Yven Cobalt

Em meio a multidão que se espalhava ao redor de mim, acelerei os passos para me livrar do homem de quase 1,80m que estava muito próximo de mim e murmurei.

          — Sem chance de eu me tornar uma de suas garotas.

O empurrão que dei no Heitan foi  forte o suficiente para derrubá-lo de bunda no chão e isso me deu mais alguns minutos de vantagem já que eu corria igual a uma lesma, tudo bem que estou usando sapatilhas, mas se eu soubesse que iria encontrá-lo na rua hoje, com certeza não teria saído de casa.

          Heitan está quase que diariamente me importunando, toda vez que me vê, tenta me levar junto com ele e hoje não foi diferente.  Correndo me envolvi no meio da multidão que estava esperando atravessar na faixa de pedestres,  Seattle é um lugar lindo mas quando tem pessoas deste porte que considero péssimo,  já consegue com certeza estragar a cidade.

E quem me vê, fisicamente, pareço uma moleca que apronta todas e sai correndo dos problemas. Em alguns pontos até está correto, mas no que diz respeito a fugir de problemas, está completamente errado.

               A questão é que toda a situação que envolve Heitan, tem circunstâncias diferentes e uma história trágica por trás. Assim que cheguei perto do meu prédio, vi que eu já estava a uma boa distância, então parei de correr, já me sentia segura e com toda a correria  me sentia cansada e tecnicamente me arrastei para chegar até o elevador, hoje não estava preparada para uma corrida dessas. Mas até que não fui tão mal.

          Preciso voltar para a academia, meu corpo pede socorro... Assim que cheguei em casa, senti um cheiro delicioso de comida, meu estômago protestou e então lembrei que não havia comido nada desde que acordei, Amanda estava testando algumas receitas para fazer na casa do namorado dela, já que irá conhecer os pais de Carlos, por isso está treinando para que não saia nada errado. Mas pelo cheiro vai ficar tudo perfeito.

Passando na cozinha, dei um beijo na bochecha da minha melhor amiga e andei até o sofá onde me joguei confortavelmente, e é claro que Amanda notou algo errado comigo e se aproximou, sentando na poltrona que fica de frente para mim ela pergunta. 

             — Pode falar o que está te incomodando?

Tapei o rosto com a almofada e comecei a resmungar, Amanda levantou e a tirou do meu rosto e disse.

              — Pode começar, por favor.

 Respirei fundo, sentei no sofá e disse.

         — Encontrei Heitan na rua,  ele tentou me levar a força para sua casa. De novo...  

 Quando terminei a frase algo soou amedrontado. Eu não sabia que estava com tanto medo, e falando isso para minha melhor amiga acabei vendo que eu me sinto presa a isso, presa diretamente ao meu passado.

Por mais que fizesse tempo, por mais que eu consiga fugir, eu ainda vou continuar tendo medo, e talvez nunca esqueça do que passei. Respirando fundo Amanda murmurou preocupada.

          — Yven, eu não quero ser intrometida, mas eu acho que seria bom se você saísse um pouco de Seattle e fosse para New York passar o fim de semana com seus pais. Você está saindo atrás de emprego, sabemos que você não precisa, mas quer um emprego para ser independente, e não precisa ter um cargo com seu pai. Apenas veja se ele conhece alguém para que você tenha contatos profissionais.

            Pensando bem, Amanda tem razão, não estava olhando por este lado, a única coisa que eu estava vendo em relação aos meus pais é que eles iriam querer que eu morasse com eles novamente, mas se eu passar  o fim de semana com eles quem sabe eu consiga alguns contatos, e também vou fugir um pouco de Seattle, sumir por algum tempo vai ser bom para mim.             

            — Você tem razão. Eu estava com medo de algumas coisas e não estava vendo a situação de outro ângulo. Ainda bem que tenho você. 

Murmurei olhando para Amanda que no mesmo instante pulou no sofá e me deu um abraço bem forte.

             — Sabe que amo demais você, Yven. E sempre que precisar vou estar aqui. Independentemente de onde estejamos. 

Assentindo apertei meus braços em volta de Amanda e fiquei desfrutando do pouquíssimo tempo que nos sobrou, já que Amanda parece não sair do trabalho, pois também trabalha em seu quarto, mas com exceção a este fim de semana, que irá passar na casa do namorado.

