Michael Beckham

Assim que aterrissamos, desci do avião com a minha pasta em mãos e peguei o celular para ligar para Gregori que rapidamente atendeu

           — Acabei de desembarcar, onde posso encontrar você?

 Murmurei enquanto olhava ao redor.

        — O senhor vai me encontrar na entrada do aeroporto.

  Gregori respondeu com seu tom habitual.

       — Certo, já encontrei você. 

 Encerrei a chamada assim que o avistei com seu uniforme preto. Assim que Gregori e eu nos encontramos, pegamos a mala e fomos até o sedan alugado, me recostei no assento traseiro e esperei que ele desse a partida.  Me vejo ansioso e nervoso enquanto caimos na estrada, tudo porque  estou voltando para casa, depois de anos.

 Minha nossa, que saudade de casa e  dos meus pais. 

 Já são 17:30 e estou chegando na casa onde vivi os melhores anos da minha vida, que por sinal, continua sendo um lugar lindíssimo e elegante. O jardim está mais revigorado e  acolhedor. Eu sempre gostei muito de ficar perto de árvores, flores, rios, pois ha sintonia e tranquilidade onde nos renova as energias.

Quando Gregori estacionou o carro, logo abri a porta e pulei para fora e então ouço a porta da casa abrindo rapidamente e uma voz feminina quebrar o silencio do ambiente.         

           — Meu filho, que saudade! 

Minha mãe me abraçou forte e com a mesma reação, retribui o abraço e logo me senti em casa, em seguida meu pai apareceu e se juntando ao abraço e disse.

      — Aguardamos você ansiosos, Michael.

 Assentindo eurespondi me afastando do aperto de ambos.    

       — Eu também estava ansioso pra ver vocês. 

E eu realmente estava me sentindo em casa, e com esta recepção parece que nunca saí daqui.

 Me afastando o suficiente do abraço, eu olhei para minha mãe, que continua linda e elegante com seu vestido floral que a deixou mais jovem e sorrindo olhei para meu pai que estava usando uma calça jeans escura e uma camisa branca, sempre formal e elegante. 

 Enfim, pelo que notei não mudou muita coisa.      

           — Vamos entrar, querido. Temos muito o que conversar.

Minha mãe convidou e já me puxou pela mão enquanto meu pai entrava atrás ajudando Gregori com as bagagens. Assim que entramos, encontrei meu irmão mais novo

jogado no sofá, na verdade ele parecia desmaiado com um pacote de chips na mão e é claro que eu não poderia perder a oportunidade de curtir com a cara dele e então sussurrei, já com um plano em mente.

       — Mamãe, tem algum creme ou chantilly aqui? 

 Assentindo com um gesto, vejo minha mãe franzir a testa e perguntar em seguida, totalmente alheia ao meu plano.

       — Quer que eu pegue para você?

 Aposto que ela perguntou isso sem imaginar o que  estou planejando  fazer, e assentindo, a observei ir até a cozinha.  Meu pai me lançou um olhar engraçado, como se estivesse lendo minha mente e sorrindo olhei para ele como quem não quer nada e peguei a lata de chantilly que minha mãe entregou assim  que chegou.

 Me aproximei do meu irmão que parecia apagado e virando sua mão com cuidado para não acordá-lo, coloquei um pouco de chantilly  na sua palma e meu pai passou uma pena que fazia parte da decoração da mesa de centro em seu nariz e com isso ele levou a mão que estava suja em direção ao seu rosto, e com um pulo no sofa, acabou caindo duro no chão com o rosto todo lambuzado, eu e meu pai caímos na gargalhada, Anthony suavizou a expressão e finalmente pareceu despertar e quando me olhou sorriu com a cara de quem iria dar o troco  e eu logo avisei.

           — Antes que você pense em dar o troco, dê uma boa olhada para mim e pense se eu não tenho outros planos para atacar você, caso tente alguma coisa.

