de Victor Bysshe sobre ela, ele esboçava um sorriso, mas Lidia não reagiu. Ao ver o médico lhe olhando, se deu conta que aquela paisagem não era novidade para ninguém ali, e que ela estava agindo como uma grande deslumbrada garota da capital, irritou-se consigo.

 Não teve tempo para, mais uma, auto censura, o grupo já se organizava para entrar na mata fechada, os cavaleiros se alinharam. Travis veio até ela e cavalgou ao seu lado, seguiam Peter que ia na frente sozinho. Atrás da carroça, para garantir a segurança das provisões, doutor Bysshe e senhor Hardy.

 Era magnífico, para Lidia o momento que entraram no corredor de plantas exóticas e árvores de milhares de anos, tinha sido mais sagrado do que entrar na própria Catedral de Westminster. Todos os cavaleiros pareciam fazer um silêncio respeitoso, não fosse o ranger das rodas da carroça e do couro das celas, ainda assim era devocional, como se aqueles pequenos barulhos que o grupo produzia, fossem os murmúrios de orações.

 Lidia seguia atenta a todos os sons que a selva produzia, havia muito para observar e sentir. A luz quase não penetrava pelas folhas gigantescas e o cheiro era de terra molhada e frutas maduras. A terra sob os cascos era macia e o sussurro do vento fazia restolhar pacificamente as folhas milenares. Havia também uma melodia infinita de pássaros e alguns outros barulhos que Lidia não conseguiu reconhecer, mas não tivera coragem de quebrar o silêncio e encher seus companheiros de viagem com perguntas.

 Ouviram barulho de água, Lidia olhou rapidamente para o irmão. Sussurrando Travis perguntou.

– Quer ver? - Sem dizer uma palavra, Lidia bastante empolgada balançou a cabeça afirmativamente, lembrando uma garotinha a quem oferecem um doce.

 Travis cavalgou até o lado de Peter, logo o capitão deu um aviso em voz clara para que a caravana parasse. Quando Lidia recobrou a atenção devido a excitação do momento, Victor e o senhor Hardy já estavam junto a Peter e Travis, enquanto uma sorridente Matilda estendia a mão para ajudar Lidia a descer de Filosofia.

 Ficou decidido que senhor Hardy ficaria para vigiar os cavalos e provisões, não demorariam além de alguns minutos, Travis dissera com um olhar especialmente significativo a irmã. Não era muito, mas Lidia não via a hora de pôr os pés na água refrescante.

 O grupo entrou na mata densa, Peter, facão em mãos, abria uma picada para que passassem, de mãos dadas com o irmão, Lidia não continha o sorriso.

 Ao chegaram no local, o barulho era agradavelmente alto, como mar agitado, Lidia sentia o coração bater acelerado de empolgação. Sem cerimonia sentou-se nas pedras e começou a desamarrar as botas quando Travis a impediu segurando suas mãos sobre o sapato.

– Melhor não senhorita Lidia – Ela olhou-o espantada, Travis sorriu para a irmã, com suavidade explicou-lhe.

– Existe uma proibição, vinda da cede da igreja no continente, e vigiada de perto por padre Maugham…

– Uma proibição de refrescar-se em dias quentes? - Lidia riu em um bufo pouco feminino, arrancando de Travis uma risadinha.

– Não Lidia – Travis voltou a ficar sério – Entrar em locais onde nativos possam ter se banhado.

 Lidia não soube o que dizer, arregalou os olhos para o irmão, boquiaberta, sentiu a raiva borbulhar dentro de si.

– E o que padre Maugham fará se eu quebrar sua regra?

 Lidia tinha as bochechas vermelhas e um olhar assassino, se desvencilhou da mão do irmão e continuou a desamarrar as botas.

– Lidia! - Travis a advertiu com mais veemência.

 Um turbilhão de pensamentos passou pela cabeça de Lidia naquele momento, o mais importante foi a honra do governador. Não que se orgulhasse em priorizar algo tao pessoal, mas vira nos olhos do irmão o que significaria caso entrasse na cachoeira.

 O resto do caminhou foi seguido em silêncio, Lidia não desejava nem levantar a cabeça, para, se não por sua sorte, por seu conforto evitar os olhares do restante do grupo. Logo chegaram a aldeia.

 A aldeia de Ilha Sul era um misto de cores, aromas e sons, como na floresta, mas feito por gente. Crianças corriam rodeando-os, senhoras sorriam e cumprimentavam, homens sacudiam a cabeça respeitosamente.

 Lidia notou que tanto Travis, quanto Victor eram extremamente estimados pelos locais, enquanto Peter e Matilda eram tratados como se fossem da família, aquilo encheu seu ser de orgulho, pelos dois irmãos e os laços que construíam com os verdadeiros donos de Ilha Sul.