              Isso vai ser ótimo para ela, pois sempre a vejo confinada em seu quarto trabalhando, não que trabalhar não seja importantíssimo, mas ter um momento para se divertir também é. Amanda e eu nos conhecemos na faculdade e desde então não nos separamos, porém andamos nos desencontrando pelo pouco tempo que ela tem.

              Quando voltei para meu quarto, Amanda já estava arrumando suas coisas para levar para a casa do Carlos. Eu imagino que só vou vê-la na próxima semana, ou na outra, pois não sei o que me espera em New York esse fim de semana.   Fui até a minha janela, e de lá fiquei olhando a vista que eu tinha do meu quarto, uma paisagem bonita que me fez refletir sobre novas possibilidades para a minha vida, hoje tenho 23 anos, tudo bem que já sou formada em administração, entretanto estou sem emprego ainda. E mesmo não precisando do dinheiro, continuar sem um trabalho na minha área pode prejudicar minha carreira. Eu devo deixar o meu orgulho todo de lado e ir até meus pais para saber se eles podem me ajudar com alguns contatos. Apesar de que o meu pai poderia me empregar em uma de suas duas empresas, mas eu quero fazer meu nome, quero ter uma carreira baseada nos meus próprios méritos.

Diante de tantas coisas que ganhei na vida e sou muito grata, e a outras  que foram roubadas de mim, agora eu posso fazer escolhas também, mas pedir ajuda agora, não quer dizer que estou estragando tudo, e eu vou mudar isso. Eu nunca fui podre de rica, entretanto meu pai é um magnata da mídia, sendo assim quando eu era criança eu ganhava de tudo da minha mãe e ainda recebia uma mesada com um valor consideravelmente alto é isso foi acumulando nos últimos anos, e ganhando juros em minha conta bancária, por isso tenho um conforto.

             Meus pais sempre me diziam que se eu precisasse de qualquer coisa era só pedir, mas odeio imaginar que estou dependendo deles, e por isso prefiro viver dos juros que rende da minha conta. O que na teoria, não me parece ser a mesma coisa. Finalmente ganhei coragem o suficiente e decidi ligar para minha mãe, que no segundo toque atendeu a ligação.

        — Oi, querida.

 Minha mãe murmurou como de costume.

        — Hãm.. Oi mamãe. Tudo bem? 

 Perguntei tentando esconder o meu nervosismo.       

           — Sim amor e você como está? Estamos com saudade. Minha mãe respondeu e de repente me senti culpada pelo nosso distanciamento. Lembro-me que quando eu era criança  cuidaram tão bem de mim. E em troca, acabei erguendo um muro para me afastar da minha familia.       

             —Tudo bem, mamãe, também estou com saudades.

Murmurei e esperei em silencio, talvez querendo que minha mãe diga algo para me arrancar desse sentimento de culpa.    

— Querida, por que você não vem passar esse fim de semana conosco? Sei que é em cima da hora, mas posso m****r o Derek ir buscar você. O que me diz ?

Minha nossa, parece que minha mãe leu meus pensamentos, já que ela convidou então vou aproveitar a oportunidade.

      — Tudo bem, Mãe. Vou esperar Derek então.

Depois do convite da minha mãe, acertamos o horário e conversamos por mais alguns minutos sobre o que poderíamos fazer e nesta lista já está marcado o dia no Spa pois amanhã à noite terá um jantar beneficente e minha mãe me convidou para ir, então obviamente  não vou falhar, vou aproveitar a chance para conseguir alguns contatos. 

Preparando minha mala, escolhi dois vestidos tubinho e 3 saias lápis de cores diferentes. Minhas blusas coloquei de um modo que não chegue lá amassado e peguei meus dois sapatos Jimmy Choo. Minha nécessaire está pronta, estou levando meu Mac na pasta, caso eu precise em alguma situação futura e então vou tomar banho, creio que logo Derek chegará.

           Assim que saí do banho, peguei meu celular para ver a hora e já são 16:34 da tarde, deixo o celular na penteadeira e iniciei o processo para escovar meu cabelo, que desce como uma cascata negra pelas minhas costas, no momento em que solto o coque que fiz para não molhar o cabelo durante o banho, ouço um som vindo do celular e sai correndo pelo quarto para ver quem estava ligando e assim que cheguei vejo que é Derek  e rapidamente fui até a janela e vi um sedan preto estacionado, e pela primeira vez em dias, me vejo ansiosa para alguma coisa. Mas com certeza estou muito feliz por passar um tempinho com a minha família.

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