 E sorrindo, me aproximei do meu irmão com os braços abertos para lhe abraçar e acabando com o espaço que havia entre nós, me abraçou firme, após minha mãe lhe entregar uma toalha de rosto para ele limpar a sujeira que fiz.       — Cara, olha como você mudou.

 Meu irmão falou se afastando de mim enquanto me olhava debaixo a cima.      

          — Agora falando sério, já está sabendo das ameaças? 

 Negando com a cabeça, permaneço em silêncio esperando alguém quebrar aquela tensão e coçando a garganta meu pai respondeu.    

            — Eu iria falar com você após nosso jantar, Michael.  Não temos nada concretizado, mas...

Meu pai abaixou a cabeça de um jeito que me deixou prepocupado e vendo eles em silêncio fiquei ainda mais  incomodado e quando me dei conta do quanto fiquei nervoso ao saber sobre as ameaças e aquilo tudo me deixou nervoso em segundos.

             — O que aconteceu? 

 Perguntei já com meu tom autoritário e meu pai me olhou firme e disse quebrando todo aquele silencio.

               — A um tempo atrás recebemos ameaças contra a família, eram cartas anônimas, sempre chegavam no mesmo horário e sempre no endereço da empresa.

 Abaixei a cabeça apertando minhas temporas e soltei um suspiro audível, já preocupada, minha mãe perguntou tocando gentilmente em meu ombro.

               — Querido, está tudo bem?  E assentindo, confirmei em silencio e alguns segundos depois,  eu perguntei.

               — Essas ameaças continuam?

 Negando com um gesto negativo, meu pai respondeu me olhando firme.

               — Não, já faz uns 3 meses que não recebemos mais nada.

 Assenti ainda em silencio e olhei para minha mãe que estava preocupada mas apenas me encarou e franziu a testa aguardando o que eu iria falar a seguir.

                — Mãe, posso ir para meu quarto?

 Indaguei tentando tirar aquele clima tenso que se pôs sobre nós, e sorrindo, minha mãe me olhou e disse.

               — Fique à vontade, querido. É o mesmo quarto da sua adolescência.

 Assentindo, sorri em resposta e subi a escadaria, após cumprimentar meu pai e meu irmão com um abraço e um rápido beijo na testa da minha mãe. Assim que cheguei no meu quarto, olhei ao redor e vi que a única mudança que teve em tantos anos, foram as cortinas. 

Meus brinquedos estavam lá, todos os carrinhos, personagens de histórias em quadrinhos que eu mais gostava e sorridente, continuei a olhar ao redor e acabei encontrando o Mike, um super-herói que eu levava para todos os lugares comigo, peguei este na mão e sentei na cama e comecei a relembrar a história dele.

          Eu estava indo comemorar meu aniversário  num parque aberto, um local muito bonito repleto de árvores e flores, lembro-me do lago, havia peixes dourados, e era muito limpo.  Meus pais me levaram lá para brincar quase sempre, e em comemoração ao meu aniversário de 11 anos com meu super-herói novo, sai correndo pelo parque brincando, com a mentalidade infantil demais, a inocência cobria qualquer coisa que hoje é possivel entender.  

E quando cheguei até o último lugar que era possível correr no parque, encontrei um menino com roupas sujas e surradas, chorava muito e pelo que eu vi, estava com fome pois olhava para as crianças que comiam famintas momentaneamente seus pratos na lanchonete, e aquilo despertou algo em mim, me vi magoado e triste pelo menino que me olhou  e fungando virou-se de costas e continuou a chorar, sobre o ato do menino, só consegui pensar hoje que ele não queria deixar um estranho ver ele chorando por não ter o que comer, e depois daquilo, corri de volta para meus pais,  que assim que me viram chegar logo me atenderam.

              — Papai... posso lhe pedir algo? 

Perguntei com um pouco de receio, pois não sabia o que iriam pensar de mim, lembro que eu pensei o seguinte.