 O grupo se dividiu, Travis, Hardy e Peter foram levados para falar com o líder local, doutor Victor entrara em uma tenda que em seguida foi rodeada por pessoas, principalmente mulheres com crianças e anciões. Matilda pediu que Lidia a acompanhasse.

 As duas se encaminharam para uma grande cabana feita de sapé, quase no centro do povoado, lá dentro um grupo de mulheres desempacotava as provisões trazidas, enquanto outro grupo preparava o almoço.

 Um delicioso aroma de coco e pescado invadiu os sentidos de Lidia, apesar de não entender uma só palavra que lhe dirigissem, notou o quanto aquelas mulheres sorriam para ela. Sorriu em retorno. Uma anciã falou com ela, em auxílio para traduzir o que a mulher dizia, Matilda parou ao lado de Lidia.

 – Ela diz que você vem de longe… - Matilda franziu as sobrancelhas – Eu não entendo muito bem.

– Como assim? - Lidia também franziu as sobrancelhas, intrigada.

– Longe no tempo e no espaço…

– Oh – Lidia sorriu, mas tao pouco ela entendera o significado de misteriosas palavras.

 Julgando serem palavras de uma mulher senil, a jovem apenas sorriu ternamente. Logo a velha senhora se entreteve em seus afazeres culinários e as duas jovens saíram da cabana. Lidia observando a movimentação em torno da tenda do médico comentou.

– Você não deveria ajudar Vi… o doutor?

– Está tudo bem, não temos doentes graves, se ele precisar de algo me chamará, hoje estou aqui para te mostrar a aldeia e tirar qualquer dúvida que você tenha – Lidia sorriu para a amiga.

 O almoço foi servido em uma grande mesa, do lado externo da cabana onde ficava a cozinha. Lidia observou a alegria que aquele povo expressava em compartilhar, dando grandes honras ao chefe branco que lhes fora imposto. Travis sorria para a irmã sempre que podia, orgulhoso por trazer paz a Ilha Sul.

 Lidia e Matilda foram roteadas pelas crianças, mesmo não entendendo tudo que diziam, Lidia observou que crianças são crianças em qualquer lugar do mundo, com chistes e gracejos.

 Após o almoço, o grupo foi levado pelo chefe tribal até o lugar onde seria implantada a escola. Era uma antiga casa, no estilo inglês, Peter explicara que pertencera a um missionário que morrera de febre cerca de dois anos atrás.

 Desde a morte, o líder vetara a entrada de qualquer um, julgando que o lugar estava amaldiçoado. Agora, segundo Peter, o chefe tivera um sonho com uma cotovia que disse-lhe para reabrir a escola, pois teria alguém para cuidar de suas crianças.

 Lidia sorriu para o amigo e imaginou o quão belo devia ser conversar com uma cotovia, riu para si mesma, quando notou, Victor a observava e sorria também.

 A jovem visitante, buscando sair dos olhares do doutor, deu a volta na casa se afastando momentaneamente do grupo, ao ver uma porta aberta entrou.

– Oh… - Lidia se assustou dando um passo para trás – Senhor Hardy, me desculpe, não esperava vê-lo aqui.

 Karl Hardy sorriu para Lidia. Estava em mangas de camisa e erguera o cabelo para que o suor não o grudasse no pescoço, Lidia riu para si ao perceber que o penteado lembrava-lhe os coques feitos por avós inglesas.

– Peco desculpas, senhorita, por meu estado lastimável – Hardy apontou para a sujeira que o cobria – Estive testando as vigas e o teto.

– Não ha problema algum – Lidia respondeu sorridente – Na verdade, se eu puder ajudar em algo…

– Oh não se preocupe senhorita, estou quase acabando – Hardy respondeu com um sorriso brilhante, Lidia achou impressionante a diferença do senhor Hardy que vira até então e do senhor Hardy que estava a sua frente.

 Seus pensamentos foram interrompidos com a chegada do restante do grupo.

– O que acha? - O irmão caminhou até ela, envolvendo-lhe os ombros com um braço.

– Ficara incrível… É um belo lugar – Lidia sorriu para Travis.

 Com um olhar para o senhor Hardy o governador pediu um relatório prévio.

– Diga Hardy, temos boas perspectivas?

– Boa madeira – O homem coberto de poeira confirmou – A estrutura está sólida, é claro que precisaremos de reparos e materiais. Farei um relatório por escrito até amanhã.

– Perfeito – Travis sorridente respondeu, se virando para o líder local traduziu o que o engenheiro acabara de falar.

 Feliz, Lidia observou o irmao, talvez Kat esteja certa…

– Nós vamos melhorar as coisas aqui – Repetiu mentalmente as exatas palavras da cunhada, mas um pensamento transpassara-lhe a observação.

– Ou aquilo era apenas megalomania de homem branco da cidade?

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