"O que eu não quero é que pensem que sou aqueles meninos que ficam apenas pedindo coisas para os pais. "

      Aquele pensamento me fez rir, minha nossa, quais seriam os pais que pensariam isso de uma criança? Bom, este era meu pensamento na época,  e com aquela pergunta os dois me deram total atenção e permaneceram em silêncio então me encorajei e logo perguntei.   

             — Podemos comprar um lanche para dar de presente?

Meus pais me olharam atentos e depois se entreolharam e piscando confusos, olharam para mim novamente.

              — Para quem você quer dar este lanche, Michael? 

 Meu pai perguntou em um tom sério e aguardou eu responder enquanto minha mãe levantou e foi até a atendente.

              — E que eu vi um menino com roupas um pouco velhas chorando sozinho, então eu acho que ele sente fome, pois quando sinto fome eu também fico chateado.

Respondi olhando para meu pai que esboçou um sorriso para mim e depois olhou para minha mãe que se aproximou com um sanduíche natural e dois cachorros quentes com duas garrafas de suco de laranja, e meu pai estendeu a mão para mim e então eu a apertei e fomos andando tranquilamente até o lugar onde o menino estava, e assim que chegamos, meus pais ficaram para trás e me entregaram o lanche em troca do meu boneco, e com muito cuidado me aproximei do menino que apenas me acompanhou com os olhos e no momento em que estendi o lanche para ele sorri e esperei ele pegar, mas o que eu vi em sua expressão naquele dia, nunca fui capaz de esquecer.  Seus olhos encheram de lágrimas e ele sorriu e me abraçou forte e após isso pegou o lanche e me olhou de novo com um largo sorriso.

               — Como é o seu nome?

 O menino perguntou já com o lanche em mãos.

               — Michael e você? -  

 Respondi e logo perguntei muito curioso.

               — Eu sou Sebastian, muito obrigado pelo lanche. 

 O menino respondeu enxugando a última lágrima que brotou em seus olhos e a curiosidade tomou conta, então eu tive que perguntar.

               — Por que está chorando? 

  Ele deu uma mordida no seu sanduíche e respondeu assim que terminou de engolir.

               — Hoje é meu aniversário, e eu não tenho família.   

Ouvir aquilo me deixou chateado pois eu estava brincando com meu presente novo, enquanto ele não tinha família, comida e nem brinquedos, então só pensei em uma coisa, levantei, andei até meus pais e peguei meu brinquedo e voltei para onde Sebastian estava se alimentando.

                — Feliz aniversário, Sebastian.

 Entreguei meu brinquedo para o garoto que eu acabei de conhecer e no qual nunca esquecerei e levantando, ele deixou seu sanduíche em cima da pequena bandeja e novamente seus olhos se encheram de lágrimas quando pegou o brinquedo.

                — Muito obrigado, Michael. 

 Ele me abaraçou muito grato após receber aquele boneco.

 Aquelas foram as últimas palavras que ouvi de Sebastian, depois que conheci ele, meu comportamento, minha forma de pensar e agir mudaram completamente. 

       Eu sabia que tinha uma ligação com aquele menino, pois éramos crianças e compartilhamos um sentimento muito inocente, e depois que meus pais me levaram para casa, acabei ganhando um brinquedo igual ao que dei para Sebastian e isso fez com que eu nunca esquecesse o que fiz.

Olhei ao redor e me senti um pouco cansado, muitas lembranças em um curto período de tempo então  levantei e fui tomar um banho. Assim que saí do banho, peguei uma calça moletom e  uma camiseta e deitei na cama por um momento até que relaxei por inteiro.

Eu estava caminhando por um lugar desconhecido, estava escuro mas conseguia enxergar a silhueta de um corpo elegante, e andando, me aproximei ainda mais e consegui ver cabelos loiros e brilhantes, e então eu estava de frente para Laura, que estava deslumbrante em um vestido vermelho, porém não consegui sentir nada, o tesão que eu sentia, a paixão que me queimava por dentro sempre que a encontrava já não estava mais lá... 

           — Michael, meu amor... Preciso de você.

Laura murmurou se aproximando de mim e a cada passo seu, eu recuava um.

           — Sem chances, Laura. Não quero mais nada com você.

Respondi, mas tive um sobressalto quando senti o fim do espaço atrás de mim, estava encurralado por uma árvore, na verdade, eu não havia nem percebido a existencia e então Laura se aproximou  para me beijar e quando eu iria sentir seus lábios... 

Levei um sobressalto na cama, estava suando e isso era sinal de que o sonho estava se tornando um pesadelo, e mais uma vez me lembrei que eu não estava sentindo nada em relação a Laura, o que quer dizer que já não sinto mais nada por ela. Depois de 2 anos, finalmente tive uma confirmação disso.

        Sentado na cama, esperei a aceleração do meu pulso voltar ao normal e peguei meu celular e vi que já eram 02:20 então resolvi levantar e explorar a casa de madrugada.  Assim que cheguei no corredor notei que a casa estava escura, então andei em direção a escadaria com cuidado para não acordar ninguém, eu já havia perdido o sono então não queria que mais alguém perdesse.

Assim que cheguei no último degrau, encontrei o caminho da cozinha, e logo achei uma cafeteira, com isso preparei café e me sentei no banco em silêncio e fiquei pensando no que eu devo fazer, pois apesar de amar meus pais, não quero dividir uma casa com eles. Preciso do meu próprio espaço, dei um gole do meu café e continuei a divagar quando ouço passos próximos e então minha mãe entrou na cozinha com seu robe de seda preto.

          — Olá querido.

 Minha mãe murmura enquanto pega uma xícara para si e enche de café.

         — Acordei você, mãe? 

 Perguntei assim que ela sentou no banco e negando com a cabeça ela responde.     

        — Acordei porque senti que tinha um conhecido estranho explorando a casa, e que provavelmente ele havia perdido o sono.

Aquilo me fez sorrir.

         — Bom, eu perdi o sono mesmo. Tive um sonho esquisito. Então pensei em vir explorar um pouco.  

Expliquei para minha mãe que assentindo franziu a testa e perguntou.

         — Filho, posso fazer uma pergunta? 

 Assentindo, direcionei toda a minha atenção para  minha mãe e permaneci em silêncio aguardando a pergunta.

         — Depois de Laura, você não saiu com nenhuma moça? 

Minha mãe perguntou com uma expressão preocupada no qual me vi obrigado a responder de uma forma cuidadosa.

         — Depois dela, eu só foquei no trabalho, mãe. Mas como você deve imaginar, eu tive alguns encontros casuais, sim.

 Depois dessa resposta ela pareceu um pouco mais preocupada e mordendo o lábio, perguntou.

          — Mas você não se sente sozinho? Quer dizer, já fazem 2 anos que tudo aquilo aconteceu.  Você não pensa em voltar com ela? Ou então em ter uma namorada fixa?  

 Aquilo me deixou um pouco incomodado, pois provavelmente minha mãe vai pensar que sou gay.

          — Mãe, não sinto falta da Laura. Nenhum pouco. 

 Com essa resposta fiquei olhando para a expressão da minha mãe, que pensou um pouco antes de falar.

          — Michael, você sabe que não tenho preconceito nenhum, certo? 

Minha nossa, eu sabia que iria chegar neste assunto, então levantei e me aproximei da minha mãe e olhei nos seus olhos e expliquei claramente.

           — Mãe, não sou gay. Apenas não encontrei a mulher certa, ainda.

  Enfatizei o " ainda " porque se em 2 anos nenhuma mulher mexeu com a minha cabeça, então ainda está para nascer.  e olhando bem fundo em seus olhos castanhos esverdeados, eu continuei.

           — Então prefiro esperar.

Depois que falei isso, vi a expressão da minha mãe suavizar e parecer aliviada.

           — Agora vou subir, amanhã preciso fazer algumas coisas. 

 Assentindo minha mãe sorri e eu lhe dei um beijo em sua testa para deitar e dormir por mais algumas horas.

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